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Inaugurado o Theatro da Paz, em Belém, Pará

15 de fevereiro de 1878

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No dia 15 de fevereiro de 1878, era inaugurado o Theatro da Paz, em Belém, na então província do Grão-Pará. O nome (inicialmente Theatro Nossa Senhora da Paz) era alusivo ao fim da Guerra do Paraguai (1864-1870).

Construído entre 1869 e 1874, mas inaugurado apenas em 1878, é um dos principais exemplares de teatro-monumento em estilo neoclássico no Brasil. Mais especificamente, um teatro de ópera, o primeiro da Amazônia e um dos primeiros teatros líricos do Brasil.

O projeto arquitetônico, encomendado pelo governo, é do engenheiro militar José Tibúrcio de Magalhães e foi inspirado pelo Teatro Scalla de Milão, na Itália. Magalhães, porém, não pôde acompanhar a execução do projeto, que foi assumido pelo engenheiro Antônio Augusto Calandrini de Chermont, que realizou diversas alterações na proposta original, modificando toda a fachada e criando aberturas laterais.

Nos primeiros tempos o teatro era decorado com modéstia. A sala de espetáculos, toda pintada de branco, possuía mobiliário simplório. Havia um grande ventilador no teto facilitando a renovação do ar, pois a iluminação era feita a gás

Inauguração do Theatro da Paz

A inauguração do Theatro da Paz foi um dos acontecimentos mais concorridos de 1878, competindo com as eleições de deputados provinciais para o Parlamento Nacional, disputadas por liberais e conservadores.

A noite da abertura levou ao teatro a “gente escolhida” de Belém, como os jornais costumavam referir-se à elite local. Ao redor do edifício, populares se acotovelavam para ver a movimentação dos carros e a chegada dos convidados. O presidente da Província foi saudado com fogos e banda de música.

O maestro maranhense Libânio Colás regeu a ópera As Duas Órfãs, de A. D’Ennery, com os artistas da Empresa Vicente que levou à cena nomes conhecidos do público da capital.

Em 1880, o governo trouxe a primeira temporada de ópera com a Companhia Lírica Italiana, dirigida pelo empresário Tomas Passini. A estreia ocorreu em 7 de agosto, com a ópera Ernani, de Giuseppe Verdi. Em cena, a soprano Filomena Savio, a grande estrela da companhia.

A partir daquela temporada, outras se sucederam, alternando-se com apresentações dramáticas, bailes carnavalescas, números circenses e eventos políticos.

Em 1881, o público aplaude Henrique Gurjão na estreia de sua Idália, primeira ópera de compositor paraense, sob regência do maestro Cimini. Foi uma verdadeira consagração.

Em 1882, o maestro Carlos Gomes, no auge de sua fama, regeu a sua ópera O Guarani no Theatro da Paz. Convidado pelo governador Lauro Sodré a viver em Belém e dirigir o Conservatório daquele estado, Carlos Gomes mudou-se para a capital paraense. Porém, já estava muito doente vindo a falecer alguns meses depois, em 16 de setembro de 1896.

Reformas do Theatro da Paz

O Theatro da Paz passou por sua primeira grande reforma entre 1887 a 1890. O prédio foi embelezado para ficar à altura de sua função: ser um teatro de ópera e, como tal, era preciso ter opulência, beleza e elegância. Houve troca do sistema de iluminação, de gás para energia elétrica.

O resultado da reforma foi conferido pelo público em 22 de julho de 1890, quando o teatro foi reinaugurado com a Companhia Lírica Italiana, encenando a ópera A Sonâmbula, de Vicenzo Bellini e sob comando do maestro paraense José Cândido da Gama Malcher.

Houve ainda uma segunda reforma entre 1904 e 1905. O edifício passou por uma ampla remodelação quando ganhou as feições luxuosas que mantém até hoje. O teatro recebeu, na fachada, os medalhões com os bustos simbolizando as artes – Dança, Poesia, Música e Tragédia – e, ao centro, o brasão de armas do estado do Pará, para fortalecer a simbologia republicana.

Na década de 1960, o Theatro da Paz passou por várias reformas, inclusive com a realização de uma nova pintura do teto do foyer, com temática amazônica, pelo artista Armando Balloni. Em 1963, foi tombado pelo serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Desde então, passou por algumas obras de manutenção e modernização. Atualmente, o Theatro é o maior da Região Norte e um dos mais luxuosos do País.

Theatro da Paz, de Belém, Pará. Os medalhões na fachada têm os bustos simbolizando as artes – Dança, Poesia, Música e Tragédia – e, ao centro, o brasão de armas do estado do Pará.

Interior do Theatro da Paz

O hall de entrada possui piso formado por pedras portuguesas com desenhos marajoaras e piso em acapu e pau-amarelo (madeiras do Pará), lustres de cristal francês, estátuas de ferro inglesas, escadas de mármore italiano.  Ali encontram-se bustos em mármore de carrara dos escritores brasileiros José de Alencar e Gonçalves Dias.

O Salão Nobre (foyer) é decorado com espelhos e lustres em cristal francês e bustos em mármore de carrara dos compositores Carlos Gomes e Henrique Gurjão.

A sala de espetáculo, em formato de ferradura, tem capacidade para noventos lugares, com cadeiras de madeira e palhinha, adequadas ao clima da região. É iluminada por um enorme lustre de bronze que pesa uma tonelada. No teto, a pintura do artista italiano Domenico de Angelis representando uma viagem do deus Apolo à Amazônia, as musas e a deusa Diana como índia caçadora frente a uma onça.

A pintura de boca do palco, de 1890, é uma alegoria à República, feita no ateliê do francês Carpezat, em Paris.

Hall com os bustos em mármore de carrara dos escritores brasileiros José de Alencar e Gonçalves Dias

Sala de espetáculos do Theatro da Paz com 900 assentos.

Tábuas de acapu e pau-amarelo (madeiras do Pará) cobrem o piso do Theatro da Paz.

A Belém da Belle Epoque

Na época da inauguração do Theatro da Paz, Belém vivia o período áureo da exploração da borracha na Amazônia (1859-1910), a chamada Belle Epoque brasileira (que, na Europa, corresponde aos anos 1871 a 1914).

Na Amazônia do século XIX, edificar era dominar a natureza, abrir as portas da região ao progresso, à civilidade, à higienização e à ordenação das cidades, significando o combate aos costumes considerados atrasados da população. Por este prisma, construir teatros, museus, bibliotecas, escolas, para citar alguns prédios públicos, era um projeto político de modernidade.

Belém se modernizou e se embelezou com os recursos da exportação da borracha, obtida nos seringais amazônicos. Foi uma das primeiras capitais brasileiras a ter água encanada, bonde elétrico, luz elétrica, rede de esgoto e forno crematório. Nesse processo de urbanização, o intendente (prefeito) da época, Antonio Lemos (que governou de 1897 a 1911), construiu largas avenidas, arborizadas com frondosas mangueiras, e ornamentou as praças da República e Batista Campos.

Em 1883, foi criado o Bosque Municipal (hoje Rodrigues Alves), inspirado no Bois de Boulogne, de Paris. Trata-se de um pedaço de floresta nativa com 150 mil metros quadrados, localizado em uma das avenidas mais movimentadas da cidade, a Almirante Barroso. Tem 2.500 espécies de plantas, orquidário, lagos, grutas, cascatas e pequenos animais, como macacos, cutias e araras.

O Theatro da Paz era a imagem concreta da ostentação da riqueza da cidade cuja elite enviava os filhos para estudar na Europa. Lojas como Paris n’América (1909), inspirada na Galeria Lafayette de Paris, vendiam os últimos lançamentos da moda europeia. A Livraria Universal (1908), o Grande Hotel (1913, demolido em 1970) e o Cine Olympia (1912) eram outros edifícios em estilo art nouveau onde os endinheiredos se reuniam.

Os barões da borracha residiam em palacetes, como o palácio Antonio Lemos, inaugurado em 1885 (atual Museu de Arte de Belém), em estilo neoclássico tardio.

Outra residência imponente é o palacete Bolonha (1905), com cinco pavimentos onde se misturam os estilos neoclássico, art nouveau, barroco e rococó. Estava equipado com instalações elétricas e hidráulicas das mais modernas que existiam à época. Neste período Belém era provida de energia trifásica pela empresa Pará Electric Railways and Lighting Company. O palacete tinha instalações de água fria e quente em todos os andares, tubulações em ferro fundido, caixas de descargas, sifões, vasos sanitários e mictórios vindos do exterior. Belém já tinha o serviço de abastecimento de água desde 1884, fornecido pela Companhia de Águas do Estado do Pará.

Os elementos decorativos típicos da Belle Epoque encontram-se também na arquitetura em ferro, da qual Belém é uma das principais representantes, como no Mercado do Peixe e no Mercado Bolonha (de carne), no Ver-o-Peso. As estruturas em ferro eram trazidas da Europa, geralmente produzidas pela firma inglesa W. MacFarlane.

O Theatro da Paz depois da borracha

O declínio da borracha começou em 1910, com a concorrência dos seringais asiáticos, formados a partir do contrabando de mudas de seringueiras para o Oriente.

Apesar da decadência econômica, o Theatro da Paz continuou recebendo grandes nomes das artes. Em seu palco se apresentaram as bailarinas russas Anna Pavlova e Tamara Taumonova; as cantoras líricas Bidu Sayão e Maria Lúcia Godoy; os tenores líricos italianos Tito Schipa e Beniamino Gigli; o maestro e pianista paraense Waldemar Henrique; a pianista Guiomar Novaes; a atriz francesa Henritte Morineau; o músico e compositor Francisco Mignoni; os pianistas Arthur Moreira Lima, Arnaldo Cohen, Miguel Proença e Nelson Freire; os atores Procópio Ferreira e Paulo Autran; as atrizes Cacilda Becker, Maria Della Costa, Glauce Rocha, Tonia Carrero, Natalia Thimberg, Bibi Ferreira e Fernanda Montenegro; o corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro;  o Ballet Kirov, da Rússia; Les Etoilles de I’Opera de Paris, Ballet Stagium etc.

Na década de 1960, o Theatro passou por várias reformas, inclusive com a realização de uma nova pintura do teto do foyer, com temática amazônica, pelo artista Armando Balloni.

Em 1963, o Theatro da Paz foi tombado pelo serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Desde então, passou por algumas obras de manutenção e modernização.

Em 1996, foi criada a primeira orquestra da história do teatro, denominada “Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz” (OSTP), por iniciativa da Secretaria Executiva de Cultura do Pará em parceria com a Fundação Carlos Gomes, conduzida atualmente pelo maestro paraense Miguel Campos Neto.

Desde 2002, realiza-se o Festival de Ópera do Theatro da Paz (FOTOP) que apresenta óperas tradicionais do mundo inteiro, como “O Pescador de Pérolas” e “Carmen”, de George Bizet, “Salomé”, de Richard Strauss e “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini, entre outras. Em 2023, foi apresentado “O Menino Maluquinho”, uma versão operística em uma superprodução.

A sala de espetáculos do Theatro da Paz, em Belém, Pará.

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