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A cidade de São Paulo recebe a Estação da Luz

01 de março de 1901

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BNCC

No dia 1º de março de 1901, a capital paulista recebia uma imponente estação ferroviária: a Estação da Luz. Em um estilo eclético, a edificação tinha ares britânicos com uma torre de relógio semelhante ao Big Ben e um edifício gótico inspirado na abadia de Westminter, de Londres.

O projeto foi criado pelo arquiteto britânico Charles Henry Driver. A maior parte do material usado na sua construção, incluindo pregos e parafusos, foi importada da Inglaterra. A estação ficou conhecida como “Ingleza”.

A Estação da Luz era testemunho da riqueza do café e do crescimento e industrialização da cidade: São Paulo saltou de 70 mil habitantes em 1890 para 240 mil em 1900 (e chegaria a 580 mil em 1920).

Outras obras modernizadoras estavam acontecendo na capital, como a avenida Paulista (inaugurada em 8 de dezembro de 1891), a urbanização do Vale do Anhangabaú e a construção do Viaduto do Chá, e a idealização do Theatro Municipal de São Paulo (obras iniciadas em 1903 e concluídas em 1911). Era a cidade vivendo a Belle Époque brasileira.

Hall de entrada da Estação da Luz.

Plataforma de embarque da Estação da Luz

A primeira Estação São Paulo (1865)

Pátio da Estação São Paulo nos anos 1860-1870. À direita, a rua Mauá; à esquerda, o Jardim da Luz.

A primeira estação ferroviária, denominada Estação São Paulo, era singela, erguida em local elevado em relação aos rios Tietê e Tamanduateí com cerca de 20 metros de desnível. Foi construída entre 1860 e 1865 para integrar a São Paulo Railway, ferrovia fundada por Irineu Evagelista de Souza, o Barão de Mauá.

Era por essa ferrovia que escoava o café das fazendas do interior do estado de São Paulo para o porto de Santos.

A ferrovia conectava, também, os municípios de Santo André (Paranapiacaba), Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Mauá e São Caetano do Sul.

A Estação São Paulo era uma edificação pequena constituída por um pequeno edifício de um pavimento localizado lateralmente à ferrovia. Nele estavam as instalações de despacho, embarque e desembarque de passageiros e residência do chefe da estação. No pequeno saguão ficava a bilheteria, sala do correio e telégrafo, uma “sala de senhoras” e um botequim.

Havia ainda uma série de pequenas edificações destinadas à administração da linha, à engenharia da companhia, oficinas para reparos das composições e armazéns de mercadorias.

Concluída a via férrea com 139 km de extensão, foi inaugurada a Estação São Paulo, em 1865, mas um acidente mudou os planos.

O primeiro acidente ferroviário

Durante a primeira viagem rumo a São Paulo, em 1865, o trem descarrilou (saiu dos trilhos) e o maquinista morreu. Vários passageiros ficaram feridos, incluindo o Barão de Itapetininga, grande fazendeiro e um dos mais importantes empresários paulistas da época.

Diante do fato, a Estação São Paulo só foi inaugurada oficialmente dois anos depois, em 16 de fevereiro de 1867.

Em poucos anos, a Estação São Paulo se tornou obsoleta diante do crescente número de cargas e de passageiros, que tinham como destino a cidade de São Paulo.

A segunda Estação São Paulo (1888)

A segunda Estação São Paulo, foto de c.1890.

Em 1888, o prédio da estação foi derrubado e outro maior foi construído em outro local, entre a atual rua Florêncio de Abreu e avenida Casper Líbero. O objetivo era atender à demanda cada vez maior de passageiros e mercadorias que embarcavam e desembarcavam na Estação da Luz.

A nova edificação recebeu dois pavimentos com linhas neoclássicas, e uma plataforma maior de passageiros com a respectiva cobertura em ferro na entrada da edificação.

Tal edificação foi mantida até início do século XX, quando foi demolida para complementar a área de embarque e desembarque da terceira Estação da Luz.

A Estação da Luz (1901)

Obras da construção da Estação da Luz, 1899.

A estação que hoje conhecemos é o resultado da terceira reforma realizada entre 1895 e 1901 seguindo o projeto arquitetônico de Charles Henry Driver, renomado arquiteto de estações ferroviárias. O projeto inspirou-se no Big Ben e na abadia de Westminter, de Londres.

A estação passou a ocupar uma área de 7.520 m² composta por dois blocos distintos: o 1º bloco é um amplo prédio de alvenaria aparente em tijolos, com dois pavimentos, abrigando os escritórios da superintendência, engenharia e contadoria, encimado por uma alta torre de relógio, avistada de diversos pontos da cidade; o 2º bloco constitui-se de uma ampla gare (estação de embarque e desembarque) com 40 metros de vão, 150 metros de comprimento e 25 metros de altura, envidraçada, cobrindo seis linhas da estrada de ferro.

A estrutura metálica da gare e os equipamentos para a iluminação da estação foram importados da Grã-Bretanha.

As obras foram formalmente concluídas em fevereiro de 1901, e considera-se sua inauguração em 1º de março de 1901.

A Estação da Luz em cartão postal de 1905.

Estação da Luz em 1900, fotografia de Guilherme Gaensly.

A estação, contudo, não foi formalmente inaugurada, pois o tráfego não chegou a ser interrompido para a construção da duplicação da linha, já que, à medida que o corpo principal da edificação ia sendo concluído, passava a abrigar os serviços de embarque e desembarque de passageiros que ocorriam na segunda estação de passageiros. Tal serviço iniciou-se antes mesmo da gare ter sido concluída.

No mesmo período foi remodelado o Jardim da Luz, o primeiro parque público da cidade. Era, originalmente um jardim botânico, aberto ao público em 1825. Na década de 1860, o jardim perdeu parte de seu terreno para a construção da Estação São Paulo, do Colégio Prudente de Morais e do Liceu de Artes e Ofícios (atual Pinacoteca). Em 1883, os paulistanos puderam ver pela primeira vez o parque iluminado com energia elétrica.

Em 1919, a Estação da Luz ganhou mais uma vizinha que também se tornaria patrimônio histórico: a Vila dos Ingleses. São 28 sobrados em estilo Vitoriano, com influência do estilo colonial brasileiro. Foram construídos para abrigar os engenheiros que trabalhavam na estrada de ferro Santos-Jundiaí.

Incêndios e outras reformas

Em 1946 a estação sofreu um incêndio que afetou grande parte do edifício e destruiu o relógio da torre central. A reconstrução da estação foi bancada pelo governo e se estendeu até 1951. Foi adicionado um novo pavimento no bloco administrativo e a torre recebeu um relógio Michelini, de fabricação nacional.

Hall da Estação da Luz destruído pelo incêndio de 1946.

Em 1947, a Estação da Luz foi nacionalizada com o nome de Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (EFSJ)

A partir das décadas seguintes, o transporte ferroviário começou a perder força para o carro, ônibus e avião. Começava o processo de degradação do bairro da Luz e da Estação da Luz.

Mesmo assim, em 1982 o complexo arquitetônico da Estação da Luz foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico (Condephaat).

Nas décadas de 1990 e 2000, a estação passou por uma série de reformas, uma das quais com a intenção de adaptá-la para receber o Museu da Língua Portuguesa, aberto ao público em 2006.

Em dezembro de 2015, um outro incêndio de grandes proporções ocorreu na estação, destruindo as instalações do museu, e causando grandes danos ao patrimônio arquitetônico do prédio. Contudo, o acervo do museu não se perdeu, por ser na maior parte virtual e recuperável das suas cópias de segurança.

A Estação da Luz em chamas no incêndio de 2015.

A Estação da Luz foi mais uma vez reconstruída preservando-se seu traçado de 1901. O Museu da Língua Portuguesa foi reaberto ao público em 2021.

A Estação da Luz é uma das mais importantes estações ferroviárias da cidade de São Paulo. É o marco zero da ferrovia paulista e uma das mais importantes conexões da região metropolitana, ligando por trens e pelo metrô todos os quadrantes da cidade: norte, sul, leste e oeste. Recebe uma média de 450 mil passageiros todos os dias.

Em seus arredores, está a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Jardim da Luz e a Sala São Paulo na Estação Júlio Prestes.

Obras de arte da Estação da Luz

Entre 2002 e 2006, a Estação da Luz recebeu várias intervenções de restauro e modernização, por dentro e por fora, no bojo do Projeto Integração Centro, do Governo do Estado de São Paulo.

A primeira doação foi da artista plástica Maria Bonomi, reconhecida internacionalmente como uma das principais gravuristas da atualidade. Sua obra Epopeia Paulista, é um painel com 3 metros de altura e 73 metros de extensão, composto de 150 placas de concreto pigmentado com desenhos em baixo-relevo feitos a partir de objetos encontrados na seção de achados e perdidos da estação, como trombones, serrotes, chapéus, sapatos e até uma dentadura.

Em dezembro de 2005, o Instituto Moreira Salles doou o painel Panorama de São Paulo, do fotógrafo italiano Vincenzo Pastore, instalado no subterrâneo da estação. As fotos, realizadas entre 1911 e 1912 mostram como era São Paulo no início do século passado. É possível identificar vários marcos históricos, como o Teatro Municipal, o Viaduto do Chá, Igreja e Convento de São Francisco entre outros pontos da cidade.

Em 2006, a artista Teresa Saraiva doou seu mais novo painel, que recebeu o nome do local, Estação da Luz. Composto por 14 módulos em ferro fundido, de 1,20m x 0,85m cada, o trabalho pesa cerca de 2,5 toneladas e levou mais de dois anos para ser finalizado. Ele foi instalado nas paredes contíguas à escada central do saguão subterrâneo que dá acesso à rua José Paulino.

Estação da Luz vista da Rua Prates.

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