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Inaugurado o Sambódromo da Marquês de Sapucaí

02 de março de 1984

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No dia 2 de março de 1984, era inaugurada o Sambódromo da Marquês de Sapucaí, na cidade do Rio de Janeiro, que se consagrou como palco dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Inaugurado com o nome oficial de “Avenida dos Desfiles”, foi posteriormente chamado de “Passarela do Samba” e, a partir de 18 de fevereiro de 1987, passou a ser “Passarela Professor Darcy Ribeiro”, numa homenagem ao principal mentor da obra, o antropólogo Darcy Ribeiro.

Popularmente, porém, é mais conhecido como “Sambódromo”. Ele marcou o início do sistema de desfiles das escolas de samba em duas noites, ao invés de em apenas uma noite, como era costume até então.

Antes do Sambódromo, a Praça Onze

Carnaval de rua no Rio de Janeiro, foto publicada na revista Careta, de 4 de março de 1933.

O primeiro desfile, ocorrido em 1932, foi na Praça Onze na região central da cidade do Rio de Janeiro.A escola campeã foi a Estação Primeira de Mangueira.

Nos arredores da Praça Onze (o nome oficial era Praça Onze de Junho, dia da vitória da Marinha brasileira na Guerra do Paraguai) morava, no início do século XX, a Tia Ciata (a baiana Hilária Batista de Almeida), mãe de santo e quituteira, que reunia em sua casa os talentos musicais de Donga, Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Sinhô, Mauro de Almeida, Pixinguinha.

Foi na casa de Tia Ciata, que nasceu o primeiro samba oficial, Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida.

As festas repetiam-se em casas da vizinhança, de outras tias baianas, adeptas do candomblé, com muita batucada, com o nascente samba.  Quando surgiram os primeiros blocos de carnaval embalados pelo samba, a Praça Onze passou a ser seu ponto de encontro; como também das primeiras escolas de samba. Ali passou a Deixa Falar – considerada a primeira escola de samba da história, fundada em 1928, por Ismael Silva e outros sambistas, depois de longa perseguição policial.

Em 1941, a Praça Onze foi arrasada por uma reforma urbana que derrubou cerca de 525 prédios para abrir a Avenida Presidente Vargas.

Avenida Presidente Vargas preparada para o Carnaval de 1976. Repare nas arquibancadas à direita. Foto Agência Globo.

A Avenida Presidente Vargas acabou sendo local dos desfiles carnavalesco, mas não era um palco fixo. Outras avenidas receberam as escolas de samba como a avenida Rio Branco, a Antônio Carlos e até mesmo a Rua Marquês de Sapucaí que foi cenário do carnaval de 1978.

A cada carnaval, uma enorme trabalheira com o monta-desmonta das arquibancadas de metal que durava oito meses por ano: seis para montar e outros dois para desmontar, consumindo verbas enormes e tumultuando a vida da cidade.

A idealização do sambódromo

Quando o projeto de uma passarela fixa foi anunciado, em setembro de 1983, por Leonel Brizola (1922-2004), governador do Rio de Janeiro, muita gente duvidou que ia dar tempo. Faltavam cinco meses para o carnaval!

Era a sua primeira obra de vulto e uma ideia surpreendente: uma Passarela do Samba jamais havia sido pensada por alguém.

Inicialmente foi apresentado a Brizola e Darcy Ribeiro (1922-1997), vice-governador e secretário de Cultura, o projeto da FEM – Fábrica de Estruturas Metálicas, pertencente a Companhia Siderúrgica Nacional, de uma passarela toda de aço. O projeto contemplava, inclusive, a exigência do governador para que durante o ano inteiro as instalações se destinassem ao funcionamento de uma escola de ensino integral para milhares de alunos do ensino básico.

O projeto não agradou Darcy. Relembra Trajano Ribeiro, secretário de Turismo na época:

“Fiz então uma observação a respeito do senso estético do povo carioca, que provavelmente não aprovaria uma estrutura tão pesada e sem dúvida contrastante com a beleza da cidade. Darcy arrematou: “vou pedir ao Oscar que faça um projeto para a passarela”. E assim nasceu a passarela, fruto do traço de Niemeyer e do sonho de Darcy Ribeiro. Mas Darcy não se limitou apenas a criar a infraestrutura física para o desfile. Ele, a contragosto das escolas e seus patronos, dividiu a festa em dois dias e criou o sábado das campeãs, ou seja, criou um desfile em três dias. Deve-se a Darcy ter o desfile, hoje, a grandiosidade que ostenta, e graças à sua visão e a seu sonho a criatividade dos carnavalescos ganhou asas e produziu o maior espetáculo da terra.”

O projeto foi encomendado ao renomado arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer (1907-2012).

Foi Darcy Ribeiro que criou o termo “sambódromo”, um neologismo que junta a palavra “samba” e o termo grego drómos, que significa “caminho”, “via”. O termo pegou e hoje denomina vários sambódromos no país como o Sambódromo do Anhembi, de São Paulo, além de Florianópolis, Vitória, Santos, Porto Alegre e Manaus.

Croqui de Oscar Niemeyer para o Sambódromo.

As obras do Sambódromo

Maquete das instalações do Sambódromo.

Os números da obra são impressionates: 2,5 mil operários selecionados entre milhares de trabalhadores que fizeram fila no canteiro de obras, 18 mil metros quadrados de concretagem, 2,2 mil toneladas de aço, 120 mil sacos de cimento.

A equipe de Niemeyer era chefiada pelo engenheiro José Carlos Sussekind e pelo arquiteto João Octavio, filho de Brizola.

As arquibancadas não eram simples lâminas de concreto, como seria mais simples fazer, mas sólidos que abrigavam salas de aula e instalações para receber pelo menos cinco mil crianças. Ali estava a ideia dos CIEPs (Centro Integrados de Educação Pública) e a parceria Niemeyer–Darcy–Brizola que, meses depois, resultaria em um modelo educacional revolucionário.

Em 120 dias de trabalho, foram erguidas as imponentes estruturas de concreto pré-moldado que medem cerca de 700 metros de comprimento. Desde a marcação do início até o final, a pista mede cerca de 560 metros de comprimento e 13 metros de largura.

As arquibancadas tinham capacidade para 60.000 pessoas. Após a reforma de 2011, foi aumentada para 72.500 pessoas.

Oscar Niemeyer (sentado) na inauguração do Sambódromo.

Boicotes ao Sambódromo

Primeiro foi o mau agouro de que a obra não ficaria pronta a tempo. Ficou.

Muitos diziam que a acústica era péssima e provocaria eco, tornando inaudíveis os sambas. Nada disso.

Um pequeno desnível numa das rampas de acesso foi transformado em risco de desabamento. Nada caiu, porém.

A campanha de intrigas fez a venda de ingressos cair. Brizola reuniu os dirigentes de todos os escalões do governo e transformou-os em vendedores de ingresso, com cotas a cumprir.

Por último, a TV Globo resolveu que não iria televisionar o carnaval carioca, mas o de São Paulo. O boicote era tão intenso que, perguntado sobre o que esperava dos desfiles no sambódromo, o porta-voz da Presidência, Carlos Átila, respondeu cantando uma marchinha dos anos 50: “tomara que chova três dias sem parar”.

Brizola negociou a transmissão do desfile com a nascente TV Manchete. A audiência foi enorme; em contrapartida, a Globo amargou a maior queda de audiência de sua história que

começou no domingo, no programa Fantástico, e se estendeu pela segunda e terça-feira de carnaval, afetando a novela das oito, Champagne. Desde então, a Rede Globo nunca mais deixou de exibir o Carnaval carioca.

O sambódromo foi construído em tempo recorde: 120 dias de trabalho.

Em 2 de março de 1984, uma sexta-feira, como prometido, o Sambódromo estava pronto. O Carnaval, naquele ano, ocorreu nos dias 5 (segunda-feira) e 6 (terça-feira).

Conclusão das obras do Sambódromo.

A estreia e a primeira campeã

A primeira escola desfilar na Passarela do Samba foi a Império do Marangá, do bairro de Jacarepaguá. Leandro Miguel da Silva, de seis anos, foi o primeiro sambista a pisar o asfalto do Sambódromo.

Brizola desceu do camarote para dar início ao ritual sempre repetido de beijar cada estandarte de escola de samba, ovacionado pelas arquibancadas. Darcy Ribeiro, sob o arco de Niemeyer e com uma grande cartola preta, acenava em sorriso aberto à multidão. O projeto delirante de Brizola e Darcy foi o grande vitorioso do Carnaval de 1984.

A Unidos da Tijuca abriu o desfile das grandes com o enredo “Salamaleikun: a Epopeia dos Insubmissos Malês”.

Pela primeira vez, o desfile foi dividido em duas noites e com duas campeãs escolhidas pelos jurados. A Portela foi a vitoriosa da primeira noite, e a Estação Primeira de Mangueira, a última escola a desfilar, com o samba “Yes, nós temos Braguinha”, levou o título na segunda noite.

Teve um terceiro desfile, no Sábado das Campeãs, espécie de tira-teima, e a Mangueira levou a melhor. Muitos dizem que foi a única escola que soube como desfilar pela Praça da Apoteose, outra novidade daquele carnaval. A escola deu a volta na praça da Apoteose e voltou misturada ao povo que invadira a pista e foi aclamadísssima.

Em 18 de fevereiro de 1987, o nome oficial da Passarela do Samba passou a ser Passarela Professor Darcy Ribeiro, numa homenagem ao principal mentor da obra.

Em 2021, o Sambódromo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Leonel Brizola (à esquerda) e Darcy Ribeiro (à direita) no carnaval de 1984 inauguração da Avenida dos Desfiles, depois Passarela do Samba e depois Passarela Professor Darcy Ribeiroda ou simplesmente Sambódromo.

Fonte

  • REFKALEFSKY, Margaret Moura. Le Carcaval de Rio: les mises em scène du corps. Tese Doutorado. Universidade de Quebéc, 2008.
  • Perfis parlamentares. Leonel Brizola. Perfil, discursos e depoimentos. Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, 2004.
  • BRITO, Fernando. Darcy e o Sambódromo: usufruir do bom e do melhor seja normal pra qualquer um. Tijolaço, 12 fev 2017.

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