O jogo é uma eficiente estratégia pedagógica para contrapor à aula tradicional invertendo sua lógica monótona de assimilação passiva de conteúdos já prontos. Como tal, jogo é coisa séria e não uma mera brincadeira para divertir os alunos. Para além de seu caráter lúdico com regras e desafios onde um indivíduo (ou grupo) vence e outro perde, o jogo tem “uma função significante, isto é, encerra um determinado sentido”, como afirma Johan Huizinga.
É um momento de interação social, de representação, de criatividade, motivação, espontaneidade e, por conseguinte, de prazer. Durante o jogo os alunos se envolvem, planejam, analisam, criam estratégias, são capazes de prever as ações de seus adversários, Por meio do jogo liberam-se tensões e emoções de todo tipo: alegria, entusiasmo, empatia, cooperação e, também, conflitos, hostilidades, tentativas de trapaças e até mesmo agressões – o que exige uma atenção pedagógica consciente e intencional do professor. Nesse aspecto, o jogo permite trabalhar competências sócio emocionais previstas na BNCC como o fortalecimento da autoconfiança e autoestima.
Do ponto de vista da pedagogia da História, o jogo contempla diferentes formas de pensar e de articular o conhecimento. Possibilita ao aluno utilizar os conteúdos aprendidos, fazer inferências, perceber suas dificuldades, desenvolver habilidades cognitivas – situações de aprendizagem que também atendem aos princípios da BNCC.
O jogo aplicado à educação tem que servir a um propósito pedagógico: reforçar conceitos, fixar ou memorizar informações relevantes, explorar ou expandir o conhecimento, desenvolver determinadas habilidades ou avaliar a aprendizagem. Neste sentido, jogo é aula e deve ser preparado com o mesmo cuidado que se prepara uma aula ou uma avaliação.
Para garantir que o jogo atinja os objetivos pedagógicos propostos, é importante considerar questões norteadoras como:
- Qual o conteúdo ou temática a ser explorado no jogo?
- Quais habilidades eu pretendo que os alunos desenvolvam?
- Quais competências o jogo contempla?
- Quais dificuldades de aprendizagem que pretendo perceber?
- Como os alunos serão avaliados?
- Qual será a contribuição do jogo como material didático-pedagógico?
Os jogos disponíveis no mercado brasileiro dificilmente atendem a esses propósitos. Já as empresas editoriais de material didático na Europa, Estados Unidos e Canadá há tempos oferecem jogos educativos de qualidade. Neste site, o professor encontra jogos digitais de História do Brasil que atendem a objetivos pedagógicos.
Uma alternativa é o professor construir seus próprios jogos de acordo com seu trabalho e suas turmas. Melhor ainda se envolver os alunos na produção do jogo: elaborar fichas, cartões, jogos de tabuleiro (trilha) etc. Comumente os alunos ficam motivados com esse trabalho engajando-se com comprometimento nas atividades propostas.
Sugerimos, a seguir, a construção de 5 jogos. Eles podem receber conteúdos diversos de História ou de outras disciplinas, e servir a diversas finalidades pedagógicas. Explicamos a mecânica e as regras de cada um. Você cria o conteúdo.
Jogo 1 – Bingo da História
O bingo é um jogo clássico que está presente em quermesses, festas juninas, cassinos e nas rodas de amigos. A proposta do “Bingo da História” é substituir os números por perguntas e respostas rápidas e objetivas.
As perguntas e respostas são criadas pelos alunos, sob a supervisão do professor e de acordo com os critérios que ele estabelece para a elaboração desse questionário.
Este tipo de jogo se presta a diversos conteúdos: processos históricos específicos (Revolução Francesa, guerras de independência do Brasil por exemplo), definição de conceitos, revisão de um período de histórico etc. Conheça um modelo disponível no site: Bingo “Iluminado” da Idade Média: jogo para imprimir
Jogo 2 – Com quantas palavras você constrói uma frase?
Trata-se de um jogo em que o aluno deve aplicar o conhecimento adquirido com coerência, pertinência e significância histórica. O aluno é desafiado a formar uma única frase com as palavras e/ou conceitos sorteados pelo professor. A cada rodada, aumenta o número de palavras para compor uma nova frase.
Na última rodada, o desafio é ainda maior: ao invés de palavras sorteadas, o grupo deverá inferir qual é a palavra ou conceito que melhor exprime um dado documento e, com ela construir a frase.
A etapa de pontuação final trabalha a avaliação e argumentação da turma – uma competência sócio emocional importante para a formação dos jovens.
O jogo possibilita aos alunos aplicarem os conteúdos aprendidos e exige um bom conhecimento de História além do domínio da língua portuguesa. É mais adequado para o 9º ano e o Ensino Médio.
Mecânica e regras do Jogo 2 CLIQUE AQUI.
Jogo 3 – Famílias históricas
Uma das dificuldades do aluno, na aprendizagem da História, é separar fatos e contextos históricos, dificuldade essa que diz respeito à compreensão do tempo histórico. Ao longo do ano letivo, o aluno muitas vezes se depara com múltiplos tempos e espaços históricos – Egito, Grécia, sociedades da América, reinos africanos, Idade Média etc. – que, ao final do ano, acabam formando, em sua cabeça, uma confusa miscelânea de nomes, fatos e lugares.
O jogo “Famílias Históricas” consiste em reunir cartas que compõem uma mesma “família histórica”, isto é, dizem respeito ao mesmo tema ou contexto histórico. O objetivo principal aqui não é a cronologia em si mas a contextualização de fatos, sujeitos, lugares, conceitos, sociedades, artefatos etc.
O jogo permite fazer uma revisão do conteúdo aprendido no semestre ou no ano.
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Jogo 4 – 30 segundos para responder
O jogo consiste em explicar um fato, uma expressão, um conceito ou a atuação de um personagem histórico que foram selecionados por um grupo adversário. Se a resposta for errada, o grupo que lançou o desafio deverá responder mas, se não souber, o castigo será grande!
O jogo exige raciocínio rápido e argumentação clara e precisa.
Todos os alunos participam e a pontuação de cada um vai para o grupo.
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Jogo 5 – Forme a frase correta
O jogo consiste em formar uma frase correta a partir de segmentos distribuídos pelo professor. A frase deve ter um sentido ou significado histórico coerente. Os segmentos estão escritos em pedaços de papel embaralhados e cada aluno recebe um segmento.
Os alunos são informados, previamente, quais são as frases. Assim, terão de usar de lógica e coerência além de interpretação de texto para trabalhar o conteúdo histórico aprendido.
O jogo é adequado para alunos do 9º ano e do Ensino Médio. Mas pode ser aplicado nos anos anteriores desde que o professor tenha o cuidado de elaborar frases sob a forma de oração substantiva direta que é melhor compreendida pelos alunos mais novos.
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Jogo extra – “Canastra regencial”
Este jogo foi desenvolvido pelos professores Henry Juchem e Nilton Mullet Pereira, do Rio Grande do Sul, e publicado no site da Revista Brasileira de Educação Básica.
Trata-se de um jogo de cartas inspirado na “Canastra” em que os alunos confeccionam as cartas. O conteúdo do jogo são as revoltas regenciais.
Veja mais a respeito na página “Sobre o uso de jogos no ensino de História”.
Fonte
Há muitas pesquisas e uma boa bibliografia sobre uso de jogos no ensino de História. Indicamos abaixo algumas referências.
- GIACOMONI, Marcello Paniz & PEREIRA, Nilton Mullet (orgs.). Jogos e ensino de História. Porto Alegre: Evangraf, 2013.
- HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2000.
- ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. Petrópolis: Vozes, 2008.
- BECKEMKAMP, Daiana & MORAES, Marcos. A utilização dos jogos e brincadeiras em aula: uma importante ferramenta para os docentes. EFDeportes Revista Digital. Buenos Aires, ano n18, n. 186, nov 2013.
- FEMIANO, Maria A. Belintane. O jogo como um instrumento de trabalho no ensino de História. História Hoje. ANPUH, v. 3, n. 7, julho 2005.
- CARISSIMI, Laura Bossle & RAÜNZ, Roberto. Arquivo 7.0: jogos e o ensino de História.
- JUCHEM, Henry & PEREIRA, Nilton Mullet. Sobre o uso de jogos no ensino de História. Revista Brasileira de Educação Básica.
- HÜTHER, Sabrina Fabiola. Jogando com a História: diferentes possibilidades de aprendizagem. Monografia de Licenciatura, Lageado, 2016.
- ANDRADE, Débora El-Jaick. O lúdico e o sério: experiências com jogos no ensino de História. História & Ensino, Londrina: UEL, v. 13, set. 2007.
Veja também
- Jogo “Verdade ou Mentira?”
- 12 Dinâmicas para começar o ensino de História no 6º ano (e 5º ano também)
- 5 dinâmicas divertidas para o primeiro dia de aula
- 10 Fatos que mexem com a nossa percepção de tempo
- Por que estudar história?
- Para que serve a História? Por que os alunos do século XXI devem estudar História?
maravilhoso, amei muito. obrigada <3