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Teoria da aprendizagem significativa, de David Ausubel

12 de julho de 2024

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A expressão “aprendizagem significativa” tornou-se tão frequente nos discursos e relatos de professores e autoridades educacionais que é pertinente refletir sobre essa expressão e verificar se ela é, de fato, compreendida e utilizada corretamente.

Em primeiro lugar, não é uma expressão, mas um conceito atrelado à teoria educacional proposta por David Ausubel em sua obra The Psychology of meaningful verbal learning, de 1963. Trata-se, portanto, de uma teoria com mais de sessenta anos – período suficiente para ela ter sido amplamente discutida, aplicada, criticada, revista e, afinal, consagrada.

 Quem foi David Ausubel

Nascido em Nova York, de família judia e pobre, David Ausubel (1918-2008) formou-se bacharel em Psicologia, na Universidade da Pensilvânia, em 1939. Obteve seu mestrado e doutorado em Psicologia do Desenvolvimento na Universidade de Columbia, em 1950.

 Publicou muitos livros, bem como artigos em periódicos psiquiátricos e psicológicos, entre eles os que fundamentaram sua teoria da aprendizagem significativa, como:

  • The use of advance organizers in the learning and retention of meaningful verbal material (1960). Journal of Educational Psychology, 51, 267-272.
  • The Psychology of meaningful verbal learning (1963). Nova York: Grune & Stratton.
  • Learning theory and classroom practice (1967). Ontário: Ontario Institute for Studies in Education,
  • Educational Psychology: a cognitive view (1968). Nova York: Holt, Rinehart e Winston,

O começo de tudo

No prefácio de Educational Psychology: a cognitive view (1968), David Ausubel comenta:

“Se tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a apenas um princípio, eu diria isto: o fator mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe. Descubra o que ele sabe e baseie nisso os seus ensinamentos.”

Sobre essa proposição, Ausubel desenvolveu sua teoria da aprendizagem significativa. Percebe-se nessas palavras, sua preocupação em construir uma teoria de ensino que pudesse ajudar os professores no seu desempenho em sala de aula.

Princípios e estratégias da aprendizagem significativa

A teoria de Ausubel se contrapõe à aprendizagem mecânica onde a nova informação é memorizada sem conexões significativas com o conhecimento prévio, ou seja, os alunos memorizam informações sem compreendê-las. Na aprendizagem significativa proposta por ele, a ênfase está na criação de conexões entre os conhecimentos prévios do aluno e os conhecimentos novos, o que torna a aprendizagem mais profunda e duradoura, isto é, significativa. Resumimos abaixo os oito princípios e estratégias dessa teoria.

1. Conhecimentos prévios

Um dos pilares da teoria de Ausubel é a importância do conhecimento pré-existente na estrututra cognitiva do aluno. O conhecimento prévio atua como um ponto de ancoragem para novas informações, permitindo que os alunos façam conexões significativas e compreendam o novo material em um contexto mais amplo. Portanto, da interação entre conhecimentos prévios e novos conhecimentos resultaria a aprendizagem significativa, de maneira progressiva

“O indivíduo coleta as novas informações > seleciona > organiza > e finalmente cria relações com o conhecimento que já possui. É quando acontece esse tipo de aprendizagem, relacionando o novo conhecimento com as experiências já vividas e o restante do conhecimento obtido ao longo do tempo”. D. Ausubel

Esse princípio destaca a importância de avaliar e ativar o conhecimento prévio dos alunos antes de ensinar novos conceitos. Assim, por exemplo, antes de explicar a formação do Império Romano, verificar o que os alunos entendem por “império”, da mesma forma em relação a outros termos recorrentes na aula de História como “crise”, “revolução”, “escravismo”, “descoberta”, “direitos humanos” etc.

2. Estrutura Cognitiva

O conhecimento prévio do aluno, contudo, não garante por si só a aprendizagem significativa. Pelo contrário, ele pode até ser uma condição bloqueadora, caso eles estejam ancorados em noções e conhecimentos distorcidos ou derivados, por exemplo, do senso comum. É preciso considerar a estrutura cognitiva, isto é, a organização do conhecimento na mente do indivíduo.

Ausubel sugere que a aprendizagem significativa ocorre quando novas informações são relacionadas à forma hierárquica e sistemática na estrutura cognitiva existente. Em outras palavras, o ensino deve sempre encontrar ressonância na estrutura cognitiva do aluno. Para conseguir isso, ele recomenda o uso de organizadores prévios.

3. Organizadores prévios

Os organizadores prévios são uma ferramenta crucial na teoria de Ausubel para facilitar a compreensão e a retenção de novos conhecimentos pelos alunos. Organizadores prévios são informações introdutórias que servem como uma ponte entre o que os alunos já sabem e o que estão prestes a aprender. Eles ajudam a criar uma base sólida para a assimilação de novos conhecimentos, conectando o novo material ao conhecimento pré-existente dos alunos.

Há diversos tipos de organizadores prévios e comentamos abaixo quatro tipos principais.

Os organizadores comparativos ajudam a integrar novas informações com o conhecimento existente, destacando semelhanças e diferenças. Eles são particularmente úteis quando os alunos possuem algum entendimento prévio sobre o tópico, mas precisam expandir esse conhecimento. Por exemplo, ao ensinar sobre a Revolução Industrial, um professor pode usar organizadores comparativos para comparar as mudanças tecnológicas e sociais desse período com as da era digital atual. Isso ajuda os alunos a ver paralelos e contrastes, facilitando a conexões entre o conhecimento pré-existente e o novo material.

Os organizadores expositivos são utilizados quando o novo material é desconhecido para os alunos e não tem uma conexão direta com o conhecimento prévio. Eles transmitem uma visão geral e um contexto que ajuda a preparar a mente dos alunos para novas informações. Um exemplo seria uma introdução geral sobre o sistema político de uma civilização antiga antes de explorar detalhes específicos sobre sua estrutura e funcionamento. Esses organizadores ajudam os alunos a organizar uma base conceitual para o novo conhecimento.

Os organizadores narrativos utilizam histórias ou relatos para explicar novos conceitos. Eles são eficazes porque envolvem os alunos emocionalmente e cognitivamente, tornando o aprendizado mais interessante e incentivador. Por exemplo, ao ensinar sobre a Primeira Guerra Mundial, o professor pode começar com a narrativa da vida de uma pessoa que viveu durante aquele período, contextualizando os eventos históricos em uma história pessoal. Essa abordagem pode facilitar a compreensão do conteúdo. Trechos de autobiografias, diários, romances históricos, reportagens, depoimentos de testemunhas, letras de música ou mesmo uma fotografia ou uma pintura podem ser eficientes organizadores prévios.

Os organizadores gráficos incluem mapas conceituais, diagramas, tabelas e linhas do tempo que ajudam a visualizar a relação entre diferentes conceitos e fatos históricos . Eles são especialmente úteis para organizar informações complexas de maneira clara e acessível. Por exemplo, um mapa conceitual sobre a evolução das espécies pode mostrar as relações entre diferentes teorias e descobertas científicas, beneficiando os alunos a ver o “quadro geral”. Os organizadores gráficos facilitam a compreensão de conceitos inter-relacionados e promovem uma aprendizagem mais ativa.

4. Revisão

A revisão é um processo contínuo e crítico na aprendizagem significativa, que envolve a reavaliação e reestruturação do conhecimento adquirido anteriormente. A revisão é um modo do aluno aprender sem a supervisão direta do professor. Por meio dela, o aluno reforça suas conexões cognitivas e fortalece a compreensão dos conceitos aprendidos. Esse processo solidifica o conhecimento existente e prepara a cognição do aluno para a assimilar novas informações.

5. Diferenciação progressiva

A diferenciação progressiva é um princípio que recomenda que a aprendizagem comece com conceitos gerais e progrida para informações mais específicas e detalhadas. Esse processo permite que os alunos construam um entendimento básico antes de mergulharem em aspectos mais complexos do tema. Por exemplo, ao ensinar história, um professor pode começar com uma visão geral de um período histórico antes de explorar eventos e conceitos mais complexos.

6. Reconciliação integrativa

A reconciliação integrativa envolve a capacidade de relacionar novos conceitos com aqueles já aprendidos, reconciliando possíveis conflitos ou inconsistências. Esse princípio destaca a importância de analisar e conectar diferentes partes do conhecimento para formar uma compreensão coesa e integrada. Em sala de aula, isso pode ser facilitado por discussões, resumos e atividades que incentivem os alunos a refletir sobre como as novas informações se relacionam com os conhecimentos anteriormente aprendidos.

7. Aprendizagem expositiva

Para Ausubel, o professor é que deve comandar o ensino, não podendo fugir dessa responsabilidade. Isso implica estabelecer objetivos, selecionar conteúdos, organizá-los de acordo com o conhecimento prévio do aluno, realizar exercícios de revisão do conteúdo e fazer a verificação da aprendizagem.

Ele defende, inclusive, a aula expositiva em que o professor apresenta o conteúdo de forma estruturada e organizada, ao invés de deixar os alunos descobrirem por conta própria (aprendizagem por descoberta). A aprendizagem expositiva, quando bem estruturada, pode ser extremamente eficaz, pois permite que o professor direcione o foco dos alunos para os aspectos mais relevantes e significativos do conteúdo.

A aprendizagem expositiva, contudo, não significa que a aprendizagem por descoberta seja relegada. Ao contrário, Ausubel sugere que ambas as estratégias podem ser complementares, dependendo do contexto e dos objetivos.

8. Disposição para a aprendizagem

A disposição ou predisposição para aprender é outro aspecto importante na teoria da aprendizagem significativa. Ausubel acredita que os alunos são mais propensos a aprender de forma significativa quando percebem a relevância e o valor do material de aprendizagem. Para isso, os professores devem buscar conectar o conteúdo com as experiências pessoais dos alunos, tornando o aprendizado mais envolvente e significativo.

O feedback positivo e o reconhecimento das conquistas dos alunos são elementos importantes para manter e aumentar a motivação. Feedbacks construtivos ajudam os alunos a verem seu progresso e a entenderem áreas que precisam ser melhoradas, enquanto o reconhecimento pode validar suas estratégias e conquistas

A motivação pode ser intrínseca e extrínseca. A motivação intrínseca refere-se ao desejo de aprender por prazer, interesse ou satisfação pessoal, enquanto a motivação extrínseca é impulsionada por recompensas externas, como notas, prêmios ou recompensas. Ausubel apresenta a questão da disposição para aprender sem, contudo, desenvolver plenamente essa condição para a aprendizagem significativa.

Críticas à teoria da aprendizagem de Ausubel

A teoria da aprendizagem significativa de Ausubel trouxe importantes contribuições para o campo da educação e da psicologia, mas ela não está isenta de críticas. Ela gerou debates e alguns especialistas apontaram suas limitações, lacunas e dificuldades de aplicação, que resumimos a seguir.

1. Foco excessivo na aprendizagem verbal

Uma das críticas mais frequentes à teoria de Ausubel é seu foco quase exclusivo na aprendizagem verbal negligenciando outras formas de aprendizagem como visual, cinestésica e musical. Educadores e pesquisadores argumentam que a aprendizagem envolve múltiplas funções sensoriais e cognitivas. Segundo Mayer (2002), a teoria de Ausubel não aborda a variedade de estilos de aprendizagem presentes nas salas de aula modernas. Mayer argumenta que uma abordagem mais holística, que incorpore múltiplas funções sensoriais, seria mais eficaz para atender às necessidades diversificadas dos alunos.

 2. Negligência das emoções na aprendizagem

Ausubel concentra-se na estrutura cognitiva e nos aspectos intelectuais da aprendizagem, sem dar a devida atenção ao papel das emoções como evidenciam estudos contemporâneos em neurociência e psicologia educacional. Immordino-Yang e Damasio (2007) demonstram que as emoções são fundamentais para a motivação, o engajamento e a retenção do conhecimento.

3. Dificuldade na aplicação prática da teoria

Embora a teoria de Ausubel forneça uma sólida base teórica de aprendizagem significativa, sua aplicação prática pode ser desafiadora. Professores podem encontrar dificuldades em identificar o conhecimento prévio dos alunos de maneira eficaz, especialmente em turmas grandes ou diversificadas. Segundo Jonassen (1991), essa exigência pode ser um obstáculo, pois nem todos os alunos têm as mesmas experiências e bagagens educacionais. Assim, a teoria pode ser vista como pouco prática em certos contextos educacionais

 Rigidez na estruturação do conhecimento

Ausubel propõe que o novo conhecimento deve ser sistematicamente organizado e relacionado às estruturas cognitivas existentes para que a aprendizagem significativa ocorra. No entanto, essa abordagem pode ser considerada rígida e limitante. Greeno (1997) argumenta que a aprendizagem é um processo dinâmico e não linear, onde a descoberta e a experimentação são cruciais. A abordagem estruturada de Ausubel pode sufocar a criatividade e a flexibilidade necessária para um aprendizado efetivo.

 5. Desconsideração da aprendizagem colaborativa

A teoria de Ausubel se concentra principalmente no indivíduo, sem dar a devida atenção à aprendizagem colaborativa e ao papel das interações sociais. Vygotsky (1994) destaca a importância do contexto social e da interação para a aprendizagem. Segundo Vygotsky, a aprendizagem é um processo social mediado pela linguagem e pela interação com os outros.

 6. Dependência dos organizadores prévios

A teoria de Ausubel apresenta os organizadores prévios como ferramentas para facilitar a aprendizagem significativa. No entanto, Novak (2003) argumenta que a eficácia desses organizadores depende da habilidade do professor em criar materiais introdutórios adequados. Se os organizadores prévios não forem bem aceitos ou não estiverem adequados ao conhecimento prévio dos alunos, eles podem falhar em facilitar a aprendizagem. Além disso, essa dependência pode limitar a espontaneidade e a adaptabilidade no ensino.

7. Desvalorização da aprendizagem por descoberta

Ausubel criticou a aprendizagem por descoberta, argumentando que a aprendizagem significativa por ele proposta é mais eficaz. No entanto, a aprendizagem por descoberta, defendida por teóricos como Jerome Bruner (1973 e 1997), promove a exploração ativa e o engajamento dos alunos, incentivando a curiosidade e o pensamento crítico.

 8. Generalização excessiva

Alguns críticos, como Shuell (1986), argumentam que a teoria de Ausubel generaliza sobre a natureza da aprendizagem, sem considerar as variações individuais entre os alunos. Cada aluno possui um modo único de aprender, e uma abordagem que funcione para um grupo pode não ser eficaz para outro. A teoria de Ausubel pode, portanto, ser vista como uma abordagem de “tamanho único” que não leva em conta as diferenças individuais nas preferências e necessidades de aprendizagem.

Fonte

  • AUSUBEL, D. P. Psicologia educativa: um ponto de vista cognoscitivo. Trad. Roberto Helier Domínguez. México: Editorial Trillas, 1976.
  • _______. The Psychology of Meaningful Verbal Learning. New York: Grune & Stratton, 1963.
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  • AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Trad. Eva Nick e outros. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.
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  • MAYER, Richard E. (2002). Rote versus meaningfull learning. Theory into Practice, 41, 226-232, 2002.
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  • SHUELL, T. J. (1986). Cognitive conceptions of learning. Review of Educational Research, v. 56, n. 4, p. 411-436.

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