Em 3 de março de 1918, na fortaleza de Brest-Litovsk, na Bielorússia, o governo bolchevique russo assinou a paz com as Potências Centrais (Alemanha, Império Austro-Húngaro, Bulgária e Império Otomano) marcando com esse tratado a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914.
Lênin que, em novembro de 1917, liderou a tomada de poder pelos bolcheviques (“Revolução de Outubro”), propunha uma paz sem anexações e indenizações para todos os beligerantes. Preocupado em consolidar a revolução comunista na Rússia, não lhe interessava continuar em uma guerra que consumia enormes esforços materiais e já matara 4 milhões de soldados russos.
Em 15 de dezembro de 1917, Lênin resolveu assinar um armistício com os Impérios Centrais por um período de dois meses.
As conversações de paz foram retomadas em 22 de dezembro de 1917 na cidade fortificada de Brest-Litovsk, sede das forças alemãs na Frente Oriental. Os Aliados não participaram. O mentor das negociações foi Leon Trotsky, Comissário do Povo para Assuntos Estrangeiros. Ele acreditava que os alemães e os austro-húngaros seguiriam os russos no caminho da revolução do proletariado.
A Alemanha apresentou uma série de exigências territoriais o que gerou fortes discussões entre Trotsky, Lênin e demais membros do governo bolchevista. Lênin estava, acima de tudo, ansioso por salvar sua revolução, mesmo que a custa da derrota e do desmembramento do império russo.
Finalmente, a paz foi concluída em 3 de março de 1918. Pelo tratado, a Rússia perdeu a Polônia, a Finlândia, a Ucrânia, Bielorússia, os países bálticos (Lituânia, Letônia, Estônia), assim como as regiões turcas de Ardaham e Kars e do distrito georgiano de Batumi, antes sob seu domínio. Estes territórios continham um terço da população da Rússia, metade de sua indústria e nove décimos de suas minas de carvão.
A maior parte desses territórios se tornariam, na prática, pertencentes ao Império Alemão, sob a tutela de reis e duques.
A Rússia comprometeu-se, ainda, a pagar à Alemanha uma indenização de 94 toneladas de ouro.
O tratado levou a uma crise interna entre os membros do governo bolchevique, muitos dos quais se colocaram contra Lênin. Estimulou, inclusive, o levante dos partidários do regime czarista que viram o tratado como uma traição ao país. Movimentos separatistas e governos rebeldes se formaram na Ucrânia, Cáucaso, Geórgia, Azerbaijão, Armênia e Sibéria. A situação desdobrou-se na guerra civil (1918-1920) que causou 5 milhões de vítimas entre os combatentes, não incluindo os civis vítimas de fome e execuções sumárias – um número muito acima das perdas humanas da Rússia na Primeira Guerra Mundial.
O Tratado de Brest-Litovsk previa, também, a libertação de prisioneiros de guerra de ambos os lados, ou seja, mais de 2 milhões de austro-húngaros na Rússia, menos de 1 milhão de russos na Áustria-Hungria, e cerca de 2 milhões de russos na Alemanha. A troca de prisioneiros trouxe um fato inesperado: muitos dos prisioneiros alemães e austro-húngaros, retornam aos seus países defendendo as ideias bolchevistas e se tornaram militantes comunistas como o socialista austríaco Otto Bauer, o húngaro Béla Kun e o esloveno Josip Broz Tito – este último, ditador comunista da Iugoslávia de 1953 a 1980.
Com a derrota da Alemanha na guerra (1918), parte dos territórios perdidos no Tratado de Brest-Litosvsk tornaram-se Estados soberanos: Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia. Por outro lado, a Bielorússia e a Ucrânia envolveram-se na Guerra Civil russa e terminaram por ser novamente anexadas ao território russo, então sob o nome de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
- BNCC: 9° ano. Habilidade: EF09HI11
Fonte
- FERRO, Marc. A revolução de 1917. São Paulo: Perspectiva, 1988.
- MARIE, Jean-Jacques. História da Guerra Civil Russa, 1917-1922. São Paulo: Contexto, 2017.
- CARR, Edward H. The Bolshevik Revolution 1917-1923, v. 3. Pelican Books, 1966.
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