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Fundação lendária de Roma, Itália

21 de abril de 753 a.C

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Em 21 de abril de 753 a.C., foi fundada Roma, conforme a lenda latina contada por Virgílio em A Eneida (séc. I a.C.) e por Tito Lívio, em Ab Urb Condita (séc. I d.C.). Isso significa que a versão mitológica da criação de Roma surgiu quando a cidade já havia virado a capital de um império e buscava explicar sua vocação militar e expansionista por uma ancestralidade heroica e divina.

Os romanos foram buscar a sua origem em Troia, no final da guerra, e na figura do troiano Eneias, um personagem secundário da Ilíada. A Guerra de Troia era o feito mais exaltado da Antiguidade do qual os gregos sentiam-se herdeiros direto dos heróis e deuses que ali combateram por dez anos, e foram vitoriosos. Eneias foi transformado pelos romanos em príncipe troiano, filho de Anquises e da deusa Vênus, cuidado por uma ninfa na infância e educado pelo famoso centauro Quíron, uma figura ímpar na mitologia grega, inteligente, civilizado, bondoso e com grande habilidade para a medicina.  Eneias era casado com Creusa, filha de Príamo, o rei de Tróia, da qual teve um filho Ascânio.

Durante a investida dos gregos em Troia, Eneias combateu nas ruas da cidade matando muitos gregos. Mas, ao perceber que o número desses sempre crescia, decidiu deixar a cidade carregando seu velho pai Anquises às costas o qual segurava os Penates (deuses domésticos), e conduzindo, pela mão o filho Ascânio, ainda muito pequeno – uma cena exemplar de amor filial e paterno, modelo de pietas, o dever e a devoção que todos os romanos deveriam ter com as divindades e a família, particularmente com o pai. Quanto à esposa Creusa que seguia os três, desapareceu durante a fuga.

Eneias foge de Troia em chamas

Eneias foge de Troia em chamas, de Federico Barocci, 1598, Galeria Borghese, Roma, Itália.

Eneias reuniu-se a outros sobreviventes e, juntos, construíram uma frota de vinte navios e partiram. Seguiu-se um trajeto tão aventureiro quanto o de Ulisses, passando pela Trácia, Delos, Creta e Epiro. Em um dos lugares, Eneias foi informado de seu destino: chegar à Itália onde seria fundado um império. No caminho, em Drépano, na Sicília, seu pai morreu e foi sepultado. Após os funerais, Eneias embarcou rumo à Itália, mas uma violenta tempestade o arremessou para as costas da África onde ele aportou em Cartago.

Cartago era governada pela rainha Dido que acolheu Eneias, seu filho e companheiros, e ouviu dele a narração dos últimos dias de Troia. Vênus fez despertar no coração de Dido uma paixão violenta pelo herói troiano. Eneias encantado com a gentileza da rainha fenícia, esqueceu-se de seu destino, gozando os prazeres que a corte lhe oferecia. Mas logo os deuses lhe advertiram: ele devia deixar a África e rumar para a Itália. Dido se desesperou e fez de tudo para reter o amado.

Quando Eneias partiu de Cartago, Dido, incapaz de suportar o abandono amaldiçoou Eneias e jurou vingança até o final dos tempos – explicava-se assim, o conflito posterior entre Roma e Cartago, as Guerras Púnicas (lembrando que essa lenda foi, em boa parte, criação de Virgílio no século I a.C., e portanto séculos depois dessas guerras). Dido se matou com a espada que Eneias havia lhe deixado e se jogou em uma pira funerária.

Eneias na Itália

Chegado à Itália, Eneias consultou a sibila de Cumas, e com ela desceu aos Infernos, o mundo dos mortos. Nos Campos Elísios, o reino dos felizes e dos bem-aventurados, viu os heróis e seu pai Anquises.

― Vieste, afinal, me ver, filho querido! Tua piedade soube triunfar sobre o difícil caminho.

Eneias tentou, por três vezes, abraçar o pai, e por três vezes a imagem paterna lhe sumiu das mãos, como um sonho. Em torno, inúmeras almas se aproimavam do rio para beber de suas águas límpidas.

― Dize-me, pai, quem são essas almas tão sedentas?

― São as almas desejosas de renascer. […] Entre elas está Rômulo, o fundador de Roma. Vês, enfim, aquele que foi tantas vezes anunciado: Augusto. Graças a ele , a idade de ouro renascerá nos campos do Lácio. Ele levará o império dps romanos das margens do Nilo até o mar Cáspio; das Colunas de Hércules [Gibraltar] até as praias do Indo. Acredite-me filho; outros povos saberão, talvez, modelar melhor o bronze, esculpir o mármore, poderão falar com mais eloquência, medir melhor o movimento dos astros… mas o povo romano sozinho submeterá o mundo ao seu Império; tuas artes consistirão em impor as condições de paz, poupar os vencidos e subjugar os soberbos.”

Retornando do mundo dos mortos, Eneias foi recebido por Latino, rei da região. Casou-se com Lavínia, filha do rei, depois de ter lutado e matado outros pretendentes. Fundou a cidade de Lavínio, em honra da esposa. Depois da morte do sogro, reinou sobre todo o Lácio.

Pouco tempo após sua ascensão ao trono, os etruscos lhe declararam guerra. Eneias marchou contra eles e combateu-os. No decorrer da sangrenta luta, Eneias desapareceu subitamente. Os latinos, não sabendo o que fora feito de seu rei, acreditaram que os deuses o haviam levado e lhe renderam honras divinas. Mais tarde, ele foi adorado pelos romanos sob o nome de Júpiter Indígete.

Descendência de Eneias

Ascânio, filho de Eneias e Creusa, sucedeu o pai no trono de Lavínio. Adotou o nome latino Iulo ou Julo. Construiu Alba Longa que se transformou em capital de seu reino. Seus descendentes reinaram por várias gerações. Numitor, o décimo segundo rei de Alba Longa foi deposto pelo próprio irmão, Amúlio. Este, para assegurar que não haveria herdeiros legítimos para o trono, matou os sobrinhos, filhos de Numitor e forçou a filha dele, Reia Silvia, a se tornar uma vestal, a virgem dedicada à deus Vesta.

Entretanto, o deus Marte apaixonou-se pela jovem e engravidando-a. Reia Silvia deu à luz  a gêmeos em um bosque consagrado a Marte. Amúlio, informado do fato, mandou que matassem a vestal infiel a seu voto de castidade e lançasse os gêmeos ao rio Tibre em um cesto. O rio tinha transbordado  numa das suas cheias periódicas; logo que as águas recuaram ao leito, o cesto ficou encalhado em um local seco.

Uma loba que tinha perdido seus filhotes foi atraída pelo choro das crianças. Aproximando-se deixou que elas se alimentassem com seu leite. Pouco depois, um pastor recolheu os bebês e os entregou a sua mulher. Eles ganharam os nomes de Rômulo e Remo.

Altar de Rômulo e Remo, em Óstia Antiga, Itália, sec. I a.C.

Rômulo e Remo fundam Roma

Os filhos do deus Marte cresceram fortes e sadios entre os pastores. Adultos, eles descobriram sua origem e se vingaram: depuseram Amúlio e reconduziram o avô, Numitor, ao trono de Alba Longa.

Numitor aconselhou-os a fundar uma cidade no local onde havia sido abandonados e recolhidos. Restava decidir qual dos dois daria nome à futura. Para isso, consultaram os auspícios, os sinais enviados pelos deuses na natureza. No alto de um monte, aguardaram uma manifestação divina. Foi então que Remo avistou seis abutres planando sobre o monte Aventino; Rômulo, em seguida, viu doze sobre o monte Palatino. Remo cedeu ao irmão a primazia em batizar a cidade, e Rômulo  a chamou de Roma e decretou aquele dia como o primeiro dia do ano 1 da história romana.

O plano da cidade com um simples sulco feito pelo arado no chão. Rômulo, então, anunciou, solene, que era proibido transpor o que ele considerava as suas muralhas. Remo, zombando do irmão, saltou por cima do traçado e foi morto por Rômulo gritando “Que assim morra, daqui por diante, quem ousar transpor, à força, minhas muralhas!”

Rômulo continuou os trabalhos e, terminadas as obras, proclamou-se rei de Roma.

A célebre Loba Capitolina (nome derivado do monte Capitolino onde ela foi exposta) é uma escultura em bronze em tamanho quase natural. Sua origem é controversa, tradicionalmente dita com uma peça da arte etrusca, mas pesquisas recentes apontam como sendo dos séculos XI e XII. As esculturas dos gêmeos são posteriores: foram feitas no século XV e anexadas à escultura da loba.

Data da fundação de Roma

A data da fundação de Roma é, a rigor, desconhecida, embora historiadores concordem que teria sido no século VIII a.C. Vestígios arqueológicos (fragmentos de cerâmica, ferramentas e armas de pedra, ossos de animais)  indicam que o local era ocupado desde 14 mil anos. Resquícios de habitações datadas do século XI a.C. foram encontrados na área do Fórum Romano, bem como uma necrópole do século X a.C. com vestígios de fossas de cremação (os indo-europeus incineravam seus mortos).

Antes do século VIII a.C. existiam aldeias dispersas nas colinas e ocupadas por latinos que, em caso de perigo reuniam-se para enfrentar os inimigos. No centro de Roma foram descobertos três recintos muralhados sobrepostos datados, dois dos séculos VIII-VII a.C. e um dos séculos VII-VI a.C.

A data, 21 de abril de 753 a.C. foi determinada pelos cálculos do erudito romano Marcos Terêncio Varrone (116 a.C.-27 a.C.) e pelos cálculos astrológicos de Lúcio Taruzio (séc. I a.C.).

Os romanos antigos contavam os anos a partir da data da fundação de Roma. Ainda hoje, ela é comemorada na Itália, todos os anos, como aniversário de fundação da cidade, Ab Urbe condita. É o único dia que o canhão de Gianicolo não dispara (um costume originado no século XIX de todos os dias, ao meio dia, um canhão instalado no monte Gianicolo, operado por três soldados italianos, disparar um tiro).

Fonte

  • VIRGÍLIO. Eneida. São Paulo: Cultrix, 1999.
  • SPALDING, Tassilo Orpheu. Dicionário da mitologia latina. São Paulo: Cultrix, 1993.

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