Em 21 de janeiro de 1793, um domingo pela manhã, Luís XVI, rei da França, foi levado à guilhotina erguida na Place de la Revolution (hoje Place de la Concorde), em Paris, onde foi decapitado. Estava em curso, então, a Revolução Francesa que, após a execução do rei, entraria em sua fase mais dramática e violenta chamada de Terror.
Luís XVI foi derrubado pelos revolucionários parisienses em 10 de agosto de 1792. Esse fato marcou uma virada importante na revolução, até então moderada e liberal prenunciando a sangrenta ditadura dos jacobinos. Três dias depois, o rei foi preso com sua família: sua esposa, a rainha Maria Antonieta, sua irmã e seu casal de filhos.
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Provas incriminatórias
Em 20 de novembro de 1792, a descoberta de um cofre (o célebre “armário de ferro”) nos apartamentos do palácio real das Tulherias revelou a correspondência secreta de Luís XVI. Nas cartas, o rei classificava a Constituição de “absurda e detestável” e só a aceitou como parte de uma estratégia hipócrita e sob coação. E ainda, revelavam conversações secretas com Mirabeau, deputado moderado que fora líder da Assembleia Nacional Constituinte. O deputado orientou o rei como recuperar sua autoridade e recebeu pagamento por esses conselhos.
Robespierre ficou tão indignado com essas revelações que exigiu que os restos de Mirabeau (falecido em abril de 1792) fossem retirados do Panteão e seus bustos comemorativos fossem destruídos (SCHAMA, 1989, p.527).
O clima incriminatório aumentou com as revelações do “armário de ferro”. Sugeria-se que o rei estava conspirando contra o governo revolucionário. Luís XVI foi também responsabilizado pela crise econômica que inflacionava o preços dos alimentos.
Em 3 de dezembro, Robespierre, em um de seus famosos discursos, defende a necessidade de condenar o rei para legitimar a revolução: “Não há julgamento a ser feito aqui. Não há nenhuma sentença a favor ou contra um homem, mas uma medida de segurança pública a ser tomada. (…) Luís deve morrer porque a pátria deve viver… Peço que a Convenção Nacional declare que, a partir deste momento Luís é um traidor da nação francesa, um criminoso da humanidade”.
O julgamento de Luís XVI
O julgamento, iniciado em 11 de dezembro, estendeu-se a janeiro do ano seguinte. O discurso de Robespierre de 3 de dezembro inspirou outros discursos ainda mais inflamados.
Contudo, não ocorreram somente acusações. Luís XVI teve defensores, entre eles “a feminista Olympe de Gouges, autora da Declaração dos Direitos das Mulheres e Cidadãs que, apesar de ser revolucionária fervorosa, considerava Luís mais vítima que tirano”. […] Houve até distúrbios populares a favor do rei, como em Rouen, por exemplo, onde se desencadeou um tumulto” (SCHAMA, 1989, p.530 e 533)
Durante todo o julgamento, Luís XVI mostrou calma e respondeu às perguntas negando que houvesse feito qualquer coisa de ilegal ante ou depois de 1791. Negou que pretendia fugir e que preparava um ataque a Paris. Insistiu em sua inviolabilidade garantida pela Constituição.
Votações e a condenação
As votações iniciaram em 4 de janeiro de 1793. Três questões foram decididas: a culpa ou a inocência do rei, a sentença e a soberania popular, isto é, a votação do povo.
O voto foi oral, uma exigência de Marat como forma de denunciar os “traidores”. Cada um dos 749 deputados deveria responder se o rei era culpado (bastando responder unicamente “sim” ou “não”), qual seria a sentença, e se o veredito deveria ser submetido à votação popular.
Nenhum deputado votou pela inocência de Luís e os 693 presentes votaram por sua culpa e 424 rejeitaram o apelo ao povo.
No dia 16, ocorreu a votação mais dramática: a da sentença. A sessão iniciou às 20h estendendo-se até as 9h do dia seguinte. Depois de treze horas de votação, dos 721 deputados presentes, 361 votaram pela morte incondicional, 319 pela prisão seguida de exílio, 28 se abstiveram de votar e o restante votou por outras sentenças.
Alguns deputados não concordaram com a categoria em que seus votos foram enquadrados e exigiram outra votação. Uma nova e definitiva votação aconteceu na sexta-feira, 18 de janeiro. O resultado foi de 361 votos a favor da morte e 360 contra. Por apenas um voto de diferença Luís XVI foi condenado à morte na guilhotina.
A execução de Luís XVI
A execução ocorreu três dias depois, 21 de janeiro de 1793. No momento que era conduzido ao local da execução, houve uma tentativa de libertá-lo. O barão de Batz convocou 300 monarquistas para a operação e avançou em direção à carruagem onde estava Luís XVI gritando “Quem deseja salvar o rei, venha comigo!”. Porém, seus companheiros haviam sido denunciados e apenas alguns puderam comparecer. Três foram mortos, mas o Barão de Batz conseguiu escapar. O rei Luís XVI não percebeu nada.
Quando a lâmina da guilhotina caiu, uma salva de artilharia anunciou a morte do rei. O carrasco mostrou a cabeça de Luís XVI para o povo reunido na praça que gritava “Viva a Nação! Viva a República!”.
Seguiu-se uma histeria coletiva: alguns indivíduos conseguiram romper o cordão de isolamento dos guardas nacionais e entraram debaixo do cadafalso para molhar seus lenços no “sangue real” – que acreditavam trazer sorte. Soldados molharam seus sabres na poça de sangue. Um homem lambuzou os braços no sangue e o aspergiu na direção da multidão, que vibrava de forma incontrolada. O carrasco vendeu mechas do cabelo ensanguentado do rei e também fragmentos de suas roupas.
Fonte
- SOBOUL, Albert. A Revolução Francesa. Difel, 1985.
- HOBSBAWN, Eric. A Revolução Francesa. Paz e Terra, 2008.
- HOBSBAWN, Eric. A Era das Revoluções, 1789-1848. Paz e Terra, 2007.
- SCHAMA, Simon. Cidadãos, uma crônica da Revolução Francesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
Saiba mais
- Tomada da Bastilha, França
- Execução de Maria Antonieta na guilhotina
- Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, França
- Aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
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Abertura
- Execução de Luis XVI, gravação alemã de Georg Heinrich Sieveking, 1793