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Início da Cabanagem, Pará

06 de janeiro de 1835

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Em 6 de janeiro de 1835, tinha início, em Belém do Pará, a Cabanagem, uma das maiores rebeliões populares da História do Brasil. Iniciada na regência de Diogo Antônio de Feijó, a revolta se prolongou por cinco anos, sendo debelada em 1840. O nome Cabanagem se deve ao tipo de moradia da população ribeirinha, uma espécie de cabana sobre estacas (palafita). Cabanos era o termo utilizado como alcunha dos homens que viviam nessas moradias simples, cobertas de palha. O nome cabano significa, também, um tipo de chapéu de palha comum entre o povo mais humilde na Amazônia (RICCI, 2007).

  • BNCC: 8° ano. Habilidade: EF08HI16

Belém era, então, capital da província do Grão-Pará que compreendia os atuais estados do Pará e Amazonas. O movimento envolveu múltiplos interesses e diversos grupos sociais – desde ex-escravos e indígenas até donos de seringais, fazendeiros, comerciantes, padres, jornalistas etc. – todos unidos contra o governo regencial. De um lado, as camadas mais pobres da sociedade jogada à sua própria sorte, de outro lado, os poderosos que viram seus interesses políticos ameaçados pelo papel secundário destinado à província depois da independência. Ambos os lados uniram-se a um único objetivo: derrubar o governo central.

A primeira tomada de Belém

A Cabanagem teve início em 6 de janeiro de 1835 quando o quartel e o palácio do governo de Belém foram tomados pelos cabanos liderados por Francisco Pedro Vinagre. Neste primeiro assalto a Belém foram mortas as principais autoridades – o presidente da província, Bernardo Lobo de Souza, e seu Comandante das Armas, Joaquim José da Silva Santiago. Seguiram-se outras ações violentas: muitas casas foram ocupadas na busca de inimigos ocorrendo assassinatos e punições físicas com açoites e palmatórias a várias pessoas, em sua maioria mulheres ou parentes de seus algozes.

A bandeira de luta dos cabanos resumia-se na morte aos portugueses e aos maçons. Os primeiros simbolizavam o passado de exploração econômica e submissão social. Os segundos eram vistos como homens que contrariavam as leis de Deus e da Igreja.

Foi instituído um novo presidente, Félix Clemente Malcher, latifundiário e dono de engenhos de açúcar. Malcher, contudo ficou poucas semanas no poder. Considerado um traidor por se manter fiel às exigências do governo imperial e não atender prontamente às reivindicações de seus companheiros, foi deposto e morto por um dos cabanos em 19 de fevereiro de 1835. Seu cadáver foi arrastado pelas ruas de Belém.

Francisco Vinagre, o líder cabano que participara ativamente da conquista de Belém, assumiu o governo da província reconhecendo o poder da Regência, em nome do imperador, o que acalmou a situação.

Em julho, ele entregou seu governo ao emissário regencial, o marechal Manoel Jorge Rodrigues em troca de anistia aos revolucionários. A revolta parecia ter terminado. Contudo, em agosto, Francisco Vinagre foi preso por ordem do marechal Rodrigues. Os cabanos pegaram novamente em armas.

A segunda tomada de Belém

Antônio Vinagre, irmão de Francisco, reuniu os cabanos e, em agosto de 1835, tomou a cidade de Belém, numa mortandade e luta sem precedentes. Antônio Vinagre foi morto em combate e Eduardo Angelim, outro líder popular e carismático e amigo pessoal dos irmãos Vinagre, assumiu o lugar de Antônio em plena luta.

A vitória dos cabanos confirmou Eduardo Angelim no poder da província. Durante os dez meses de seu governo, as tensões continuavam. Os cabanos estavam “cada vez menos subordinados e desejando mais mandar e não ser mandados. Tomada a capital pela segunda vez, todos queriam cargos” (RICCI, 2007).

Em meio às insatisfações dos rebeldes, a vida na cidade ficava cada dia mais difícil com a fuga de muitos moradores, o esvaziamento dos armazéns e lojas e, em consequência, a carestia e fome. Para agravar o quadro caótico, chegou a varíola que matou muitos cabanos.

A guerra total contra os cabanos

Em março de 1836, o império nomeou um novo presidente para a província, o brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andrea, barão de Caçapava, autorizando-o a fazer a guerra total contra os cabanos. Quatro navios de guerra fizeram um bloqueio a Belém e a cidade foi impiedosamente bombardeada.

Eduardo Angelim e alguns líderes cabanos se refugiaram no interior. Angelim, capturado em outubro de 1836, foi mandado para o Rio de Janeiro e depois aprisionado em Fernando de Noronha.

Muitos rebeldes escaparam pelos igarapés em pequenas canoas deixando Belém vazia para as tropas de Soares de Andrea. Mas a luta não se encerrou com a retomada de Belém pelas tropas do governo regencial. Os cabanos levaram a luta armada para o interior da Amazônia cooptando populações inteiras de índios e quilombolas. Revolucionaram Santarém, Manaus e toda a região até a fronteira do atual Amapá. “Aprenderam a usar a natureza a seu favor, envenenando rios, queimando a mata, espantando os animais e dizimando plantações de alimentos básicos para a subsistência das tropas inimigas, como a mandioca e o milho” (RICCI, 2007).

O império usou novamente o poderio militar para sufocar a revolta e, em 1840, promoveu um extermínio em massa da população paraense. Nações indígenas como os Murá e os Mauê praticamente desapareceram. Calcula-se que cerca de 30 mil pessoas morreram o que correspondia entre 30 e 40% da população da província estimada em 100 mil habitantes. A população local só voltaria a crescer significativamente em 1860.

A memória cabana

A Cabanagem criou raízes na memória popular e foi apropriada por governos. Durante o Estado Novo (1937-1945), foi exaltada como o movimento que pôs fim às oligarquias. Em 1970, a nova sede da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) ganhou o nome de Palácio da Cabanagem.

Na década de 1980, no final da ditadura militar, a Cabanagem ganhou a fama de revolta das massas contra os governos autoritários. Em 1982, Jader Barbalho, então candidato a governador do Pará, se apresentava como o “novo líder cabano”, e foi eleito. Durante seu governo, criou o Memorial da Cabanagem, financiou pesquisas e promoveu um concurso de monografias sobre o tema.

Memorial da Cabanagem

Memorial da Cabanagem, monumento em concreto armado projetado por Oscar Niemeyer, inaugurado em 1985.

Na década de 1990, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, do Partido dos Trabalhadores, afirmava que seu governo era a “terceira tomada cabana” de Belém, e ele seria o sucessor legítimo do governo de Eduardo Angelim.

“A Revolta dos Cabanos” – trailer da minissérie documental

Fonte

  • REIS, Marcos. Cabanos, a História. Belém: Maguen, 2011.
  • RICCI, Magda. Cabanagem, cidadania e identidade revolucionária: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840. Scielo Brasil, 16 out 2007.
  • RODRIGUES, Denise Simões. Revolução cabana e construção da identidade amazônida. Belém: EDUEPA: 2009.
  • MOREIRA, Flávio Guy da Silva. Pródromos da Cabanagem – geografia e capítulos da história do Grão-Pará. Belém: Paka-tatu, 2012.
  • CHIAVENATO, Júlio José. Cabanagem, o povo no poder. São Paulo: Brasiliense, 1984.
  • CHIAVENATO, Júlio José. As lutas do povo brasileiro. São Paulo: Moderna, 1988.

Saiba mais

Abertura

  • O cabano paraense, de Alfredo Norfini, 1940.

 

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