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Execução de Maria Antonieta na guilhotina

16 de outubro de 1793

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Em 16 de outubro de 1793, em pleno período do Terror jacobino, durante a Revolução Francesa, a rainha Maria Antonieta foi guilhotinada.

Estava, então, com 38 anos de idade. Ela havia sido presa no ano anterior junto com Luís XVI, seus dois filhos (Maria Tereza, 14 anos, e o Delfim, 7 anos) e sua cunhada, irmã do rei. O primeiro a ser condenado foi Luís XVI, em janeiro de 1793. A irmã do rei seria no ano seguinte, em maio de 1794.

O Delfim, herdeiro da coroa foi mantido prisioneiro em condições subumanas tendo um sapateiro analfabeto como tutor que costumava embebedar a criança e faze-la cantar “A Marselha”. Morreu na prisão em 10 de agosto de 1795, aos 10 anos de idade, desnutrido e com tuberculose.

A hostilidade da corte de Versalhes

Maria Antônia (seu nome em alemão) era austríaca, filha do imperador Francisco I e Maria Teresa da Áustria. Naquela época, a corte da Áustria tinha uma etiqueta muito menos rigorosa que a de Versalhes: as danças eram menos complexas, o luxo era menor e a multidão, menos numerosa. Maria Antonieta recebeu uma educação mais voltada às artes, à dança, à música e à aparência e, portanto, sem nenhuma educação política.

Aos 14 anos de idade, casou-se com Luís Augusto (futuro Luís XVI) que tinha, então, 16 anos. O casamento foi por procuração com a cerimônia em Viena. Terminada a cerimônia, um cortejo com 57 carruagens se pôs a caminho da França.  Ao chegar à fronteira com a França, Maria Antonieta foi obrigada a deixar para trás tudo o que tivesse alguma relação com a Áustria: seu enxoval, suas damas de companhia e até as roupas que usava. Ela se despiu e recebeu um vestido dourado para continuar a viagem.

Em território francês, Maria Antonieta conheceu o rei Luís XV, então com 60 anos. Depois foi a vez do noivo que lhe deu apenas um beijo rápido no rosto. Uma nova cerimônia de casamento foi celebrada em Versalhes. Em seguida, o casal se retirou para o quarto de núpcias. Ali aconteceu algo que se repetiria durante anos: “Nada”, como escreveu o delfim no seu diário, na manhã seguinte.

A única exigência do rei francês foi a noiva falar francês fluentemente. Maria Antonieta adotou o novo idioma e deixou de falar alemão em público. Mas o esforço de pouco adiantou: desde sua chegada em Versalhes ela foi recebida com animosidade pela corte que a apelidou de “austríaca”, autrichienne, em francês – palavra que logo foi convertida para chienne, “cadela”.

Maria Antonieta também ganhou gradualmente a antipatia do povo, que a acusava de perdulária e promíscua, chamando-a de “Madame Déficit”, e de influenciar o marido a favor dos interesses austríacos.

A ausência de filhos nos primeiros anos de casamento foi-lhe um tormento. Logo começaram a circular panfletos com textos pornográficos e difamações contra a rainha. Seus problemas conjugais foram discutidos publicamente, ela foi acusada de ter amantes entre homens e mulheres (a duquesa de Polignac e a princesa de Lamballe), de ser uma ninfomaníaca perversa e insaciável, de desperdiçar dinheiro público com frivolidades (vestidos, perfumes, enfeites etc.), jogos, recepções e decoração luxuosas do palácio.

Ela não gostava do rígido cerimonial francês, das complicadas regras de etiqueta e da falta de privacidade – tudo o que fazia, era observado pelos membros da corte. Por seu desejo de prazeres simples e amizades exclusivas, Maria Antonieta foi ganhando inimigos entre os nobres de Versalhes, ofendidos por não partilharem da vida da rainha.

O caso do colar

Em julho de 1785, ocorreu o “o caso do colar” – uma fraude de que Maria Antonieta foi vítima e que arrasou sua reputação. Os joalheiros Boehmer e Bassange reivindicavam que a rainha lhes pagasse 1,6 milhão de libras pela compra de um colar de diamantes cujas negociações, diziam eles, haviam sido conduzidas pelo cardeal de Rohan em nome da rainha.

Colar de Maria Antonieta

Colar de diamantes de Maria Antonieta, reconstituição em zircônia.

A rainha ignorava essa tramoia e quando o escândalo se espalhou, ela pediu ao rei que tomasse providências contra a afronta. O cardeal foi preso, julgado e advertido. Maria Antonieta, apesar de inocente continuou desacreditada e ganhou o apelido de “Madame Déficit”, acusada de todos os males e problemas da França.

A situação econômica e financeira do país era grave. Os gastos com a guerra de independência dos Estados Unidos, que acabou em 1783, só pioraram a situação. O governo estava atolado em dívidas. Neste cenário, o caso do colar ganhou uma enorme dimensão que, somado às críticas aos hábitos extravagantes de Maria Antonieta, tornou a rainha o principal alvo da revolta popular contra o governo. Pouco depois, em 1789, eclodiu a Revolução Francesa.

A prisão de Maria Antonieta e família

A família real foi presa em agosto de 1792. Durante os massacres de setembro, a princesa de Lamballe, amiga íntima da rainha, foi assassinada de forma selvagem: amarrada, despida e arrastada pelas ruas, teve seu corpo mutilado e decapitado. Sua cabeça, erguida em um pedaço de pau, foi levada pela população enraivecida até a janela da cela de Maria Antonieta querendo forçar a rainha a beijá-la. A rainha entrou em choque e desmaiou.

A morte da princesa de Lamballe,

A morte da princesa de Lamballe, gravura anónima, final do século XVIII.

Durante a permanência na prisão, Maria Antonieta sofreu de sangramento constante devido possivelmente a um câncer de útero ou um fibroma uterino que teria se desenvolvido pela menopausa precoce.

Logo depois da prisão dos reis, a Convenção proclamou a República. Em 11 de dezembro, Luís XVI foi separado de sua família e levado para outra cela da prisão. Os fatos seguiram-se rápidos em 1793:

  • 15 de janeiro: a Convenção condenou Luís XVI à morte.
  • 21 de janeiro: Luís XVI foi executado.
  • 27 de março: Robespierre evocou o destino da rainha.
  • 13 de julho: o Delfim, herdeiro da coroa, foi retirado de sua mãe e confiado ao sapateiro Simon.
  • 2 de agosto: Maria Antonieta foi separada das Princesas (sua filha Maria Tereza e sua cunhada, Madame Elisabeth).
  • 14 de outubro: Maria Antonieta foi julgada.

Na busca de motivos para condená-la, acusaram-na de cometer incesto com o filho. Marie Antonieta permaneceu calada mas, diante da provocação de um jurado, ela se levantou e respondeu: “Se eu não respondi, é que a própria natureza se recusa a responder tal acusação feita a uma mãe. Apelo a todos aqueles que estão aqui!”. Pela última vez, a multidão (e especialmente as mulheres) aplaudiu a rainha.

Na madrugada do dia de sua execução, Maria Antonieta escreveu sua última carta. O destinatário era sua cunhada, Elisabete. A carta porém, nunca chegou às suas mãos. O promotor público Antoine Fouquier de Tinville tomou a carta e a entregou a Luís XVIII, irmão do falecido Luís XVI.

A execução de Maria Antonieta aconteceu no dia 16 de outubro, às 12 horas. Seu corpo foi enterrado em uma vala comum perto da atual igreja La Madeleine. Mais de vinte anos após sua morte, seu corpo foi exumado junto com o de Luís XVI e agora se encontram na Catedral de Saint-Denis (10,3 km ao norte de Paris), onde estão enterrados todos os reis franceses junto com suas esposas.

Maria Antonieta julgamento

Maria Antonieta durante seu julgamento em 15 de outubro de 1793, desenho de Pierre Bouillon

Controvérsias

As controvérsias sobre a condenação de Maria Antonieta começaram já na época de sua morte, em 1793. De um lado, ela foi vista como símbolo da arrogância e da insensatez da monarquia francesa. De outro, foi considerada uma mártir, quase uma santa, sacrificada por loucos que tinham se voltado contra a ordem sagrada das coisas.

Historiadores e biógrafos fizeram diferentes julgamentos da rainha. Jonathan Sperber culpa a rainha por ter exercido uma influência negativa sobre Luís XVI, muitas vezes retratado como fraco e inseguro (em Europa revolucionária, 1780-1848).

O historiador francês Albert Soboul considerou Maria Antonieta “frívola e imprudente” acusando-a de ter, junto com Luís XVI, incitado as potências estrangeiras a travarem guerra contra a França revolucionária, na esperança de que sua derrota restaurasse seu próprio poder (em A Revolução Francesa).

O historiador britânico Eric Hobsbawn descreveu Maria Antonieta como uma “mulher sem cérebro e irresponsável” (em A Era das revoluções, 1789-1848).

O escritor austríaco Stefan Zweig retratou a rainha como uma pessoa comum, sem qualidades notáveis, mas imprudente, passiva e pouco consciente de suas responsabilidades, pois viveu fechada em seu mundo luxuoso. Zweig também enfatiza que a queda de Maria Antonieta, seus sofrimentos e humilhações a fizeram amadurecer e se tornar uma mulher responsável e corajosa.

Para a pesquisadora americana Caroline Weber, Maria Antonieta sabia manipular a corte usando a moda como um instrumento político. Tinha uma percepção moderna do poder da imagem para sustentar sua autoridade em momentos difíceis, como nos sete anos que se passaram antes que ela tivesse um filho, ou mesmo para fugir da realidade. Por meio de novas roupas, sapatos e penteados, a rainha se impôs, colocando-se acima de qualquer mulher francesa.

Mais recentemente, Antonia Fraser mostra Maria Antonieta com uma mulher maravilhada com seu papel e que ignorou os sinais da época. A diretora de cinema Sofia Coppola inspirou-se na obra de Fraser para seu filme, de 2006, explicando: “Eu conhecia os clichês habituais sobre Maria Antonieta e seu estilo de vida. Mas nunca percebi como ela e Luís XVI eram tão jovens. De fato, ainda adolescentes eles foram responsáveis ​​por liderar a França de uma corte real incrivelmente extravagante de Versalhes e em uma época de grandes mudanças.”

Maria Antonieta em 1793

Maria Antonieta em 1793 pouco antes de sua execução, óleo sobre tela de Sophie Prieur

Fonte

  • FRASER, Antonia. Maria Antonieta, biografia. Rio de Janeiro: Record, 2006.
  • LEVER, Evelyne. Maria Antonieta, a última rainha da França. Objetiva, 2004.
  • WEBER, Caroline. Rainha da moda. Como Maria Antonieta se vestiu para a revolução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, s/d.
  • ZWEIG, Stefan. Maria Antonieta. Rio de Janeiro: Guanabara, 1947.

Saiba mais

Abertura

  • Maria Antonieta aos 28 anos, por Elisabeth Vigèe-Lebrun, 1783.

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