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Último e maior comício das “Diretas Já”, em São Paulo

16 de abril de 1984

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Em 16 de abril de 1984, realizou-se em São Paulo o último e o maior comício em favor das eleições diretas que reuniu mais de 1 milhão de pessoas. Foi a maior manifestação popular pela democracia já vista no País. Na época, o Brasil estava sob o comando de militares em uma ditadura que já durava 20 anos.

  • BNCC: 9º ano – Habilidades: EF09HI19, EF09HI20, EF09HI22

A campanha das Diretas-Já, iniciada em 31 de março de 1983, em Pernambuco, mobilizou todo o país. Em 1983, foram organizados 6 comícios, em 1984, foram 35. O movimento lutava pela aprovação da Emenda Dante de Oliveira que propunha o fim das eleições indiretas impostas havia vinte anos pelo governo militar. A emenda tinha em vista as eleições presidenciais marcadas para 15 de novembro de 1984.

Os dez governadores da campanha

A campanha foi possível, inclusive do ponto de vista logístico e operacional, porque em 1984 a oposição já governava dez Estados importantes, conquistados nas primeiras eleições diretas para governador desde 1965: nove do PMDB e um do PDT.

Na montagem dos comícios, eles garantiram, além do apoio político, a estrutura logística necessária. Onde não havia um governador aliado, a realização dos comícios demandava maior esforço da coordenação nacional. Os dez governadores, portanto, foram atores importantes na campanha das Diretas-Já:

  • Franco Montoro (PMDB), São Paulo
  • Tancredo Neves (PMDB), Minas Gerais
  • Leonel Brizola (PDT), Rio de Janeiro
  • José Richa (PMDB), Paraná
  • Íris Rezenda (PMDB), Goiás
  • Gerson Camata (PMDB), Espírito Santo
  • Jader Barbalho (PMDB), Pará
  • Wilson Martins (PMDB), Mato Grosso do Sul
  • Gilberto Mestrinho (PMDB), Amazonas
  • Nabor Júnior (PMDB), Acre

Outras lideranças e personalidades

Ulysses Guimarães, presidente do PMDB, o maior partido da frente de oposição, foi a personalidade que mais se destacou na campanha, o que o que lhe valeu o título de “Senhor Diretas” e grande popularidade. Se a emenda fosse aprovada, seria o candidato natural do PMDB à Presidência da República.

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do PT, foi um líderes da campanha desde o seu início. Seu partido foi o primeiro a chamar um comício em São Paulo, o do Pacaembu, realizado em 27 de novembro de 1983 em parceria com outras legendas e a Comissão Justiça e Paz. Lula já era nome conhecido por liderar os metalúrgicos do ABC paulista nas greves de 1978, 1979 e 1980 que desafiaram a ditadura reivindicando aumento salarial e melhores condições de trabalho.

Osmar Santos, consagrado narrador esportivo e apresentador de televisão, foi o locutor oficial dos comícios da campanha das Diretas-Já. Sua atuação vibrante ao anunciar os oradores, informar sobre as dimensões do evento e o andamento da campanha tornou-se uma marca do movimento.

Do meio esportivo também se destacaram nas Diretas-Já, o jornalista Juca Kfouri, conhecido por denunciar a “Máfia da Loteria Esportiva” em 1982, e o jogador de futebol Sócrates.

E ainda Fernando Henrique Cardoso, Luís Carlos Prestes, Pedro Simon, Miguel Arraes, Mário Covas, Eduardo Suplicy, Roberto Freire, Marcos Freire, Moreira Franco, Fernando Lyra, Sobral Pinto etc. e um grande número de artistas, músicos e intelectuais.

A campanha das Diretas-Já foi embalada por músicas especialmente compostas para ela ou inspiradas pelo desejo de redemocratização:

  • Menestrel das Alagoas, de Milton Nascimento e Fernando Brant, composta em homenagem a Teotônio Vilela.
  • Coração de Estudante, de Milton Nascimento e Wagner Tiso, composta para o filme “Jango”, de Sílvio Tendler;
  • Pelas Tabelas, de Chico Buarque;
  • Vai Passar, de Chico Buarque e Francis Hime;
  • Vovô Sobral, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro, em homenagem ao jurista Sobral Pinto, grande defensor dos direitos humanos;
  • Não me venha com Indireta, de Noca da Portela e Ratinho de Pilares;

A grande mídia e as Diretas-Já

No início da campanha das Diretas, boa parte da chamada grande imprensa ignorou as manifestações ou deu pouca importância ao movimento, não escalando repórteres para a cobertura nos Estados mais distantes do eixo Rio-São Paulo e dando pouco espaço para as matérias sobre o assunto.

A Rede Globo de Televisão ignorou os primeiros comícios em seus telejornais. No máximo, mostrou-os sem destaque em telejornais locais. Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo, temia que uma ampla cobertura da televisão pudesse se tornar um fator de inquietação nacional. “Mas a paixão popular foi tamanha que resolvemos tratar o assunto em rede nacional”, afirmou ele em matéria publicada na revista Veja de 5 de setembro de 1984.

O primeiro comício a ser noticiado para todo o país (já tinham ocorrido, então, 12 comícios) foi o realizado na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 25 de janeiro. Mas a matéria provocou polêmicas pois a Globo disse que se tratava da festa de aniversário da cidade que, de fato, acontece no dia 25 de janeiro.

O apresentador Marcos Hummel anunciou: “Festa em São Paulo. A cidade comemorou seus 430 anos com mais de 500 solenidades. A maior foi um comício na Praça da Sé.” Porém, a reportagem de Ernesto Paglia esclareceu que o objetivo da manifestação era pedir eleições diretas para presidente da República.

O comício de 16 de abril de 1984

O comício de 16 de abril, o segundo realizado em São Paulo, começou com uma passeata saindo da Praça da Sé até o Vale do Anhangabaú, onde a população se concentrou para ouvir políticos e outras lideranças. A Orquestra Sinfônica de Campinas, sob o maestro Benito Juarez, abriu o comício com a Quinta Sinfonia de Beethoven. A Corporação Musical Artur Giambelli, de Limeira, tocou o “Cisne Branco”, hino da Marinha de Guerra.

No mesmo palanque estavam Luís Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Mário Covas, Franco Montoro (governador de São Paulo à época) e muitos outros. Do meio artístico, as atrizes Eva Wilma e Fernanda Montenegro, o cantor Walter Franco e a cantora símbolo da campanha das Diretas, Fafá de Belém e outros marcaram presença.

O jornalista Ricardo Kotscho lembrando os acontecimentos cinco anos depois, escreveu:

Era para ser apenas uma passeata, da Praça da Sé ao Vale do Anhangabaú, fechando o festival cívico da Campanha das Diretas, em São Paulo. Mas […] todos se deram conta de que não era uma passeata só, eram muitas, vindas de todos os cantos, batendo […] o recorde de gente em manifestações públicas no Brasil.

Aos políticos, já faltavam palavras para expressar a emoção de ver o Vale do Anhangabaú transformado numa maré humana como nunca se viu antes igual no Brasil. Parecia que São Paulo inteira havia saído para as ruas […].

A geração esmagada dos anos 60 e 70 estava de novo nas ruas, sem correr da polícia […].

[…] carros de som tascavam Caminhando, o hino de Vandré, […] “Vem, vamos embora, que esperar não é saber”.

[…] Sai Vandré, entra Chico – “apesar de você, amanhã há de ser outro dia / ainda pago pra ver esse dia nascer…” – vem Milton Nascimento, entra Simone, brilha Elis […].

KOTSHO, Ricardo. Todos sabiam aonde queriam chegar. Folha de S. Paulo. São Paulo: 17 abril 1989, Primeiro Caderno, p. 6.

Vale do Anhangabaú, em São Paulo, no comício das Diretas Já, de 16 de abril de 1984.

Charge de Figueiredo

Coloca o pijama, Figueiredo! Charge de Aroeira retrata o espírito da época, fonte: CPDOC – FGV

Às 20h30, no horário do final do comício, o presidente João Baptista Figueiredo surgia em rede nacional de TV para anunciar sua proposta: eleições diretas só mais tarde, em 1988, uma tentativa de esvaziar o movimento.

Brasília aguarda a votação da emenda

Uma semana antes da votação, o presidente Figueiredo escalou o general Newton Cruz, chefe do Comando Militar do Planalto, para executar Medidas de Emergência na Capital Federal visando estabelecer a ordem caso houvesse ameaça à ordem pública.

No dia da votação, 25 de abril, chegaram à Brasília caravanas de prefeitos vindas de diversos pontos do país. As galerias foram ocupadas logo cedo, embora a votação estivesse marcada para a noite.Uma multidão começou a se aglomerar no gramado do Congresso para acompanhar a votação.

No início da tarde, houve um blecaute de duas horas no Distrito Federal e em alguns municípios vizinhos.

Tropas militares comandadas pessoalmente pelo general Newton Cruz ocuparam posições ao longo dos ministérios e no gramado defronte ao Congresso.

No início da noite houve um grande buzinaço na cidade. Logo depois, começou a pancadaria, com os manifestantes sendo perseguidos por cavalos, pelotões armados e bombas de gás lacrimogêneo. Dentro do plenário, começou a votação.

A votação da Emenda Dante de Oliveira

Na madrugada do dia 26 de abril, o presidente do Congresso, o senador Moacir Dalla (PDS-ES), anunciou que a emenda Dante de Oliveira obtivera 198 votos. Faltaram 22 votos para alcançar os 320 votos necessários para aprovação, os indispensáveis 2/3 dos votos na Câmara dos Deputados. A emenda foi rejeitada. A derrota foi selada principalmente pelos 113 deputados ausentes.

A sucessão do presidente Figueiredo foi feita por eleição indireta na qual foi eleito, em janeiro de 1985, Tancredo Neves. Com isso, os brasileiros esperaram até 1989 para escolher seu presidente através do voto secreto e universal, vinte e nove anos depois da última eleição direta, ocorrida em 1960.

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