O engenho era o centro da vida no Brasil colonial, o local de mando e o símbolo do topo da hierarquia social. Inicialmente, a palavra “engenho” designava as instalações onde se manipulava a cana-de-açúcar. Com o tempo, o termo passou a abranger toda a propriedade açucareira, com suas terras, edificações e lavoura.
Os edifícios mais importantes do engenho eram a fábrica, a casa-grande, a senzala e a capela que analisamos a seguir.
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A casa-grande no Brasil colônia
Construída na parte mais elevada do terreno – o que permitia uma visão panorâmica de toda propriedade, a casa-grande era a residência do senhor de engenho. Reunia, também, as funções de fortaleza, hospedaria e escritório. Para se proteger dos ataques indígenas, todas edificações eram construídas muito próximas, grudadas: casa-grande, senzala, paiol, casa de farinha, engenho, casa de despejo, etc. Com isso, não se distinguiam os lugares de morar e de trabalhar. Veja mais a respeito no artigo “O Brasil colonial passado a limpo”.
Até fins do século XVII, as casas dos senhores eram feitas de taipa de pau-a-pique. Somente os senhores mais ricos usaram alvenaria de tijolos maciços. As telhas de barro eram produzidas nas olarias do engenho, como as formas dos pães de açúcar e os tijolos.
Internamente, a casa-grande tinha paredes nuas e o mínimo de móveis: poucas mesas e cadeiras, alguns tamboretes e canastras e, para dormir, redes, esteiras e catres.
Com o tempo essas edificações foram se tornando cada vez mais vistosas, recebendo janelas, varandas ao redor da residência, beirais e soalhos de madeira. Estavam divididas em vários cômodos que abrigavam a família e os agregados: sobrinhos, netos, aliados políticos, compadres, vigário etc.
A fábrica no Brasil colônia (o engenho)
A fábrica de açúcar no período colonial, isto é, o engenho propriamente dito, era construído na parte mais baixa do terreno e próximo a rios – fonte de energia e meio de transporte do produto, e das matas – fonte de combustível para as fornalhas.
O que determinava o rendimento do engenho era a força motriz da moenda que podia ser hidráulica ou animal movida por bois ou cavalos.
A roda d’água era a força motriz de melhor rendimento, chegando a ser o dobro do engenho movido por animais. Sempre na vertical, a roda d’água tinha cerca de 7 metros de diâmetro e estava ligada a outra roda menor que movia a moenda.
As rodas d’água continuaram sendo usadas até o século XIX quando foram substituídas pela máquina a vapor importada da Inglaterra.
A cana era colocada nos cilindros manualmente pelos escravos. Era um trabalho perigoso e os acidentes eram comuns. O escravo exausto e com sono muitas vezes perdia a mão ou o braço no meio das engrenagens, precisando ser amputado.
Da casa da moenda, o caldo seguia para a caldeira. O cozimento do caldo era feito em vários tachos de cobre, cada um deles aquecido por uma boca de fogo de lenha. Levou muito tempo para se modernizar esse processo que consumia uma enorme quantidade de lenha e, por conseguinte, provocava o desmatamento de grandes áreas.
Outro processo, em uso no Caribe desde o século XVII, era a fornalha contínua: ela tinha o mesmo número de bocas do sistema anterior, mas somente a primeira boca recebia o fogo de lenha diretamente. O fogo passava para as outras bocas através de um tubo que diminuía de diâmetro gradativamente até chegar à chaminé. Dessa maneira, a mesma quantidade de lenha usada para uma boca alimentava outras 4 ou 5.
Do cozimento ao produto final
O caldo cozido transformava-se em melaço e este era coado e despejado em formas de pão-de-açúcar, formas de barro em forma de sino. Eram levados para a casa de purgar onde ocorria a drenagem natural. Em seguida, fazia-se o branqueamento do açúcar, processo que durava cerca de quarenta dias.
A secagem era o passo seguinte. Colocavam-se as formas ao sol. Desenformado o açúcar, separava-se, com faca fina, a parte branca da escura (mascavo).
Finalmente, o produto era encaixotado. As caixas eram marcadas com ferro ou tinta identificando tipo, peso, proprietário e mercador. Daí seguiam em barcos para o porto onde aguardavam o embarque para Portugal.
Capela do Brasil Colonial
Quase uma continuidade da casa-grande, a capela era modesta, de construção baixa, mas tamanho suficiente para ali serem realizadas as missas, batizados e casamentos. Em geral, os mortos da família do senhor de engenho eram enterrados no interior da capela.
A alvenaria de pedra foi o sistema preferido para a construção de capelas rurais no Brasil colônia. Aproveitaram-se os arrecifes de arenito comuns no litoral de Pernambuco. Essa prática evidentemente nociva aos portos naturais persistiu por muito tempo apesar de proibidas pelas autoridades. Para unir os blocos de pedra usava-se argamasse feita com óleo de baleia.
Senzala
“Senzala” é um termo de origem quimbundo (sanzala) que significava “lugar de habitação dos indivíduos de uma família”, ou “morada separada da casa principal”. No Brasil colonial, o termo foi usado para designar a moradia coletiva dos escravos que abrigava dezenas de pessoas.
Não tinham banheiro nem cozinha. Estavam divididas em cubículos. Algumas eram construídas muito próximas e quase contíguas à casa-grande. Outras, mais distantes. As senzalas eram trancadas à noite pelos feitores, a fim de evitar fugas e de impor a disciplina do horário de se recolher e despertar.
Por vezes, havia senzalas distintas para homens e para mulheres. Em alguns casos, até mesmo casas isoladas para casais com filhos. O inglês Henry Koster, que residiu em Pernambuco no início do século XIX, descreveu um engenho afirmando que detrás da casa e vivenda do proprietário, os “negros haviam feito suas cabanas de barro e palha de coqueiros”. (KOSTER, 1978, P. 281).
Os escravos dispunham de um pequeno lote de terra onde plantavam alimentos de subsistência, criavam algumas galinhas e porcos.
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Fonte
- FERLINI, Vera Lúcia A. A civilização do açúcar. São Paulo: Brasiliense, 1984.
- SCHWARCZ, Lilia M. & STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2105.
- SCHWARTZ, Stuart B. Doce lucro. Revista de História.com.br, 1º julho 2013. Disponível aqui.
- GOMES, Geraldo. Engenho & Arquitetura. Recife: Fundação Gilberto Freyre, 1998.
- KOSTER, Henry. Viagens ao nordeste do Brasil. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1978.
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