“Baderna”: tumulto, desordem, bagunça. “Baderneiro”: aquele que promove badernas. Palavras exclusivas do português brasileiro surgidas na metade do século XIX e com uma origem bem peculiar: servia para classificar, de maneira pejorativa, os fãs barulhentos de uma dançarina italiana que causou furor no País. Seu nome: Marietta Baderna.
Marietta Baderna (1828-1892) desde cedo teve inclinação para a dança. Tornou-se membro do corpo de baile do Teatro Scala de Milão. Ainda na adolescência, foi considerada uma das maiores bailarinas da Europa.
A década de 1840, porém, foi de tumultos políticos na Itália, com conspirações patrióticas pela unificação do país. Marietta e o pai se envolveram com os revolucionários republicanos. Com a derrota do movimento, em 1848, e para fugir às represálias, ela e o pai se exilaram no Brasil.
Marietta Baderna no Brasil
Marietta Baderna tinha 21 anos quando desembarcou no Rio de Janeiro em 1849, aceitando um convite para se apresentar com sua companhia no Teatro São Pedro de Alcântara (atual Teatro João Caetano). Estreou no dia 29 de setembro de 1849, com o balé “Il Ballo delle Fate” e foi o maior sucesso.
Mas ela não se limitou aos palcos. Foi para as ruas e se apaixonou pelos ritmos e danças afro-brasileiras, como o lundu e a umbigada – consideradas “escandalosas” para a sociedade escravista brasileira. Incorporou essas danças em suas apresentações e conquistou uma legião de fãs ardorosos, que foram chamados de “badernistas”, e a palavra “baderna” tornou-se sinônimo de confusão ou tumulto.
Talentosa e de espírito rebelde e contestador, Marietta chegava a participar de danças ao ar livre, em locais como o Largo da Carioca, com os próprios escravos. Um escândalo para a sociedade conservadora da época.
Marietta sofreu represálias no teatro, sua dança era deixada para o final ou então não renovavam o seu contrato. Seus fãs passaram a boicotar os espetáculos ou a fazerem “pateada” (bater os pés no chão), interrompendo apresentações no meio. Faziam, enfim, a maior baderna!
Além disso, a epidemia de febre amarela que assolou o Rio de Janeiro em 1850, matando milhares de pessoas, levou 45 dos 55 artistas que tinham chegado com Marietta.
Fim de vida obscuro
Marietta apresentou-se em Recife, em 1851 e, novamente, o sucesso foi acompanhado de uma campanha moralista e preconceituosa por ela ter ousado em dançar, nos palcos, o lundu, a dança de escravos.
Nos anos seguintes, o panorama artístico no Rio de Janeiro alterou-se. O público interessava-se cada vez mais pela ópera e pelas cantoras. Os jornais silenciam sobre Marietta Baderna. Talvez ela tenha se dedicado às aulas de dança.
Em 1863, apresentou-se na França, no Grand Théatre de Bordeaux, Ao retornar ao Brasil foi contratada para a temporada 1864-1865, a sua última aparição pública. Depois disso nunca mais se ouviu falar dela, nem no Brasil, nem na Itália.
Faleceu no Rio de Janeiro, aos 64 anos de idade, no dia 4 de janeiro de 1892, sendo sepultada no Cemitério de São Francisco Xavier.
Fonte
- CORVISIERI, Silverio. Maria Baderna – a bailarina de Dois Mundos. Rio de Janeiro: Record, 2001.
- BUENO, Márcio. A Origem Curiosas das Palavras. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.
Sou trineta de Marietta Baderna ( bailarina clássica do século XIX) existe um livro de uma treta neta da Baderna de Paula Giannini BADERNA o memoricídio ao dicionário