Quando os portugueses aportaram nessa terra que viria a se chamar Brasil, estima-se que o território era habitado por 3,5 a 5 milhões de pessoas, falantes de cerca de 1200 línguas indígenas. O povo que Cabral encontrou na costa da Bahia era chamado de Tupiniquim, pertencente a um dos cinco grandes grupos Tupis (os outros quatro eram: Tupinambá, Caeté, Potiguara e Tamoio).
O Tupi, principalmente o dialeto Tupinambá, era falado, então, da foz do Amazonas até Iguape, em São Paulo. O Guarani era falado de Cananéia, em São Paulo até a Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul.
CONTEÚDO
- Situação atual do Tupi
- Novas línguas: a Língua Geral e o Nheengatu
- A imposição da língua portuguesa e a resistência indígena
- O legado Tupi na língua portuguesa do Brasil
- Trabalhando o vocabulário Tupi em sala de aula (infográfico e material para download)
- Dicionários online
- Fonte
Situação atual do Tupi
No decurso dos séculos, apesar da luta e resistência contínua dos povos indígenas, muitas línguas desapareceram em consequência, sobretudo, da morte de seus falantes (por doenças trazidas pelos europeus, pela violência da escravidão e pelo massacre de diversos grupos) como também, como resultado da aculturação com a língua e costumes portugueses e africanos.
Hoje restam cerca de 180 línguas indígenas, número que representa, no máximo, 15% da quantidade que existia há 500 anos. A sobrevivência dessas línguas é precária e parte delas está em risco de extinção. Essas línguas se distribuem por 41 famílias, dez das quais, integram o tronco linguístico Tupi, e nove o tronco linguístico Macro-Jê.
Os únicos remanescentes dos Tupis são, hoje, 1.500 Tupiniquins do Espírito Santo e 4.000 Potiguaras da Paraíba. Todos desconhecem a própria língua. Só falam português. O Tupi antigo está extinto, já o Guarani moderno é falado por 5 milhões de pessoas no Paraguai e 30.000 no Brasil.
Novas línguas: a Língua Geral e o Nheengatu
O Tupi foi a língua mais falada no Brasil até o século XVIII. Era o idioma do povo, enquanto o português ficava para os governantes e para os negócios com a metrópole. Na vila de São Paulo de Piratininga (do tupi: pi’ra, peixe, + t’ninga, seco = peixe seco), em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o português no século XVII.
O Tupi falado em São Paulo espalhou-se e misturou-se a outros idiomas graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade dos bandeirantes de capturar indígenas no sertão. O resultado da mistura ficou conhecido como Língua Geral do Sul, uma língua com influência do português e do tupi e com acréscimo de palavras de outros idiomas.
No Maranhão e no Pará também surgiu uma língua geral, o Nheengatu (do tupi: nhe’eng, língua ou falar + katu, bom = língua boa de falar) cruzamento do dialeto Tupinambá com idiomas indígenas da Amazônia. O nheengatu, pertencente à família linguística Tupi-guarani, imperou em Belém e São Luís até os idos de 1750 e chegou a ser ensinado pelos jesuítas, junto com o português.

Cacique Jaguaretê (tupiniquim, Espírito Santo), em Brasília, em 2007. Foto de Valter Campanato/ABr Agência Brasil.
A imposição da língua portuguesa e a resistência indígena
Em 1758, o Alvará do Diretório dos Índios decretado pelo Marquês de Pombal, primeiro ministro de Portugal, proibiu o uso de todas as línguas indígenas e o ensino do nheengatu impondo o português como idioma oficial da colônia. No ano seguinte, vilas da Amazônia foram rebatizadas em topônimos portugueses como Santarém e Óbidos no Pará, Barcelos e Moura no Amazonas.
A expulsão dos jesuítas em 1759 reforçou a imposição do português e o consequente glotocídio (aniquilamento de línguas). A língua geral desapareceu de São Paulo até o final do século XVIII. O nheengatu resistiu e hoje ainda é falado por cerca de 20 mil pessoas na região do vale do Rio Negro. É o idioma oficial do município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas desde 2002.

Duas escritoras indígenas: Eliane Tabajara (à esquerda), autora do romance “Metade Máscara, Metade Cara”, e Auritha Tabajara (à direita), autora do livro “Magistério Indígena em Verso e Poesia” adotado como leitura obrigatória nas escolas públicas do Ceará.
O legado Tupi na língua portuguesa do Brasil
Os colonizadores não conheciam a enorme variedade da fauna e da flora brasileiras. Foram os indígenas que apresentaram e deram nome aos animais como, por exemplo, a capivara, o tamanduá, a cutia, o jabuti; e às frutas, como o caju, o maracujá e a goiaba.
Dessa forma, a língua portuguesa incorporou milhares de palavras indígenas. Estima-se que 10.000 vocábulos da família Tupi-Guarani estão presentes na língua portuguesa dando nomes a plantas, animais, frutas, lugares, pessoas e objetos. Veja exemplos no infográfico a seguir.

Para baixar esse infográfico em alta resolução, busque a seção ‘Recursos > Infográficos’ desse site.
Trabalhando o vocabulário Tupi em sala de aula
Para fazer o download das atividades propostas, preencha os campos abaixo.
O material para download contém:
- 1 folha de verificação de conhecimento prévio (PDF)
- 4 folhas de “82 palavras de origem Tupi” (PDF)
1ª etapa: Conhecimento prévio
Faça uma breve explicação sobre as formas de contato entre indígenas e portugueses na história do Brasil, e a incorporação de termos e expressões do Tupi na língua portuguesa.
Pergunte aos alunos se eles conhecem palavras de origem indígena. Deixe que os alunos levantem suas hipóteses e anote na lousa as palavras ditas por eles para posterior verificação.
Em seguida, avise que você fará algumas perguntas para eles responderem usando “palavras da língua tupi”.
São 15 perguntas simples, de respostas rápidas. O objetivo é levar os alunos a identificarem em seu vocabulário cotidiano a presença de palavras de origem tupi. Anote as respostas dadas pelos alunos na lousa.
PERGUNTAS (incluído no material para download)
- Pássaro preto grande que se alimenta de animais mortos. R: urubu.
- Armadilha usada para apanha passarinhos. R: arapuca.
- Suporte usado para imobilizar o braço. R: tipoia.
- Raiz marrom por fora e bem branquinha por dentro usada para fazer farinha. R: mandioca.
- Fruta redonda, de casca amarela com muitas sementes usadas para fazer suco. R: maracujá.
- Fruta que tem coroa com espinhos. R: abacaxi.
- Animal de língua muito comprida e que come formigas. R: tamanduá.
- Estado no centro do Brasil onde está o Distrito Federal, Brasília. R: Goiás.
- Doce feito de amendoim socado no pilão. R: paçoca.
- Animal que se protege virando uma bola. R: tatu.
- Brinquedo com penas que se joga batendo na palma da mão. R: peteca.
- Pássaro de bico grande e colorido que usa para pegar frutas e quebrar sementes. R: tucano.
- Fruta pequena, preta, que nasce grudada no tronco. R: jabuticaba.
- Pula na panela quando o milho é aquecido. R: pipoca.
- Estádio de futebol famoso no Rio de Janeiro. R: maracanã.
2ª etapa: Verificação do vocabulário
Distribua aos alunos as “82 palavras de origem Tupi” (incluído no material para download)
Peça-lhes para verificarem se as respostas dadas correspondem, de fato, a palavras de origem tupi.
Outras palavras podem ser pesquisadas nos dicionários online indicados abaixo.
3ª etapa: Concurso Literário
Os alunos vão criar um conto ou relato de um fato real ou fictício usando o maior número de palavras de origem Tupi.
Eles podem utilizar o material recebido (“82 palavras de origem Tupi”) e/ou pesquisarem outras palavras nos dicionários onlines.
O trabalho será feito em grupo.
REGRAS DO CONCURSO:
- Texto com título, de 25 linhas (sem contar o título).
- O texto deve conter no mínimo 8 palavras de origem africana. Atenção: as palavras devem fazer sentido, isto é, estarem coerentes e articuladas à narrativa.
- Vence o grupo que elaborar um texto que contenha o maior número de palavras de origem indígena.
Uma sugestão para tornar a atividade mais desafiadora é exigir que o conto ou relato seja ambientado em um contexto histórico que pode ser, por exemplo: contato ou confronto entre índios e colonizadores, ataque indígena a uma fazenda canavieira, depoimento de índios escravizados, índios de uma missão jesuítica, relato de um português capturado por indígenas.
Lembre de premiar o(s) vencedor(es) com algum brinde que pode ser chocolate, doce etc.
Dicionários online
Fonte
- CHIARADIA, Clóvis. Dicionário de Palavras Brasileiras de Origem Indígena. São Paulo: Limiar, 2008.
- FUNARI, Pedro Paulo: NOELLI, Francisco Silva. Pré-história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2000.
- Silva, Hosana dos Santos. Disciplina Breve introdução à história das línguas no Brasil. São Paulo: Unifesp, 2015
- RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas Brasileiras. Para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola, 1994.
- ________. Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e perdas. São Paulo: D.E.L.T.A., v. 9, n.1, 1993.
- BESSA FREIRE, José Ribamar; ROSA, Maria Carlota. Línguas gerais: políticas linguísticas e catequese na América do Sul no período colonial. Rio de Janeiro: Editora Uerj, 2003.
- LIMA, Ivana Stolze. A língua brasileira e os sentidos de nacionalidade e mestiçagem no Império do Brasil. Revista Opoi, v.4, n.7, jul-dez 2003, pp 334-356.
Saiba mais
- Línguas indígenas na América Latina (infográfico)
- 10 erros comuns sobre as culturas indígenas do Brasil
- Arte Indígena (quebra-cabeça)
- Índios Apiaká, de Hercules Florence: um olhar sobre a cultura indígena (atividade para colorir)
- Índios brasileiros retratados por um holandês
- Palavras de origem africana para trabalhar com os alunos