Às vésperas da viagem, D. Pedro determinou que, em sua ausência, a princesa Maria Leopoldina presidiria ao despacho de expediente e às sessões do Conselho de Estado (decreto de 13 de agosto de 1822).
Na manhã seguinte, 14 de agosto, D. Pedro saiu do Palácio Imperial, atual Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro com destino a São Paulo. A comitiva composta por 30 homens, entre soldados e funcionários do palácio, percorreria cerca 500 km a cavalo, passando pelo Vale do Paraíba e pernoitando nas fazendas de café da região.
Foram 12 dias de viagem até São Paulo. Objetivo da viagem era fazer alianças com fazendeiros paulistas, desfazer ameaças de motins que ocorriam nas províncias e preparar o terreno para a separação política de Portugal.
Nas fazendas do Vale do Paraíba
A primeira parada, ainda no Rio de Janeiro e a pouca distância do Palácio Imperial (cerca de 6 km), o grupo parou na Real Fazenda Santa Cruz, local de veraneio da família real portuguesa. Ali D. Pedro passara sua lua de mel com a princesa Maria Leopoldina, em 1818.
Já em terras paulistas, D. Pedro e comitiva, passaram por fazendas de café, pernoitando em algumas ou em sobrados de pessoas importantes nas cidades. Os locais percorridos foram:
- Vila de São João Marcos do Príncipe (hoje inundada pela hidroelétrica, em Ribeirão das Lages).
- Bananal, na Fazenda Três Barras.
- São José do Barreiro, na Fazenda Pau d’Alho. No caminho até essa fazenda, D. Pedro apostou corrida com seus companheiros e chegou à frente de sua comitiva na fazenda. Sozinho e sujo de barro, não foi reconhecido pela esposa do fazendeiro que lhe serviu um prato de comida na cozinha. A mulher avisou-o que estava à espera do príncipe que almoçaria ali aquela noite.
- Areias.
- Cachoeira Paulista
- Lorena, com visita à igreja N. S. do Rosário dos Homens Pretos e à Casa de Câmara e Cadeia.
- Guaratinguetá.
- Aparecida, com visita à Capela de N. S. Aparecida, local famoso onde havia sido encontrada a imagem da santa, no Rio Paraíba, em 1717.
- Pindamonhangaba.
- Taubaté, com visita ao convento de Santa Clara e a Igreja do Pilar.
- São José dos Campos.
- Jacareí. Para chegar a essa vila, era preciso atravessar o rio Paraíba. Impaciente, D. Pedro não quis esperar a balsa e atravessou o rio a cavalo com água até a cintura. Chegando do outro lado, pediu uma calça seca e limpa.
- Mogi das Cruzes, com missa na igreja de Sant’Ana, atual Igreja Matriz.
- Penha de França, com missa na capela N. S. da Penha.
Em cada trecho, um mensageiro seguia à frente da comitiva para anunciar, com antecedência, a chegada do príncipe. Nas paradas com pernoite, havia troca de animais e mais gente se juntava à comitiva.
D. Pedro em São Paulo
Na manhã do dia 25 de agosto, D. Pedro e comitiva chegaram a São Paulo onde foram recebidos por vereadores, religiosos e a população em frente à Igreja do Carmo. O povo soltou fogos de artifícios e salvas de honras com canhões.
São Paulo era uma cidade pequena, com cerca de 10 mil habitantes. A sede do Palácio do Governo era, então, o Pátio do Colégio, onde a cidade fora fundada no século XVI.
D. Pedro viaja para Santos
Depois de permanecer dez dias em São Paulo, no dia 5 de setembro, D. Pedro e comitiva, montados em mulas, seguiram para o litoral em direção à vila de Santos. Ali o príncipe visitou a família de seu ministro, José Bonifácio de Andrada e Silva, e inspecionou as defesas do porto de Santos.
Era uma viagem de 64 km que foram percorridos em um único dia. No caminho, desceram a Calçada do Lorena, uma estrada de 9 km de extensão, em um trajeto em zigue-zague, com 133 curvas, cercada de mata densa, com chuva constante. Bastante íngreme, a estrada tinha um desnível de cerca de 700 m entre as pontas. Era pavimentada com lajes de pedra, sem cruzar nenhum curso d’água, o que era uma proeza da engenharia.
O nome é uma homenagem ao governador da capitania de São Paulo, o português Bernardo José Maria de Lorena (1756-1818), que promoveu a construção da estrada. Ela foi planejada por engenheiros militares, construída por mão de obra escravizada e esteve ativa de 1790 a 1846.
A Calçada do Lorena possibilitou o transporte de mercadorias em tropas de mulas. Antes dela, tudo o que se destinava ao porto de Santos era transportado no ombro do indígena.
O retorno de Santos a São Paulo
D. Pedro permaneceu apenas um dia em Santos. Na madrugada do dia 7 de setembro, o grupo tomou um barco para atravessar o rio Cubatão e daí retomou o caminho de volta a São Paulo.
Seguiram novamente pela Calçada do Lorena. No planalto, a Calçada passava em frente da capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, em São Bernardo do Campo. A capela ainda existe.
Cruzaram o Ribeirão dos Meninos e, por volta das 16h chegaram a uma colina, em um descampado próximo ao riacho do Ipiranga.
A viagem foi penosa para D. Pedro que estava doente, com cólica intestinal e diarreia, precisando parar diversas vezes para se aliviar.
Na colina do Ipiranga, o grupo foi alcançado pelos dois mensageiros vindos da Corte, trazendo cartas e documentos para o príncipe.
Irritado com as notícias, D. Pedro faz, então o célebre gesto do Grito do Ipiranga, proclamando a independência. Seguiram para São Paulo, onde à noite, ele foi ao teatro da Ópera, ostentando uma braçadeira de ouro confeccionada às pressas em que se lia “Independência ou morte”.
‘Na Trilha da Independência’: jogo de tabuleiro
Este jogo de tabuleiro simula de forma divertida a viagem do príncipe regente D. Pedro do Rio de Janeiro a São Paulo terminando na proclamação da Independência. Os jogadores encontrarão obstáculos e desafios em forma de perguntas para vencer as etapas até concluir o trajeto e chegar à colina do Ipiranga onde ocorreu o célebre episódio do grito da Independência.
Acesse o jogo “Na Trilha da Independência” no site STUD HISTÓRIA, clicando no botão abaixo.
Fonte
- FIORAVANTI, Carlos. Erros e acertos dos caminhos da Independência. Revista Fapesp, ed. 315, mai.2022
- RIBEIRO, Antônio Sérgio. Acompanhe a viagem de D. Pedro até as margens do Ipiranga em 7 de setembro de 1822. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, 4 set 2003.
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