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As heroínas baianas da Independência do Brasil

2 de julho de 2021

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A proclamação da Independência, em 7 de setembro de 1822, não produziu efeitos imediatos em províncias como Bahia, Maranhão, Grão‑Pará e a Cisplatina (atual Uruguai).  Ao contrário, a opressão dos militares portugueses aumentou e foi preciso abrir guerra para expulsá‑los do país.

Portugal, contudo, não contava com a resistência baiana à qual se juntou a participação das mulheres. Sóror Joana Angélica, Maria Quitéria e Maria Felipa foram verdadeiras protagonistas nas lutas bélicas e diplomáticas transcorridas na nação emergente.

  • BNCC: 8º ano. Habilidade: EF08HI06, EF08HI11, EF08HI12

Joana Angélica

Soror Joana Angélica de Jesus, óleo sobre tela pintado em 1925 por Domenico Failutti. Acervo do Museu Paulista da USP.

Nascida em Salvador, Joana Angélica (1761-1822) era filha única de um casal de vida abastada da cidade. Aos 20 anos entrou para a vida religiosa, ingressando na Ordem das Reformadas de Nossa Senhora da Conceição, ou simplesmente, Convento da Lapa. Adotou o nome de Joana Angélica de Jesus.

Exerceu os cargos de escrivã, mestra das noviças, vigária e, por fim, abadessa nos anos de 1815 a 1817 e em 1820 a 1822, por vontade das demais religiosas. Era uma mulher conhecida e admirada por sua virtude e religiosidade pela população residente nas cercanias do convento.

Foi como abadessa que Joana Angélica presenciou os tumultos que se seguiram ao Dia do Fico (9 de janeiro de 1822). Um clima de ódio se espalhou pela cidade. Salvador virou uma praça de guerra, com confrontos violentos nas Mercês, na Praça da Piedade e no Campo da Pólvora. O caos se estabeleceu na cidade. Tumultos, saques e quebra‑quebras obrigaram moradores a abandonar a capital com as famílias.

Tropas portuguesas estabelecidas em Salvador passaram a saquear diversos lugares, praticando roubos e assassinatos e outras arbitrariedades e excessos. A pretexto de perseguir “revoltosos”, atacavam casas particulares.

Em 20 de fevereiro de 1822, por volta do meio dia, a soldadesca tentou invadir o Convento da Lapa sob o pretexto de que ele abrigava “patriotas”, chegando-se a se dizer que dali dispararam contra as tropas do brigadeiro Madeira de Melo.

Preocupada com a integridade das irmãs, a abadessa Joana Angélica postou-se à porta do convento e, segundo a tradição teria dito: “Para trás, bárbaros! Respeitai a casa de Deus! Só entrarão passando por cima do meu cadáver!” – frase repetida em diversos livros de história da Bahia e do Brasil, mas nunca comprovada por documentos ou evidências.

Seja como for, um soldado da tropa deu-lhe um golpe mortal de baioneta. Joana Angélica tinha, então, 60 anos de idade. Enquanto isso, as demais religiosas conseguiram fugir pelo fundo do convento. Nenhum “patriota” foi encontrado no convento.

A morte de Joana Angélica deu mais alento à luta pela independência travada pelo povo baiano. A religiosa se tornou um símbolo da resistência contra o autoritarismo português e a primeira mártir do movimento de independência, que culminou alguns meses mais tarde com o 7 de setembro. Foi enterrada na sepultura de número 9 da Igreja da Lapa, situada no interior do convento.

Maria Quitéria

Maria Quitéria de Jesus, retrato pintado por Domenico Failutti, 1920, baseado no retrato de Augustus Earle publicado no livro “Diário de uma Viagem ao Brasil” (1824) de Maria Graham. Museu Paulista.

A baiana Maria Quitéria de Jesus (1792-1853), natural da região de Feira de Santana, ficou órfã de mãe aos 9 anos assumindo o comando da casa e o cuidado dos seus dois irmãos menores. O pai voltou a casar-se e novamente enviuvou, casando-se pela terceira vez. Segundo os biógrafos, essa madrasta nunca aprovou o modo “independente” de Maria Quitéria, mulher bonita que montava, caçava, manejava armas de fogo e dançava lundus com os escravos da fazenda.

Em setembro de 1822, instalou-se na vila de Cacheira, o Conselho Interino do Governo da Província. Esse grupo tratou de enviar mensageiros pela região para recrutar voluntários para a luta que se avizinhava – guerra que, na Bahia, se prolongaria até 2 de julho de 1823.

Um dos mensageiros esteve na fazenda do pai de Maria Quitéria que se lamentou não poder servir à “causa patriótica” por não ter filhos homens em idade de combate. A filha tentou convencê-lo a deixar que se alistasse, tendo como resposta a advertência de que as mulheres fiam, tecem, bordam e não vão à guerra.

Determinada, Maria Quitéria fugiu, encontrou abrigo na casa da irmã Teresa. Cortou os cabelos, conseguiu emprestada a fardado cunhado e alistou-se com os documentos dele no Regimento de Artilharia, ficando conhecida como “soldado Medeiros” – nome de seu cunhado. Tinha, então, 30 anos de idade.

Poucas semanas depois, porém, a farsa foi descoberta, pois seu pai estava a sua procura em todos os cantos daquela região. Nem assim, contudo, Maria Quitéria foi banida das forças patrióticas. Ela foi transferida para a tropa dos Voluntários do Príncipe D. Pedro, vulgo Batalhão dos Periquitos, apelido dado pelo verde dos punhos e golas do uniforme utilizado. Acrescentou à sua farda um saiote.

A viajante inglesa Maria Graham que conheceu Maria Quitéria, a descreveu da seguinte forma:

“29 de agosto [1823] – Recebi hoje uma visita de Dona Maria de Jesus, jovem que se distinguiu ultimamente na Guerra do Recôncavo. Sua vestimenta é a de um soldado de um dos batalhões do Imperador, com a adição de um saiote escocês, que ela me disse ter adotado da pintura de um escocês, como um uniforme militar mais feminino. […] Foi enviada para aqui, creio eu, com despachos, e para ser apresentada ao Imperador, que lhe deu o posto de alferes e a ordem do Cruzeiro, cuja condecoração ele próprio impôs em sua túnica. Ela é iletrada, mas inteligente. Sua compreensão é rápida e sua percepção aguda. Penso que, com educação, ela poderia ser uma pessoa notável. Não é particularmente masculina na aparência: seus modos são delicados e alegres. […] Uma coisa é certa: seu sexo nunca foi sabido até que seu pai requereu a seu oficial comandante que a procurasse. Não há nada de muito peculiar em suas maneiras à mesa, exceto que ela come farinha com ovos ao almoço e peixe ao jantar, em vez de pão, e fuma charuto após cada refeição, mas é muito sóbria (WOLFF, 2013, p. 425-6).”

Ao lado da descrição dos modos e vestimentas de Maria Quitéria, a inglesa fez um esboço de sua aparência, que mais tarde serviu de base para todos os retratos póstumos da mulher que ficou conhecida como “heroína da pátria”.

Maria Quitéria se destacou nos combates que enfrentou por sua bravura e destreza no manejo das armas. No combate da Pituba, em fevereiro de 1823, atacou a trincheira inimiga e fez prisioneiros. Recebeu a honra de 1º cadete por esse feito. Em abril do mesmo ano, foi mais uma vez reconhecida por sua coragem, pois na barra do Paraguaçu, ao lado de outras mulheres, avançou em direção a uma barca portuguesa com as águas na altura dos seios e impediu o desembarque dos adversários.

A 2 de julho de 1823, o Exército Libertador entrou na cidade de Salvador, sendo aclamado pela população, que prestou homenagem aos comandantes e à heroína Maria Quitéria de Jesus.

Embarcou para o Rio de Janeiro onde foi cumprimentada pelo imperador D. Pedro I e condecorada com a Ordem do Cruzeiro recebendo, também, o direito de um soldo de alferes em linha.

Maria Quitéria casou-se meses depois de teve uma única filha. Enviuvando em 1835, mudou-se para Feira de Santana, a fim de intervir no inventário de seu pai, porém nunca chegou a usufruir de sua parte na herança, pois esse processo só foi concluído após a sua morte.

Faleceu em 21 de agosto de 1853, em Salvador, aos 61 anos de idade, quase cega e na pobreza.

Maria Felipa de Oliveira

Maria Felipa poderia se parecer com essa escrava vendedora de peixes, retratada por Rugendas, em 1835.

Muito pouco se sabe sobre a negra baiana Maria Felipa de Oliveira, natural da ilha de Itaparica. Trabalhadora braçal, pescadora e marisqueira, ela liderou um grupo de 200 pessoas entre índios tupinambás e mulheres negras em batalhas contra os portugueses que atacaram a ilha de Itaparica.

Várias embarcações lusitanas foram incendiadas por aquelas mulheres, entre elas a canhoneira Dez de Fevereiro, na praia de Manguinhos, e a Barca Constituição, na praia do Convento. Armadas de facões e galhos de cansanção, elas surravam os portugueses que ousavam desembarcar na ilha para, depois, atear fogo aos barcos usando tochas de palha de coco e chumbo. Somente o grupo de Maria Felipa foi o responsável por ter queimado 40 embarcações portuguesas que estavam próximas à Ilha.

Até pouco tempo atrás, Maria Felipa era muito pouco conhecida e somente há alguns anos é que se iniciou uma campanha para o reconhecimento de sua importância. Mesmo sem comprovação documental, sua existência é reconhecida pela tradição oral da população itaparicana. Não existem imagens de Maria Felipa e a que usamos nesse artigo é uma aquarela de Rugendas, de 1835, escolhida por representar uma escrava vendedora de peixes.

Em 26 de julho de 2018, Maria Felipa foi declarada “Heroína da Pátria Brasileira” pela Lei Federal nº 13.697, juntamente com a Sóror Joana Angélica de Jesus, Maria Quitéria e também a imperatriz Maria Leopoldina.

A revisão historiográfica feita sobre essas mulheres contribuiu sobremaneira para uma reavaliação dos papeis de gênero e participação feminina na independência do Brasil.

Saiba mais

Fonte

  • SANTOS, Antônia da Silva.  Joana Angélica saindo dos papéis à beatificação. Anais do XV Congresso Nacional de Linguística e Filologia, Rio de Janeiro: Cadernos do CNLF, v. XV, n. 5, t.2,  2011.
  • GUERRA FILHO, Sérgio Armando Diniz. O povo e a guerra. Participação das camadas populares nas lutas pela independência do Brasil na Bahia. Dissertação (Mestrado), Salvador (BA): Universidade Federal da Bahia, 2004.
  • FARIAS, Eny Kleyde Vasconcelos. Maria Felipa de Oliveira: heroína da independência da Bahia. Salvador: Quarteto, 2010.
  • KANN, Bettina; LIMA, Patrícia Souza. D. Leopoldina: cartas de uma imperatriz. São Paulo: Estação Liberdade, 2006.
  • REZZUTTI, Paulo. D. Leopoldina: a história não contada. A mulher que arquitetou a independência do Brasil.  Rio de Janeiro: LeYa, 2017.
  • WOLFF, Cristina Scheibe. Amazonas, soldadas, sertanejas, guerrilheiras. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria (Orgs.). Nova História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013.
  • TAPIOCA NETO, Renato Drummond. Estadistas, santas e guerreiras: mulheres e a luta feminina pela independência do Brasil. Rainhas Trágicas. 07.09.2020.
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