Em 1º de Novembro de 1347, Dia de Todos os Santos e véspera de Finados, uma frota genovesa chegou ao porto de Marselha, sul da França, trazendo a bordo parte da tripulação morta e o restante infectado com a peste bubônica. As autoridades portuárias, interessadas nas mercadorias orientais valiosas transportadas, autorizaram o desembarque. A cidade foi rapidamente contagiada pela doença, tornando-se uma nova porta de entrada da epidemia no continente europeu.
- BNCC: 6 ano. Habilidade: EF06HI15, EF06HI16
A frota genovesa vinha da cidade de Caffa, posto comercial genovês na Crimeia, às margens do Mar Negro. Daí saiu levando, nos porões, mercadorias e ratos infectados. Passou depois por Constantinopla e Messina, na Sicília.
Nas duas ou três semanas que a frota ficou na Sicília, a epidemia explodiu com toda a sua virulência. Os navios foram expulsos de Messina e retornaram a Gênova, mas foram proibidos de entrar no porto. Seguiram, então, para Marselha onde aportaram em 1º de novembro de 1347. Quase toda tripulação estava morta, e os ratos infectados pela peste abandonaram os navios espalhando-se pela cidade. Durante muito tempo, os navios permaneceram nas águas de Marselha, sacudidos pelo vento, sem que ninguém ousasse se aproximar, embora estivessem cheios de sedas e mercadorias preciosas, e com uma tripulação de cadáveres em decomposição.
Em um clima úmido de inverno, a praga irrompeu em sua forma mais perigosa e contagiosa: a forma pulmonar. A epidemia se espalhou rapidamente pelas rotas comerciais, atingindo primeiro outros portos do Mediterrâneo e o vale do Ródano, percorrendo cerca de 75 km por dia.
Em janeiro de 1448, a peste chegou em Avignon, então sede do Papado que recebia grande número de fiéis em peregrinação. A partir daí, a peste segue para outras cidades da França: Montpellier, Béziers, Narbonne, Carcassone, Perpignan chegando em Bordeaux em junho.
A partir de Bordeaux, a propagação da praga acelerou-se. A cidade francesa era uma importante encruzilhada de rotas comerciais terrestres e fluviais. Desde o século XII mantinha um próspero comércio de vinho com a Inglaterra. A peste seguiu o caminho dos comerciantes e logo chegou ao sul da Inglaterra e daí para o País de Gales, Escócia, Irlanda e Islândia. Atingiu também a Dinamarca, Noruega, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Grécia, Portugal, Espanha, norte da África, Egito, Palestina, Síria, Líbano.
Ninguém sabia como se dava o contágio nem como evitá-lo. A doença era desconhecida na Europa mas logo ganhou o nome de Morte Negra ou Peste Negra devido às manchas escuras que apareciam no corpo do doente.
A difusão da epidemia foi maior nas cidades superpovoadas. Mas sua progressão não foi homogênea, pois nem todas as regiões foram afetadas da mesma maneira. Muitas aldeias e algumas cidades foram poupadas como Brüges (Bélgica), Milão (Itália) e Nuremberg (Alemanha).
Estima-se que, entre 1346 e 1353, a peste bubônica vitimou de 20 a 25 milhões de pessoas, 1/3 da população europeia. Para além da catástrofe demográfica, a peste afetou a vida europeia em diversos setores acelerando uma mudança profunda na sociedade medieval.
Fonte
- BLANCO, Angel. La Peste Negra. Madri: Anaya, 1995.
- MAGALHÃES, Ana Maria; ALÇADA, Isabel. O ano da Peste Negra. Lisboa: Ed. Caminho (Coleção Viagens no Tempo).
- MARTINS, Gilberto. Peste negra, a obscura face da morte. São Paulo: Bureau, 2001.
- HORROX, Rosemary (ed.). The Black Death. Manchester: Manchester University Press, 1994.
- ROUFFIÉ, Jacques.; SOURNIA, Jean-Charles. Les épidémies d’histoire de l’homme. Essai d’anthropologie médicale. Paris: Flammarion, 1984.
Abertura
- Dança Macabra, século XIV, uma alegoria sobre a universalidade da morte, motivo comum na iconografia europeia do final da Idade Média.