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Início da Revolução Praieira, Pernambuco

07 de novembro de 1848

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Em 7 de novembro de 1848, tinha início em Recife, a Revolução Praieira (1848-1850) também chamada de Insurreição Praieira ou simplesmente Praieira. O nome veio de praieiro, designação pejorativa dada aos rebeldes, em referência à Rua da Praia, no Recife, onde se localizava a tipografia de seu jornal Diário Novo.

A Praieira foi um levante separatista originado das disputas políticas entre oligarquias  que, há muito tempo opunham interesses agrários e mercantis. De um lado, as elites açucareiras tradicionais encontravam-se representadas tanto no Partido Conservador quanto no Liberal. As pressões exercidas pelos segmentos emergentes de comerciantes, proprietários de engenho, lavradores e bacharéis resultaram numa dissidência entre os liberais e na fundação do Partido Nacional de Pernambuco em abril de 1842.

Os adeptos no novo partido expunham suas reivindicações no jornal Diário Novo e logo ficaram conhecidos como praieiros e seu partido, Partido da Praia. Em contrapartida, chamaram seus adversários de guabirus (uma espécie de rato) considerando-os “ladrões sorrateiros dos cofres públicos”.

Os praieiros ganharam popularidade e, em 1844, seu partido conseguiu eleger ampla maioria na Assembleia provincial. No ano seguinte, tiveram nova vitória: a nomeação de Antônio Pinto Chinchorro da Gama para presidente da província (cargo equivalente ao de governador, hoje) – um liberal simpatizante dos praieiros.

Durante três anos seguintes, o Partido da Praia teria o controle da situação provincial, perseguindo seus inimigos políticos.

  • BNCC: 8° ano. Habilidade: EF08HI15

Panorama social nos anos 1840

Ponte da Boa Vista, em Recife, PE, litografia de Luís Schlappriz, década de 1860.

Na década de 1840, grandes mudanças ocorriam na sociedade e na economia de Pernambuco. De um lado, a transição do trabalho escravo para o trabalho livre – forçada pela repressão inglesa ao tráfico africano (Bill Aberdeen, de 1845) – fez crescer os confrontos entre segmentos das elites açucareiras pela disputa de mão de obra, e também entre esses senhores de engenho e os plantadores de médio porte, pequenos proprietários e posseiros.

De outro lado, crescia, nas cidades, o descontentamento das classes populares pelo encarecimento do custo de vida. As grandes casas mercantis, em mãos sobretudo de portugueses e ingleses, passaram a ser alvo da contestação popular. Em fins de junho de 1848, uma confusa briga entre um estudante brasileiro e um caixeiro português provocou uma grande onda de violência no Recife. Ocorreram saques a lojas, muita pancadaria e, pelo menos, cinco vítimas fatais. O motim conhecido como mata-marinheiro do Colégio recebeu apoio do Partido da Praia.

Em meio aos ânimos exaltados, ideias socialistas começaram a ser divulgadas pelo engenheiro francês Louis Léger Vauthier, admirador do socialista Charles Fourier (1772-1837), e pelo professor, filósofo e jornalista Antônio Pedro de Figueiredo (1814-1859). Este último, fez de sua revista O Progresso, lançada em 1846, um veículo difusor de suas propostas de reformas sociais e de combate ao latifúndio monocultor. Foi também crítico mordaz do monopólio do comércio pelos estrangeiros. Antônio Pedro de Figueiredo não se alinhou aos praieiros e chegou a se opor à revolta.

Antônio Pedro de Figueiredo

Antônio Pedro de Figueiredo (1814-1859), um mulato de pais pobres e desconhecidos, nascido na periferia miserável da capital pernambucana, foi um crítico da desigualdade social. Denunciou a concentração de terras como um dos males do Brasil, lutou pelo direito ao trabalho, pela liberdade na imprensa e pela justiça para com os explorados

A respeito das ideias socialistas em Pernambuco daquela época, lembra o historiador Boris Fausto:

Não era o socialismo de Marx, pouco conhecido naquela altura, mesmo na Europa, mas o de autores franceses como Proudhon, Fourier e o inglês Owen. Não imaginemos, porém, que a Praieira tenha sido uma revolução socialista. Precedida por manifestações contra os portugueses, com várias mortes no Recife, ela teve como base, no campo, os senhores de engenho ligados ao Partido Liberal. Sua razão de queixa era a perda do controle da província para os conservadores. (FAUSTO, 2009)

Começa a Revolução Praieira

O estopim da Revolução Praieira foi a destituição, por D. Pedro II, do governador de Pernambuco, o liberal Chinchorro da Gama simpatizante dos praieiros. Para seu lugar foi nomeado o conservador Herculano Ferreira Pena que logo tratou demitir os funcionários que tivessem algum vínculo com o partido derrotado. 

No dia 7 de novembro de 1848,  o movimento armado teve inicio em Olinda e logo se difundiu pela Zona da Mata. A liderança mais importante no primeiro momento coube ao capitão de artilharia Pedro Ivo Veloso Silveira que reuniu pequenos arrendatários, vaqueiros e outros grupos populares do interior. Pedro Ivo havia combatido, como militar a serviço do Império, os Cabanos do Pará, bem como em outras províncias. Essas lutas teriam ajudado a forjar a sua consciência política em defesa das massas miseráveis.

Em 1º de janeiro de 1849, os praieiros lançaram o seu programa, um documento chamado Manifesto ao Mundo, supostamente escrito pelo jornalista praieiro Borges da Fonseca. O manifesto defendia:

  • voto livre e universal (portanto, sem exigência de renda mínima),
  • liberdade de expressão,
  • extinção do Poder Moderador,
  • separação dos poderes,
  • reforma do poder judiciário para assegurar os direitos individuais dos cidadãos,
  • organização  federativa,
  • nacionalização do comércio a retalho,
  • expulsão dos portugueses.

Em fevereiro de 1849, os rebeldes investiram contra Recife em duas colunas com cerca de 1.500 homens, a primeira sob liderança de Pedro Ivo. Sem contar com o apoio esperado da população urbana, cerca de 200 rebeldes morreram em combate ou na retirada. Cerca de 300 foram feitos prisioneiros. Parte das lideranças rebeldes, incluindo Borges da Fonseca, entregou-se em março de 1849, aceitando a anistia oferecida pelo governo imperial.

A última resistência

Pedro Ivo continuou lutando e, liderando um grupo de homens armados, levou a revolta para a Paraíba onde tentou em vão conquistar essa província. Somente em fins de 1850 ele se rendeu confiante na anistia prometida pelo Império. Contudo recebeu voz de prisão e levado para a Fortaleza de Santa Cruz no Rio de Janeiro. Em 20 de abril de 1851 conseguiu fugir permanecendo escondido em diversas localidades no vale do rio Paraíba. Finalmente embarcou rumo à Europa no navio italiano Vesúvio. Faleceu durante a viagem sendo o seu corpo sepultado no mar, a 3 de março de 1852.

Os líderes da insurreição foram julgados e condenados à prisão em Fernando de Noronha. Alguns conseguiram fugir para o exterior. Em 28 de novembro de 1851 foi concedida anistia ampla, inclusive aos que se encontravam  foragidos do país. Eles voltaram, assim, a ocupar os seus cargos públicos e a comandar os seus engenhos.

Porém, os rebeldes das camadas populares não tiveram direito a julgamento: sofreram recrutamento forçado ou foram anistiados por intervenção de seus superiores para retornarem ao trabalho, exceto aqueles que foram sumariamente fuzilados durante e logo após os combates.

Fonte

  • FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2009.
  • ENGEL, Magali Gouveia. Praieira. In: VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
  • MARSON, Isabel. A Rebelião Praieira. São Paulo: Brasiliense, 1981.
  • _______. O império do progresso: a revolução praieira em Pernambuco (1842-1855). São Paulo: Brasiliense, 1987.
  • QUINTAS, Amaro. O sentido social da Revolução Praieira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
  • REZENDE, Antonio Paulo. A Revolução Praieira. São Paulo: Ática, 1995. (Coleção Guerras e Revoluções Brasileiras).
  • CÂMARA, Bruno Augusto Dornelas. O mata-marinheiro do Colégio e a radicalização da “populaça” do Recife na briga pelo mercado de trabalho. Clio. Revista de pesquisa histórica, UFPE, n.23, 2005.
  • PERIOTTO, Marcília Rosa. Antônio Pedro de Figueiredo, a revista “O Progesso” e a educação. HISTEDBR, Unicamp.
  • STRIEDER, Inacio. Antônio Pedro de Figueiredoum filósofo para além de seu tempo (1822-1859). Recanto das Letras.

Outras revoltas do Brasil Imperial

 

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