Em 2 de julho de 1824, foi proclamada a Confederação do Equador, em Recife, um movimento separatista e republicano que pretendia reunir as províncias de Pernambuco, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e, possivelmente, Piauí e Pará. Participavam do movimento proprietários de terra ligados à produção açucareira, comerciantes do Recife e camadas populares urbanas.
O movimento foi uma violenta reação contra a política centralizadora e autoritária de D. Pedro I esboçada na dissolução da Assembleia Constituinte e na Constituição outorgada de 1824.
Contrariando o desejo de autonomia das províncias, a Constituição de 1824 preservava o centralismo, submetia as províncias ao poder do Rio de Janeiro, proibia as províncias de terem força armada própria e negava aos brasileiros terem preferência na ocupação de cargos públicos.
O resultado foi a eclosão do movimento que, no dia 2 de julho de 1824, proclamou a Confederação do Equador. Em tese, o novo Estado republicano seria formado pelas províncias do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Pernambuco. Contudo, nenhuma delas aderiu à revolta separatista, com a exceção de algumas vilas da Paraíba e do Ceará.
Os líderes – Manoel Pais de Andrade, frei Caneca, Padre Mororó, João Guilherme Ratcliff, João Metrovitch e José de Barros Lacerda – temendo a repressão de D. Pedro I, chegaram a enviar uma carta ao governo dos Estados Unidos, na qual, apelando para a doutrina Monroe, pediam uma esquadra em apoio à Confederação. Não foram atendidos.
O imperador preparou forças de terra e mar para atacar os confederados. O comando de 1.200 soldados foi entregue ao brigadeiro Francisco de Lima e Silva, e a esquadra ficou sob as ordens de dos mercenários lord Cochrane e John Taylor. Não resistindo ao enfraquecimento interno do movimento e à dura reação imperial, a Confederação do Equador teve seu fim em 29 de novembro de 1824.
Os focos rebeldes foram sitiados, centenas foram presos e 31 condenados à morte, sendo que 9 não foram executados porque conseguiram fugir. Foi a mais violenta repressão na história do império brasileiro.
Redução do território pernambucano
A província de Pernambuco foi punida por D. Pedro I com a perda da Comarca do Rio São Francisco (atual Oeste Baiano), através do decreto de 7 de Julho de 1824. Foi a segunda e última porção de terra desmembrada de Pernambuco – que tinha perdido sete anos antes a Comarca das Alagoas, em consequência da Revolução Pernambucana de 1817.
No Brasil, Pernambuco é o único caso de divisão territorial como punição pela rebeldia.
Execução de Frei Caneca e Padre Mororó
Frei Caneca foi condenado à morte na forca. Levado para o alto do patíbulo, três carrascos sucessivamente se recusaram a executá-lo. Por isso, Francisco de Lima e Silva mandou fuzila-lo com tiros de arcabuz diante dos muros do forte das Cinco Pontas, no Recife (13 de janeiro de 1825). O corpo foi recolhido pelos carmelitas e sepultado em uma das catacumbas da ordem.
Padre Mororó, condenado à forca em Fortaleza e, assim como Frei Caneca, acabou sendo fuzilado no dia 30 de abril de 1825. Reza a tradição que Padre Mororó recusou usar venda nos olhos dizendo “eu quero ver como isto é” e, cruzando as mãos sobre o peito, gritou para os soldados “O alvo é este. Tiro certeiro que não me deixe sofrer muito”.
O luso-polonês João Guilherme Ratcliff teve um fim ainda mais macabro. Esse personagem participara da Revolução Liberal do Porto de 1820 e naquela oportunidade redigira o decreto de banimento da rainha Carlota Joaquina, que se recusara a prestar juramento à nova Constituição liberal. Com a reviravolta na política portuguesa, em 1823, Ratcliff fugiu do país e chegou a Pernambuco onde se engajou na Confederação do Equador. Preso, foi enforcado (17 de março de 1825) e sua cabeça cortada que, segundo a tradição, teria sido salgada e enviada, dentro de uma caixa de veludo vermelho, como presente para Carlota Joaquina, em Portugal, para que a rainha se sentisse vingada.
Fonte
- LIMA SOBRINHO, Barbosa. Pernambuco: da independência à Confederação do Equador. Recife: Conselho Estadual de Cultura, 1979.
- CANECA, Frei Joaquim do Amor Divino (1779-1825). Org. e introd. de Evaldo Cabral de Mello. 2001. (Coleção Formadores do Brasil).
- LIMA, Kelly Cristina Azevedo de. CAOS Revista Eletrônica de Ciências Sociais, UFPB, n. 12, set 2008.
- BRANDÃO, Ulisses. A confederação do Equador. Recife: Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, 1924.
- Centenário da Confederação do Equador. Revistas do Instituto do Ceará, tomo especial, edição de 1924.
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