Em 3 de novembro de 1970, Salvador Allende foi eleito presidente do Chile. Foi o primeiro chefe de Estado socialista marxista da América a chegar ao poder através de eleições gerais num estado democrático de direito. Allende acreditava na via eleitoral da democracia representativa e considerava ser possível instaurar o socialismo dentro do sistema político então vigente em seu país.
Seu governo era apoiado pela Unidade Popular, uma coalizão de partidos de esquerda. Seu projeto político, “via chilena para o socialismo”, incluía a nacionalização do cobre, o principal produto de exportação do país, a nacionalização de indústrias e bancos, e o aprofundamento da reforma agrária iniciada por seu antecessor, Eduardo Frei Montalva.
A presidência de Allende (1970-1973)
Assumindo a presidência em 3 de novembro de 1970, Allende logo deu início ao plano de transição do capitalismo para o socialismo. O plano da Unidade Popular para alcançar o “socialismo ao estilo chileno” consistia nos seguintes pontos:
- Nacionalização das áreas chave da economia.
- Nacionalização da mineração de cobre em grande escala.
- Aceleração da reforma agrária.
- Congelamento de preços de mercadorias.
- Aumento dos salários de todos os trabalhadores, pagando-os com a emissão de notas.
- Modificação da constituição e criação de uma câmara única.
Estas ações combinaram políticas econômicas socialistas (nacionalização) com outras que se centraram na reativação econômica após uma redistribuição drástica da riqueza.
A nacionalização da mineração de cobre recebeu o apoio unânime de todos os setores políticos. As empresas mineiras receberiam uma compensação, mas subtraindo os “lucros excessivos” que teriam obtido nos últimos anos, porque pagaram impostos baixos. As empresas estadunidenses Anaconda (propriedade da família Rockefeller) e Kennecott nada receberam e ficaram devendo milhões de dólares ao Estado chileno.
Estas ações do governo Allende motivariam Richard Nixon, presidente dos Estados Unidos, e o seu secretário de Estado, Henry Kissinger, a promover um boicote contra o governo Allende negando crédito estrangeiro. Por sua vez, as empresas de cobre solicitaram um embargo ao cobre chileno nos tribunais europeus.
Aparecem os problemas
Forçado a procurar fontes alternativas de comércio e financiamento, o Chile buscou ajuda junto à União Soviética. Porém, a promessa de investimento de cerca de 400 milhões de dólares no Chile não se concretizou. Os créditos concedidos pela Rússia foram irrisórios.
A desapropriação de 2 milhões de hectares para a reforma agrária começaram a assumir contornos cada vez mais violentos devido aos confrontos entre proprietários de terras e camponeses.
No final de 1971 apareceriam os primeiros problemas econômicos: crescimento acelerado do déficit orçamental, queda das reservas internacionais e déficit da balança comercial após a queda abrupta do preço do cobre.
A fixação dos preços trouxe a escassez de alimentos e o “mercado negro” onde os produtos eram vendidos a preços multiplicados. Produtos de consumo básicos desapareceram dos armazéns e supermercados, causando longas filas de pessoas para obter os seus produtos.
Milhares de mulheres da oposição saíram às ruas para protestar, batendo em panelas vazias para protestar contra a falta de comida, os chamados “cacerolazos“.
Ocorreram greves dos caminhoneiros, mineradores e outros setores por aumento de salários. A violência nas ruas tornou-se cada vez mais intensa, aproximando-se da barreira das cem mortes devido à violência política.
Intervenção dos Estados Unidos
O Estado chileno chegou a controlar 60% da economia do país e passou a sofrer forte oposição de grupos direitistas e da maioria da classe média chilena. Em pleno período da polarização ideológica da Guerra Fria, o governo de Allende sofreu com a intervenção persistente dos Estados Unidos e da Agência Central de Inteligência (CIA) para derrubar regime da Unidade Popular.
A CIA financiou grupos chilenos como a organização “Patria y Libertad” e o jornal “El Mercurio” para fazerem oposição cerrada a Allende. O governo Richard Nixon impôs um severo bloqueio econômico que impediu o Chile de obter empréstimos internacionais ou bons preços para o cobre.
Em 1973, a inflação chegou a 381%, os produtos básicos de consumo desapareceram das prateleiras, o desemprego elevou-se enquanto a produção e a moeda de então, o Escudo Chilena, caíram de forma vertiginosa.
Morte de Allende
Em 11 de setembro de 1973, depois de mil dias de governo, Salvador Allende foi derrubado por um golpe de Estado em que participaram as Forças Armadas e o corpo de Carabineros, instituição policial que integra as Forças de Ordem e Segurança.
Com o Palácio de la Moneda cercado pelos militares, Allende emitiu pela rádio sua última mensagem à Nação, às 10h15 do dia 11 de setembro de 1973:
“Colocado na transição histórica, pagarei com a minha vida a lealdade do povo e digo-vos que tenham a certeza de que a semente que entregamos à consciência de milhares de chilenos não poderá ser cegada definitivamente. Continue sabendo que, muito mais cedo ou mais tarde, se abrirão as grandes avenidas, por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile, viva o povo, viva os trabalhadores!”
Salvador Allende, 11 de setembro de 1973.
Às 10h30, os tanques abriram fogo contra o Palácio de la Moeda, sede da presidência da República, Seguiram-se os tanques e a infantaria, fogo que foi respondido por membros do GAP (guarda pessoal de Allende) e atiradores estacionados nos edifícios circundantes.
Às 11h50, caça-bombardeios iniciaram o ataque ao La Moneda, disparando seus foguetes quatro vezes contra o palácio, causando danos devastadores. Outros dois aviões bombardearam a residência presidencial de Tomás Moro.
Por volta das 14h30, Allende decidiu render-se e depor armas (estava com um fuzil AK-47). Segundo o médico Patricio Guijón, ao entrar no salão onde Allende estava, encontrou-o morto com um tiro que entrou em seu queixo, explodindo a abóbada craniana. Ele ligou para o oficial de rádio e entregou seu breve relatório: “Missão cumprida, Moneda tomada, presidente morto.
À tarde foi formada uma junta militar (Conselho do Chile) que indicou o general Augusto Pinochet como representante do Exército para governar o país.
No dia 17 de Junho de 1974, Pinochet assumiu formalmente o cargo de Chefe Supremo da Nação. Em 1981, ele se autoproclamou presidente da República do Chile para um mandato de oito anos. Iniciava a ditadura militar chilena que se estendeu até 11 de março de 1990.