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Massacre de Porongos, Rio Grande do Sul

14 de novembro de 1844

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Na madrugada de 14 de novembro de 1844 ocorreu o massacre de Porongos, emboscada que vitimou soldados negros desarmados, acampados no Cerro de Porongos, no Rio Grande do Sul. O episódio ainda pouco conhecido faz parte da Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos (1835-45).

A Revolução Farroupilha, a guerra civil mais longa da história do Brasil foi movida pela elite gaúcha contra o governo imperial brasileiro motivada pelos altos impostos cobrados sobre seus produtos sulistas.

No decorrer da guerra, os farroupilhas proclamaram, em 1836, a independência e a república da então província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Necessitando de mais homens para lutar contra as tropas imperiais, os chefes republicanos começaram a cooptar negros escravizados. Mas não os seus, e sim os escravos dos adversários, que serviam aos imperiais ou estavam fugidos, com a promessa de alforria após o fim da guerra.

  • BNCC: 8° ano. Habilidade: EF08HI15, EFHI0816, EFHI0820

Lanceiros Negros: a tropa de choque

Representação idealizada de um Lanceiro Negro, óleo de Juan Manuel Blanes, final do séc. XIX.

Os negros cooptados não lutavam pelos ideais farroupilhas, mas pela chance de liberdade. Ficaram conhecidos na história como Lanceiros Negros. Formaram 8 companhias de 51 homens cada, totalizando 408 lanceiros. Exerciam a função de tropa de choque do exército farroupilha e manejavam com destreza a lança, uma arma essencial para este tipo de combate.

Aos Lanceiros Negros era vedado o uso de espadas e armas de fogo de grande poder, permitindo-lhes apenas pequenas garruchas. Além das lançadas, eram armados com adaga ou facão. Alguns eram hábeis no uso de boleadeiras como armas de guerra, principalmente para abater o inimigo longe do alcance de sua lança.

Eram homens rústicos e disciplinados. Faziam a guerra à base de recursos locais. Comiam se houvesse alimento e dormiam em qualquer lugar, inclusive ao ar livre. A maioria lutava a pé e aqueles que tinham cavalo, montavam em pelo, a moda charrua. Como esporas improvisavam uma forquilha de madeira presa com tiras de couro cru.

Seu vestuário era constituído de sandálias de couro cru, chiripá (tecido passado por entre as pernas e preso à cintura) de pano grosseiro, um colete recobrindo o tronco e na cabeça uma vincha (faixa) vermelha símbolo da república.

Os Lanceiros Negros eram comandados por oficiais brancos, e jamais um negro chegou a um posto significante. Lutavam, marchavam, comiam e dormiam separados das tropas farroupilhas dos brancos. Importante lembrar que os principais chefes farrapos – Bento Gonçalves, David Canabarro, Gomes Jardim e até Antônio Netto, dentre outros, eram todos escravistas e continuaram tendo escravos depois da guerra.

O massacre de Porongos

Há controvérsias sobre o que teria facilitado o Massacre de Porongos. A maioria das evidências históricas, porém, indica que a chacina foi resultado da traição do general David Canabarro, homem forte dos farroupilhas.

À época, reconhecendo a iminente derrota, os rebeldes tentavam negociar uma anistia com o império. O governo de D.Pedro II acenou com a possibilidade de induto mas o império não aceitava a liberdade dos Lanceiros. Os farropilhas deveriam entregá-los. Diante do impasse de cumprir ou não a promessa de liberdade feita aos Lanceiro, mas querendo por fim à guerra, Canabarro teria negociado com os imperiais para estes eliminarem os Lanceiros. Canabarro escreveu ao Barão de Caxias tramando a data e o local para um ataque ao acampamento dos negros no cerro de Porongos, hoje região de Pinheiro Machado (interior do Rio Grande do Sul). (ASSUMPÇÃO, 2013).

Na noite anterior ao trágico episódio, Canabarro ordenou que os Lanceiros Negros fossem desarmados e separados do restante das tropas que ficaram acampadas nas imediações. Na madrugada do dia 14 de novembro de 1844, os Lanceiros Negros foram surpreendidos pelas tropas imperiais. Isolados e sem armas para se defenderem, foram massacrados, enterrando de vez a preocupação dos farrapos e acelerando assim a paz com o Império.

Três meses depois, foi firmada a rendição e paz de Poncho Verde em 28 de fevereiro de 1845. Canabarro assinou o acordo confiando na “palavra sagrada” e no “magnânimo coração” de D. Pedro II. Os senhores escravistas dos dois lados trocaram abraços e promessas de lealdade. Pouco tempo depois, marcharam juntos e sob a mesma bandeira imperial contra o Uruguai, Argentina e Paraguai.

Os Lanceiros Negros sobreviventes

Calcula-se que, nos últimos anos do conflito, os farrapos somavam uns 5.000 homens, sendo que cerca de mil eram Lanceiros Negros. Após o massacre, porém, restaram apenas uns 120 deles, feridos, alguns mutilados. Foram entregues aos soldados legalistas e enviados ao Rio de Janeiro.

Na Corte Imperial foram colocados inicialmente no Depósito de Recrutas da Praia Vermelha, depois remetidos ao Arsenal de Guerra e de lá remanejados ao Hospital Militar ou à Fortaleza de Santa Cruz. Viveram por anos em situações precárias, duvidosas e imprecisas, trabalhando como serventes, alguns recebendo ração e um mísero soldo, por vezes abonado em fumo.

Consta que, liderados pelo africano Salvador Braga, escreveram um abaixo-assinado ao Imperador, pedindo uma definição para suas vidas, expondo a situação em que se encontravam, tratados como escravos, embora não o fossem mais (GOMES, 2016).

Quanto a Davi Canabarro, ele foi posteriormente acusado de traição e o caso foi levado ao tribunal Militar. Mas o processo foi arquivado em 1866.

Fonte

  • ASSUMPÇÃO. Euzébio. Pelotas: escravidão e charqueadas: 1780-1888. Porto Alegre: FCM, 2013.
  • MAESTRI, Mário. “O negro escravizado e a Revolução Farroupilha”. In: O escravo gaúcho: resistência e trabalho. Porto Alegre: UFRGS, 1993, pp76-82.
  • GOMES, Luís Eduardo. Massacre de Porongos ainda é polêmico porque questiona ‘herópis farroupilhas’, diz historiadora. Entrevista com Prof. Dra. Daniela Vallandro de Carvalho, do Departamento de História da Unicentro, Guarapuava-PR. Sul21, publicado em 20.09.2016.
  • LEITMAN, Spencer. “Negros Farrapos: hipocrisia racial no Sul do Brasil no século XIX”. In: DACAL, José Hidelbrando (org.). A Revolução Farroupilha: história e interpretação. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985, p. 61 a 78.
  • Lanceiros Negros. Portal das Missões.

Saiba Mais

Abertura

  • Foto dos festejos da Semana Farroupilha, RS, em que cavaleiros representam os Lanceiros Negros.

 

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