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Batalha das Termópilas, o massacre dos espartanos

07 de agosto de 480 a.C

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Em agosto ou setembro* de 480 a.C., uma aliança de cidades gregas enfrentou o exército persa de Xerxes I no curso da Segunda Guerra Médica. Para deter o avanço inimigo, cerca de 7.000 hoplitas gregos liderados pelo espartano Leônidas bloquearam o único caminho que o exército persa poderia usar para entrar na Grécia: o desfiladeiro das Termópilas.

Ocorreria ali uma das mais célebres batalhas da Antiguidade: a batalha de Termópilas. Apesar dos persas terem, ao final assumido o controle da passagem, a heróica derrota de Leônidas assumiria proporções lendárias para gerações de gregos e se tornaria sinônimo de resistência ao inimigo.

(*) A data da batalha é controversa: alguns especialistas a situam entre 7 e 11 de agosto, outros entre 19 e 21 de agosto, e ainda entre 8 e 10 de setembro de 480 a.C.

O estreito das Termópilas

Termópilas é uma passagem estreita de areia entre o mar e o desfiladeiro, no norte da Grécia. O nome, “portas quentes” em grego, era devido ali existirem duas fontes de águas quentes, sulfurosas, que, segundo a mitologia grega, era uma das entradas cavernosas para o Hades.

A passagem era tão estreita que, segundo Heródoto, só podia passar um carro de cada vez. Era um ponto estratégico importante nos tempos antigos, pois representava o único caminho da costa para o interior da Grécia. Hoje, contudo, devido ao assoreamento, o local se transformou numa extensa planície, de alguns quilômetros de largura, entre a linha da costa e o sopé das montanhas.

O contexto: as Guerras Médicas (499-449 a.C.)

As Guerras Médicas ou Greco-Persas foram uma série de batalhas no século V a.C. entre as cidades-estado gregas e o Império Persa. Nesse período de cinco décadas (499 a 449 a.C.) ocorreram as famosas batalhas de Maratona, Termópilas, Salamina e Plateias que resultaram, ao final, na vitória grega.

No início do século V a.C., o Império Persa, sob Dario I (reinado 522-486 a.C.), estendia-se do Irã ao vale do Indo, da Ásia Menor (atual Turquia) ao Egito. Esse imenso território equivale aos atuais Irã, Iraque, Kuwait, Turquia, Chipre, Egito, Síria, Israel, Líbano, Líbia, norte da Arábia, Armênia, Azerbaijão, Tajiquistão, Turcomenistão, Quirguistão, Uzbequistão, Paquistão, Afeganistão, Geórgia e Macedônia.

A conquista da Trácia e da Macedônia (512 a.C.) colocaram os persas ainda mais próximos das cidades-estado da Grécia continental. As cidades gregas da costa jônica já estavam sob controle dos persas e eram governadas tiranos pró-persas.

O passo seguinte de Dario I era submeter Atenas e o resto da Grécia. O pretexto para isso foi a ajuda militar de Atenas e Erétria às cidades gregas na costa jônica em sua sublevação contra os persas (499 a.C.).

A resposta de Dario I à intromissão na Jônia foi violenta: Mileto, a cidade líder da revolta, foi destruída (494 a.C.). Suas casas foram incendiadas, seus templos saqueados, seus habitantes massacrados, mulheres e crianças vendidas como escravas, e os jovens expulsos como eunucos, garantindo assim que nenhum cidadão de Mileto tivesse descendentes.

Em 490 a.C., uma poderosa força com cerca de 20 mil cavaleiros e infantes persas embarcou para a Grécia. Atenas e Esparta formarem uma aliança para a defesa da Grécia.

As forças gregas lideradas por Atenas encontraram os persas na batalha de Maratona (490 a.C.) e derrotaram os invasores. A batalha assumiria um status mítico entre os gregos, mas na realidade era apenas a abertura de uma longa guerra com várias outras batalhas até seu desfecho em 449 a.C.

Dario I começou a planejar um ataque ainda maior contra os gregos, mas não chegou a vê-lo concretizado. Em 486 a.C., ele caiu doente e morreu. Os planos da campanha grega foram retomados por seu filho Xerxes I (reinado 486-465 a.C.). Assim, em 481 a.C., ele começou a reunir guerreiros de todo império e estados vassalos. Organizou a maior força militar que já havia sido organizada até então: 250 mil soldados além de milhares de barcos de guerra e de apoio (Estimativa da da Enciclopédia Britânica; contingentes militares das guerras antigas são sempre controversos, neste caso variam de 70 mil a 300 mil soldados).

A preparação para a batalha das Termópilas

Quando as notícias da força invasora chegaram à Grécia, a reação grega inicial foi enviar 10.000 hoplitas para manter posição no vale de Tempē perto do Monte Olimpo, mas estes se retiraram quando o tamanho maciço do exército invasor foi revelado.

Depois de muita discussão e compromisso entre as cidades-estado gregas, suspeitando dos motivos umas das outras, um exército conjunto de 6.000 a 7.000 homens foi enviado para defender a passagem nas Termópilas por onde os persas deveriam entrar na Grécia continental. As forças gregas incluíam 300 espartanos e seus hilotas, e 6.600 soldados vindos de Micenas, Tebas, Coríntio e outras cidades e regiões da Grécia.

O tamanho relativamente pequeno da força de defesa foi explicado como uma relutância de algumas cidades-estados gregas em enviar tropas tão ao norte e também por motivos religiosos, pois era o período dos jogos sagrados em Olímpia e do festival religioso espartano de Carnéia em honra a Apolo – e nenhuma luta era permitida durante esses eventos.

Foi por essa mesma razão que os espartanos haviam se atrasado na batalha anterior de Maratona, em 490 a.C. Por isso, os espartanos, considerados os melhores combatentes da Grécia e a única pólis com um exército profissional, contribuíram apenas com 300 hoplitas (de uma estimativa de 8.000 disponíveis) para a força defensiva grega.

A passagem das Termópilas

A passagem das Termópilas, localizada a 150 km ao norte de Atenas, era uma excelente escolha para defesa. Com montanhas íngremes descendo para o mar, era uma estreita faixa de 15 metros de largura entre o penhasco escarpado e o mar.

A passagem também foi fortificada com uma muralha defensiva estendendo-se do chamado Portão do Meio até o mar. A muralha estava em ruínas, mas os espartanos fizeram os melhores reparos que puderam nas circunstâncias.

Nessa passagem, com um penhasco escarpado protegendo o flanco esquerdo e o mar à direita, que os gregos escolheram se posicionar contra o exército invasor.

Com 70.000 soldados, Xerxes I, que liderou pessoalmente a invasão, primeiro esperou quatro dias na expectativa de que os gregos fugissem em pânico. Quando os gregos mantiveram sua posição, o rei persa mais uma vez enviou emissários para oferecer aos defensores uma última chance de se renderem sem derramamento de sangue se os gregos apenas depusessem as armas. A resposta de Leônidas ao pedido de Xerxes foi ‘molōn labe‘ ou “venham buscá-las” e assim a batalha começou.

Posições militares na Batalha das Termópilas (480 a.C.) das forças invasoras persas de Xerxes I e da pequena força grega liderada pelo rei espartano Leônidas. Defendendo a passagem por três dias, a força grega foi finalmente derrotada.

Arqueiros persas x hoplitas gregos

A infantaria persa estava armada com uma longa adaga ou machado de batalha, lança e um arco composto. As forças persas incluíam, também, os Imortais, uma força de elite de 10.000 guerreiros, protegidos com armaduras e armados com lanças. Essa tropa de choque da infantaria, tinha seu nome pelo fato de manter seu número exatamente em 10.000; se um deles fosse morto, outro o substituía de imediato, dando assim a impressão de que eles eram imortais e invencíveis.

Arqueiros persas, relevo do palácio de Dario em Susa, Museu Pérgamo, Berlim.

A cavalaria persa estava armada com um arco e dois dardos adicionais para arremessar e perfurar. A cavalaria, geralmente operando nos flancos da batalha principal, foi usada para desbaratar a infantaria grega desordenada depois de ter sido submetida aos repetidos arremessos dos arqueiros. No terreno das Termópilas, contudo, a cavalaria persa não era uma força eficiente.

A tática persa foi disparar rapidamente um grande número de flechas sobre o inimigo – o que de início teve pouco efeito contra os hoplitas blindados de bronze. A indiferença espartana foi sintetizada pelo espartano Dieneces que, ao saber que as flechas persas seriam tão densas a ponto de escurecerem o sol, respondeu, “nesse caso, teremos o prazer de lutar na sombra”.

Nos estreitos limites do terreno, os hoplitas gregos tinham maiores vantagens, organizados em falange, uma formação densamente compactada, com cada homem carregando um pesado escudo redondo de bronze, lutando de perto e usando lanças e espadas.

Recriação moderna de uma formação de hoplitas do século V a.C.

Hoplitas em combate, pintura em vaso grego do século VII a.C.

Três dias de batalha

Xerxes I e suas forças não tinham nenhuma experiência nem conhecimento do terreno em que a batalha teria lugar. Eram 100 metros de caminho pedregoso, apertado entre rochas e forrado com vegetação cheia de espinhos.

A topografia dificultava o ataque. As flechas atiradas pelos 5.000 arqueiros persas eram desviadas pelos capacetes e a parede de escudos dos gregos. O corpo de elite formado por 10.000 guerreiros persas também não se mostrou eficaz para lutar nos corredores estreitos do desfiladeiro e romper a defesa grega. A cavalaria era inútil.

Na luta corpo a corpo, os gregos se mantiveram firmes. A tática grega de fingir uma retirada desorganizada e depois se voltar contra o inimigo na formação da falange também funcionou bem, diminuindo a ameaça das flechas persas.

Durante dois dias, as forças gregas mantiveram o controle das Termópilas.

A traição e o último combate

Após o segundo dia de batalha, um morador local chamado Efialtes, buscando recompensa de Xerxes, traiu os gregos mostrando aos invasores um caminho alternativo para acessar a retaguarda das linhas gregas.

Na manhã do terceiro dia, quando Leônidas, o rei espartano, se deu conta que seu exército estava cercado, ofereceu aos soldados a opção de deixarem o campo de batalha, se assim o desejassem. Muitos gregos aceitaram a oferta, restando apenas os 300 espartanos, 700 téspios e 400 tebanos sob as ordens de Démophilos que se recusaram a abandonar a defesa.

Com essa pequena força, eles defenderam a passagem até o último homem na esperança de deter os persas e dar tempo para o resto da força grega recuar ou receber reforços.

Leônidas moveu suas tropas para a parte mais ampla da passagem para utilizar todos os seus homens de uma só vez, na tentativa de matar tantos persas quanto pudessem. No confronto que se seguiu o rei espartano foi morto. Seus companheiros então lutaram ferozmente para recuperar o corpo do rei caído. Ao final, os persas recuperaram o corpo de Leônidas, e Xerxes, furioso, ordenou que ele fosse decapitado e sua cabeça exposta em um mastro.

Os persas fizeram chover flechas até que todos os gregos estivessem mortos. A passagem das Termópilas foi assim aberta ao exército persa ao custo, para os persas, de 20.000 mortes, segundo Heródoto.

Principais episódios das Guerras Grecp-Persas.

Consequências

O sacrifício dos espartanos e dos téspios deu tempo aos atenienses para saírem da cidade e fugirem para a ilha de Salamina onde prepararam a defesa de Atenas.

Com a vitória em Termópilas, o caminho parecia livre para Xerxes avançar e submeter a Grécia continental. Mas, poucos dias depois, os persas sofreriam a pesada derrrota na batalha naval de Salamina (29 de setembro de 480 a.C.) e, no ano seguinte, a derrota final em Plateias e Mícale (27 de agosto de 479 a.C.).

Termópilas é, provavelmente, a mais famosa batalha da história antiga, regularmente mencionada na cultura popular, tanto antiga quanto recente. Sua reputação não está no impacto no resultado da guerra, mas em seu exemplo inspirador. O sacrifício dos gregos tornou-se modelo da coragem sem esperança, do heroísmo e da luta em defesa de sua terra, honra e liberdade.

Hoje, há um monumento nas Termópilas, inaugurado em 1955, dedicado ao rei Leônidas de Esparta, com a inscrição: “Venham buscá-las” – em referência ao pedido persa para que que os espartanos depusessem as armas.

Outro monumento, dedicado aos míticos 300 Espartanos, tem a inscrição: “Viajante, se vieres a Esparta, anuncie que nos viu deitados (mortos) aqui, em obediência à lei”.

Além da célebre batalha de 480 a.C., ocorreram outros combates nas Termópilas como em 279 a.C. quando os gregos enfrentaram invasores gauleses; em 191 a.C., quando o exército romano derrotou Antíoco III; em 395 d.C., quando os visigodos de Alarico I invadiram a Grécia e, mais recentemente, em 1941, quando as forças aliadas da Nova Zelândia entraram em confronto com as da Alemanha nazista.

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