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Insurreição Pernambucana: nove anos de lutas para expulsar os holandeses

24 de outubro de 2023

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Foram nove anos de guerrilhas, escaramuças e emboscadas dos luso-brasileiros para expulsar os holandeses do Nordeste que eles ocupavam desde 1630. A chamada Insurreição Pernambucana (1645 a 1654) foi uma guerra de resistência para ambos os lados que passaram por todo tipo de privação principalmente a falta de alimentos. Os confrontos contaram tropas de ex-escravos e indígenas, e também com a  participação de ingleses, franceses, dinamarqueses, alemães, noruegueses, lusitanos, espanhóis, napolitanos, cariocas, baianos e paulistas.

  • BNCC:  7° ano. Habilidade: EF07HI08, EF07HI11, EF07HI13

CONTEÚDO

  • Antecedentes
  • Fatores da Insurreição Pernambucana
  • As difíceis condições da guerra
  • Os combates: monte das Tabocas e Guararapes
  • Fome, deserções, motins e guerras na Europa
  • Campina da Taborda: o último ato
  • Fonte

Antecendentes

Em dezembro de 1640, após sessenta anos de dominação espanhola, Portugal recuperou sua independência, sagrando-se D. João IV de Bragança seu novo rei. “A Restauração em 1640 surpreenderia Portugal numa situação dramática de completo despreparo militar” (MELLO, 1975, p. 218).

Em função desse cenário e do contexto geral da política europeia, D. João IV assinou o tratado de amizade e paz entre Portugal e Holanda (1641). O documento estabelecia uma trégua de dez anos, sem ataques de parte a parte, nas disputas coloniais entre ambos países.

O Brasil Holandês (1630-1654).

Tal acordo, porém, não foi observado por Nassau que atacou Angola, tomando São Paulo de Loanda e a ilha de São Tomé em 1641. Anexou, no mesmo ano, o Maranhão, aumentando grandemente o território dominado pelos holandeses.

Por volta de 1642, começaram os primeiros atritos entre Nassau e a Companhia das Índias Orientais (W.I.C.). Em 1643, Nassau foi demitido, só retornando à Europa em 22 de maio de 1644.

Nesse período, os lucros do açúcar despencaram. Entre 1642 e 1644, a queda do preço do açúcar provocou a ruína de comerciantes de Recife e da Holanda.

Fatores da Insurreição Pernambucana

A volta de Nassau à Holanda contribuiu para o esfriamento das relações entre luso-brasileiros e holandeses, uma vez que a política conciliatória do governador tinha sido uma das bases para a pacificação entre os dois grupos.

O agravamento das tensões deveu-se também às crescentes dívidas que os senhores de engenho tinham contraído com a Companhia e com comerciantes independentes. Empréstimos contraídos para a reconstrução de seus engenhos, compra de escravizados e outras despesas. Os juros cobrados eram altíssimos como mostram os exemplos de Cosino Doliólica que obteve 9.000 florins de empréstimo e em quatro anos subiu para 27.000 florins, e de João Soares cujo empréstimo de 36.000 florins transformou-se numa dívida de 120.000 florins (RODRIGUES, 1940, p. 276/277).

A Companhia executou as dívidas sem clemência. As propriedades dos que não a saldavam foram confiscadas, bem como escravos, gado etc. Cresceu a insatisfação dos senhores de engenho contra os holandeses e ganhou força a ideia da expulsão dos holandeses.

O primeiro foco rebelde apareceu no Maranhão, mas logo depois alastrou-se para Pernambuco que acabou sendo o principal centro da insurreição.

Em Portugal, figuras da nobreza e altos funcionários régios, interessados no comércio do açúcar e nas propriedades confiscadas em Pernambuco pressionaram D. João IV a fomentar secretamente a revolta contra o aliado holandês (MELLO, 1975, p. 260-261).

Mapa holandês celebrando a conquista da Capitania de Pernambuco pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais em fevereiro de 1630.

As difíceis condições da guerra

A chamada Insurreição Pernambucana prolongou-se por quase dez anos de guerra (1645 a 1654). As condições da luta foram difíceis. A guerra contra os holandeses implicou uma assimilação de técnicas locais aprendidas dos índios, denominada “guerra brasílica” ou “guerra do mato”.  A guerra de guerrilhas forneceu aos sertanistas e soldados da terra os meios de se espalharem pelo interior e de resistirem aos invasores.

O armamento dos luso-brasileiros era precário. A grande maioria dispunha apenas de lanças. As tropas que participaram das duas batalhas dos Guararapes estavam armadas unicamente de lanças. Isso em uma época que o uso de armas de fogo (arcabuzes, mosquetes, pistolas e clavinas) já estava generalizado na Europa.

Em terras tropicais, contudo, os arcabuzes e mosquetes eram inconvenientes, pois as mechas ficavam imprestáveis em caso de chuva ou umidade. Além disso, elas deviam ser trazidas do Reino. Por isso, deu-se preferência pela espingarda de pedernal e à clavina que dispensavam a mecha, o que também fizeram os holandeses.

Canhões mostraram-se mais um obstáculo do que um reforço militar. Não havia cavalos para transportá-los por terra cabendo ao boi, ao negro e ao índio. A tarefa mostrou-se impossível pelo tempo que consumia, levando semanas para percorrer uns 20-30 km. Por mar corria-se o risco da artilharia ser tomada pelos holandeses.

Com os navios holandeses policiando a costa, as tropas luso-brasileiras só podiam se deslocar pelo interior. Os caminhos terrestres no Nordeste açucareiro eram poucos e precários. O percurso de Recife a Penedo, no atual estado de Alagoas (cerca de 400 km) atravessava 50 rios dos quais apenas 15 dispunham de pontes, isto é, pontilhões improvisados com toras de madeira. Os outros eram atravessados por canoas ou na maré baixa. Impossível para o transporte de tropas, armas e víveres exigidos por um exército.

A cavalaria foi de pouco valor na guerra contra os holandeses. Apesar dos engenhos possuírem cavalos, os animais serviam a fins utilitários (tração e transporte) e eram alimentados com milho e não aveia. Os melhores cavalos eram para ostentação dos senhores de engenho. Na primeira batalha dos Guararapes, a cavalaria luso-brasileira não devia passar de 20 cavalos sendo que 5 ou 6 foram mortos no combate (MELLO, 1975, p. 223)

Os holandeses também não dispunham de cavalaria. Maurício de Nassau chegou a ter uma tropa de 80 cavaleiros, mas em 1639 a cavalaria regular foi extinta.

Os combates: monte das Tabocas e Guararapes

A insurreição estalou no dia 13 de junho de 1645 comandada por João Fernandes Vieira, um dos mais ricos latifundiário da região e cuja prisão havia sido decretada pelos holandeses.

Os confrontos misturavam ou combinavam a arte militar europeia e as técnicas de guerrilha. Em 3 de agosto de 1645, no monte das Tabocas, as forças luso-brasileiras tiveram sua primeira vitória, obrigando os holandeses a recuaram para o Recife. Nessas alturas, chegaram as tropas de reforço enviadas pelo governador-geral Antônio Teles da Silva.

Nova vitória foi obtida, duas semanas depois, quando foi tomado o engenho da Casa Forte, abrindo caminho para o cerco de Recife.

Depois dessas vitórias iniciais, a guerra caiu num impasse, que se estendeu por vários anos: os holandeses dominavam o mar, mas não conseguiam afastar os insurgentes de suas posições. Estes, por sua vez, não podendo obter do rei de Portugal senão um fraco auxílio militar, viam-se forçados à inatividade.

Em 19 de abril de 1648 travou-se a primeira batalha dos Guararapes, na qual os rebeldes, ainda que inferiorizados em número, conseguiram inflingir pesada derrota aos holandeses.

Dez meses depois, no mesmo local travava-se segunda batalha, resultando em outra vitória para os brasileiros (19 de fevereiro de 1649).

A partir daí os holandeses ficaram, até 1654, em uma posição puramente defensiva, já que também haviam fracassado também as tentativas de romper o cerco de Recife. A Insurreição Pernambucana se restringe, então, a escaramuças e guerrilhas.

A Batalha de Guararapes, mural de Francisco Brennand, 1961-1962, Recife, PE.

Fome, deserções, motins e guerra na Europa

Após as derrotas de Guararapes, a situação dos holandeses deteriorou-se rapidamente por um conjunto de fatores. Os soldados que já vinham sofrendo atrasos em seus soldos passaram a fugir para o lado português. Os soldados queixavam-se também da falta de vestuário, da intensa jornada de trabalho, da alimentação insuficiente ou mesmo da falta de comida.

As tensões entre os administradores da Companhia e suas tropas ficaram cada vez mais acentuada. A Companhia proibiu o retorno dos militares mesmo aqueles com contratos já vencidos, pois encontrava grandes dificuldade em recrutar gente para a guerra no Brasil (MIRANDA).

Além das deserções, ocorreram revoltas de soldados na fortificação de Altená e de Brum, aos arredores de Recife.  Quando os luso-brasileiros atacaram esses fortes, em janeiro de 1654, os soldados apontaram suas armas contra seus superiores dizendo que não queriam mais lutar e iriam entregar o forte ao inimigo.

A essas alturas, as Províncias Unidas estavam em guerra contra a Inglaterra de Cromwell. Isso obrigou a Holanda a desviar amplos recursos para enfrentar os ingleses; por outro lado, os ingleses mandaram ajuda aos revoltosos pernambucanos em armas e munições.

Portugal sentiu-se estimulado a aumentar a ajuda aos colonos e enviou, em 1653, uma frota de guerra comandada por Pedro Jacques de Magalhães com 60 navios “bem aparelhados”, e que auxiliou no cerco de Recife em 1654.

Batalha dos Guararapes, ex-voto, 1758.

Campina da Taborda: o último ato

Cercados por terra e por mar, sem qualquer perspectiva de auxílio militar da metrópole e ainda enfraquecidos pelas derrotas diante dos ingleses, os holandeses assinaram, no Recife, a capitulação da Campina do Taborda, às 23h do dia 26 de janeiro de 1654. O tratado recebeu esse nome pois foi feito nas terras da casa do pescador Manuel Taborda, em frente ao Forte das Cinco Pontas. Encerrava-se, deste modo, uma ocupação que se estendeu por 24 anos.

A capitulação da Campina do Taborda foi o desfecho da contenda entre os Países Baixos e Portugal no Brasil, mas não terminou com outras disputas internacionais. Essas prosseguiram seja sob a forma do bloqueio do Tejo pela marinha holandesa e a consequente guerra marítima de 1657-1661 na Índia.

O reconhecimento oficial da perda da soberania da Holanda no Brasil só foi reconhecido em 1661, através da Paz de Haia, em que Portugal negociou o pagamento de uma indenização aos holandeses equivalente a 63 toneladas de ouro para garantir a recuperação do Nordeste Brasileiro.

Fonte

  • MELLO, Evaldo Cabral de. Olinda Restaurada. Guerra e Açúcar no Nordeste, 1630-1654. São Paulo: Edusp, 1975.
  • ____________. O Brasil holandês (1630-1654). São Paulo: Penguin Classics, 2010.
  • ____________. O negócio do Brasil: Portugal, os Países Baixos e o Nordeste, 1641-1669. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
  • MELLO, José Antônio Gonsalves de. A Rendição dos Holandeses no Recife (1654). Recife: IPHAN/MEC, 1979.
  • RODRIGUES, José Honório; RIBEIRO, Joaquim. A Civilização Holandesa no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.
  • BOXER, Charles R. Os holandeses no Brasil: 1624-1654. Recife: CEPE, 2004.
  • MIRANDA, Bruno. O outro lado da rendição holandesa no Brasil (1654). Histórias da Nova Holanda. BN Digital Brasil, s/d.

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