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Massacre de Uruaçu, Rio Grande do Norte

03 de outubro de 1645

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Em 3 de outubro de 1645, ocorreu um massacre de luso-brasileiros em Uruaçú, no Rio Grande (como era chamado, então, o Rio Grande do Norte) a mando de Jacob Rabbi que, três meses antes, havia feito o mesmo em Cunhaú.

O Rio Grande (hoje Rio Grande do Norte) estava, desde 1630, sob domínio holandês, assim como boa parte do Nordeste sobretudo na área de produção açucareira.  A dominação holandesa sofreu grande revés com a queda dos preços do açúcar na década de 1640. A Companhia das Índias Ocidentais, que administrava a produção açucareira brasileira, passou a cobrar as dívidas contraídas pelos comerciantes, senhores de engenho e lavradores originadas de empréstimos oferecidos durante o governo de Maurício de Nassau (1637-44).

A cobrança das dívidas e o endurecimento da política holandesa no Nordeste motivaram a revolta dos luso-brasileiros. A partir de 1644 teve início o movimento para expulsão dos holandeses, tradicionalmente chamado de Insurreição Pernambucana (a historiografia recente propõe o termo Restauração).

Foi nesse contexto que ocorreu o massacre de Cunhaú, em 16 de julho de 1645, e de Uruaçu em 3 de outubro de 1645 por soldados holandeses e índios Janduís e Potiguares por ordem de Jacob Rabbi

Jacob Rabbi era um alemão, originário de Waldeck, que veio para o Brasil com o conde Maurício de Nassau, em 23 de janeiro 1637. Casado com uma indígena Janduí, de nome Domingas, tinha boas relações com esses nativos com quem viveu durante quatro anos. Serviu de intérprete junto aos índios aliados dos holandeses. Morou depois em um sítio de sua propriedade chamado “Ceará” em local hoje denominado Araça, entre Massagana e Estivas, no Rio Grande do Norte.

Rabbi deixou um importante relato de sua viagem contendo informações sobre a geografia da capitania e descrições sobre os Janduís . Escrito em latim, tem o título De Tapuiyorum moribus et consuetudinibus ex relatione Jacobi Rabbi, qui per aliquot annos inter illos vixerat (“A moral e os costumes dos Tapuias com Jacob Rabbi, que viveu vários anos entre eles”)

Câmara Cascudo faz um retrato bem negativo de Rabbi afirmando:

[…] É o mentor dos Janduís […]. De um lado espalha o pavor, impossibilitando uma coligação dos colonos em ajuda ao levante que estalara em Pernambuco. Doutro lado, (…) auferiria lucros, seguros e vastos, comprando a baixo preço ou arrematando de graça os bens confiscados aos portugueses. As matanças inúteis traziam lucros. Rabbi nunca perdeu ocasião de negociar bem. (CASCUDO: 1941, p.91).

No comando de guerreiros Janduís e Potiguares, Rabbi realizou vários saques e chacinas em engenhos nas capitanias do Rio Grande, Paraíba e Pernambuco. Os assaltos lhe renderam gado, roupas, joias e outros bens levando-o a acumular uma pequena fortuna.

  • BNCC: 7° ano. Habilidades: EF07HI10, EF07HI13, EF07HI14

O massacre de Uruaçu

O massacre de Cunhaú, en 16 de julho de 1645, causou pânico às populações de outros povoados. Para se protegerem, alguns moradores influentes, liderados pelo padre Ambrósio Ferro, construíram uma paliçada para proteger a localidade conhecida como Potengi. O número de moradores refugiados na paliçada é incerto. Para os cronistas portugueses eram 70 homens, mas documentos holandeses citam 232 pessoas.

O cerco à paliçada de Potengi pelos homens de Jacob Rabbi começou em meados de setembro de 1645. Depois de dezesseis dias, os luso-brasileiros se renderam e foram presos. No dia 3 de outubro de 1645, os prisioneiros foram levados para Uruaçu, no atual município de São Gonçalo do Amarante onde foram todos executados incluindo o padre Ambrósio Francisco Ferro.

Os relatos citam que ao chegar em Uruaçu, a tropa formou um quadrado e, no interior ficaram os luso-brasileiros rendidos. Foi dada a ordem para que eles se despissem e se ajoelhassem. Jacob Rabbi chamou os Janduís e Potiguares para que eles completassem o massacre. Braços e pernas foram decepadas, crianças foram partidas ao meio e grande parte dos corpos foram degolados. Entre os mortos estavam o padre Ambrósio Francisco Ferro e o leigo Mateus Moreira (proclamado pela CNBB como patrono dos ministros extraordinários da comunhão do Brasil), o qual, ao ter o coração arrancado pelas costas, proclamou: “Louvado seja o santíssimo Sacramento”.

Beatificação dos mártires

Os mortos de Cunhaú e Uruaçu foram reconhecidos como mártires por decreto assinado em 21 de dezembro de 1998 pelo papa João II. O processo de beatificação baseou-se na obra Os holandeses no Rio Grande, do padre Paulo Herôncio de Melo.

Apesar de terem sido cerca de 150 vítimas, apenas 30 foram identificadas sendo estes os mártires beatificados (28 leigos e os padres André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro).

A cerimônia de beatificação aconteceu na Praça de São Pedro, no Vaticano, no dia 5 de março de 2000, presidida pelo papa João Paulo II.

Em São Gonçalo do Amarante, no local do massacre, foi erguido o Monumento aos Mártires e a Capela dos Mártires de Cunhaú e Uruaçú. São locais de romarias e peregrinações assim como a capela de Nossa Senhora das Candeias, no antigo engenho de Cunhaú.

Os mártires são lembrados em duas datas, no dia 16 de julho, em Canguaretama, e dia 3 de outubro, em São Gonçalo do Amarante. Esta última data foi declarada feriado estadual pela lei Nº 8.913/2006.

Fonte

  • MELO, Padre Paulo Herôncio de. Os holandeses no Rio Grande. Rio de Janeiro: editora ABC, 1937.
  • PEIXOTO, Renato Amado. “Duas palavras”: Os holandeses no Rio Grande e a invenção da identidade católica norte-rio-grandense na década de 1930. Revista de História Regional, Paraná: UPG, 2014, v.19, p. 35-71.
  • MEDEIROS FILHO. Olavo de.  O Engenho Cunhaú: à luz de um inventário. Natal, RN: Fundação José Augusto, 1993.
  • _______________.  Os holandeses na capitania do Rio Grande. Natal, RN: Sebo Vermelho, 2010.
  • CASCUDO, Luís da Câmara. “O Brasão Holandês do Rio Grande do Norte”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Natal, v. XXXV-XXXVII, 1938-1940. Natal, RN: Typ. Santo Antônio, 1941, p. 91.
  • ______________. Geografia do Brasil holandês. São Paulo: José Olympio, 1956.
  • MOREAU, Pierre & BARO, Rouloux. História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses. Belo Horizonte: Itatiaia, 1979.
  • BOXER, C. R. Os holandeses no Brasil, 1624-1654. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.

Saiba mais

Abertura

  • Massacre de Cunhaú, pintura de padre Eladio.

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