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O boi voador do Recife existiu?

12 de outubro de 2015

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BNCC

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A marchinha carnavalesca de Chico Buarque, Boi Voador, composta para sua peça “Calabar: o elogio da traição” (1973) tornou-se sucesso popular e ainda hoje é cantada, especialmente em Recife. Os versos, cheios de metáfora e com segundos sentidos aludiam à censura da época da ditadura militar.

Quem foi, quem foi / Que falou no boi voador /

Manda prender esse boi / Seja esse boi o que for.

O boi ainda dá bode / Qual é a do boi que revoa /

Boi realmente não pode / Voar à toa.

É fora, é fora, é fora /  É fora da lei, é fora do ar /

É fora, é fora, é fora / Segura esse boi / Proibido voar

Boi voador não pode, de Chico Buarque, álbum “Chico Canta”, 1973.

 Ouça a música aqui.

Quem conta a história do boi voador

A história do boi voador foi relatada pelo frei português Manuel Calado (1584-1654). Ele viveu cerca de trinta anos no Brasil, nas capitanias da Bahia e Pernambuco, e testemunhou vários acontecimentos à época do domínio holandês no Nordeste.

Manoel Calado foi confessor de Calabar antes de sua condenação à morte (garroteado e esquartejado em 1635), conviveu bem com os holandeses e foi amigo de Maurício de Nassau. Porém, ao ter início a insurreição pernambucana apoiou os colonos na luta pela expulsão dos holandeses.

O frei fez uma crônica da resistência luso-brasileira ao invasor holandês em sua obra O valeroso Lucideno e triunfo da liberdade na restauração de Pernambuco, publicada em Lisboa, em 1648, quando o conflito ainda não havia terminado.

livro

“O valoroso Lucideno” editado pela Itatiaia (Belo Horizonte) e USP (São Paulo), 1978.

Recife sob domínio holandês

A história do boi voador aconteceu na época do domínio holandês no Nordeste (1630-1654). Vencido o período inicial de resistência, a Companhia das Índias Ocidentais (WIC) nomeou o conde João Maurício de Nassau para administrar a conquista, tendo chegado em Recife em 1637.

A cidade que Nassau conheceu era formada por casas agrupadas nas poucas áreas de terra firme e seca. Recife está situada sobre uma planície aluvional constituída por ilhas, penínsulas, alagados e manguezais, e onde chegam cinco rios, entre eles, o Beberibe e o Capibaribe. A circulação pela cidade, de pessoas e mercadorias, era feita por canoas.

Para construir sua residência, Nassau escolheu a Ilha de Antônio Vaz (atual Santo Antônio) batizada de Cidade Maurícia (Mauritsstad). Passo seguinte, era construiu uma ponte que desse acesso “a pé enxuto” à Recife.

Cidade Maurícia em Pernambuco, Zacharias Wagener, c. 1640, Holanda.

Cidade Maurícia em Pernambuco, Zacharias Wagener, c. 1640, Holanda.

A construção da ponte

Nassau contratou o português Manoel da Costa para construir um poderoso pilar de pedra na parte mais funda do rio, com 3,66 m de comprimento por 2,44 m de largura, de modo a estudar a força da correnteza.

Em 1641, a construção da ponte foi acertada com o engenheiro judeu Baltazar da Fonseca que estimou em dois anos o prazo para terminar a obra. Cobrou por seus serviços 240.000 florins e fez uma exigência curiosa: o prêmio de 1.000 patacas (moeda antiga de prata) para a sua esposa, no caso de vir a se casar em Recife.

No final de 1642, estavam concluídos quinze pilares de pedra do lado de Maurícia e fixadas várias vigas de um pilar para outro. No ano seguinte, a obra foi suspensa por dificuldades na execução do trabalho no trecho mais profundo do rio. Em carta datada de 24 de outubro de 1643, as autoridades de Amsterdã questionaram Nassau sobre o atraso na obra e até duvidaram que ela fosse possível.

Tal provocação mexeu com os brios de Nassau que decidiu tomar a frente da empresa utilizando-se, para isso, de seus próprios recursos. Para os montantes da ponte, foram utilizadas estacas de madeira, resistentes à umidade, com 12 a 15 m de comprimento fixadas no leito do rio até 3,66 m de profundidade. Quatro meses depois, a obra estava concluída.

O boi vai voar!

Recife preparou-se para a grande festa de inauguração da ponte, marcada para um domingo, dia 28 de fevereiro de 1644. Nassau fez questão de atrair uma multidão para atestar a grandeza de sua obra. Mas não lhe bastava ver o povo reunido no local. Era necessário convencê-lo atravessar a ponte e pagar o pedágio devido: 2 stuivers (vigésima parte do florin) para as pessoas livres, 1 aos escravos e soldados, 4 aos cavaleiros e 7 aos carros de boi.

Para garantir muitos pagantes, Nassau fez uma propaganda inusitada: anunciou que, naquele dia, um boi iria voar sobre a ponte. E avisou qual seria o animal: o boi pertencente a Melchior Álvares, conhecido entre os populares por sua mansidão.

A notícia atraiu gente dos arredores e dos engenhos longínquos. “Seria possível um boi voar?” “O boi do Melchior nem parecia um boi, era um animal tão diferente… quem sabe não teria a habilidade das aves?” – perguntavam os populares.

À beira da praia ergueram-se palanques para as damas e os “homens-bons” da capitania. Música tocava em coretos e sob toldos multicoloridos distribuíam-se refrescos e guloseimas.

Anoiteceu e acenderam-se as luminárias da ponte. O voo do boi era o último programa, marcado para às 10 horas da noite.

Finalmente, Melchior e seu boi surgiram. Entraram em um sobrado, subiram as escadas reaparecendo lá em cima, na janela mais alta. Em seguida, retornaram para dentro. A multidão, de olhos fixos na janela, viu então, surgir um boi que, lentamente, foi saindo para fora da janela e, flutuando no ar, passou sobre a cabeça das pessoas mudas e estarrecidas com a visão.

Mas logo todos compreenderam o truque: era um boi empalhado suspenso por cordas e movido por um sistema de roldanas operado por marinheiros holandeses. A festa acabou em gargalhadas e foi um grande sucesso rendendo, só naquele dia, 1.800 florins de pedágio, conforme conta frei Manoel Calado.

Boi Voador_Andre Cunha

Maurício de Nassau e a lenda do boi voador, André Cunha, 1972.

A ponte

A ponde construída por Nassau, chamada de Ponte do Recife, ela era muito mais extensa do que hoje se vê. Foi a primeira ponte de madeira sobre o rio Capiberibe e a primeira de grande porte no Brasil. Possuía uma parte levadiça para permitir a passagem de embarcações, um feito notável de engenharia para a época. Ela durou mais de duzentos anos tendo sido reformada três vezes,

Em 1865 foi substituída por uma de ferro cujas peças principais vieram da Inglaterra. Batizada com o nome Ponte Sete de Setembro, ela teve vida curta, devido à maresia que lhe corroeu o ferro da estrutura.

Em 1917, a ponte foi reconstruída, dessa vez de concreto armado, recebendo o merecido nome Ponte Maurício de Nassau.

Panoramic_view_of_Recife - Copia

Vista de Recife com a ponte Maurício de Nassau.

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Luís Flávio Accioly Cavalcanti

Francisco Antonio Doria; Gaspar Wanderley. Gaspar Wanderley, ancestral dos Wanderleys brasileiros, na verdade Caspar von Neuenhof von der Leyen, dado como capitão de cavalos” nos documentos coetâneos brasileiros (onde jamais comparece, mas onde é citado alguma vez), foi identificado independentemente pelo Rafael Henriques e por mim, ao Caspar natural da Curlândia, filho de Balthazar von der Leyen, e que levavam, ambos, o título hereditário de Ritter – cavaleiro – uma espécie de baronete, o que foi interpretado erroneamente como a patente militar supracitada. Desaparece da Curlândia em 1634 ou pouco antes, e aparece no Brasil, em Pernambuco, como militar a… Leia mais »

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