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Um conto para a primeira aula de História do 6º. ano

8 de janeiro de 2024

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A História é uma ciência que lida com o tempo – um conceito abstrato e historicamente construído. Isso, por si só, é um complicador para o 5°. e 6°. anos, alunos com 10-11 anos de idade cuja capacidade de abstração mal começou a se delinear. Para tornar a explicação ainda mais complexa, a simples pergunta “o que é História?” não tem uma resposta imediata já que os significados da História estão em constante mudança.

Diante disso, como começar o ensino de História no 5º. e 6º. anos? Um recurso eficiente é utilizar-se de contos, mitos, lendas e fábulas. Reproduzo aqui um dos meus contos preferidos: Os Cegos e o Elefante. É uma bela metáfora que permite refletir sobre o que é verdade no âmbito da História.

A palavra História originou-se da expressão grega “istoría”, que tem dois sentidos: um objetivo – o que ocorreu – e outro subjetivo – o conhecimento do ocorrido. Em português, também, permaneceu esse duplo sentido. O conhecimento histórico, construído pelo historiador, não tem por objetivo reconstituir o “fato em si”, mas interpretá-lo, de acordo com as fontes investigadas mas que não deixa de ser uma visão particular. Cada narrativa tem a sua própria verdade, que resulta da investigação e da reflexão crítica do Historiador.

A fábula dos Cegos e o Elefante permite, também, uma reflexão sobre a diversidade de opiniões, nem sempre excludentes, mas que podem conter parte da verdade; daí, a importância em ouvir o outro e procurar compreender seu ponto de vista. Fala também sobre o valor da troca de experiências e do trabalho em equipe para se atingir um objetivo. Compreender o todo a partir da análise das partes e da interação entre estas é  outra lição deixada pela fábula.

os_cegos_e_o_elefante

Ilustração de Barbara McClintock, para o livro “Leave your sleep”.

Os cegos e o elefante

Há muitos anos vivia na Índia um rei sábio e muito culto. Já havia lido todos os livros de seu reino. Seus conhecimentos eram numerosos como os grãos de areia do Rio Ganges. Muitos súditos e ministros, para agradar o rei, também se aplicaram aos estudos e às leituras dos velhos livros. Mas viviam disputando entre si quem era o mais conhecedor, inteligente e sábio. Cada um se arvorava em ser o dono da verdade e menosprezava os demais.

 

O rei se entristecia com essa rivalidade intelectual. Resolveu, então, dar-lhes uma lição. Chamou-os todos para que presenciassem uma cena no palácio. Bem no centro da grande sala do trono estavam alguns belos elefantes. O rei ordenou que os soldados deixassem entrar um grupo de cegos de nascença.

 

Obedecendo às ordens reais, os soldados conduziram os cegos para os elefantes e, guiando-lhes as mãos, mostraram-lhes os animais. Um dos cegos agarrou a perna de um elefante; o outro segurou a cauda; outro tocou a barriga; outro, as costas; outro apalpou as orelhas; outro, a presa; outro, a tromba.

 

O rei pediu que cada um examinasse bem, com as mãos, a parte que lhe cabia. Em seguida, mandou-os vir à sua presença e perguntou-lhes:

 

– Com que se parece um elefante?

 

Começou uma discussão acalorada entre os cegos.

 

Aquele que agarrou a perna respondeu: – O elefante é como uma coluna roliça e pesada.

 

– Errado! – interferiu o cego que segurou a cauda. – O elefante é tal qual uma vassoura de cabo maleável.

 

– Absurdo! – gritou aquele que tocou a barriga. – É uma parede curva e tem a pele semelhante a um tambor.

 

– Vocês não perceberam nada – desdenhou o cego que tocou as costas. – O elefante parece-se com uma mesa abaulada e muito alta.

 

– Nada disso! – resmungou o que tinha apalpado as orelhas. – É como uma bandeira arredondada e muito grossa que não para de tremular.

 

– Pois eu não concordo com nenhum de vocês – falou alto o cego que examinara a presa. – Ele é comprido, grosso e pontiagudo, forte e rígido como os chifres.

 

– Lamento dizer que todos vocês estão errados – disse com prepotência o que tinha segurado a tromba. – O elefante é como a serpente, mas flutua no ar.

 

O rei se divertiu com as respostas e, virando-se para seus súditos e ministros, disse-lhes:

 

– Viram? Cada um deles disse a sua verdade. E nenhuma delas responde corretamente a minha pergunta. Mas se juntarmos todas as respostas poderemos conhecer a grande verdade. Assim são vocês: cada um tem a sua parcela de verdade. Se souberem ouvir e compreender o outro e se observarem o mundo de diferentes ângulos, chegarão ao conhecimento e à sabedoria.

                                (Conto do budismo chinês. Extraído de DOMINGUES, Joelza Ester. História em Documento. Imagem e texto. São Paulo: FTD, 2012.)

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Os cegos e o elefante, relevo feito na parede, Tailândia.

Os cegos e o elefante em poesia

O poeta norte-americano John Godfrey Saxe (1816-1887)  ficou conhecido por recontar a fábula em poesia. Os alunos vão gostar de ler em voz alta e interpretar os versos, uma atividade excelente para desenvolver a oralidade. A tradução abaixo foi extraída do site Recanto das Letras.

– I –

Seis homens sábios do Industão,

Uma terra bem distante,

Ouviram, atentos, os boatos

Sobre um animal gigante

E apesar de serem cegos

Foram ver o elefante.

– II –

O primeiro passou as mãos

Sobre a barriga dura e falha,

E explicou bem confiante:

“Minha análise não falha:

Esse tal de elefante

Mais parece uma muralha!”

– III –

O segundo tocou as presas

E proclamou com confiança:

“Este tal de elefante

Não é brincadeira para criança

Tão pontudo e afiado

Mais parece uma lança!”

– IV –

O terceiro chegou à tromba

Elogiando a bela obra:

“…tão comprido, e gelado,

Vejam só, ele até dobra!

O flexível elefante

Mais parece uma cobra!”

– V –

O quarto sentiu a pata

E teve logo a recompensa

Percebendo as semelhanças

Anunciou com indiferença:

“Este animal mais se parece

Com uma árvore imensa!”

– VI –

O quinto tocou as orelhas

E sugeriu, conservador:

“Mas que belo utensílio

Nestas tardes de calor,

Este tal de elefante,

Mais parece um abanador!”

– VII –

O sexto subiu às costas

Despencando na outra borda

E pendurado ao rabo, disse:

“Não sei se alguém discorda,

Mas para mim esse animal

Mais se parece com uma corda!”

– VIII –

E então os sábios homens

Discutiram inconformados

Cada um com seu discurso

Sem ouvir os outros lados

Pois estavam certos, em partes.

Mas completamente errados!

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Rosana Alves Pinheiro Bastiaens
Rosana Alves Pinheiro Bastiaens
9 anos atrás

Um espetáculo o conteúdo desse site, estou adorando. Baixei alguns videos pra passar para os meus alunos.

José Jacinto
José Jacinto
9 anos atrás

Realmente muito interessante e valoroso este site. Obrigado por disponibiliza-lo.

trackback

[…] “Os Cegos e o Elefante”: um conto para a primeira aula de História. […]

Erlon Couto
Erlon Couto
7 anos atrás

EXCELENTE DICA !!! Obrigado professora. Veio em um momento muito importante para mim que estou lecionando para a EJA da V à VIII Fase na Escola Municipal Rosa Carelli da Costa, município de Piraí, Sul Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Parabéns pelo site e por tudo que ele proporciona. Muito bom. Sucessos para você.

Joelza Ester
Joelza Ester
7 anos atrás
Responder para  Erlon Couto

Bom saber que estamos contribuindo com seu trabalho. Essa é nossa intenção. Um abraço!

Cibelle Cristina
Cibelle Cristina
6 anos atrás

Excelente dica. Parabéns pelo belíssimo trabalho… Me ajudou bastante.

Virgínia
Virgínia
6 anos atrás

Amei! Parabéns!

Allysson F Garcia
Allysson F Garcia
6 anos atrás

Joelza, esse conto é do budismo chinês?

Franciene Rigôr De Freitas
Franciene Rigôr De Freitas
6 anos atrás

Amei esse blog. Me ajudando bastante

Gleiciane de Lima Alberto
Gleiciane de Lima Alberto
6 anos atrás

Boa tarde, site inovador com excelentes textos e sugestões de atividades. obrigada por compartilhar conosco.

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