A História é uma ciência que lida com o tempo – um conceito abstrato e historicamente construído. Isso, por si só, é um complicador para o 5°. e 6°. anos, alunos com 10-11 anos de idade cuja capacidade de abstração mal começou a se delinear. Para tornar a explicação ainda mais complexa, a simples pergunta “o que é História?” não tem uma resposta imediata já que os significados da História estão em constante mudança.
Diante disso, como começar o ensino de História no 5º. e 6º. anos? Um recurso eficiente é utilizar-se de contos, mitos, lendas e fábulas. Reproduzo aqui um dos meus contos preferidos: Os Cegos e o Elefante. É uma bela metáfora que permite refletir sobre o que é verdade no âmbito da História.
A palavra História originou-se da expressão grega “istoría”, que tem dois sentidos: um objetivo – o que ocorreu – e outro subjetivo – o conhecimento do ocorrido. Em português, também, permaneceu esse duplo sentido. O conhecimento histórico, construído pelo historiador, não tem por objetivo reconstituir o “fato em si”, mas interpretá-lo, de acordo com as fontes investigadas mas que não deixa de ser uma visão particular. Cada narrativa tem a sua própria verdade, que resulta da investigação e da reflexão crítica do Historiador.
A fábula dos Cegos e o Elefante permite, também, uma reflexão sobre a diversidade de opiniões, nem sempre excludentes, mas que podem conter parte da verdade; daí, a importância em ouvir o outro e procurar compreender seu ponto de vista. Fala também sobre o valor da troca de experiências e do trabalho em equipe para se atingir um objetivo. Compreender o todo a partir da análise das partes e da interação entre estas é outra lição deixada pela fábula.
Os cegos e o elefante
Há muitos anos vivia na Índia um rei sábio e muito culto. Já havia lido todos os livros de seu reino. Seus conhecimentos eram numerosos como os grãos de areia do Rio Ganges. Muitos súditos e ministros, para agradar o rei, também se aplicaram aos estudos e às leituras dos velhos livros. Mas viviam disputando entre si quem era o mais conhecedor, inteligente e sábio. Cada um se arvorava em ser o dono da verdade e menosprezava os demais.
O rei se entristecia com essa rivalidade intelectual. Resolveu, então, dar-lhes uma lição. Chamou-os todos para que presenciassem uma cena no palácio. Bem no centro da grande sala do trono estavam alguns belos elefantes. O rei ordenou que os soldados deixassem entrar um grupo de cegos de nascença.
Obedecendo às ordens reais, os soldados conduziram os cegos para os elefantes e, guiando-lhes as mãos, mostraram-lhes os animais. Um dos cegos agarrou a perna de um elefante; o outro segurou a cauda; outro tocou a barriga; outro, as costas; outro apalpou as orelhas; outro, a presa; outro, a tromba.
O rei pediu que cada um examinasse bem, com as mãos, a parte que lhe cabia. Em seguida, mandou-os vir à sua presença e perguntou-lhes:
– Com que se parece um elefante?
Começou uma discussão acalorada entre os cegos.
Aquele que agarrou a perna respondeu: – O elefante é como uma coluna roliça e pesada.
– Errado! – interferiu o cego que segurou a cauda. – O elefante é tal qual uma vassoura de cabo maleável.
– Absurdo! – gritou aquele que tocou a barriga. – É uma parede curva e tem a pele semelhante a um tambor.
– Vocês não perceberam nada – desdenhou o cego que tocou as costas. – O elefante parece-se com uma mesa abaulada e muito alta.
– Nada disso! – resmungou o que tinha apalpado as orelhas. – É como uma bandeira arredondada e muito grossa que não para de tremular.
– Pois eu não concordo com nenhum de vocês – falou alto o cego que examinara a presa. – Ele é comprido, grosso e pontiagudo, forte e rígido como os chifres.
– Lamento dizer que todos vocês estão errados – disse com prepotência o que tinha segurado a tromba. – O elefante é como a serpente, mas flutua no ar.
O rei se divertiu com as respostas e, virando-se para seus súditos e ministros, disse-lhes:
– Viram? Cada um deles disse a sua verdade. E nenhuma delas responde corretamente a minha pergunta. Mas se juntarmos todas as respostas poderemos conhecer a grande verdade. Assim são vocês: cada um tem a sua parcela de verdade. Se souberem ouvir e compreender o outro e se observarem o mundo de diferentes ângulos, chegarão ao conhecimento e à sabedoria.
(Conto do budismo chinês. Extraído de DOMINGUES, Joelza Ester. História em Documento. Imagem e texto. São Paulo: FTD, 2012.)
Os cegos e o elefante em poesia
O poeta norte-americano John Godfrey Saxe (1816-1887) ficou conhecido por recontar a fábula em poesia. Os alunos vão gostar de ler em voz alta e interpretar os versos, uma atividade excelente para desenvolver a oralidade. A tradução abaixo foi extraída do site Recanto das Letras.
– I –
Seis homens sábios do Industão,
Uma terra bem distante,
Ouviram, atentos, os boatos
Sobre um animal gigante
E apesar de serem cegos
Foram ver o elefante.
– II –
O primeiro passou as mãos
Sobre a barriga dura e falha,
E explicou bem confiante:
“Minha análise não falha:
Esse tal de elefante
Mais parece uma muralha!”
– III –
O segundo tocou as presas
E proclamou com confiança:
“Este tal de elefante
Não é brincadeira para criança
Tão pontudo e afiado
Mais parece uma lança!”
– IV –
O terceiro chegou à tromba
Elogiando a bela obra:
“…tão comprido, e gelado,
Vejam só, ele até dobra!
O flexível elefante
Mais parece uma cobra!”
– V –
O quarto sentiu a pata
E teve logo a recompensa
Percebendo as semelhanças
Anunciou com indiferença:
“Este animal mais se parece
Com uma árvore imensa!”
– VI –
O quinto tocou as orelhas
E sugeriu, conservador:
“Mas que belo utensílio
Nestas tardes de calor,
Este tal de elefante,
Mais parece um abanador!”
– VII –
O sexto subiu às costas
Despencando na outra borda
E pendurado ao rabo, disse:
“Não sei se alguém discorda,
Mas para mim esse animal
Mais se parece com uma corda!”
– VIII –
E então os sábios homens
Discutiram inconformados
Cada um com seu discurso
Sem ouvir os outros lados
Pois estavam certos, em partes.
Mas completamente errados!
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Um espetáculo o conteúdo desse site, estou adorando. Baixei alguns videos pra passar para os meus alunos.
Oi Rosana, obrigada! Suas palavras são estimulantes!
Realmente muito interessante e valoroso este site. Obrigado por disponibiliza-lo.
[…] “Os Cegos e o Elefante”: um conto para a primeira aula de História. […]
EXCELENTE DICA !!! Obrigado professora. Veio em um momento muito importante para mim que estou lecionando para a EJA da V à VIII Fase na Escola Municipal Rosa Carelli da Costa, município de Piraí, Sul Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Parabéns pelo site e por tudo que ele proporciona. Muito bom. Sucessos para você.
Bom saber que estamos contribuindo com seu trabalho. Essa é nossa intenção. Um abraço!
Excelente dica. Parabéns pelo belíssimo trabalho… Me ajudou bastante.
Amei! Parabéns!
Joelza, esse conto é do budismo chinês?
Olá Allysson, contos populares sempre tem naturezas diversas. Já encontrei referências sobre esse conto em especialistas da cultura chinesa, indiana e até persa.
Amei esse blog. Me ajudando bastante
Que bom Franciene. Essa é a nossa intenção: produzir material de qualidade que contribua para o trabalho do professor e traga inspiração ao estudo e conhecimento. Continue nos visitando. Um abraço.
Boa tarde, site inovador com excelentes textos e sugestões de atividades. obrigada por compartilhar conosco.