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Roma Antiga e China: a história dos legionários perdidos na China

13 de agosto de 2024

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O Império Romano (27 a.C.-476 d.C.) e a China Han (202 a.C.-220 d.C.) foram os impérios mais poderosos do século II d.C. Por séculos, ambos foram governados por imperadores, tinham vastas extensões de território sob seu controle e possuíam exércitos bem treinados e displinados.

Os dois impérios também tinham em comum a permanente ameaça de povos vizinhos, considerados “bárbaros” por ambos. Contra eles, os romanos construíram fronteiras fortificadas ao longo do rio Danúbio, os chamados limes, onde estabeleceram suas legiões. Os chineses ergueram a Grande Muralha, obra que ganhou impulso na dinastia Han e continuou sendo ampliada até o século XV.

No século II d.C., os domínios de Roma (vermelho) e da dinastia Han (amarelo) tinham uma extensão semelhante: o Império Romano ocupava 6.500.000 km² e a China, 6.000.000 km²

A contemporaneidade e as semelhanças entre os impérios Romano e a China Han levantam a questão sobre o que eles sabiam um do outro. As duas potências estavam em cada extremidade da Rota da Seda, uma rede de rotas comerciais entre a China e o Mediterrâneo Oriental formada muito antes do Império Romano.

Rota da Seda aproxima Ocidente e China

A Rota da Seda recebeu esse nome pela mercadoria mais valiosa que ali era transportada: a seda chinesa. Além dela, havia muitas outras mercadorias do Oriente: porcelana (pratos, tigelas, xícaras, pratos), chás, corantes, pedras preciosas, perfumes, objetos de bronze e ouro, especiarias (como canela e gengibre), marfim, arroz, papel e pólvora.

Do Ocidente iam para o Oriente: cavalos, selas e arreios de montaria, vinho, azeite, peles de animais, mel, artigos de vidro, cobertores e tapetes de lã, camelos, escravos, armas e armaduras.

A origem da Rota da Seda está na Estrada Real persa estabelecida durante o Império Aquemênida (c.550-330 a.C.) que se estendia de Susa, no norte da Pérsia (atual Irã), até Sardes, no Mediterrâneo oriental (atual Turquia).

Rotas comerciais terrestres (vermelho) e marítimas (azul) usadas por volta do século I d.C. centradas na Rota da Seda. As rotas foram regularmente usadas de 130 a.C. até o 1453, quando o Império Otomano boicotou o comércio com o Ocidente e fechou as rotas.

Depois que Alexandre Magno conquistou os persas, ele fundou diversas cidades chamadas Alexandria, uma delas a Alexandria Eschate, em 339 a.C., no atual Tajiquistão. Ali ficou um exército de Alexandre que se misturou à população local criando a cultura greco-bactriana que floresceu sob o Império Selêucida (312-63 a.C.), fundado por um dos generais de Alexandre.

O Império Selêucida estendeu seus domínios até o Seres – nome pelo qual os gregos e os romanos chamavam os chineses, significando “povo da seda”, no Leste Asiático. Acredita-se então, que o primeiro contato entre a China e o Ocidente ocorreu por volta do ano 200 a.C.. O comércio regular pela Rota da China foi aberto por volta de 130 a.C.

Além de Roma, o Império Kushana (do vale do rio Ganges, na Índia até o mar Cáspio), o Império Parta (atual Irã) e vários reinos da Arábia se beneficiariam das Rotas da Seda. No século I a.C., o comércio entre o Ocidente e o Leste Asiático estava firmemente estabelecido e a seda era a mercadoria mais procurada pela aristocracia do Egito, Grécia e, especialmente, Roma.

Roma e China tiveram contato oficial?

Sabemos que ambos os impérios se conheciam e mantinham algum contato. A China conhecia Roma como Da Qin, “Grande China”, o que significa que eles viam Roma como igual. Já para os romanos, os  seres (“povo da seda”) colhiam a serica (“seda”) nas florestas em um território remoto na outra extremidade da Ásia.

A identidade dos seres não é clara. Enquanto o historiador romano Florus descreve uma visita de várias embaixadas, incluindo a dos seres, à corte do imperador Augusto, nenhum relato deste tipo existe do lado chinês.  Os seres poderiam ser um dos povos da Ásia Central que comercializavam ao longo da Rota da Seda.

Sabe-se que a China tentou fazer contato com o Império Romano enviando o embaixador Gan Ying para Roma em 97 d.C. O imperador chinês queria descobrir mais sobre o grande reino ocidental distante. Entretanto, Gan Ying não chegou a Roma, viajando apenas até o “Mar Ocidental” que poderia se referir à costa oriental do Mar Mediterrâneo, ao Mar Negro ou o Golfo Pérsico.

No caminho, Gan Ying penetrou em terras do Império Parta que monopolizava a Rota da Seda na região. Não interessava ao Império Parta um contato direto entre Roma e China e muito menos uma aliança entre eles. Em território parta, o embaixador chinês encontrou uma série de dificuldades para continuar a viagem. Comerciantes locais o alertaram sobre o mau tempo e exigiram mais dinheiro para levá-lo ao Ocidente. Gan Ying desistiu de concluir sua missão e voltou à China.

No livro Hou Hanshu, publicado no século V, há outro registro de contato entre Roma e China, afirmando sobre uma embaixada romana que chegou à China em 166 d.C. O relato porém é vago, com poucos detalhes. Alguns historiadores acreditam que essas pessoas seriam comerciantes, e não embaixadores oficiais enviados pelo então imperador Marco Aurélio.

Embora ainda não esteja claro se os dois impérios interagiram oficialmente entre si, é claro que ambos estavam cientes um do outro.

Uma legião romana perdida na China?

Na aldeia de Liqian, no noroeste da China e extremo leste do deserto de Gobi, a população local exibe orgulhosa suas características físicas caucasianas, com narizes aquilinos, cabelos loiros e olhos azuis ou verdes. As mais antigas famílias de Liqian se dizem descendentes de legionários romanos. Essa tradição local tem camadas de história e lenda.

Menina chinesa de Liqian. Os traços caucasianos intrigam os pesquisadores. A população local se diz descendente dos romanos.

A história de possíveis legionários romanos em Liqian começa no Primeiro Triunvirato (60 a 53 a.C.) da República Romana, sob o comando de Júlio César, Pompeu e Crasso. Eram três líderes poderosos, mas apenas os dois primeiros colecionaram grandes vitórias militares: Júlio César, vencedor da guerra das Gálias (atuais França e Bélgica) e Pompeu vitorioso na Hispânia (atual Espanha) e na guerra contra os piratas que aterrorizavam o Mediterrâneo.

Crasso era o homem mais rico de Roma, acumulando riqueza com a especulação imobiliária. Ganhou notoriedade ao enfrentar a rebelião escrava de Espártaco (73-71 a.C.). Não era, porém, uma vitória que se igualasse às obtidas por César e Pompeu.

Em 53 a.C., Crasso foi nomeado governador da Síria, província romana vizinha ao poderoso Império Parta (atual Irã). Conquistar o Império Parta para Roma era a chance que consagraria Crasso como grande general.

Distribuição das províncias romanas entre Júlio César, Pompeu e Crasso.

Crasso, porém subestimou o “povo do deserto”, como os romanos chamavam os partas. Ávido por glória, ele invadiu a Partia e, em Carras, enfrentou um exército de exímios arqueiros a cavalo comandados por Surena. Apesar de numericamente superior, a infantaria romana não estava preparada para o ataque rápido da cavalaria parta, particularmente hábil no uso do arco e flecha.

Os partas eram treinados para disparar suas flechas com o cavalo em movimento, tanto avançando quanto recuando, o que aumentava a mortalidade de seu ataque.

Na Batalha de Carras (53 a.C.), os romanos perderam 3/4 de todo seu exército. Foram 20.000 legionários mortos, incluindo Crasso e seu filho Públio, e 10.000 legionários escravizados. Foi a pior derrota romana desde a batalha de Canas (216 a.C.), na segunda Guerra Púnica.

À esquerda, cavaleiro parta que usa seu arco mesmo com o cavalo saltando. À direita, Surena, o comandante parta que esmagou a força invasora romana do general Marco Licínio Crasso.

A vitória parta* teve consequências enormes. Ela interrompeu a expansão romana, devolveu a Mesopotâmia aos partos e consolidou o rio Eufrates como a fronteira entre os dois impérios. Colocou a Pártia em pé de igualdade com Roma, tornando-as rivais políticas pelos próximos sete séculos. Mas os romanos também aprenderam com sua derrota e gradualmente desenvolveram sua própria cavalaria nos modelos partos (SHAHBAZI, 1990).

*Outras tentativas romanas de conquistar o Império Parta foram feitas, mas com vitórias temporárias dos romanos em algumas cidades e províncias na Armênia, Mesopotâmia e Cáucaso, sem nunca conseguir mantê-las sob seu domínio. As guerras só foram concluídas com as invasões árabes muçulmanas que atingiram os impérios Sassânida (herdeiro do Império Parta) e Bizantino (herdeiro do Império Romano) com efeito devastador.

Os legionários escravizados pelos partos

Enquanto os romanos escravizavam os prisioneiros de guerra, os partos enviavam os soldados capturados para vigiar fronteiras longínquas de seu império. Os 10.000 legionários teriam sido mandados para as fronteiras orientais, em Alexandria Margiana ou Marv, no atual Turcomenistão. Distantes 2.500 km da Síria, os legionários não tinham chances de fuga e tiveram que simplesmente aceitar seu novo destino. (KETTENHOFEN, 2011).

Segundo o historiador estadunidense Homer H. Dubs (1892-1969), especialista em história da China, parte dos legionários romanos levados para Marv conseguiram escapar do cativeiro e acabaram se tornando mercenários do chefe huno Zhizhi.

A longa jornada dos legionários romanos: depois de aprisionados em Carras (Carrhae, no mapa) foram levados para Marv a 2.500 km e dali novamente aprisionados em Zhizhi e mandados para Liqian a 6.000 km a leste.

No ano 36 a.C., a dinastia Han entrou em guerra contra as forças rebeladas do chefe Zhizhi Chanyu. Na Batalha de Zhizhi, os chineses notaram a presença de um estranho contingente de mais de cem soldados de infantaria que defendia uma das portas da cidade disposto numa formação semelhante a “escamas de peixes”. Para o sinólogo Dubs, poderia ser a formação “testudo” ou “tartaruga” na qual os soldados se agrupavam e colocavam seus escudos bem juntos uns dos outros protegendo-se dos projéteis, uma tática militar típica das legiões romanas.

A formação tartaruga em uma reencenação.

Após a batalha de Zhizhi, vencida pelos chineses, os guerreiros estrangeiros teriam sido capturados e levados para outra cidade fronteiriça na China ocidental, conhecida como Liqian ou Li-Jien, palavra que na língua chinesa significa “romano”. Ali teriam deixado sua herança genética, segundo Dubs.

A hipótese de Dubs, contudo, foi rejeitada por historiadores (GRUBER, 2006) e geneticistas (ZHOU e outros, 2007) modernos com base numa avaliação crítica das fontes antigas e nos recentes testes de DNA das pessoas da aldeia de Liqian.

Uma nova hipótese, sustentada por Christopher Anthony Matthew, da Universidade Católica Australiana, sugere que os guerreiros estrangeiros não eram legionários romanos, mas sim descendentes dos hoplitas gregos de Alexandria Eschate, cidade fundada por Alexandre, o Grande, em 339 a.C. no vale Fergana de Neb (atual Tajiquistão).

Outra hipótese é sugerida pela Rota da Seda. A cidade de Liqian (e também Marv e Carras) ficavam perto da multicultural Rota da Seda e, portanto, o DNA caucasiano poderia ser de viajantes ao longo da estrada.

A única evidência restante necessária para autenticar a história dos legionários seriam moedas romanas ou outros artefatos romanos em Liqian. Há também a se considerar o fato de que os legionários estariam por volta de 50 anos de idade quando se estabeleceram em Liqian – uma idade avançada para os padrões da época, especialmente combatentes.

O destino final da legião perdida de Crasso continua, até hoje, envolto em mistério. Um final que só poderá resolver-se com a descoberta de novas provas históricas e arqueológicas.

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