Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), houve vários breves cessar-fogo, não oficiais, conhecidos como “Trégua de Natal”. Soldados franceses, belgas, alemães e britânicos nas trincheiras atravessaram o campo inimigo para se cumprimentarem e conversar. Houve cerimônias conjuntas de troca de prisioneiros e enterros de cadáveres. Muitos encontros terminaram em canto de canções natalinas e até jogos de futebol entre adversários. Em alguns setores, a trégua durou até o Ano Novo. Em 1915 e 1916, uma trégua também ocorreu na Páscoa, na Frente Oriental.
O comportamento pacífico, contudo, não foi geral; os combates continuaram em alguns setores enquanto em outros os lados estabeleceram uma trégua somente para recuperar corpos dos soldados mortos.
A primeira trégua
Em dezembro de 1914, a guerra estava praticamente estacionada em duas frentes entricheiradas. As tropas da Frente Ocidental (franceses, belgas e britânicos) estavam exaustos e em choque com a extensão da perda de vidas que sofreram desde agosto. No início da manhã de 25 de dezembro, os soldados que ocupavam as trincheiras ao redor da cidade belga de Ypres ouviram canções de natal vindas de posições inimigas. Colocaram a cabeça para fora das trincheiras e viram que árvores de Natal foram colocadas ao longo das trincheiras alemãs.
Lentamente, colunas de soldados alemães emergiram de suas trincheiras e avançaram para o meio da “terra de ninguém” [nome como era chamada a terra entre duas fronteiras]. Os alemães chamaram os britânicos para se juntarem a eles. As duas frentes de soldados se encontraram no meio da paisagem devastada por bombas, trocaram presentes, conversaram e jogaram futebol na manhã seguinte. Um cantor de ópera alemão, o tenor Walter Kirchhoff, na época um oficial, cantou uma canção de Natal e foi muito aplaudido pela plateia militar.
Tréguas voluntárias ocorreram em outros locais, mas foram proibidas pelas autoridades militares. A documentação desses eventos ficou por muito tempo censurada e muitas fotos foram destruídas. A mídia francesa e alemã da época silenciaram sobre essas confraternizações. Apenas o jornal britânico Daily Mirrror publicou um artigo a respeito em 8 de janeiro de 1915. Hoje, porém, depoimentos de soldados franceses que confraternizaram com soldados alemães estão disponíveis nos arquivos históricos, tornando públicas essas tréguas, que eram tabus na época.
Entre as tropas russas, a confraternização entre soldados e trabalhadores teve consequências mais graves: ela contribuiu para a disseminação das ideias bolcheviques entre os soldados e estimulou a saída da Rússia da guerra, o que ocorreu em 1917.
Fonte
- Fêtes de Boël dans les tranchées: la Trêve. Héritages.
- FERRO, Marc (dir.). Frères de tranchée. Paris: Tempus, 2006.
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