Em 8 de janeiro de 1918, o presidente democrata Woodrow Wilson, dos Estados Unidos, apresentou ao Congresso dos Estados Unidos seu programa dos Quatorze Pontos para acabar com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). No cenário devastador pós-guerra, Wilson propôs uma visão inovadora para a paz e a reconstrução global. Era um conjunto de princípios destinados a redefinir as relações internacionais e prevenir futuros conflitos.
A proposta de Wilson sistematizava suas ideias já tornadas públicas em abril de 1917, antes dos Estados Unidos entrarem em guerra. Defendia uma “paz sem vencedores ou vencidos” que garantisse “tornar o mundo seguro para a democracia”. Afirmava que se a autodeterminação das grandes nações fosse a base para a paz, então aquele seria o último conflito, “uma guerra para acabar com todas as guerras”.
Essas ideias foram incorporadas em seus Quatorze Pontos.
Os 14 Pontos de Wilson
Os primeiros cinco pontos, de importância geral, defendiam o fim dos acordos secretos, a liberdade de navegação nos mares, o livre comércio, a redução dos armamentos e o direito dos povos colonizados à autodeterminação.
- 1º. Pactos abertos (acordos) de paz a serem alcançados abertamente, sem acordos secretos;
- 2º. Livre navegação absoluta, além das águas territoriais, tanto na guerra como na paz, exceto quanto a liberdade de navegação fosse cessada, em parte ou no seu todo, por execução de pactos internacionais;
- 3º. Remoção de todas as barreiras econômicas e estabelecimento de igualdade de condições de comércio entre todas as nações consentâneas à paz e à sua manutenção;
- 4º. Redução das armas nacionais ao mínimo necessário à segurança interna;
- 5º. Ajustes livres imparciais e abertos às reivindicações das colônias.
Os pontos 6, 7, 8 e 11 falavam em evacuação das tropas alemães da Rússia, da Bélgica, dos Balcãs e da França (incluindo a região contestada da Alsácia-Lorena).
- 6º. Evacuação das tropas alemãs da Rússia, e respeito pela independência da Rússia.
- 7º. Evacuação das tropas alemãs da Bélgica.
- 8º. Evacuação das tropas alemãs da França, inclusive da contestada região da Alsácia-Lorena.
- 11º. Retirada dos exércitos invasores dos territórios da Romênia, Sérvia e Montenegro; garantir à Sérvia um acesso livre e seguro ao mar.
O 9º ponto defendia o reajuste das fronteiras italianas dentro dos limites nacionais.
- 9º. Reajuste das fronteiras italianas dentro de linhas nacionais claramente reconhecíveis.
Os pontos 10, 12 e 13 reconheciam a autonomia e independência da Áustria-Hungria, da Turquia e da Polônia.
- 10º. Garantir o direito à autodeterminação dos povos integrados no Império Austro-Húngaro.
- 12º. Independência para a Turquia e garantir a proteção e o direito à autonomia das restantes nacionalidades até então sob domínio do Império Otomano; garantir a livre circulação de navios nos Dardanelos.
- 13º. Garantir a independência da Polônia, assente em territórios com uma população maioritariamente polaca; garantir o acesso da Polônia ao mar; garantir, através de entendimentos internacionais, a integridade política e econômica da Polônia.
O 14º ponto, refletindo o idealismo do presidente norte-americano, anunciava a criação de uma Liga das Nações com o objetivo de dar garantias mútuas de independência política e integridade territorial aos Estados.
- 14º. A formação de uma liga de nações deverá ter como objetivo encontrar garantias mútuas para a independência política e a integridade territorial de todos os Estados, independentemente da sua escala.
Os 14 Pontos na Conferência de Paris
A proposta de Wilson enfrentou resistência durante a Conferência de Paz de Paris, aberta em 18 de janeiro de 1919 com a presença de 70 delegados representando 25 países.
Líderes como David Lloyd George (Reino Unido), Georges Clemenceau (conhecido como “o Tirgre”, primeiro ministro da França) e Vittorio Orlando (Itália) hesitavam em aceitar os pontos de Wilson como objetivos formais de guerra. As exigências de reparações, a concorrência imperial e o desejo de vingar-se da Alemanha falaram mais alto na Conferência de Paris e, com isso, muitos dos 14 Pontos foram postos de lado.
Os termos acordados pelos vitoriosos no tratado de Versalhes, em 1919, foram duros com a Alemanha: a soberania e autodeterminação da nação alemã foi arrasada. O país, considerado culpado pela guerra foi forçado a desmantelar suas forças armadas, entregar a maior parte de sua frota mercante e a concordas com extensas reparações de guerra.
O impacto do acordo para a Alemanha plantou a semente da Segunda Guerra Mundial. A Liga das Nações, por sua vez, mostrou-se incapaz de equilibrar os interesses nacionais na arena internacional, especialmente sem a participação dos Estados Unidos que, apesar dos esforços de Wilson, nunca se juntaram à organização.
Legado dos 14 Pontos de Wilson
Os 14 Pontos permanecem como um testemunho da visão de Wilson para uma ordem mundial baseada em princípios de justiça e cooperação. Eles inspiraram gerações futuras a buscar a paz através do diálogo e da colaboração internacional, moldando significativamente o campo das Relações Internacionais.
Seus princípios são considerados um marco nas Relações Internacionais, introduzindo conceitos que se tornaram fundamentais para a diplomacia moderna, como a autodeterminação, a cooperação internacional e a segurança coletiva. A Liga das Nações, apesar de suas falhas e da eventual substituição pela ONU, marcou o início de uma nova era de organizações internacionais voltadas para a manutenção da paz e da segurança globais.
Embora o mundo tenha mudado drasticamente desde 1918, os princípios dos 14 Pontos de Wilson ainda ressoam nas práticas contemporâneas de Relações Internacionais. A ênfase na diplomacia aberta, na cooperação econômica e na autodeterminação continua a influenciar as políticas internacionais e as estratégias de paz. Assim, os 14 Pontos de Wilson não são apenas um legado histórico, mas uma fonte contínua de inspiração para enfrentar os desafios globais de hoje.
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