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Iluminuras, a arte nos manuscritos medievais

17 de agosto de 2024

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A Idade Média inventou o livro e tornou-o um objeto valioso por sua raridade (uma boa biblioteca no século X possuía uns dez livros), pela dificuldade de fabricação e pela riqueza das imagens que possuía – a iluminura.

Iluminura é a arte de ornamentar um manuscrito medieval com pinturas, arabescos, figuras humanas ou animais e grafismos diversos. O termo também designa a própria pintura, por alusão às cores luminosas e vibrantes dos elementos decorativos, que “iluminavam” a página escrita.

A palavra ‘iluminura’ é frequentemente associada a miniatura, termo derivado de mínio, um composto químico de coloração vermelha obtido do óxido de chumbo.  Por isso, miniatura referindo-se aos manuscritos medievais não quer dizer “pequena” e sim pintado com mínio.

Escrever e iluminar (ilustrar) eram partes do trabalho da fabricação de um manuscrito (palavra derivada do latim: manus, “mão” e scriptus, “escrever”). O mesmo copista ou escriba que copiava os textos e montava o livro, era também quem desenhava e pintava as iluminuras e ornamentos.

Atividade exercida nos mosteiros e conventos por monges, monjas, freis e freiras, muitas dessas obras se revestem de excepcional valor pela delicadeza e perícia da técnica, pelas qualidades expressivas e ornamentais além de serem uma rica fonte iconográfica da cultura e do pensamento cristão medieval.

Os manuscritos medievais eram, em geral, cópias de textos antigos (gregos e romanos, em especial), bíblias e textos litúrgicos. Mesmo sendo cópias não eram exatamente iguais. O copista acrescentava, muitas vezes, correções, palavras ou frases no texto original. Diferenciavam-se também pelas iluminuras e ornamentações.

A preparação do pergaminho

A primeira etapa na confecção de um livro era preparar o pergaminho que serviria de suporte para a escrita, isto é, a folha. Usava-se pele de bezerros, ovelha ou cabra tratada adequadamente para tal fim. Para fazer uma Bíblia, os monges podiam consumir 30 a 40 animais, quase um rebanho inteiro.

Retirada a pele do animal, ela era lavada, raspada dos dois lados, esticada e secada a temperatura ambiente. Depois era polida com pedra-pome, água e cal para tirar manchas e asperezas. Esse processo levava até vinte dias para ser concluído, para só então a pele ser cortada no formato de folhas que comporiam o livro.

O monge faz os últimos ajustes em um pergaminho seco e esticado, gravura de 1425.

No final do século XIII, devido à dificuldade de fabricação e de seu alto preço, o pergaminho foi substituído pelo papel. O pergaminho ficou restrito aos documentos oficiais dos reis e da Igreja por sua maior durabilidade.

A escrita no pergaminho

O pergaminho cortado ia para o scriptorum, nome do espaço, nos mosteiros, onde os livros eram produzidos e ali começava a ganhar a forma de livro. As linhas eram marcadas, e o texto começava a ser copiado de um outro livro.

O trabalho no scriptorum acontecia até que a luz do sol não entrasse mais pelas janelas. Escrever de noite não era comum porque as velas poderiam queimar os manuscritos em algum acidente, causando, além de um incêndio, a perda de todos os livros.

O copista deixa espaço para as iluminuras e as capitulares que seriam pintadas depois.

Utensílios na produção do livro manuscrito

Na mesa do copista ou junto a ela, havia uma série de utensílios essenciais ao seu trabalho:

  • Penas: extraídas das asas de gansos, cisnes ou corvos eram utilizadas para escrever mergulhando sua ponta na tinta. Eram deixadas para secar por vários meses para endurecerem. Depois a ponta era afiada da forma desejada pelo copista.
  • Pedra-pome: sua principal finalidade era polir o pergaminho, mas também era utilizada para afiar o bico da pena.
  • Facas: usadas para raspar o pergaminho para tirar algum relevo remanescente de sua produção, para cortar as penas e para raspar os erros dos copistas.
  • Chifres: serviam como tinteiros para armazenar a tinta.
  • Compassos: para desenhar círculos, fazer medições ou, com a ponta seca, traçar as linhas a serem seguidas pelo copista na hora de escrever.
  • Sovela: uma agulha grossa presa a um cabo de madeira, era utilizada para marcar as linhas no pergaminho que serviam de guia para os copistas escreverem.
iluminadores

Monges copistas e iluminadores em um “scriptorium”; composição de imagens diversas do século XV.

Letras capitulares

Chama-se letra capitular ou letra capital a letra inicial do parágrafo ou do capítulo em tamanho maior do que o restante do texto. Os manuscritos medievais usavam a letra capitular ornamentada com arabescos, ramagens, flores ou mesmo figuras geométricas, humanas ou animais. As figuras podiam estar relacionadas ao conteúdo do texto ou serem puramente decorativas.

Em manuscritos de luxo, uma página inteira pode ser dedicada a uma capitular ilustrada com uma cena – era chamada, então, capitular historiada.

Quando a impressão começou a ser utilizada, os tipógrafos deixavam em branco o espaço necessário para as capitulares que eram adicionadas mais tarde por um escriba ou pintor de iluminuras. Mais tarde, as capitulares foram impressas usando blocos separados em técnicas de xilogravura.

Capitulares das letras A e B.

Capitulares das letras G (de Gregório, nome do papa) e L.

Capitulares da letra O.

Capitulares da letra P.

Capitulares das letras R e S.

A produção da tinta

Não existia tinta pronta para escrever e pintar no pergaminho ou papel. Ela deveria ser preparada e, para isto, havia diversas receitas. A cores eram obtidas de plantas, minerais, sangue e insetos esmagados. O pigmento era misturado com clara, gema de ovo ou cera de abelha para deixá-lo mais consistente e permanente.

Para a escrita dos textos utilizava-se a cor preta obtida do carvão moído misturado com um óleo vegetal; o branco, da cal ou das cinzas de ossos de pássaros; a cor azul, muito apreciada pelos monges, era extraída das sementes de uma planta ou da azurita e lápis-lazuli, uma pedra muito cara vinda do Oriente; o verde se obtinha de plantas como sálvia, serva-moura e madressilva esmagada; o amarelo do açafrão ou do sulfato de arsênico; o vermelho era formado do mínio, composto químico do óxido de chumbo.

A cor vermelha só era empregada em títulos, nas iniciais maiúsculas e nomes importantes o que deu origem ao termo rubrica (derivado do latim ruber, vermelho). Hoje rubrica se refere a uma assinatura abreviada, a uma observação ou indicação.

Utilizava-se também lâminas de ouro muito finas ou ouro em pó que colava na superfície com goma. O ouro era reservado para manuscritos de grande importância.

Capitular inacabada de Eclesiastes onde se pode ver o trabalho de douração que era realizado antes de aplicar outros pigmentos. Bíblia Winchester, 1150-1175.

Iluminura_pentecoste

Página de livro com ornamentação floral na borda e iluminura referente à comemoração do Pentecostes, século XIV.

Iluminura_Missal de Jean Rolin

Manuscrito com ornamentação floral, capitulares e iluminura; página do Missal de Jean Rolin, século XIV.

Prontas as páginas, elas eram costuradas, encadernadas e protegidas com uma capa de couro que podia ser decorada com pedras preciosas, pérolas e ouro.

Em uma época onde ainda não existia a imprensa, foi graças ao trabalho dos monges copistas que centenas de documentos da Antiguidade foram preservados e puderam chegar até nós.

As iluminuras medievais eram uma importante linguagem em um mundo oral: tinham a função de ensinar, relembrar e comover. Acima de tudo, tinham um sentido mais simbólico do que real, sendo uma expressão visual para tornar visível o que era invisível. A intenção do artista não era representar a realidade, ainda que mostrasse objetos do cotidiano como moinhos, enxadas, roupas, campos sendo arados (SCHMITT, 2006, p. 597-598). Elas expressam a cultura, o pensamento e a visão de mundo da cristandade medieval.

Iluminuras Medievais

Fonte

  • VISALLI, Angelita Marques; GODOI, Pâmela Wanessa. Estudos sobre imagens medievais: o caso das iluminuras. Maringá: Diálogos, v. 20, n. 3, p. 129-144, 2016.
  • SCHMITT, Jean-Claude. Imagens. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru: Edusc, 2006. p. 591-605.
  • SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: Ensaio sobre a cultura visual na Idade Média. Bauru: Edusc, 2007.
  • PASTOUREAU, Michel. Símbolo. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru: Edusc, 2006. p. 495-510.
  • PARMEGIANI, Raquel de Fátima. O lugar das iluminuras medievais nas bibliotecas de obras raras. medievais nas bibliotecas de obras raras. Campinas: ComCiência, n.127,  abril 2011.

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DDavid RRios
DDavid RRios
9 anos atrás

magnífico…

Tayná Zahlouth
Tayná Zahlouth
8 anos atrás

Ótimo texto…

Rodrigo Andrade Da Fonseca
Rodrigo Andrade Da Fonseca
8 anos atrás

muito bom

MAria
MAria
6 anos atrás

um ótimo texto quando você n tem que copia-lo nessas letras T.T

❤Park Fabi ❤
6 anos atrás

Ótimo texto, é magnifico! 😉

sara
6 anos atrás

muito obrigada pelo texto, me ajudou muito.

dddddd
dddddd
6 anos atrás

é fantástico

Fael Backus
Fael Backus
6 anos atrás

Ótimo site. Parabéns!!!

Joelza Ester
Joelza Ester
6 anos atrás
Responder para  Fael Backus

Obrigada! Continue nos visitando!

Noah Cerri
Noah Cerri
6 anos atrás

ótimas informações, estou escrevendo um livro da era medieval, e num trecho a respeito sobre uma carta, este texto me elucidou muitas dúvidas! Grato!

Joelza Ester
Joelza Ester
6 anos atrás
Responder para  Noah Cerri

Que bom Noah! Bom trabalho!

Benita
Benita
6 anos atrás

Amei a explicação.

Le Julia Martins
Le Julia Martins
6 anos atrás

Me ajudou muito 😀 obrigada!!!

Janielle
Janielle
5 meses atrás

Adorei conhecer seu blog, tem muito artigos bem interessantes. resultado do pernambuco da sorte

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