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Outros 10 legados da Idade Média ao mundo contemporâneo (parte 2)

20 de dezembro de 2021

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A Idade Média foi um período de muitas mudanças e inovações e deixou um enorme legado para o mundo contemporâneo. Na parte 1 desse artigo, foram analisados dez itens. Apresentamos nesse artigo outras 10 inovações medievais. Elas estão longe de esgotar o tema, mas fornecem um vislumbre do espírito técnico do homem medieval.

CONTEÚDO

  1. Moinho de água e de vento
  2. A biela cria o moinho de pisoar
  3. O carrinho de mão
  4. Cronologia da Era Cristã e a data de nascimento de Cristo
  5. Árvore genealógica e linhagens familiares
  6. Comer sentado à mesa
  7. O uso do garfo na refeição
  8. Macarrão: da Itália para o mundo
  9. Jogos: baralho, tarô, xadrez
  10. Botões, meias e calças compridas mudam a vestimenta

1. Moinho de água e de vento

Usar a força da água para mover um mecanismo sem a força muscular humana ou animal não é algo novo na História. No antigo Egito e na Mesopotâmia existiam estruturas movidas a água para irrigação. No Templo de Artemis, em Gerasa (Jordânia), do século VI d.C., foram encontrados os restos de uma serraria de pedra movida a água com duas serras opostas tendo quatro lâminas cada uma. Em Barbegal, no sul da França, descobriu-se um complexo de moinhos romanos com 16 rodas de moinhos. Datado do século II, o moinho de Barbegal era movido pela água do aqueduto que abastecia a cidade de Arles.

Os moinhos de água dos romanos, contudo, não eram comuns, e foram pouco utilizados. A abundância de mão de obra escrava tornava desnecessário buscar formas alternativas de energia e sequer se pensava em poupar o trabalho escravo.

Na Idade Média, as condições históricas eram outras. Faltavam braços para o trabalho no campo e o moinho de água tornou-se fundamental na moagem de grãos de trigo e outros cereais. A produtividade era muito maior: cada mó podia-se moer 150 kg de grãos por hora, o que correspondia ao trabalho de 40 escravos (GIMPEL: 1977).

No século IX, o moinho hidráulico estava difundido no Ocidente como nunca então ocorrera na história, e essa foi a contribuição da Idade Média. Sua difusão deveu-se não somente pela produtividade, mas por sua rentabilidade: o moinho fornecia uma boa renda ao senhor que cobrava pelo seu uso.

Por volta de 1180, surgiram os moinhos de vento feitos de madeira e, depois, de ferro. Logo eles se proliferam onde não havia rios de correntes rápidas, como as terras planas dos Países Baixos, e onde os rios congelam no inverno. Havia, contudo, um problema: diferente do curso d´água que corre na mesma direção, o vento sopra de todos os lados. Os engenheiros medievais acharam a solução: montaram o corpo do mecanismo e das velas sobre um eixo central que gira livremente.

Moinho de água, manuscrito inglês de c. 1300.

2. A biela cria o moinho de pisoar

Uma invenção genial da Idade Média foi a biela, uma peça que, inserida no moinho, muda seu movimento: em vez de um movimento rotativo, a biela permite o movimento alternado reproduzindo mecanicamente o trabalho de bater ou pisotear. Surgia, assim, o moinho de pisoar ou de pisão.

A partir do século X, a biela permitiu a mecanização de uma série de operações que antes eram feitas à mão ou com o pé. A fabricação de cerveja, de tecido e de papel, por exemplo, teve um enorme impulso graças ao moinho de pisoar. Os pés do artesão foram substituídos por malhetes de madeira que malhavam ou batiam o cânhamo.

A biela permite que o moinho faça o movimento alternado de bater. Máquina para bater trapos para a fabricação de papel, gravura italiana, 1607.

3. O carrinho de mão

O carrinho de mão é um veículo simples de roda, mas de extrema utilidade para levar carga pesada aliviando o ombro humano. O registro escrito mais antigo conhecido é de 231 d.C., dinastia Han, China, mas há imagens de carrinhos de mão datadas de um século antes. O carrinho chinês era feito de madeira e usado em campo de guerra para carregar feridos, mantimentos e material de batalha.

Na Europa medieval, o carrinho de mão aparece em iluminuras inglesas e francesas entre 1170 e 1250 junto a canteiros de obras para transportar tijolos. Não se sabe como ele surgiu, se foi introduzido através de Bizâncio ou do mundo islâmico. Pode ter sido, de fato, uma invenção medieval como afirmam alguns especialistas. Um fato é certo: o carrinho de mão não era conhecido no mundo romano e grego, não é mencionado na literatura arquitetônica nem em representações artísticas dessas civilizações (MATTHIES,1991).

O carrinho de mão medieval é diferente do chinês: tem uma roda na frente, enquanto seu equivalente chinês, normalmente tinha uma roda no centro do carrinho.

No século XIII, o carrinho de mão era usado na construção civil, na mineração, na agricultura e eventualmente para transportar doentes e idosos como mostram algumas iluminuras.

Carrinho de mão, iluminura em manuscrito inglês, século XIV.

Modelos variados de carrinho de mão conforme iluminuras do século XIII.

4. Cronologia da Era Cristã e a data de nascimento de Cristo

O 25 de dezembro como data do nascimento de Jesus foi estabelecido no século IV, portanto, pouco antes do que se convencionou como início da Idade Média. Os cristãos tomaram a festa pagã do Sol Invictus e a transformaram no Natal.

O Natal já tinha dia e mês para ser celebrado, mas ainda não se sabia em que ano Jesus nasceu. Naquele tempo, seguia-se o calendário Juliano e os anos eram calculados a partir da fundação de Roma.

O cálculo do ano do nascimento de Jesus foi feito pelo monge Dionysius Exiguus (Dionísio, o Pequeno) a pedido do papa João I, no ano de 525 que queria calcular a data da Páscoa. Estava-se, então no ano 284 da Era Diocleciana – nome derivado do imperador Diocleciano, um feroz perseguidor dos cristãos.

O monge não queria associar o nascimento de Jesus a um imperador pagão e tirano. Então, tomando por base o calendário Juliano e desconsiderando a Era Diocleciana, ele propôs um calendário em que a contagem dos anos se daria a partir nascimento de Jesus Cristo.

Dionísio considerou que Jesus tinha 30 anos no décimo-quinto ano do reinado de Tibério (conforme Lucas 3:1), e que Tibério sucedeu Augusto em 19 de agosto de 767 (desde a fundação de Roma). Concluiu que Jesus nasceu no ano 753 (da fundação de Roma). O monge estabeleceu, então que esse ano seria o ano 1 da Era Cristã. Assim, no ano 525, foi estabelecida a cronologia cristã.

A partir do ano 1 (não existia o conceito de zero que só foi introduzido no séc. X), os anos seriam contados como Depois de Cristo (d.C.) e, o período anterior, como Antes de Cristo (a.C.) em ordem decrescente.

Sabe-se, hoje, que o monge se enganou nos cálculos, entre 4 e 6 anos, quer dizer, Jesus nasceu entre 4 a.C. e 6 a.C. De qualquer maneira, o calendário feito por Dionísio se espalhou pelo mundo cristão, foi usado para marcar as festas religiosas e, por volta do século VII estava nos documentos públicos e privados. A cronologia “a.C.” e “d.C.” manteve-se até hoje e serve de referência aos historiadores.

5. Árvore genealógica e linhagens familiares

A árvore genealógica é uma lista de linhagem, geralmente representada como uma árvore ramificada, onde são colocados os nomes dos descendentes de uma família a partir de um ancestral comum. O interesse pela genealogia já existia na Antiguidade, mas foi na Idade Média cristã que se difundiu o costume, entre a nobreza senhorial, da árvore genealógica.

Era importante os senhores mostrarem sua linhagem familiar, isto é, a ascendência de sangue nobre ou sangue azul para participarem da ordem de cavalaria e dos altos postos na Igreja, receberem heranças, reivindicarem domínios e títulos, terem direito à sucessão política e até na contratação de casamentos nobres. A busca de ancestrais importantes e até lendários, mesmo que muito distantes, levava ocasionalmente a alegações absurdas de ancestralidade.

A história da sociedade medieval é a história das principais linhagens familiares. A linhagem mantinha o trono por hereditariedade e legitimava os domínios por heranças e casamentos, muito mais que por conquistas.

Outro motivo para estabelecer a genealogia era a proibição da Igreja do casamento entre pessoas do mesmo sangue. A proibição estendia-se até o sétimo grau de parentesco, mas a partir do século XIII foi sendo reduzida fixando-se no quarto grau. Era necessário, portanto, comprovar a ausência de parentesco o que levava os padres a manterem registros de nascimentos e casamentos.

Árvore genealógica de Jesus, iconografia muito comum na Idade Média. Iluminura do manuscrito “Hortus Deliciarum”, 1180.

6. Comer sentado à mesa

Os antigos romanos comiam reclinados em sofás dispostos em forma de ferradura ao redor da mesa. As cabeças ficavam voltadas para a mesa, o cotovelo esquerdo apoiado em um travesseiro e os pés voltados para fora do sofá. A sala de jantar, chamada triclínio (triclinium) era um ambiente especialmente reservado para a principal refeição do dia. Comia-se com os dedos ou com dois tipos de talheres conhecidos: faca e colher. Terminada a refeição, lavavam-se os dedos e limpavam a boca com uma toalha.

Com a divisão do Império Romano, no século IV, os dois lados do império foram se afastando e desenvolvendo costumes de acordo com o processo histórico vivido. Bizâncio, capital do Império Romano do Oriente ou Império Bizantino, estabeleceu uma etiqueta mais refinada especialmente na corte. Os bizantinos começaram a comer à mesa, sentados em cadeiras. Usavam toalha, guardanapos e garfos, uma invenção bizantina.

No Ocidente, as invasões e guerras internas obrigaram a maior mobilidade e simplificação dos costumes. As refeições em sofás foram definitivamente abandonadas. Sentar-se na cadeira junto à mesa para comer foi um legado da Idade Média para o mundo contemporâneo.

A mesa reduziu-se a uma prancha de madeira sobre cavaletes, facilmente removida. “Pôr a mesa” era, então, uma expressão entendida em seu sentido literal. A mesa era “posta” na hora da refeição e retirada ao final para que a sala fosse usada para outros fins.

Nos castelos feudais, as pessoas sentavam-se em cadeiras e bancos que eram dispostos apenas de um lado da mesa. A frente ficava livre para que os pajens pudessem servir a refeição. As carnes eram trazidas inteiras – porco, cabrito, javali, peru, faisão etc. – e cortadas à vista dos convidados. Comia-se com as mãos usando a faca para cortar o alimento e leva-lo à boca. Não havia guardanapos: usava-se a toalha da mesa para limpar as mãos e boca.

Um banquete medieval onde o nobre anfitrião senta-se sozinho em uma mesa mais elevada (á direita), e os convidados estão acomodados em bancos comuns. Um lado da mesa fica sempre livre para os pajens servirem. Iluminura do manuscrito “Histoire du Grand Alexandre”, século XV.

7. O uso do garfo na refeição

Os garfos eram usados na corte de Bizâncio desde o século VI e amplamente difundidos no século X. Na Europa Ocidental, teria sido introduzido no século XI, quando foi feita a primeira menção ao uso do garfo. O registro é sobre o casamento de uma princesa grega chamada Teodora com o Doge Domenico Selvo, em Veneza. Em sua bagagem, Teodora levou um garfo que usou no banquete de casamento. Foi um escândalo na corte veneziana. Um cronista, São Pedro Damião, desaprovou o costume da princesa dizendo “Deus em sua sabedoria deu ao homem garfos naturais – seus dedos. Portanto, é um insulto para Ele substituí-los por garfos artificiais para comer” (FRUGONI, 2007).

A princesa morreu mais tarde de uma doença debilitante e o cronista considerou isso uma punição justa por tal “pecado”. O garfo era visto como uma ferramenta do diabo devido ao formato plano com duas pontas.

No século XVI, zombava-se do uso do garfo na corte do rei Henrique IV, na França, considerando-o objeto de “hermafroditas”, pois não era para “homens de verdade”.

Na Itália, o caso foi diferente, o garfo logo se difundiu pois mostrou-se muito útil para comer um alimento básico da culinária italiana – a massa. O garfo facilitava enrolar a massa e leva-la à boca.

O senhor à direita usa um garfo para pegar a comida. Iluminura do manuscrito italiano “De Universo”, de Rabano Mauro, século XI. Getty Images.

8. Macarrão: da Itália para o mundo

Diz a lenda que o macarrão foi trazido da longínqua China para a Itália, por Marco Polo, em 1292.

A hipótese da origem chinesa do macarrão há muito foi refutada. De fato a China possuía uma massa semelhante ao macarrão, mas desconhecia o trigo, usava a farinha de soja e de arroz, e seu processo de cozimento era muito diferente da típica massa italiana de trigo duro.

Há registros da presença do macarrão na Itália um século antes de Marco Polo. O geógrafo árabe Al-Idrisi, que viveu na corte do rei Rogério II, da Sicília, descreveu a fabricação de maccaruni em suas notas de 1154 sobre os costumes do povo siciliano. A massa era seca e, depois de cozida, servida sem o caldo de cozimento, tornando-se um alimento em si mesmo chamado, na Itália, de pastacciutta.

Segundo Al-Idrisi, havia uma verdadeira indústria de massa na Sicília, cujo centro era Trabia e que era comercializada em todo Mediterrâneo (WRIGHT, 2021). Outro polo de produção de macarrão era Sardenha, sobretudo nos séculos XIII e, no século seguinte, também Nápoles, Pisa, Gênova e na Provença.

A partir do século XIII, os italianos foram os maiores difusores e consumidores do macarrão por todo o mundo: inventaram mais de 500 variedades de tipos e formatos. No século XIV foram estabelecidas as primeiras guildas de fabricantes de massas. A técnica de secagem permitiu que a massa enfrentasse longas viagens por mar ou terra.

Enquanto uma mulher prepara a massa de farinha (à direita), a outra estende os fios do macarrão em uma grade de madeira para seca-los (à esquerda). Iluminura do manuscrito italiano “Taccuino Sanitatis”, século XIV

9. Jogos: baralho, tarô, xadrez

Não se sabe com exatidão qual é a origem dos jogos de cartas. Os registros mais antigos conhecidos são da China e Coreia no século XII. Não se sabe como eram jogadas. As cartas de baralho seguiram da China para a Índia e Pérsia e daí para os países árabes chegando finalmente na Itália no século XIV.

Como primeira menção de cartas de jogar na Europa estão as proibições de 1367, em Berna, Suíça, e de 1377, em Florença, Itália. A rápida expansão do jogo de cartas e sua ligação com apostas em dinheiro resultando no aumento das dívidas de jogos de azar deram origem às proibições. Além disso, o baralho era visto como passatempo das tavernas, do consumo exagerado de bebida, das brigas e blasfêmias.

Os primeiros baralhos tinham 52 cartas, como o baralho moderno, porém sem curingas. Ainda no século XIV, surgiu o jogo de tarô, no norte da Itália, quando foram adicionadas 26 cartas no baralho resultando no tarô de 78 cartas.

Segundo alguns autores, o baralho francês representava os quatro pilares da sociedade medieval:

♦ Ouro (diamante): o rei ou a monarquia ♦

♠ Espadas (lança): o exército ou os cavaleiros ♠

♥ Copas (coração): a Igreja ou o clero ♥

♣ Paus (trevo): os servos ♣

O xadrez teve origem na Índia por volta do século VI num formato primitivo com regras diferentes das atuais. Da Índia difundiu-se na Pérsia e foi levado ao Ocidente pelas caravanas árabes, chegando à Espanha muçulmana no século X. As regras do jogo  sofreram modificações na Europa e por volta de 1475 chegaram ao jogo como é hoje conhecido.

Jogado por reis, damas e cavaleiros, o xadrez tornou-se passatempo sofisticado da aristocracia, sendo, desde o início, considerado um jogo de inteligência.

Templários disputando uma partida de xadrez. Iluminura do manuscrito “Libro de los Juegos”, de 1283.

Homens jogando gamão, outro jogo medieval que chegou aos nossos dias. Detalhe da pintura mural do Castelo de Issogne, Aosta, século XV.

10. Botões, meias e calças compridas mudam a vestimenta

Botões já eram usados como ornamento pela civilização do Vale do Indo em 2000 a.C. Eram feitos de madrepérola esculpida e perfurada, e costurados às roupas sem a função de prendê-las, mas apenas enfeitá-las. Na Grécia, Roma antiga e em Bizâncio, as roupas, capas e mantos eram presos com alfinetes de segurança chamados fíbulas.

O botão como conhecemos hoje surgiu na Idade Média e sua primeira menção literária é do século XII no poema “Canção de Rolando”. A partir do século XIII, ele se espalha pela Europa servindo para prender ou fechar roupas.

Feitos de madrepérola, ouro e prata, os botões eram produzidos por ourives e vendidos em joalherias. Eles permitem vestir roupas mais justas. As roupas folgadas foram substituídas por trajes ajustados modificando a silhueta da mulher que ficou mais esguia. O corpo masculino é destacado por um gibão apertado, uma espécie de jaqueta acolchoada.

Os botões permitem também desabotoar as mangas e decotes e mostrar o corpo. Outra novidade: as mangas podiam ser removidas do vestido e trocadas quando sujas ou dependendo das atividades do dia. As damas costumavam oferecer uma manga a seu cavaleiro predileto, que a amarrava como um estandarte esvoaçante (FRUGONI, 2007).

As calças compridas masculinas foi outra herança da Idade Média. Os antigos gregos não as usavam, considerando-as ridículas. Os romanos as viam como moda dos “bárbaros”. Foi só no final do Império Romano, no século IV, que o exército romano entendeu a utilidade das calças e passou a utilizá-las. A calça comprida foi se impondo e tornou-se comum no vestuário masculino medieval.

Surgiram, também, as meias masculinas que cobriam toda a perna e tinham solas servindo como calçados. Podiam ser pares avulsos que eram presos com tiras na cintura ou uma peça única, tipo uma meia-calça.

O jovem veste o seu gibão que é ajustado ao corpo por muitos botões na frente e na manga. Detalhe da pintura mural do castelo de Issogne, Aosta, Itália, século XV.

Servos usando calças, iluminuras do século XIII (à esquerda) e XII (à direita). A figura à extrema esquerda usa meias verdes, um modelo semelhante à meia calça do século IV, exposta em museu da Alemanha (centro).

Fonte

  • FRUGONI, Chiara. Invenções da Idade Média. Jorge Zahar Editor.
  • GIMPEL, Jean. A Revolução Industrial da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
  • MATTHIES, Andrea L. The medieval wheelbarrow. Technology and Culture, Johns Hopkins University Press, v. 32, n.2, parte 1, abril 1991, o. 356-364.
  • QUENEAU, Jacqueline. La grande histoire des arts de la table. Paris: Aubanel.
  • WRIGHT, Clifford A. The History of Macaroni. Clifford A Wright.com, publicado em 19 dez 2021.
  • HISTORIA DA MASSA.
  • Petite histoire du bouton, des origines au début du XVIIIe siècle. Les Petites Mains. Histoire de mode enfantine.

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