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O jogo com a morte: luta de gladiadores em Roma Antiga

12 de setembro de 2024

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O gladiador era um lutador profissional no Império Romano que lutava em exibições públicas nos anfiteatros, às vezes até a morte, para a diversão do público romano. O termo gladiador é referência à palavra em latim gladius, nome da espada curta que utilizava na luta.

As lutas de gladiadores não era apenas um entretenimento, mas também um investimento de contratadores que treinavam os gladiadores e organizavam apostas, e serviam de exibição dos valores bélicos além de modelo de bravura masculina em Roma antiga. Lutando ou morrendo, os gladiadores eram exemplos das virtudes romanas: honra, coragem, força, desejo de vencer, desprezo pela morte.

A origem etrusca da luta de gladiadores

A civilização etrusca que floresceu na Itália central entre os séculos VIII e III a.C. deixou um grande legado a Roma como o uso de certas vestimentas, práticas religiosas, arquitetura e os jogos de gladiadores

A luta de gladiadores tinha um significado religioso para os etruscos e estava associada aos ritos funerários. Mesmo depois que esses elementos desapareceram, restaram alguns vestígios das origens religiosas. Um deles era o ato de matar o gladiador ferido o que era feito por um escravo representando Mercúrio (Hermes), o deus mensageiro que acompanhava as almas para o submundo. A presença do próprio Imperador divino, acompanhado por sacerdotes e pelas virgens Vestais, também emprestava um certo ar religioso às competições.

Entretenimento e ostentação

Os jogos de gladiadores eram uma oportunidade para imperadores e patrícios ricos exibirem sua riqueza para a população, para comemorar vitórias militares, saudar a visita de autoridades importantes, celebrar aniversários ou simplesmente para distrair a população dos problemas políticos e econômicos do dia.

Era eventos extremamente populares, realizados em arenas enormes construídas em todo império, como o Coliseu ou anfiteatro Flaviano, o maior de todos. Trinta, quarenta ou até cinquenta mil espectadores de todas as camadas sociais romana aglomeravam-se para se divertir com espetáculos sangrentos onde animais selvagens e exóticos eram caçados, prisioneiros eram executados, mártires religiosos eram jogados aos leões e os gladiadores, as grandes estrelas dos espetáculos, empregavam todas as suas habilidades marciais em uma competição de matar ou morrer.

Mosaico romano representando dois gladiadores chamados Simmachius e Maternus, observados pelos lanistas, seus treinadores. Acima,  está inscrito Maternus, com um O cortado por um traço, uma abreviação de OBIIT ou morte indicando que ele morreu e  jaz derrotado, e Symmachus, com a inscrição HOMO FELIX, um homem afortunado, o vitorioso. Século III d.C. Museu Arqueológico Nacional da Espanha, Madri.

Quem eram os gladiadores

Os gladiadores vinham, geralmente, de uma origem escrava ou criminosa, mas havia também muitos prisioneiros de guerra obrigados a se apresentar nas arenas. Mais raros, mas não incomum, era o caso de patrícios falidos forçados a ganhar a vida pela espada, por exemplo, Semprônio, um descendente do poderoso clã Graco.

Cidadãos livres também podiam se inscrever para se tornarem gladiadores renunciando à sua liberdade. O motivo para esta decisão pode ter sido o fato do gladiador só ter de lutar 1 ou 3 vezes por ano, ser bem cuidado no resto do tempo, receber uma boa alimentação e ainda ter disponível um excelente atendimento médico. Um dos mais famosos médicos da antiguidade, Galeno, ganhou experiência atendendo lutadores na escola de gladiadores de Pérgamo.

Também é digno de nota a existência de mulheres gladiadoras e os nomes de duas chegaram aos nossos dias: Amazona e Achilla. Gladiadoras eram, porém, exceção e elas contradiziam as virtudes masculinas romanas. São conhecidas apenas duas representações de gladiadoras encontradas na cidade turca de Bodrum, e que se encontram no Museu Britânico. Em 200 d.C., o imperador Sétimo Severo proibiu o uso de mulheres gladiadoras.

Gladiadora romana com os seios nus e uma tanga segurando um objeto semelhante a uma foice na mão esquerda. É uma das duas representações conhecidas de gladiadoras, bronze, século II d.C., Museu Britânico.

Escolas de gladiadores

Havia escolas de gladiadores (ludus gladiatorius) em todo o Império e as de Cápua e Ravena eram as mais famosas pela qualidade de seus gladiadores. Em Roma, tinham quatro escolas de gladiadores, todas propriedades do Estado romano. A maior escola de Roma chamava-se Ludus Magnus e estava ligada por um túnel ao anfiteatro Flaviano, mais tarde conhecido como Coliseu.

Agentes percorriam o império em busca de potenciais gladiadores para atender à demanda cada vez maior e preencher as escolas de treinamento que deviam ter uma enorme rotatividade de lutadores.

As condições nas escolas eram semelhantes a qualquer outra prisão com celas pequenas, correntes e algemas para manter os “estudantes” presos. Os treinadores eram geralmente lutadores antigos e experientes. Os treinos eram feitos com espadas de madeira, às vezes mais pesadas do que as de metal e não eram muito diferentes dos treinos realizados pelos legionários nos quartéis.

Expectativa de vida de um gladiador

Há poucos dados confiáveis ​​sobre as chances de um gladiador sair vivo da arena. Certamente, os gladiadores teriam uma expectativa de vida bem abaixo da média dos cidadãos romanos comuns.

De acordo com avaliações das lápides funerárias, a idade média em que morriam era 27 anos. Isso considerando que apenas os mais bem-sucedidos recebiam uma lápide. A maioria morria no início da carreira e era enterrada anonimamente ou colocada em valas comuns.

A cada luta, aumentava a popularidade e a experiência do gladiador. Um gladiador experiente com muitos seguidores tinha mais chances de ser perdoado pelo público ou pelo organizador do jogo se perdesse a luta. Era do interesse do público a sobrevivência de um lutador experiente – essa era a única maneira de garantir combates emocionantes no futuro. Segundo as inscrições no túmulo de um gladiador enterrado na Sicília, este gladiador venceu 21 das 34 lutas, nove lutas terminaram empatadas e nas quatro que perdeu o público o perdoou.

Os gladiadores eram pagos?

Gladiadores eram lutadores profissionais, mas não eram livres. Contudo, era costumes dar a eles uma parte do prêmio em dinheiro. Não havia uma proporção para isso, era decisão do dono quanto dinheiro eles receberiam ao final da luta.

O valor da recompensa em dinheiro podia ser maior do que o pagamento de um legionário e isso atraía endividados que se voluntariavam como gladiadores na esperança de se livrarem das dívidas.

Com o dinheiro, o gladiador tinha alguma chance de comprar a liberdade se sobrevivesse por um longo período de tempo. Os gladiadores libertos recebiam um bastão ou espada de madeira (rudis).

Mosaico romano mostrando um gladiador retiário (lutador de rede) chamado Kalendio contra seu adversário chamado Astyanax. O lanista, mestre dos gladiadores, os aplaude. O resultado da luta está inscrito acima: a palavra VICIT (“vencedor”) aparece ao lado de Astyanax, e ao lado do nome de Kalendio há um O cortado por um traço, uma abreviação de OBIIT ou morte. Século III d.C. Museu Arqueológico Nacional da Espanha, Madri.

Como viviam os gladiadores libertados?

Com o rudis, seu símbolo de liberdade, o gladiador recém-libertado poderia começar uma nova carreira como treinador de futuros lutadores, tornando-se um lanista ou mestre gladiador. O lanista era proprietário de vários gladiadores, alugando-os para espetáculos. Percorria cidades com sua trupe (familia gladiatoria) oferecendo seus lutadores para patrícios ricos e autoridades interessados em promover jogos.

Além disso, muitos membros da elite romana consideravam elegante serem treinados a lutar por um lutador experiente, semelhante à forma como se aprende uma arte marcial hoje. Usar gladiadores como guarda-costas dava prestígio e mantinha potenciais inimigos afastados.

Às vezes, gladiadores veteranos, chamados rudiarii, retornavam para uma luta final. O imperador Tibério organizou jogos comemorativos em homenagem a seu avô, Druso, nos quais ele convocou alguns gladiadores aposentados a comparecerem pagando a cada um deles cem mil sestércios.

Classes de gladiadores e armas

Além do gládio, havia uma ampla variedade de armas empregadas nos jogos de gladiadores. Todos, porém lutavam com o peito nu, inclusive as mulheres ficavam com os seios despidos. Mas podiam usar capacetes e protetores para braços e pernas, além de um cinto de metal destinado a segurar a tanga. Havia, ainda, aqueles que iam para luta completamente nus.

Armas e equipamentos dependiam da classe a que o gladiador pertencia. As quatro classes mais conhecidas eram: samnita, trácio, murmillo e retiário.

Os samnitas, o tipo mais antigo de gladiador, receberam esse nome dos grandes guerreiros samnitas que Roma combateu e venceu nos primeiros anos da República. Era o gladiador mais fortemente armado: tinha uma espada curta de dois gumes (gladius) ou lança, um grande escudo retangular (scutum) e armadura protetora no braço direito e na perna esquerda.

Os trácios eram guerreiros vindos da província Trácia, nos Bálcãs. Tinham uma espada curva (sica) e um escudo quadrado ou redondo pequeno (parma), uma proteção no braço direito. Seu elmo (capacete) possuía uma crina inclinada para trás, e na ponta era esculpido uma cabeça de grifo.

O murmillo possuia este nome devido ao peixe (murma) esculpido em seu capacete. Lutava com a espada de dois gumes (gladius) e usava um grande e pesado escudo retangular (scutum).

O retiário lutava com uma rede e tridente lançando a rede para imobilizar seu adversário e, então, o golpear com seu tridente. Não usava capacete e tinha apenas uma proteção no braço e o galerus, uma placa de bronze no ombro.

Os quatro tipos de gladiadores mais populares no Império Romano.

Havia ainda os eques que lutavam montados a cavalo. Utilizavam espada curta ou lança, junto a um escudo redondo pequeno. Lutavam contra outros eques, simulando batalhas de cavalaria.

Aqueles que se recusavam a lutar, eram convencidos pelo lanista e sua equipe de escravos que os puniam com chicotes com pontas de metal em brasa.

Houve um caso famoso de recusa: nos jogos de gladiadores organizados por Quintus Aurelius Symmachus, em 401 d.C., os prisioneiros germânicos que estavam programados para lutar decidiram, em vez disso, estrangular uns aos outros em suas celas para não servirem de espetáculo à população romana.

As regras da gladiatura

A luta na arena, a chamada gladiatura, não era uma luta corpo a corpo selvagem, mas uma arte marcial sujeita a regras precisas. A luta geralmente era observada por dois árbitros. Eles também decidiam por pausas quando ambos os lutadores ficavam muito exaustos ou as correias do equipamento se soltavam.

Uma das tarefas essenciais dos árbitros era evitar que um gladiador que se rendesse fosse exposto a novos ataques do seu adversário. Uma luta podia terminar de quatro maneiras:

  1. pela morte de um dos adversários durante a luta;
  2. pela execução de um derrotado a pedido do público ou do organizador do jogo;
  3. pela rendição de um dos lutadores e perdão do gladiador pelo público ou pelo organizador do jogo (a chamada missio);
  4. pela decisão de que a batalha terminou empatada (stantes missi). Essa era forma mais rara e mais gloriosa de encerrar uma luta.

A morte de um gladiador não encerrava, necessariamente a luta. Entrava na arena um escravo vestido de Mercúrio que, com um gancho, arrastava o corpo do lutador morto para fora da arena. O organizador dos jogos tinha que trazer um novo gladiador para dar continuidade ao espetáculo.

Um gladiador derrotado implorava por misericórdia estendendo o dedo indicador ou depondo as armas. O árbitro recorria então ao organizador dos jogos ou ao imperador se estivesse presente para fazer o julgamento. No entanto, geralmente essa decisão era deixada para os espectadores.

Polegar para cima ou para baixo?

No imaginário popular, os espectadores condenavam à morte se apontassem o polegar para baixo, ou seja, na direção ao submundo. Não há, porém, certeza disso.

O gesto é mencionado apenas em dois textos antigos (o satírico romano Juvenal e o poeta cristão Prudentius) que usam a expressão pollice verso ou verso pollice, que significa, em latim, “com o polegar virado” para denominar o gesto usado nas lutas de gladiadores. Os autores, porém, não dão detalhes sobre a posição do polegar: se virado para cima ou para baixo, se ficava na horizontal ou se era escondido na própria mão, para indicar um julgamento positivo ou negativo.

Não há ilustrações conhecidas da época romana. Na cultura popular moderna, a interpretação do gesto do polegar para baixo é frequentemente entendida como condenação. A famosa pintura de Jean-Leon Gerome, chamada Pollice verso, de 1872, reforçou a percepção posterior dos jogos de gladiadores.

Detalhe da pintura “Pollice Verso”, de Jean-Leon Gerome (1872) mostrando as vestais e o público com o polegar virado para baixo.

Há, contudo, outra hipótese: o polegar virado para cima indicaria que o gladiador deveria ser condenado à morte; se estivesse para baixo, seria poupado.

Também é concebível que o golpe mortal fosse simbolizado por um polegar direcionado contra o peito ou a garganta, uma vez que o golpe mortal era desferido com a espada da clavícula até o coração.

O que os espectadores romanos gritavam nesses momentos está mais claramente documentado: se eles gritassem mitte (“deixe-o ir”) ou missum, então o gladiador derrotado poderia deixar a arena vivo. Gritar iugula (“execute”), por outro lado, anunciava o fim do gladiador por execução.

Esperava-se que o gladiador derrotado se ajoelhasse no chão e recebesse o golpe final no pescoço ou entre as omoplatas. Isso era praticado nas escolas de gladiadores.

O vencedor recebia um ramo de oliveira e uma quantia em dinheiro e saia da arena pela Porta Sanavivaria, a Porta da Saúde e da Vida. Os mortos, por outro lado, eram carregados pela Porta Libitinaria – o portão de Vênus Libitina, a deusa da morte e do sepultamento.

Gladiadores famosos: Espártaco e Cômodo

Talvez o gladiador mais famoso tenha sido Espártaco, um trácio que, em 73 a.C., liderou uma revolta de gladiadores e escravos de Cápua, importante escola de gladiadores na Itália. Espártaco fugiu com  dezenas de companheiros e montou um acampamento defensivo nas encostas do Vesúvio. Os rebeldes devastaram o interior da Campânia, cooptando seguidores à medida que avançavam e treinando-os em uma força de combate eficiente que derrotou quatro exércitos romanos em nove combates.

Espártaco e seus homens só foram submetidos pelas legiões de Marco Licínio Crasso depois de dois anos de combate. Aprisionados, foram crucificados ao longo da Via Ápia entre Cápua e Roma. Em consequência desse episódio perturbador, o Senado ordenou que o número de gladiadores de propriedade de cidadãos particulares fosse estritamente controlado.

Outro gladiador famoso não era um profissional: foi o imperador Cômodo (reinado 180-192 d.C.). Cômodo era um entusiasta, louco o suficiente para competir na arena e fazia questão de ganhar um salário fantástico por suas aparições no Coliseu. Vestido de Mercúrio, teria participado de centenas de lutas na arena. Segundo Cássio Dião:

“Cômodo dedicava a maior parte da sua vida ao ócio, aos cavalos e aos combates de bestas selvagens e lutas entre homens. De fato, além de tudo isto que ele fazia em particular, ele frequentemente matou em público um grande número de homens e animais. Por exemplo, usando apenas as próprias mãos, ele eliminou cinco hipopótamos junto com dois elefantes em dois dias seguidos; e ele também matou rinocerontes e um camelo”.

As próprias fontes do período mencionam que as exibições de Cômodo eram arranjadas e seus oponentes não tinham a menor chance, combatendo com armas de brinquedo e os animais selvagens eram amarrados, apenas para serem impiedosamente abatidos pelo imperador. As fontes concordam, não obstante, que Cômodo era um excelente arqueiro, capaz, entre outras proezas de acertar de longe a cabeça de um avestruz correndo à toda velocidade.

O fim dos jogos de gladiadores

As disputas de gladiadores foram perdendo popularidade à medida que o cristianismo se expandia e fortalecia no império.  Nos séculos II e III, os jogos receberam fortes críticas dos escritores cristãos que, entre outras coisas, referiram-se à proibição bíblica de matar.

Isso não impediu que o bispo Agostinho de Hipona, doutor da igreja cristã, comparasse a atitude inabalável dos gladiadores diante da morte com a dos cristãos e apelou aos seus irmãos de fé para terem um “espírito gladiador”.

É possível que a razão para o declínio dos jogos de gladiadores não sejam considerações humanitárias, mas porque esses espetáculos, que encenavam a virtude e a coragem de morrer, eram vistos como uma competição inadequada com a própria fé cristã. Em 325 d.C., o imperador Constantino emitiu pela primeira vez um édito dirigido aos governadores das províncias orientais:

“Em tempos em que há paz e calma política interna, não queremos manifestações sangrentas. É por isso que decretamos que não pode haver mais gladiadores. Aqueles que anteriormente foram condenados a se tornarem gladiadores por causa de seus crimes agora devem trabalhar nas minas. Desta forma, pagarão a pena pelos seus crimes sem ter que derramar o seu sangue.”

No entanto, as lutas de gladiadores permaneceram muito populares ao longo do século IV e proporcionaram importantes oportunidades de representação para imperadores e dignitários. Mas, tornou-se cada vez mais difícil encontrar gladiadores e, por isso, legionários veteranos foram cooptados até que essa prática também foi proibida.

Finalmente em 404 d.C., o imperador Honório proibiu os jogos de gladiadores em todo império. Ele já havia fechado as escolas de gladiadores cinco anos antes. Segundo a tradição, a motivação foi um episódio dramático: um certo Telêmaco, um monge cristão da Ásia Menor, saltou entre dois gladiadores para impedir o derramamento de sangue e a multidão indignada apedrejou o monge até a morte. Honório, em consequência, proibiu formalmente as disputas de gladiadores.

Continuaram, porém, as lutas de condenados com animais selvagens (venationes), contra as quais havia muito menos reservas do lado cristão. Juntamente com as corridas de bigas, permaneceram eventos extremamente populares até o final da antiguidade tardia, no século VI.

Sem dúvida, muitos lamentaram a perda de uma diversão que era parte dos costumes romanos, mas o fim desse mundo estava próximo, pois, apenas seis anos depois, os visigodos liderados por Alarico saquearam Roma, a cidade eterna.

Gladiadores lutando com um leão. As “venationes”, caçadas de animais nos anfiteatros, eram feitas antes dos combates de gladiadores. Eram usados leões, elefantes, ursos, veados, cabras selvagens, rinocerontes e camelos. Milhares de animais podiam ser mortos num só dia.

Fonte

  • CARTWRIGHT, Marca. Roman gladiator. Enciclopédia de História Mundial. 3 maio 2018,
  • FERREIRA, Kimon S. B. Mañas, Alfonso. Gladiadores: el gran espectáculo de Roma. (resenha). Coletânea, Rio de Janeiro, ano XIV, fascículo 27, p. 204-210, jan-jun 2015.
  • OWEN, James. Raro, mas mortal: as gladiadoras de Roma. National Geographic, 9 ago 2018.
  • CARTER, M. J. Combate de gladiadores: as regras de luta. The Classical Journal, V. 102, C.2, p. 97-114, dez-jan 2006/2007
  • CARTER, M. J. 2011. Accepi ramum: gladiatorial palms and de Chavagnes Gladiator Cup. La Revue Latomus, p. 438-441, jun 2006.
  • REID, L. Heather. Was the Roman gladiator an athlete? Taylor & Francis. Journal of the Philosophy of Sport 33(1):37-49, 2006.
  • GILL, N. S. O rudis: o símbolo da liberdade de um gladiador romano. ThoughtCo. 14 fev. 2019

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