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Coliseu: a fabulosa engenharia de Roma Antiga

9 de abril de 2022

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BNCC

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A engenharia romana ainda surpreende os especialistas por sua ousadia, recursos técnicos, tecnologia e sua incrível resistência e durabilidade. O que hoje está em ruínas foi causado por ação humana com a intenção de destruir ou de extrair material para outras construções.

Anfiteatros, circos, termas, teatros, basílicas, templos, aquedutos, colunas e arcos triunfos, pontes e estradas eram obras públicas da engenharia que aliavam beleza e luxo à utilidade. Eram obras feitas para o usufruto dos cidadãos e, ao mesmo tempo, destinadas a marcar a presença do Estado, o poder e riqueza do Império.

A engenharia romana serviu de referência para nossos dias. O Coliseu, por exemplo, é modelo de engenharia para todos estádios esportivos do mundo atual. A eficiência dos materiais e técnicas empregadas, a solução de problemas de topografia, iluminação e ventilação natural, a precisão dos cálculos e tantos outros elementos causam profunda admiração nos engenheiros de hoje.

Coliseu em foto aérea, 2021.

Coliseu, o maior anfiteatro romano

Entre as obras mais icônicas da engenharia de Roma Antiga está o Coliseu, nome popular do Anfiteatro Flávio, homenagem à família Flávia do imperador Vespasiano, que o mandou construir. Uma colossal estátua de Nero colocada nas proximidades, originou-lhe o apelido Colosseum (hoje Coliseu).

Depois de oito anos de construção, o Coliseu foi inaugurado em 80 d.C. Funcionou como arena por quase 450 anos. Testemunho do alto nível da arquitetura romana na antiguidade, ele foi o maior anfiteatro do Império Romano.

Segundo o historiador Cássio Dio (século II), o Coliseu foi inaugurado em 21 de abril do ano 80 com 100 dias de jogos, incluindo gladiadores, batalhas navais simuladas, caçadas de animais onde 5 mil animais foram mortos na arena.

Ficha técnica do Coliseu

  • Formato de elipse: 188 m de comprimento x 156 m de largura
  • Circunferência: 527 m.
  • Arena: 87,5 m de comprimento x 55 m de largura.
  • Altura: 48 m (4 andares apoiados em pilastras e arcos.
  • Material de construção: tijolo, argamassa e areia.
  • Revestimento externo: mármore travertino.
  • Capacidade para 50 mil pessoas acomodadas em arquibancadas.
  • 76 entradas para as pessoas comuns (cavaleiros, patrícios, clientes e plebeus).
  • 4 entradas exclusivas das autoridades: imperador, senadores, vestais e sacerdotes.

O fato do edifício estar localizado em um terreno pantanoso tornou necessário escavar até 14 metros de lodo inutilizável e fazer uma fundação de quase 13 metros de altura e 7 metros de largura com pedras e argamassa.

O lugar de cada categoria social nas arquibancadas do Coliseu.

As pessoas sentavam nas arquibancadas de acordo com seu lugar na hierarquia social: mulheres, plebeus e escravos nas arquibancadas superiores, enquanto o imperador, os senadores e as vestais ficavam no primeiro andar, ao redor da arena. Um lugar de honra era reservado para o editor, a pessoa que organizava e pagava os jogos. Muitas vezes, o editor era o próprio imperador, que se sentava no camarote imperial no centro da longa curva norte do estádio, onde todas as suas reações eram examinadas pelo público.

No centro ficava a arena, palavra derivada do latim que significa “areia”, material que revestia o pavimento de tábuas de madeira que podiam ser removidas. Na arena, eram travadas as lutas de gladiadores e feras. A forma redonda tinha como objetivo evitar que gladiadores, condenados à morte ou animais caçados se abrigassem em um canto.

Os porões do Coliseu

Abaixo do piso da arena fica uma vasta estrutura subterrânea chamada hypogeum, palavra grega que significa “porão”. Originalmente, não havia nada construído no hipogeu. Depois de remover as tábuas de madeira, o espaço poderia ser inundado transformando-se em um lago para as naumachiae, as batalhas navais simuladas com navios de menor escala. Elas ocorreram na inauguração do Coliseu, no reinado de Tito.

Acredita-se que foi Domiciano, irmão e sucessor de Tito, que mandou construir diferentes salas, corredores, celas, túneis dispostos em dois andares. Ali foram instaladas as masmorras dos condenados à morte, as jaulas para animais selvagens e as instalações das máquinas de palco como alçapões, rampas e elevadores.

Cenários inteiros podiam ser transportados para a arena com a ajuda de um complexo sistema de guinchos, polias, cabos e contrapesos. Para a surpresa dos espectadores, por exemplo, uma floresta completa ou uma paisagem desértica pode surgir do solo em poucos minutos. Uma jaula com um urso, leopardo ou leão podia ser erguida e o animal entrava direto na arena.

O hipogeu foi reformado muitas vezes durante os cinco séculos de funcionamento do Coliseu, e pode-se distinguir pelo menos doze fases diferentes de construção. Ele estava conectado por túneis subterrâneos a vários pontos fora do Coliseu. Por esses túneis, os animais, seus treinadores e gladiadores podiam chegar às jaulas e celas. Túneis especiais estavam reservados para o imperador e as virgens vestais, para que pudessem atingir seus camarotes sem se misturarem com a multidão.

Vista do interior do Coliseu e do hipogeu, os subterrâneos. Ao fundo, parte do piso de madeira de arena reconstruída.

Os jogos realizados no Coliseu

O Coliseu era um anfiteatro para jogos que incluíam lutas de gladiadores, caçadas de animais, lutas entre animais e de gladiadores com animais. As apresentações duravam o dia todo.

A primeira parte dos jogos era dedicada ao venatio, a caça aos animais selvagens, que ocupava a maior parte da manhã. Animais de todo império apareciam na arena: urso, leopardo, leão, elefante, girafa, rinoceronte, hipopótamo, veado, cabra selvagem, crocodilo, gnu, avestruz etc. Era preciso colocar anteparos nas arquibancadas para proteger os espectadores de possíveis saltos das feras. Dezenas de milhares de animais foram mortos no Coliseu.

Para dar mais emoção, os animais eram lançados à arena de diferentes maneiras. Podiam surgir de repente vindos de baixo ou lançados ao ar. O caçador na arena não sabia onde o leão poderia aparecer, ou se dois ou três leões poderiam surgir em vez de apenas um.

Leopardo atacando um condenado, mosaico romano, século III d.C., Museu Arqueológico da Tunísia.

As lutas de gladiadores começavam e acabavam pelas portas colocadas ao extremo do anfiteatro: o gladiador vitorioso saia da arena pela Porta Triumphalis (porta triunfal), o derrotado era retirado pela Porta Libitinesis, nome derivado de Libitina, deusa da morte e dos cadáveres.

Ao contrário do que o senso comum acredita, o Coliseu não foi palco do martírio cristão, no contexto das perseguições aos cristãos.  Não há evidências históricas sobre isso. Também é totalmente infundada a afirmação de que Nero teria mandado executar cristãos no Coliseu, acusados de terem provocado o incêndio de Roma. O Coliseu sequer tinha sido construído na época de Nero, cujo governo foi de 54 d.C. a 68 d.C.

Conforto para os espectadores

Para proteger o público do sol forte ou da chuva, o Coliseu possuía uma enorme cobertura de tecido, o velarium ou velum um tipo de toldo que era estendido por um sistema de cordas e roldanas. O velarium era sustentado por 240 mastros verticais no topo do Coliseu.  As cordas corriam por esses mastros até o exterior do Coliseu onde eram amarradas em 160 colunas de pedras.

O tecido era costurado a partir de várias peças de lona, cada uma cortada em tamanho diferente devido à planta elíptica. O velarium era operada por cerca de cem hábeis marinheiros da frota imperial estacionada em Misenum, no golfo de Nápoles. Eles eram especialmente chamados a Roma para essa tarefa. Com ventos fortes demais, o velarium tinha que ser rapidamente recolhido para evitar que a estrutura desmoronasse e colocasse o público em risco.

Além do velarium, o público desfrutava também de sparsiones (“aspersão”), névoa perfumada com bálsamo ou açafrão para se refrescar nos dias mais quentes.

Maquete do Coliseu com o “velarium” estendido.

Maquete do anfiteatro romano de Arles com o “velarium” parcialmente aberto.

O que aconteceu com o Coliseu?

No ano 404 d.C., com a mudança dos tempos e dos costumes (o cristianismo era, então, a religião oficial do Império Romano), os jogos do Coliseu foram proibidos pelo imperador Honório, embora tenha sido mantida a condenação aos criminosos de lutarem contra animais selvagens por mais um século.

O edifício foi danificado por um terremoto em 422 e reparado pelos imperadores Teodósio II e Valentiniano III. Reparações também foram feitas em 467, 472 e 508.

No século VI foi utilizado como cemitério e ali se construiu  a igreja de Santa Maria della Pietà al Colosseo em seu interior.

Em 847, a estrutura foi seriamente danificada por um terremoto, e novamente em 1231 e em 1341 que colapsou o lado externo sul construído sobre solo aluvial instável.

Nos séculos XII e XIII tornou-se um castelo-fortaleza das famílias Frangipani, posteriormente demolido.

Os blocos de mármore travertino foram sistematicamente removidos nos séculos XV e XVI, quebrados e enviados para os fornos de cal para novas construções. Consta que, em somente no ano de 1451, foram levadas do Coliseu 2.500 carroças carregadas de mármore travertino por ordem do papa Nicolau V. As estátuas que o decoravam tiveram o mesmo fim. Os grampos de ferro que seguravam os blocos desapareceram.

Somente em 1744, o Papa Bento XIV proibiu a remoção da alvenaria do Coliseu. Pouco depois, o edifício foi consagrado em memória dos mártires cristãos que ali perderam a vida. Isso não impediu, porém, que os habitantes locais utilizassem o Coliseu como estábulo para animais e que a vegetação crescesse em meio às ruínas.

A igreja Santa Maria della Pietà al Colosseo ainda continua no interior do anfiteatro e foi visitada por Goethe em sua viagem à Itália em 1787.

Igreja de Santa Maria della Pietà al Colosseo construída num dos arcos do Coliseu. Ainda hoje ali se celebra missa aos sábados e domingos. Pintura de Christoffer W. Eckersberg, 1815.

No século XIX, a sorte do outrora grande anfiteatro começou a melhorar. As autoridades papais tentaram restaurar algumas partes do edifício, especialmente as extremidades oriental e ocidental, esta última apoiada por um enorme contraforte. Finalmente, em 1871, o arqueólogo italiano Pietro Rosa removeu todos os acréscimos pós-romanos para revelar, apesar da sua degradação, um monumento ainda magnífico, um testemunho comovente e duradouro das habilidades e dos vícios do mundo romano.

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