A engenharia romana ainda surpreende os especialistas por sua ousadia, recursos técnicos, tecnologia e sua incrível resistência e durabilidade. O que hoje está em ruínas foi causado por ação humana com a intenção de destruir ou de extrair material para outras construções.
Anfiteatros, circos, termas, teatros, basílicas, templos, aquedutos, colunas e arcos triunfos, pontes e estradas eram obras públicas da engenharia que aliavam beleza e luxo à utilidade. Eram obras feitas para o usufruto dos cidadãos e, ao mesmo tempo, destinadas a marcar a presença do Estado, o poder e riqueza do Império.
A engenharia romana serviu de referência para nossos dias. O Coliseu, por exemplo, é modelo de engenharia para todos estádios esportivos do mundo atual. A eficiência dos materiais e técnicas empregadas, a solução de problemas de topografia, iluminação e ventilação natural, a precisão dos cálculos e tantos outros elementos causam profunda admiração nos engenheiros de hoje.
Coliseu, o maior anfiteatro romano
Entre as obras mais icônicas da engenharia de Roma Antiga está o Coliseu, nome popular do Anfiteatro Flávio, homenagem à família Flávia do imperador Vespasiano, que o mandou construir. Uma colossal estátua de Nero colocada nas proximidades, originou-lhe o apelido Colosseum (hoje Coliseu).
Depois de oito anos de construção, o Coliseu foi inaugurado em 80 d.C. Funcionou como arena por quase 450 anos. Testemunho do alto nível da arquitetura romana na antiguidade, ele foi o maior anfiteatro do Império Romano.
Segundo o historiador Cássio Dio (século II), o Coliseu foi inaugurado em 21 de abril do ano 80 com 100 dias de jogos, incluindo gladiadores, batalhas navais simuladas, caçadas de animais onde 5 mil animais foram mortos na arena.
Ficha técnica do Coliseu
- Formato de elipse: 188 m de comprimento x 156 m de largura
- Circunferência: 527 m.
- Arena: 87,5 m de comprimento x 55 m de largura.
- Altura: 48 m (4 andares apoiados em pilastras e arcos.
- Material de construção: tijolo, argamassa e areia.
- Revestimento externo: mármore travertino.
- Capacidade para 50 mil pessoas acomodadas em arquibancadas.
- 76 entradas para as pessoas comuns (cavaleiros, patrícios, clientes e plebeus).
- 4 entradas exclusivas das autoridades: imperador, senadores, vestais e sacerdotes.
O fato do edifício estar localizado em um terreno pantanoso tornou necessário escavar até 14 metros de lodo inutilizável e fazer uma fundação de quase 13 metros de altura e 7 metros de largura com pedras e argamassa.
As pessoas sentavam nas arquibancadas de acordo com seu lugar na hierarquia social: mulheres, plebeus e escravos nas arquibancadas superiores, enquanto o imperador, os senadores e as vestais ficavam no primeiro andar, ao redor da arena. Um lugar de honra era reservado para o editor, a pessoa que organizava e pagava os jogos. Muitas vezes, o editor era o próprio imperador, que se sentava no camarote imperial no centro da longa curva norte do estádio, onde todas as suas reações eram examinadas pelo público.
No centro ficava a arena, palavra derivada do latim que significa “areia”, material que revestia o pavimento de tábuas de madeira que podiam ser removidas. Na arena, eram travadas as lutas de gladiadores e feras. A forma redonda tinha como objetivo evitar que gladiadores, condenados à morte ou animais caçados se abrigassem em um canto.
Os porões do Coliseu
Abaixo do piso da arena fica uma vasta estrutura subterrânea chamada hypogeum, palavra grega que significa “porão”. Originalmente, não havia nada construído no hipogeu. Depois de remover as tábuas de madeira, o espaço poderia ser inundado transformando-se em um lago para as naumachiae, as batalhas navais simuladas com navios de menor escala. Elas ocorreram na inauguração do Coliseu, no reinado de Tito.
Acredita-se que foi Domiciano, irmão e sucessor de Tito, que mandou construir diferentes salas, corredores, celas, túneis dispostos em dois andares. Ali foram instaladas as masmorras dos condenados à morte, as jaulas para animais selvagens e as instalações das máquinas de palco como alçapões, rampas e elevadores.
Cenários inteiros podiam ser transportados para a arena com a ajuda de um complexo sistema de guinchos, polias, cabos e contrapesos. Para a surpresa dos espectadores, por exemplo, uma floresta completa ou uma paisagem desértica pode surgir do solo em poucos minutos. Uma jaula com um urso, leopardo ou leão podia ser erguida e o animal entrava direto na arena.
O hipogeu foi reformado muitas vezes durante os cinco séculos de funcionamento do Coliseu, e pode-se distinguir pelo menos doze fases diferentes de construção. Ele estava conectado por túneis subterrâneos a vários pontos fora do Coliseu. Por esses túneis, os animais, seus treinadores e gladiadores podiam chegar às jaulas e celas. Túneis especiais estavam reservados para o imperador e as virgens vestais, para que pudessem atingir seus camarotes sem se misturarem com a multidão.

Vista do interior do Coliseu e do hipogeu, os subterrâneos. Ao fundo, parte do piso de madeira de arena reconstruída.
Os jogos realizados no Coliseu
O Coliseu era um anfiteatro para jogos que incluíam lutas de gladiadores, caçadas de animais, lutas entre animais e de gladiadores com animais. As apresentações duravam o dia todo.
A primeira parte dos jogos era dedicada ao venatio, a caça aos animais selvagens, que ocupava a maior parte da manhã. Animais de todo império apareciam na arena: urso, leopardo, leão, elefante, girafa, rinoceronte, hipopótamo, veado, cabra selvagem, crocodilo, gnu, avestruz etc. Era preciso colocar anteparos nas arquibancadas para proteger os espectadores de possíveis saltos das feras. Dezenas de milhares de animais foram mortos no Coliseu.
Para dar mais emoção, os animais eram lançados à arena de diferentes maneiras. Podiam surgir de repente vindos de baixo ou lançados ao ar. O caçador na arena não sabia onde o leão poderia aparecer, ou se dois ou três leões poderiam surgir em vez de apenas um.
As lutas de gladiadores começavam e acabavam pelas portas colocadas ao extremo do anfiteatro: o gladiador vitorioso saia da arena pela Porta Triumphalis (porta triunfal), o derrotado era retirado pela Porta Libitinesis, nome derivado de Libitina, deusa da morte e dos cadáveres.
Ao contrário do que o senso comum acredita, o Coliseu não foi palco do martírio cristão, no contexto das perseguições aos cristãos. Não há evidências históricas sobre isso. Também é totalmente infundada a afirmação de que Nero teria mandado executar cristãos no Coliseu, acusados de terem provocado o incêndio de Roma. O Coliseu sequer tinha sido construído na época de Nero, cujo governo foi de 54 d.C. a 68 d.C.
Conforto para os espectadores
Para proteger o público do sol forte ou da chuva, o Coliseu possuía uma enorme cobertura de tecido, o velarium ou velum um tipo de toldo que era estendido por um sistema de cordas e roldanas. O velarium era sustentado por 240 mastros verticais no topo do Coliseu. As cordas corriam por esses mastros até o exterior do Coliseu onde eram amarradas em 160 colunas de pedras.
O tecido era costurado a partir de várias peças de lona, cada uma cortada em tamanho diferente devido à planta elíptica. O velarium era operada por cerca de cem hábeis marinheiros da frota imperial estacionada em Misenum, no golfo de Nápoles. Eles eram especialmente chamados a Roma para essa tarefa. Com ventos fortes demais, o velarium tinha que ser rapidamente recolhido para evitar que a estrutura desmoronasse e colocasse o público em risco.
Além do velarium, o público desfrutava também de sparsiones (“aspersão”), névoa perfumada com bálsamo ou açafrão para se refrescar nos dias mais quentes.
O que aconteceu com o Coliseu?
No ano 404 d.C., com a mudança dos tempos e dos costumes (o cristianismo era, então, a religião oficial do Império Romano), os jogos do Coliseu foram proibidos pelo imperador Honório, embora tenha sido mantida a condenação aos criminosos de lutarem contra animais selvagens por mais um século.
O edifício foi danificado por um terremoto em 422 e reparado pelos imperadores Teodósio II e Valentiniano III. Reparações também foram feitas em 467, 472 e 508.
No século VI foi utilizado como cemitério e ali se construiu a igreja de Santa Maria della Pietà al Colosseo em seu interior.
Em 847, a estrutura foi seriamente danificada por um terremoto, e novamente em 1231 e em 1341 que colapsou o lado externo sul construído sobre solo aluvial instável.
Nos séculos XII e XIII tornou-se um castelo-fortaleza das famílias Frangipani, posteriormente demolido.
Os blocos de mármore travertino foram sistematicamente removidos nos séculos XV e XVI, quebrados e enviados para os fornos de cal para novas construções. Consta que, em somente no ano de 1451, foram levadas do Coliseu 2.500 carroças carregadas de mármore travertino por ordem do papa Nicolau V. As estátuas que o decoravam tiveram o mesmo fim. Os grampos de ferro que seguravam os blocos desapareceram.
Somente em 1744, o Papa Bento XIV proibiu a remoção da alvenaria do Coliseu. Pouco depois, o edifício foi consagrado em memória dos mártires cristãos que ali perderam a vida. Isso não impediu, porém, que os habitantes locais utilizassem o Coliseu como estábulo para animais e que a vegetação crescesse em meio às ruínas.
A igreja Santa Maria della Pietà al Colosseo ainda continua no interior do anfiteatro e foi visitada por Goethe em sua viagem à Itália em 1787.

Igreja de Santa Maria della Pietà al Colosseo construída num dos arcos do Coliseu. Ainda hoje ali se celebra missa aos sábados e domingos. Pintura de Christoffer W. Eckersberg, 1815.
11 fatos rápidos e perguntas sobre o Coliseu
1. O que é o Coliseu?
É um antigo e grandioso anfiteatro* romano, de formato elíptico, medindo aproximadamente 188 metros de comprimento, 156 metros de largura e 48 metros de altura, conhecido por abrigar jogos de gladiadores e outras competições públicas. *Anfiteatro é o edifício circular ou oval ao ar livre, onde a plateia de acomoda ao redor de toda arena central; difere do teatro, no qual a plateia fica em frente ao palco.
2. Qual o nome verdadeiro do Coliseu?
O nome oficial do Coliseu é Anfiteatro Flávio, uma homenagem à dinastia imperial Flavia que o construiu (Vespasiano, Tito e Domiciano). O nome “Coliseu” surgiu muito tempo depois, provavelmente devido à proximidade de uma enorme estátua de Nero conhecida como “Colosso de Nero”.
3. Quem construiu o Coliseu, quando e por que?
Foi encomendado pelo imperador Vespasiano que iniciou a construção em 72 d.C. e finalizado por seu filho Tito em 80 d.C., sendo inaugurado em 21 de abril do ano 80 d.C. com 100 dias de jogos de gladiadores, batalhas navais simuladas e caçadas de animais. O projeto fazia parte de uma série de construções que buscavam restaurar a grandeza de Roma após a turbulência da guerra civil enfrentada pelo império.
4. Quais eram as principais características do Coliseu?
- Capacidade: acomodava até 50.000 espectadores sentados.
- Arena: tinha 87,5 m de comprimento e 55 m de largura.
- Cobertura retrátil: possuía um toldo de tecido e madeira (Velarium) para proteger os espectadores do sol.
- Hipogeu: ficava debaixo da arena, era uma complexa rede de túneis, câmaras onde gladiadores, prisioneiros e animais eram alojados antes de entrarem na arena, o que era feito por meio de elevadores.
5. Como era organizado o fluxo de pessoas no Coliseu?
A arquitetura do Coliseu foi pensada para facilitar tanto a entrada quanto a saída de multidões de forma organizada. O Coliseu possuía 80 entradas numeradas: 76 para o público comum e 4 exclusivas para as autoridades. As arquibancadas eram divididas por classe social: os mais pobres ficavam nos setores superiores e a elite nos setores mais próximos da arena.
6. Que tipo de eventos aconteciam no Coliseu? Eles eram pagos?
As apresentações eram gratuitas e incluíam combates de gladiadores, batalhas navais simuladas, caças de animais e até execuções. Os espetáculos no Coliseu serviam para divertir o povo e eram uma forma de demonstrar o poder e a generosidade dos imperadores, além de ser uma oportunidade para o povo romano ver o imperador pessoalmente.
7. Como o Coliseu era abastecido com água para as batalhas navais?
Era por meio de um aqueduto, notadamente o Aqueduto Claudiano, que permitia que a arena fosse rapidamente preenchida, embora esses espetáculos (naumaquia) tenham cessado com a construção das passagens subterrâneas.
8. Quantas pessoas morreram no Coliseu?
É impossível saber o número exato de mortes durante os 350 anos em que o Coliseu foi usado para espetáculos, mas estima-se cerca de 400.000 pessoas (gladiadores, prisioneiros e criminosos) e 1 milhão de animais morreram no Coliseu.
9. Os cristãos foram mortos no Coliseu?
Não há evidências históricas de que os cristãos foram mortos no Coliseu; essa é uma lenda popularizada pela tradição e pela arte, mas o consenso acadêmico é que as execuções e martírios cristãos não aconteceram no Coliseu, que ainda não estava construído na época das primeiras perseguições. Os martírios de cristãos ocorreram em outros locais, como o Circo de Nero.
10. O que significava o gesto do polegar?
O gesto de polegar para cima ou para baixo para decidir o destino do gladiador derrotado é um mito, pois não existem referências históricas precisas. O gesto é mencionado apenas em dois textos antigos que usam a expressão verso pollice ou pollice verso que significa, em latim, “com o polegar virado”. Mas não diz virada para onde: para cima, para baixo, na horizontal ou escondido na própria mão.
11. Por que o Coliseu foi abandonado? Por que há buracos nas paredes do Coliseu?
A oficialização do cristianismo como religião do Império Romano (380 d.C.) e a proibição dos jogos pelo imperador Honório em 404 levaram ao abandono do Coliseu. No século VI, o Coliseu tornou-se um cemitério. Os terremotos de 847, 1231 e 1341 causaram sérios danos ao edifício. Os buracos são provenientes da extração de metais (como ganchos de ferro) e de materiais de construção (como travertino e mármore) que foram saqueados ao longo dos séculos.
Fonte
- HOPKINS, Keith. The Colosseum: emblem of Rome. BBC History.
- VASCONCELOS, Yuri. O que foi o Coliseu de Roma? Super Interessante, 14 fev 2020.
- MUELLER, Tom. Secrets of the Colosseum. Smithsonian Magazine, jan 2011.
- The Colosseum. Historia. The Colosseum-net.
Saiba mais
- Roma Antiga e China: a história dos legionários perdidos na China
- Nero e o Grande Incêndio de Roma
- O jogo com a morte: luta de gladiadores em Roma Antiga
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