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Belmonte, o caricaturista brasileiro que irritou Joseph Goebbels

14 de agosto de 2020

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Belmonte, pseudônimo de Benedito Bastos Barreto (1896-1947), foi caricaturista, cartunista, ilustrador, cronista, romancista e, inclusive, pesquisador da história de São Paulo. Seus trabalhos foram publicados nos jornais Folha da Noite e Folha da Manhã, e nas revistas Careta, Fon-Fon! e O Cruzeiro.

Em 1925, Belmonte criou o personagem Juca Pato, um sujeito mal-humorado, baixinho, de óculos e careca “por tanto levar na cabeça”, cujo lema era “podia ser pior”, e que reclamava do custo de vida, da burocracia e da corrupção dos governantes. Juca Pato sintetizava a figura do homem comum, trabalhador e honesto da classe média paulistana em suas aspirações e frustrações. A popularidade do personagem de Belmonte, foi tamanha que, nos anos 1930, seu nome aparece associado a cigarros, cadernos escolares, balas, cavalos de corrida e até a marchinhas de carnaval.

Entre os anos de 1929 e 1937, Belmonte ilustrou cinco livros infantis de Monteiro Lobato. Sua versão para as personagens infantis passarou a encarnar as criações do escritor. A qualidade de seu desenho documental aparece, também, em outras obras como Povos e Trajes da América Latina, de Egon Schaden, e História do Brasil para Crianças, de Viriato Corrêa.

As ilustrações que Belmonte fez para seu livro No tempo dos Bandeirantes (1939) tornaram-se referência para muitos desenhistas e para o público em geral, apesar do traço demasiadamente heroico de seus bandeirantes. Para escrever essa obra, Belmonte recorreu a testamentos e atas da Câmara, além de autores estrangeiros e livros raros. Retratou aspectos da vida cotidiana dos paulistas do século XVII: suas casas, a limpeza das ruas, as festas e procissões, a medicina, a escravidão indígena, além de episódios curiosos como o caso da cama de Gonçalo Pires. 

Em 1937, com a instauração da ditadura do Estado Novo, Belmonte acabou sofrendo a censura do DIP que não aceitou os comentários mordazes de Juca Pato. Foi obrigado a tratar somente de assuntos internacionais. Tornou-se, então, o grande caricaturista brasileiro do nazi-fascismo e da Segunda Guerra Mundial. Seus desenhos foram publicados no exterior e repercutiram a ponto de, numa transmissão pela Rádio de Berlim, Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, acusá-lo: “Certamente o artista foi pago pelos aliados ingleses e norte-americanos.”

Um fato curioso, as charges referentes à Segunda Guerra Mundial foram reunidas no livro Caricatura dos Tempos publicado após o falecimento de Belmonte em consequência de tuberculose. A obra foi republicada pela Editora Melhoramentos em 1982.

Em 1962, a União Brasileira de Escritores (UBE) idealizou o Troféu Juca Pato para o intelectual do ano, autor de obra que estimule o debate de ideias. Entre os premiados com o Troféu Juca Pato estão: Sérgio Buarque de Holanda (1979), Carlos Drummond de Andrade (1962), Antônio Callado (1986), Alberto da Costa e Silva (2003), Antônio Cândido (2007), Lygia Fagundes Telles (2008) e outros.

Veja abaixo charges de Belmonte referentes à situação mundial entre 1936 e 1946, extraídas de Caricaturas dos Tempos (1982). A sequência permite conhecer, pelo traço do chargista, os antecedentes e o desenrolar da guerra até os primeiros anos da Guerra Fria.

Charges de Belmonte: Guerra Civil Espanhola à Segunda Guerra (1936 a 1940)

(1) Irrompe a Guerra Civil Espanhola. Belmonte satiriza a presença militar de potências estrangeiras na Espanha. Charge de 18/7/1936.

(2) O general Franco vence a guerra na Espanha e apresenta o país em ruínas ao rei espanhol. Charge de março/1939.

(3) Depois de ocupar a Manchúria, em 1931, o Japão invadiu a China. A Rússia, comprometida com a Alemanha, nada fez. Charge de 7/7/1937.

(4) Hitler ocupou a Tchecoslováquia e incorporou a Boêmia e a Morávia. A Grã-Bretanha limitou-se a um protesto. Charge de 21/3/1939.

(5) O pacto germano-soviético de não-agressão logo revelou-se um engodo: a Polônia foi invadida e dividida entre a Alemanha e a URSS. Charge de 22/9/1939.

(6) A invasão da Polônia deu início à Segunda Guerra Mundial. Chamberlain, ministro britânico, pouco fez para proteger a Polônia. Charge de 1/9/1939.

(7) A guerra já iniciara e o líder italiano Benito Mussolini mantinha-se indeciso, como mostra a charge de 15/5/1940. Somente em junho de 1940 o Duce, finalmente, se juntou à Alemanha e declarou guerra à Grã-Bretanha.

(8) Enquanto tropas alemãs ocupavam Paris, os soviéticos pareciam quietos, como mostra a charge de 14/6/1940. Mas, em agosto daquele ano, Stálin ocupou a Lituânia, a Estônia e a Letônia à URSS.

(9) A Grã-Bretanha sofreu contínuos bombardeios aéreos dos alemães entre agosto de 1940 e maio de 1941. Churchill, no gol, conseguiu defender o país dos ataques de Hitler e de Mussolini, pelas costas. Caricatura de 21/8/1940.

(10) Hitler estava ganhando o jogo de Churchill mas este não desiste e insiste em continuar graças ao dinheiro oferecido, sorrateiramente, por Roosevelt, presidente dos Estados Unidos. O imperador Hiroito, do Japão, não parece gostar do que está vendo. Charge de 22/6/1940.

(11) Churchill negocia armas, munição, navios, aviões e gêneros alimentícios com Roosevelt mediante empréstimos. A guerra endividou os países beligerantes e tornou os Estados Unidos os credores do mundo. Charge de 21/2/1940.

Charges de Belmonte: da Segunda Guerra Mundial ao Pós-Guerra (1942-1946)

(12) Entre 1937 e 1942, o governo de Vargas oscilou entre o apoio aos países liberais e ao eixo nazifascista. Em agosto de 1942, o bombardeio de navios mercantes brasileiros levou Vargas a declarar guerra à Alemanha e Itália.

(13) Em 1942, os nazistas decidiram o extermínio sistemático e em massa dos judeus nas câmaras de gás dos campos de concentração. Calcula-se que cerca de 6 milhões de judeus e milhares de outros prisioneiros foram mortos em nome da política da “solução final”. Charge de 26/12/1942.

(14) Em uma retrospectiva satírica, Belmonte mostra que a (falsa) aliança entre Hitler e Stálin, de 1939, transformou-se em guerra declarada com tropas alemãs invadindo a Rússia. Charge de 7/10/1943.

(15) A Segunda Guerra Mundial foi uma guerra travada sem limites em crescente brutalidade e desumanidade. Belmonte aponta Hitler como culpado pela matança, mas ele não foi o único. Os aliados também causaram muita mortandade sobre a população civil como foi o bombardeio atômico sobre Hiroshima e Nagasaki. Charge de 27/1/1945.

(16) Nos últimos meses de guerra, com suas tropas drasticamente reduzidas, Hitler convocou jovens e adolescentes para a guerra, como mostra a charge de 2/2/1945. A essas alturas, o final da guerra já era esperado. Em fevereiro acontecia a Conferência de Ialta entre Roosevelt, Churchill e Stálin. Em 2 de maio, os aliados tomaram Berlim.

(17) Terminada a guerra, os Estados Unidos e a União Soviética emergiam como potências mundiais. A rivalidade entre ambos estendeu-se a uma corrida armamentista em que ambos disputavam quem possuía a bomba mais mortífera. Em 30 de junho de 1946, os Estados Unidos realizaram uma série de explosões nucleares no atol de Bikini. Charge de 13/8/1946.

(18) Harry S. Truman, presidente dos EUA, e Stálin, líder da URSS disputam o jogo em que a bola é o próprio mundo, dividido entre dois blocos: o americano e o soviético. Era a Guerra Fria. Charge de 20/8/1946.

(19) Truman e Stálin sentados sobre material explosivo e com tochas acesas nas mãos, parecem se divertir com essa brincadeira perigosa. Iniciava-se, então, a Guerra Fria que, nas quatro décadas seguintes deixou o mundo sob a ameaça de uma guerra iminente. Charge de 10/9/1946.

Outras charges de Belmonte

Fonte

  • BELMONTE. Caricaturas dos Tempos São Paulo: Melhoramentos, Círculo do Livro, 1982.
  • BELMONTE. No Tempo dos Bandeirantes. São Paulo: Melhoramentos, 1939.
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André Luiz Rodrigues de Rossi Mattos
André Luiz Rodrigues de Rossi Mattos
8 anos atrás

Muito legal.

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