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Tratado de Versalhes, fim da Primeira Guerra Mundial

28 de junho de 1919

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Em 28 de junho de 1919, foi assinado o Tratado de Versalhes, o tratado de paz, assinado pelas potências europeias que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O tratado concluía o cessar-fogo de Compiègne, assinado seis meses antes, que havia encerrado os combates, mas não o estado de guerra.

A delegação alemã não foi autorizada a participar das negociações e discussões que antecederam o tratado. Apenas no final, por meio de petições escritas, a Alemanha pode fazer algumas poucas e pontuais modificações no conteúdo do tratado.

Assinatura do Tratado de Versalhes no Salão dos Espelhos (detalhe), óleo de William Orpen, 1919. Entre as figuras estão representados, no centro, Woodrow Wilson (Estados Unidos) de gravata clara, Georges Clemenceau (França) com seu vasto bigode branco e Lloyd George (Reino Unido). Sentado à frente deles, o representante da Alemanha assina o tratado observado por seu colega que se curva sobre ele.

A escolha de Versalhes para a assinatura do Tratado

O castelo de Versalhes foi a sede da monarquia absolutista francesa no século XVIII. Assistiu o seu apogeu e queda com a Revolução Francesa, em 1789. Após a saída da família real, o castelo sofreu saques e danos como a destruição de certos símbolos da realeza (flor-de-lis, coroas etc.). O mobiliário foi leiloado, espelhos e pinturas retirados nas paredes e tetos, e muitos aposentos fechados.

O castelo, porém, conservou sua áurea de poder e algumas obras foram realizadas. Em 1855, o Segundo Império organizou um jantar de gala para a rainha Vitória na Sala dos Espelhos.

Após a derrota da França na guerra contra a Prússia, em 1870, o castelo de Versalhes foi palco das celebrações de vitória do exército prussiano. O Império Alemão foi proclamado na Galeria dos Espelhos e ali o rei prussiano Guilherme I recebeu o título de imperador alemão (janeiro de 1871). Os soldados prussianos foram condecorados aos pés da estátua equestre de Luís XIV.

Meses depois, foi assinada a paz (Tratado de Frankfurt, maio de 1871) pela qual a França perdeu a Alsácia-Lorena para a Alemanha e submeteu-se ao pagamento de indenização de guerra de 5 bilhões de francos.

A humilhação sofrida pela França em 1871 serviu de estímulo nacionalista para os soldados franceses combaterem a Alemanha na Primeira Guerra Mundial. Derrotada a Alemanha, o governo francês decidiu mandar assinar o Tratado de Versalhes na Sala dos Espelhos do castelo de Versalhes.

A história se repetia com as posições invertidas: a Alemanha foi obrigada a devolver a Alsácia-Lorena para a França e ao pagamento de indenizações de guerra. O castelo de Versalhes foi o cenário para a França apagar simbolicamente a humilhação da derrota na Guerra Franco-Prussiana de 1870. A data do tratado (28 de junho de 1919)  também foi escolhida por seu simbolismo: foi em 28 de junho de 1914 que ocorreu o atentado de Sarajevo que desencadeou a Primeira Guerra Mundial.

As delegações assinam o Tratado de Versalhes na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, 28 de junho de 1919.

Participações na elaboração do tratado

Foram convidados representantes somente das potências vitoriosas. Nenhum representante dos estados derrotados, nem da Rússia que havia concordado com um armistício separado em 1917 (Tratado de Brest-Litovsk).

Certas personalidades tiveram influência determinante, incluindo os líderes das quatro principais potências vitoriosas: Lloyd George (primeiro-ministro britânico), Georges Clemenceau (chefe do Conselho francês), Woodrow Wilson (presidente dos Estados Unidos e Vittorio Orlando (presidente do Conselho italiano).

O Brasil, apesar da pequena participação na Primeira Guerra, também compareceu nas conferências preliminares que assentaram as bases do Tratado de Versalhes. Foi o único país da América Latina a participar da Conferência de Paz. O senador paraibano Epitácio Pessoa chefiou a delegação brasileira em Versalhes.

Os termos do Tratado de Versalhes

O Tratado de Versalhes declarou que a Alemanha foi a principal responsável pela guerra e, por isso cabia-lhe cessões territoriais, o imediato desarmamento e pagamentos de indenizações aos países vitoriosos.

Estabelecia o artigo 231:

“Os governos Aliados e Associados declaram, e a Alemanha reconhece, que ela e seus aliados são responsáveis por haver causado todas as perdas e todos os danos que sofreram os Governos Aliados e Associados e seus nacionais em consequência da guerra que lhes foi imposta pela agressão da Alemanha e seus aliados.” (Tratado de Versalhes, parte VIII, Reparações, artigo 231.)

A punição sofrida pela Alemanha incluía:

  • Perda de suas colônias na África;
  • Devolução da Alsácia-Lorena à França;
  • Perda de parte de seu território para a recém-criada Polônia;
  • Desmilitarização das Forças Armadas*;
  • Pagamento de indenização de guerra aos aliados, fixado em 132 milhões de marcos ouro, correspondentes a 47.312 toneladas de ouro.

*Entre as medidas para limitar o poder militar da Alemanha estavam: a entrega de 5.000 canhões, 25.000 aviões, os veículos blindados e toda a sua frota (que será afundada na baía escocesa de Scapa Flow). O exército alemão foi limitado a 100 mil homens e o serviço militar foi abolido.

Além da Alemanha, foram signatários do tratado: Estados Unidos, Reino Unido, França, Itália, Japão, Bélgica, Grécia, Polônia, Portugal, Romênia, Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, Checoslováquia, Austrália, Canadá, Libéria, Hejaz, Sião, Bolívia, Brasil, Cuba, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru e Uruguai.

O tratado entrou em vigor em 10 de janeiro de 1920 quando foi ratificado pela Liga das Nações. O Congresso dos Estados Unidos não ratificou o tratado e fez uma paz especial com a Alemanha, o Tratado de Berlim (25 de agosto de 1921).

Como os alemães viram o Tratado de Versalhes

Termos do armisticio

Termos do armistício: “O povo alemão deve pagar por todos os danos aos civis, em terra ou no mar ou no ar”, diz o cartaz mostrado pelo marechal Foch, comandante em chefe das Forças Aliadas, ao chefe alemão. Charge norte-americana de William A. Rogers, publicada no New York Herald em 7 de novembro de 1918.

Os representantes da Alemanha – Hermann Müller, ministro das Relações Exteriores, e Johannes Bell, ministro dos Transportes – assinaram o tratado sob protesto.

Por causa das duras exigências, o tratado foi percebido pela maioria dos alemães como uma imposição ilegítima e humilhante. O pagamento das indenizações representou um fardo pesado para a República de Weimar. Enfrentado sérias dificuldades financeiras, ela se mostra incapaz de lidar com isso, o que contribuiu para a queda da República de Weimar em 1933 e a ascensão do nazismo.

Desde o início da sua ascensão política, Hitler opôs-se ao Tratado de Versalhes.

Segundo o diplomata britânico Harold Nicolson, o tratado que, a princípio, visava impedir o surgimento de novas guerras, propiciou, na verdade, as condições que desencadearam a Segunda Guerra Mundial vinte anos depois.

Interesses do Brasil nas negociações de paz

Duas questões interessavam ao Brasil nas negociações do Tratado de Versalhes: 1) o pagamento pela Alemanha de depósitos relativos à venda de café do estado de São Paulo no início da guerra, 2) a propriedade de 46 navios alemães apreendidos em portos brasileiros durante o conflito.

No primeiro caso, o objetivo era evitar que o pagamento da dívida fosse arrolado no rateio das reparações de guerra. O chefe da delegação brasileira, Epitácio Pessoa, defendeu que a dívida do café não poderia figurar nas reparações de guerra por ser anterior ao conflito. A questão foi resolvida em artigo que constou do Tratado de Paz, determinando à Alemanha a restituição com juros da importância referente à venda do café. Todavia, a Alemanha se recusou a pagar os juros exigidos pelo Brasil, e pagou uma taxa menor.

No caso dos navios alemães, a delegação brasileira reivindicou incorporá-los ao patrimônio nacional,  mediante o pagamente de indenização. A França e a Inglaterra se opuseram propondo que a partilha dos navios alemães apreendidos deveria ser de acordo com as perdas marítimas sofridas por cada país. Epitácio Pessoa pediu ao presidente Woodrow Wilson que intercedesse em favor da proposta brasileira. Ao final do debate, prevaleceu a proposição brasileira e os navios alemães foram incorporados ao Lloyd Brasileiro.

O último ponto reivindicado pelo Brasil era sua indicação como membro temporário do conselho da Liga das Nações ou Sociedade das Nações, formada durante a Conferência de Paz. Novamente, Epitácio Pessoa pediu o apoio dos Estados Unidos para que o Brasil fosse eleito para um assento temporário. A solicitação brasileira foi atendida e o Brasil foi eleito junto com a Bélgica, Grécia e Espanha.

Fonte

  • MACMILLIAN, Margaret. Paz em Paris, 1919: a Conferência de Paris e seu mister de encerrar a Grande Guerra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
  • HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX (19114-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
  • NICOLSON, Harold. O tratado de Versalhes: a paz depois da Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Globo, 2014.
  • Tratado de Versalhes (versão completa, em espanhol)

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