Em 24 de novembro de 1859, chegava às livrarias de Londres, o livro A Origem das Espécies, do naturalista britânico Charles Darwin. O livro gozou de sucesso imediato e a primeira edição, com 1250 exemplares, esgotou-se no primeiro dia. O estudo é considerado um trabalho fundamental da biologia evolutiva. O título completo era: Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural ou a preservação de raças favorecidas na luta pela vida. Darwin trabalhou em um total de seis edições. Na sexta edição (1872), o título estava reduzido: A Origem das Espécies.
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Darwin forneceu muitas evidências para sua teoria de que espécies de animais e plantas mudam por seleção natural por um longo período de tempo, e que todos os seres vivos existentes hoje são descendentes de ancestrais comuns. Mostrou que a diversidade biológica é resultado de um processo de descendência com modificação, onde os organismos vivos se adaptam gradualmente através da seleção natural e as espécies se ramificam sucessivamente a partir de formas ancestrais, como os galhos de uma grande árvore: a árvore da vida.
A teoria foi abraçada por vários cientistas, pois resolvia alguns enigmas da ciência biológica. Porém, os cristãos ortodoxos condenaram o trabalho como heresia, pois ele contrariava o relato bíblico da criação do mundo e do homem. As suposições sobre a transmutação das espécies contrariavam a doutrina da igreja segundo a qual as espécies são obras imutáveis da criação divina, e o home é único e não tem relação com o reino animal.
As discussões desencadeadas pelo livro disseminaram-se rapidamente entre o público especialista e leigo, criando o primeiro debate científico internacional da história. A obra de Darwin legitimou a discussão científica dos mecanismos evolucionários, e o termo darwinismo passou a ser usado para denominar a teoria da evolução de Darwin. O termo evolucionismo, por sua vez, abrangia além do darwinismo outras ideias geradas a partir daí. O evolucionismo recebeu dos criacionista uma conotação pejorativa, considerado uma crença equivalente a uma religião secular.
Embora Darwin tenha evitado discorrer sobre as origens humanas não indicando, em seu livro, qualquer conclusão explícita sobre o assunto, ele deu sinais sobre a ancestralidade animal dos humanos e, a partir daí surgiu a ideia do “homem originado do macaco” – que não existe na obra de Darwin – que logo se popularizou. O anatomista inglês Thomas Henry Huxley deu mais força às discussões apresentando em suas palestras evidências que, segundo ele, mostravam que humanos e macacos tinham a mesma estrutura esquelética.
Em meados da década de 1870, a maioria dos cientistas aceitava a evolução, mas outras hipóteses à seleção natural entre as quais a de que as novas espécies surgiam através de “saltos” em vez de adaptação gradual, ou que tinham uma tendência inerente para mudar em uma determinado direção.
As ideias de Darwin causaram forte impacto nos debates econômicos e políticos. A analogia da seleção natural serviu de argumento para criticar a intervenção do governo na economia para beneficiar os pobres, afinal, diziam, a seleção natural poderia melhorar a humanidade. Outros estenderam a seleção natural à concorrência entre as nações e as sociedades humanas. Influenciados pelo trabalho de Darwin e por outros conceitos sobre progresso social e evolução extraídos de Lamarck, Spencer e Haeckel, políticos e intelectuais da época passaram a defender como “evidência científica” a superioridade dos brancos sobre as demais “raças” e a justificar o imperialismo europeu como necessário para a “evolução” da humanidade.
O darwinismo influenciou outras ciências como a psicologia, a sociologia, a medicina e a antropologia. O chamado darwinismo social deu margem a uma série de preconceitos e discriminações, chegando, no final do século XIX, à eugenia,a teoria que visava a melhoria de uma determinada espécie através da seleção artificial. Décadas depois, a eugenia serviu de base para Hitler promover a “purificação da raça ariana”, na Segunda Guerra Mundial.
Darwin continuou a sua pesquisa sobre plantas e animais, incluindo a espécie humana, e escreveu A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo (1871) e A Expressão da Emoção em Homens e Animais (1872).
5 pontos importantes sobre a evolução
- Não descendemos de macacos, mas somos uma espécie da ordem dos primatas. Os homens modernos, da espécie Homo sapiens sapiens, não evoluíram dos macacos, mas compartilharam de um ancestral comum há cerca de 7 milhões de anos. Esse ancestral comum divergiu em duas linhagens diferentes, provavelmente por razões climáticas. Uma linhagem deu origem ao chimpanzé e permaneceu no oeste da África. Outra linhagem deu origem à humanidade atual e evoluiu no sul e leste da África.
- O corpo humano tem vestígios evolutivos como o apêndice, os dentes do siso e o cócix. O apêndice teria desempenhado, em nossos ancestrais, uma função relacionada à digestão da celulose das plantas. Os dentes do siso foram úteis para moer alimentos fibrosos. O cóccix é vestígio de uma cauda que, no caso de embriões humanos, aparece no final da quarta semana de desenvolvimento embrionário e desaparece no início da oitava semana.
- Darwin não criou a eugenia. Eugenia foi um termo criado em 1883 pelo antropólogo inglês Francis Galton. Naquele ano, Darwin já havia morrido (faleceu em 1882). Galton (que era primo de Darwin) baseado no conceito de ‘seleção natural’ desenvolvido na obra Origem das Espécies, propôs a ‘seleção artificial’ para o aprimoramento da população humana segundo os critérios considerados melhores à época.
- O Homo sapiens surgiu na África há pouco mais de 200 mil anos. Esse tempo, contudo, pode recuar. Fósseis de Homo sapiens encontrados no sítio arqueológico de Jebel Irhoud, no Marrocos, foram datados de 315 mil anos.
- A evolução continua acontecendo e a própria cultura influencia de maneira decisiva a evolução humana. É o caso, por exemplo, do gene da tolerância à lactose, o açúcar do leite. Estima-se que há cerca de 11 mil anos, os homens adultos não eram capazes de digerir a lactose. Contudo, em regiões com uma longa tradição de produção de laticínios, a população adulta desenvolveu uma tolerância à lactose, como é o caso da Europa, mas não da Ásia.
Fonte
- BROWNE, Janet. A Origem das Espécies de Darwin: uma Biografia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
- KENSKI, Rafael. O que há de errado com Darwin? SuperInteressante. 31 out 2016.
- Teoria da evolução: por que é errado dizer que viemos dos macacos e outras quatro questões sobre nossa origem. BBC News Mundo. 22 nov 2019.
Saiba mais
- Racismo: uma história (documentário em 3 episódios da BBC)
- “O fardo do Homem Branco”: ode ao imperialismo
Abertura
- Foto de Charles Darwin (1809-1882) por volta de 1868 com a espessa barba que ele passou a usar nos últimos anos de vida.