DoaçãoPrecisamos do seu apoio para continuar com nosso projeto. Porque e como ajudar

TelegramEstamos também no Telegram, siga nosso grupo. Estamos no TelegramAcesse Siga

Joana d’Arc queimada viva em Rouen, França

30 de maio de 1431

21902
Visitas

31
compartilhamentos

Acessibilidade
BNCC

Compartilhe

Em 30 de maio de 1431, Joana d’Arc foi queimada viva em Rouen, após um julgamento manipulado pelos ingleses que queriam a todo custo acusá-la de heresia e feitiçaria. O alvo era o rei Carlos VII, da França, com quem estavam em guerra e que pretendiam desacreditar e abalar a moral das tropas francesas.

Inglaterra e França travavam, então, a chamada Guerra dos Cem Anos (1337 e 1453) motivada por disputas territoriais e comerciais entre os dois reinos. Por volta de 1420, as tropas inglesas ocupavam o norte da França incluindo Paris, e tinham o apoio dos condados de Borgonha e de Bordeaux, a leste e oeste no atual território francês. O Delfim (herdeiro real francês mas ainda não coroado) instalara-se em Chinon, no vale do Loire, de onde liderava a resistência francesa aos invasores. Mas suas chances de expulsar os ingleses pareciam remotas.

Inglaterra e França em 1420

Por volta de 1420, as tropas inglesas (área em vermelho) ocupavam o norte da França incluindo Paris e contavam com a aliança da Borgonha.

Joana d’Arc na corte francesa

Foi em Chinon que o Delfim recebeu, em fevereiro de 1429, uma camponesa mística e visionária, Joana d’Arc, de 16 anos de idade. Ela afirmava ter sido instruída pelo arcanjo São Miguel, por Santa Margarida e Santa Catarina para liderar um exército contra os ingleses e libertar a França.

A jovem convenceu o Delfim que lhe entregou o comando de 5.000 homens e a missão de derrubar o Cerco de Orleans feito pelos ingleses. Em apenas nove dias de combate, Joana d’Arc libertou a praça forte de Orleans (maio de 1429). Foi a primeira vitória francesa depois da esmagadora derrota esmagadora de Agincourt, de 1415.

Semanas depois, o exército de Joana d’Arc conquistou Reims, no norte do país, onde o Delfim foi coroado, na Catedral (junho de 1429) recebendo o nome de Carlos VII. As vitórias e a coroação do rei elevaram a moral da população francesa que passou a acreditar que a Guerra dos Cem Anos virava a seu favor.

O exército de Joana d’Arc

A liderança militar de Joana d’Arc tinha uma motivação completamente diferente dos exércitos feudais. Estes lutavam por seu senhor e seu feudo enquanto os soldados de Joana d’Arc lutavam pela França e seu rei. Era um exército nacional. A ideia de nação, incomum na época, começava a germinar.

Havia, contudo, um ponto desfavorável para Joana: a mentalidade medieval. Como aceitar a liderança militar de uma mulher e camponesa? Guerra era assunto de homens e nobres. Daí que, no primeiro deslize, na primeira derrota, a reputação de Joana d’Arc despencou. Isso aconteceu no fracassado Cerco de Paris (setembro de 1429).

O objetivo era retomar a cidade que estava em mãos de um exército anglo-burgúndio (franceses da Borgonha que apoiavam os ingleses). Os franceses falharam, Joana foi ferida por um dardo e o rei Carlos VII ordenou que suas tropas se retirassem.

O cenário da Guerra dos Cem Anos por volta de 1429 quando Joana d’Arc atuou. Fonte: World History Encyclopedia.

Prisão e condenação

A derrota de Paris abalou a popularidade de Joana entre a nobreza francesa. Em 23 de maio de 1430, ela foi capturada pelos burgúndios que venderam a cobiçada refém para os ingleses. Estes a entregaram para ser julgada pelo Tribunal da Igreja presidido por Pierre Cauchon, teólogo da Universidade de Paris, com cerca de 60 anos. Pelos serviços prestados aos ingleses, ele recebeu o bispado de Lisieux.

Pierre Cauchon convidou o dominicano Jean Le Maître, inquisidor na França além de outros bispos e cardeais, todos inimigos de Carlos VII. O processo se orientou para “provar” que Joana d’Arc era herege e bruxa. Se culpada, Carlos VII poderia ser acusado de recorrer aos serviços de uma bruxa e de usar os poderes maléficos da magia negra.

Joana foi mantida presa na fortaleza de Rouen em uma torre reservada para ela. Era vigiada dia e noite por cinco guardas.

Entre fevereiro e março 1431, os religiosos interrogaram-na diariamente, extraindo detalhes mínimos que pudessem incriminá-la. Ao final, apontaram 12 acusações contra Joana d’Arc, que Twain sintetiza:

“Joana foi chamada de bruxa, de falsa profetisa, de conjuradora de espíritos, de mistificadora, ignorante dos preceitos católicos, de contestadora da fé, de sacrílega, de idólatra, de renegada, de blasfêmia contra Deus e contra os santos, escandalosa, sediciosa, perturbadora da ordem pública; foi acusada de incitar à violência e ao derramamento de sangue, de renegar a natureza de seu próprio sexo, vestindo-se como homem de maneira irreverente e assumindo a vocação de soldado; de enganar os poderosos e os humildes; de usurpar honrarias e de se fazer adorar, oferecendo as mãos e as vestes para que fossem beijadas.” (TWAIN: 2001, p. 395.)

Joana d’Arc na fogueira, pintura do século XIX.

Por que Joana d’Arc foi morta?

Joana foi acusada de ser herege, apóstata, mentirosa e bruxa. Herege porque se recusou a reconhecer a autoridade da Igreja, apóstata por ter cabelo curto e usar roupas masculinas, supersticiosa porque dizia prever o futuro, mentirosa porque afirmava ter siso enviada por Deus, bruxa por invocar feitiços e demônios.

Acusações que, na verdade, tinham motivações políticas em um dos períodos mais sombrios da Guerra dos Cem Anos (1337-1453). A França estava dividida entre dois grupos principescos que lutavam pelo controle do poder real, os Armagnacs e os Borgonheses. O rei da Inglaterra, Henrique V, aproveitou-se disso para retomar as reivindicações de seus antecessores à coroa da França. O rei inglês teve em Pierre Cauchon, o juiz que julgou Joana, um agente dócil aos seus interesses.

O julgamento de Joana foi manipulado do começo ao fim. O objetivo era fazer a jovem confessar qualquer delito, visto que não foi defendida por ninguém e nem teve testemunhas de defesa. Não se tratava de entregar Joana d’Arc como resgate ao Reino da França, que nada fez para ajudá-la. O objetivo dos ingleses parecia muito mais desacreditar o rei Carlos VII sugerindo – pela acusação de bruxaria à Joana  – que o rei da França devia sua coroação a um representante do diabo na Terra.

Joana foi considerada culpada por unanimidade por 42 juízes e sentenciada à pena de morte na fogueira em praça pública.

Na pira havia um poste com a seguinte inscrição, em grandes letras: “Joana, que se fez conhecer por Donzela, mentirosa, perniciosa, abusadora do povo, advinha, supersticiosa, blasfemadora de Deus, presunçosa, malcrente na fé de Jesus Cristo, jactanciosa, idólatra, cruel, dissoluta, invocadora de diabos, reincidente, apóstata, cismática e herética.”

Vestida com um manto de enxofre para fazê-la queimar mais rápido, a jovem foi levada para a pira. A estaca era muito alta e o carrasco não conseguiu estrangulá-la o que poderia ter poupado seu sofrimento.

Joana foi executada em 30 de maio de 1431, aos 19 anos de idade.  Foram três cremações, e seus restos mortais foram jogados no rio Sena, pois o Cardeal de Winchester desejava que nada restasse de seu corpo, para não deixar possibilidade de um possível culto.

Sua morte, contudo, a elevou aos status de mártir e fez aumentar o fervor patriótico francês contra os ingleses. O mito de Joana d’Arc atingiu seu auge nos movimentos nacionalistas, particularmente após 1870 com a perda da Alsácia-Lorena. Joana d’Arc foi beatificada em 18 de abril de 1909 e canonizada em 16 de maio de 1920 tornando-se uma das padroeiras da França. A “festa de Joana d’Arc” é feriado nacional e celebrada no segundo domingo de maio.

Joana d’ Arc, por John Everett Millai, óleo sobre tela, 1865.

Fonte

  • MICHELET, Jules. Joana D’Arc. São Paulo: Imaginário/Polis, 1995.
  • PERNOUD, Régine. Joana D’Arc, a mulher forte. São Paulo: Paulinas, 1996. (Coleção Testemunhas).
  • BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
  • BATISTA NETO, Jônatas; ALMEIDA BATISTA, José Alberto. Joana D’Arc. São Paulo:
  • Moderna, 1995.
  • TWAIN, Mark. Joana D’Arc. Rio de Janeiro: Record, 2001.

Documentos primários

Saiba Mais / Recursos didáticos

 

 

Compartilhe

Navegue pela História

Selecione o mês para conhecer os fatos históricos ocorridos ao longo do tempo.

Outros Artigos

Últimos posts do instagram