Em 10 de maio de 1933, ocorreu em Berlim a Bücherverbrennung, a queima de livros considerados “nocivos” pelo regime nazista. Era o início de uma prática que se estendeu até o dia 21 de junho em Berlim e outras cidades, sempre com a presença de multidões, polícia, bombeiros e autoridades. Os atos ocorreram semanas depois de Hitler assumir o poder da Alemanha, em março de 1933.
As queimas tinham dia e hora marcada (sempre tarde da noite), eram abertas com discursos inflamados e acompanhadas de bandas de música reforçando seu caráter ritualístico de propaganda do regime nazista. Uma procissão de tochas levava os livros ao local da queima. Antes de ser lançado, cada livro tinha o nome de seu autor anunciado e recebia uma saudação: “pelo bons costumes da família”; “contra a traição literária do povo alemão”; “contra a luta de classes e o comunismo”; “pela devoção ao povo e ao Estado”.
Bibliotecas e livrarias foram saqueadas e milhares de livros removidos. Tudo o que fosse crítico ou desviasse dos padrões impostos pelo regime nazista foi destruído. A ação contou com forte colaboração da União Nacional dos Estudantes Alemães. Centenas de milhares de livros foram queimados no auge de uma campanha iniciada pelo diretório nacional de estudantes.
Entre os livros queimados pelos Nazistas, contavam-se obras de autores falecidos e contemporâneos perseguidos pelo regime, muitos deles já tendo emigrado. Na lista, estavam, entre outros:
- Thomas Mann, prêmio Nobel de Literatura de 1929, considerado um dos maiores romancistas do século XX.
- Heinrich Mann, autor de textos antifascistas e que havia emigrado para a França e os Estados Unidos.
- Walter Benjamin, filósofo e crítico literário judeu alemão, morreu em 1940 quando tentava fugir da perseguição nazista.
- Bertolt Brecht, dramaturgo, poeta cujos trabalhos influenciaram profundamente o teatro contemporâneo, exilou-se na Suíca, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Inglaterra, Rússia e Estados Unidos.
- Lion Feuchtwanger, judeu alemão autor de romances, conseguiu fugir para os Estados Unidos.
- Erich Maria Remarque, escritor, dramaturgo e roteirista, autor de Nada de Novo no Front (1929) livro que foi considerado “antipatriótico” pelo ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels.
- Carl von Ossietzky, jornalista, escritor e pacifista alemão, contrário ao militarismo alemão e ao extremismo político de esquerda e de direita. Foi preso em 1933 e enviado para um campo de concentração. Nesse período recebeu o prêmio Nobel da Paz de 1935, porém nunca recebeu o valor do prêmio que desapareceu nas mãos de um advogado de Berlim.
- Sigmund Freud, médico neurologista austríaco, de família judaica, criador da Psicanálise e a figura mais influente da Psicologia. Refugiou-se na Inglaterra em 1938, e perdeu quatro das cinco irmãs nos campos de concentração
- Albert Einstein, físico teórico alemão, de família judaica, desenvolveu a teoria da relatividade, um dos pilares da física moderna. Em 1933, quando o nazismo chegou ao poder, estava nos Estados Unidos, onde passou a morar, naturalizando-se estadunidense em 1940.
- Karl Marx, filósofo, economista, historiador e revolucionário socialista alemão, de família judaica, crítico do modo capitalista de produção e uma das personalidades mais influentes na história da humanidade.
- Heinrich Heine, poeta romântico alemão, de família judaica, adotou as ideias do socialismo utópico e era um crítico mordaz da religião que chamava “ópio do povo”. Apesar de ter vivido muito antes do nazismo (morreu em 1856), teve suas obras censuradas na Alemanha ainda em vida. É dele a frase: Aqueles que queimam livros, acabam cedo ou tarde por queimar homens.
O nazismo no meio estudantil e universitário
A queima de livros ocorreu em praças públicas e em 18 universidades alemãs. Era o clímax da perseguição sistemática de escritores judeus, marxistas, pacifistas, de oposição ou politicamente impopulares. Marcava uma virada em direção à Educação Nacional Socialista que deveria ser iniciada.
Simultaneamente, ocorreu uma campanha de perseguição a professores considerados “inadequados para a universidade alemã”. Eram alvo aqueles que “insultavam os líderes nacionais”, usavam métodos científicos ou tivessem uma atitude liberal ou mesmo pacifista. Os estudantes foram estimulados a denunciar professores e estes tiveram que renunciar aos seus cargos.
Houve ataques organizados contra professores judeus, funcionários administrativos e colegas estudantes; palestras foram interrompidas e boicotadas; professores judeus foram impedidos de entrar no seu local de trabalho.
A agitação pública foi tão longe que “postes de vergonha” de dois metros de altura foram erguidos nas universidades nos quais foram afixados nomes de professores e de obras literárias considerados inimigos da pátria alemã.
Quase todas as universidades participaram nesta campanha que teve apoio de professores e reitores. A intelectualidade e a opinião pública alemãs ofereceram pouca resistência à perseguição de professores e à queima de livros, minimizando os atos como resultado do “fanatismo estudantil”.
Paralelamente às ações estudantis , livros foram queimados pelas SA e SS em 10 de maio de 1933. Houve, também a queima de Bíblias de outros materiais impressos das Testemunhas de Jeová.
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