Em 11 de maio de 1937, centenas de sertanejos, seguidores do beato paraibano José Lourenço foram massacrados pela Polícia e pelo Exército, na fazenda denominada Caldeirão, situada no Crato, Ceará. O episódio ficou conhecido como Massacre do Caldeirão.
A terra havia sido doada aos romeiros pelo Padre Cícero no final da década de 1920. Conhecida como Caldeirão dos Jesuítas, passou a ser chamada de Caldeirão da Santa Cruz do Deserto pelos romeiros.
No Caldeirão, cada família tinha sua casa e a produção era dividida entre todos. Na fazenda havia também um cemitério e uma igreja, construídos pelos próprios membros. A comunidade chegou a ter mais de mil habitantes.
O modo de vida comunitário e a sociedade igualitária atraíram famílias de todo sertão que abandonaram o trabalho árduo nos latifúndios para ir viver no Caldeirão. A comunidade rural começou a ser acusada de “comunista”. Em 1937, sem a proteção de Padre Cícero, que falecera em 1934, o Caldeirão foi invadido e destruído pelas forças do governo de Getúlio Vargas.
O número de mortos é até hoje desconhecido. Estimam-se 400 ou 700 mortos. Seus corpos não foram encontrados pois o Exército e a Polícia Militar do Ceará nunca informaram o local da vala comum onde foram enterrados.
Presume-se que a vala coletiva esteja no Caldeirão ou na Mata dos Cavalos, na Serra do Cruzeiro (região do Cariri). José Lourenço conseguiu fugir para Pernambuco onde morreu aos 74 anos e foi enterrado em Juazeiro.
Fonte
- GOMES, Antônio Máspoli de Araújo. O conflito religioso do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto. Revista Usp, São Paulo, jun-ago 2009, n.82, p.54-67.
- ALVES, Tarcísio Marcos. A tragédia da comunidade camponesa do Sítio do Caldeirão. UFPE: Clio Série Histórica do Nordeste, n. 19
- LOPES RAMOS, Francisco Régis. O massacre do Caldeirão: história oral do 11 de setembro de 1936. Ed. História Livre de História, Expressão Gráfica, 2016.
- GOMES, Kelsma Maria Silva et ali. Memória amordaçada: o massacre do caldeirão da Santa Cruz do Deserto. UFJF, Lumina, v. 15, n. 2, 2021.
- ALMEIDA, Maria Isabel Medeiros. Memória e História: o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto na Narrativa Histórica. (Mestrado). PUC-SP, 2011.