O dia 25 de julho foi declarado Dia Nacional Tereza de Benguela e da Mulher Negra, pela Lei nº 12.987, de 2014. Homenageia Tereza de Benguela, rainha do quilombo Quariterê ou do Piolho (c.1750-1770), no Vale do Guaporé, em Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso (perto da fronteira com a Bolívia).
Depois das guerreiras dos mocambos de Palmares no século XVII, a liderança feminina mais conhecida dos quilombos coloniais no Brasil foi Tereza de Benguela. Sabe-se muito pouco sobre ela. Africana escravizada, talvez tenha chegado às áreas de mineração por volta de 1730. Havia denúncias de que africanos recém-desembarcados nos portos de Belém e São Luís eram clandestinamente revendidos e transportados para a capitania de Mato Grosso.
Há registros de 1748 sobre o quilombo do Quariterê. Seu crescimento atraiu expedições punitivas das autoridades coloniais, mas sempre ressurgia. Um desses registros revelariam a figura de Tereza que passou a comandar o quilombo como “rainha viúva” depois da morte do rei, seu companheiro.
Também conhecido como “quilombo do Piolho”, o Quariterê tinha parlamento e uma população de negros, índios e cafuzos. Um sistema de defesa armada preservou o quilombo por duas décadas.
O quilombo vivia do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca e banana. Possuía teares com os quais fabricavam-se tecidos que eram comercializados com os colonos, bem como os alimentos excedentes. Quariterê caracterizou-se pelo uso da forja, transformando em instrumentos de trabalho os ferros utilizados contra os negros.
Sobre Tereza, há descrições que afirmam: “Mandava enforcar, quebrar pernas, e sobretudo enterrar vivos os que pretendiam vir por seus senhores (…) cuidava muito na agricultura dos mantimentos”.
O Quariterê foi atacado em 1770 matando muitos moradores e prendendo os sobreviventes. Muitos conseguiram fugir. Relatos dizem que Tereza foi assassinada pelo Exército e outros apontam que ela preferiu se suicidar a submeter-se ao domínio dos brancos. Os capturados foram torturados em praça pública para servir de exemplo. Mais tarde, em 1791, uma segunda bandeira foi organizada para capturar os fugitivos. Dessa vez, o quilombo foi completamente destruído. No local foi construída a Aldeia da Carlota.
Tereza de Benguela foi homenageada pela escola de samba Unidos de Viradouro, no Carnaval de 1994, com o samba enredo “Tereza de Benguela: uma rainha negra no Pantanal”. Seus versos diziam:
“No seio de Mato Grosso, a festança começava/
Com o parlamento, a rainha negra governava /
Índios, caboclos e mestiços, numa civilização /
O sangue latino vem na miscigenação.”
O Dia Nacional Tereza de Benguela serve para fortalecer o combate à violência, ao racismo e ao sexismo sofridos pela mulher negra, e a defender o seu acesso à saúde, à educação e aos espaços de poder.
A escolha do dia 25 de julho se deu porque, no mesmo dia comemora-se o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, data reconhecida pela ONU em 1992, como celebração e também reflexão do papel das mulheres negras e formas de combater o machismo e o racismo.
Fonte
- SHUMAHER, Schuma; BRAZIL, érico Vital (orgs.). Dicionário Mulheres do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
- GOMES, Flávio dos Santos; LAURIANO, Jaime; SCHWARCZ, Lilia Moritz. Enciclopedia Negra. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
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