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Massacre de MỹLai, no Vietnã

16 de março de 1968

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Em 16 de março de 1968, centenas de civis, na maioria mulheres e crianças, da aldeia vietnamita de MỹLai foram massacrados por soldados do exército dos Estados Unidos. Foi o maior massacre de civis ocorrido durante a Guerra do Vietnã (1955-1975).

A operação foi feita por denúncias de que a área estaria servindo de refúgio para guerrilheiros vietcongs da FNL (Frente Nacional para a Libertação do Vietnã). O tenente William Calley que comandou a operação, diria mais tarde ter recebido ordens para “limpar MỹLai”. Segundo um soldado entrevistado pelo jornalista Seymor Hersh, “a ordem era para matar tudo o que se mexesse”.

Em apenas quatro horas, os soldados do tenente Calley não pouparam nada: assassinaram homens, violaram e mutilaram mulheres, trucidaram crianças, mataram animais, queimaram choupanas, colheitas e o gado. Todos civis e desarmados. Os sobreviventes foram abatidos, jogados em poços e depois, lançaram granadas sobre eles. Os helicópteros metralhavam aqueles que tentavam escapar.  Para sobreviver, alguns habitantes tiveram que fingir-se de mortos, passando horas no meio dos cadáveres.

No final, havia 504 mortos, entre eles 182 mulheres, 17 das quais estavam grávidas, e 73 crianças incluindo 56 bebês. Aparentemente, apenas duas pessoas sobreviveram passando-se como mortas.

Mulheres e crianças buscam se esconder no rio onde acabaram sendo executadas.

A fragilidade de uma mulher aldeã diante da brutalidade fortemente armada dos soldados dos EUA. O massacre de MyLai é o crime de guerra que não deve ser esquecido jamais.

Foto de Ronald Haeberle, fotógrafo do Exército dos EUA, após o massacre, mostrando mulheres, bebês e crianças mortas em uma estrada. Essa e outras fotos foram divulgada na imprensa de todo mundo em 1969, causando comoção internacional. Mas a guerra ainda se arrastou até 1975.

“Eram muitos soldados, aproximaram-se da casa atirando nas galinhas e os patos. Matavam tudo o que viam. Sentimos um medo atroz. Na casa, estávamos minha mãe, minha filha de 16 anos, meu filho de seis e eu, que estava grávida. Apontaram suas armas para nós e pediram que saíssemos e fôssemos até o açude. (…) Havia muita gente no açude. Empurraram-nos para dentro dele a coronhadas. Juntávamos as mãos e implorávamos para que não nos matassem, mas eles começaram a disparar. Senti como se as balas me mordessem nas costas e na perna, vi como elas arrancaram metade do rosto de minha filha, e então desmaiei. O frio me devolveu a consciência. Meu filho pequeno jazia a meu lado. Não conseguia andar. Arrastei-me para chegar à minha casa e beber água porque estava com uma sede terrível. No caminho encontrei os corpos nus de muitas jovens. Eles as haviam violado e assassinado”.– Ha Thi Quy, 83 anos em 2008. [Jornal “El País”, edição de 2 de Junho de 2008].

O crime só foi revelado em 13 de novembro de 1969 pelo jornalista Seymour Hersh. O alto comando militar dos EUA não teve como negar o que chamou de “incidente”.  No final, somente o tenente Calley foi condenado, mas a prisão perpétua foi cancelada pelo presidente Nixon dois dias depois da divulgação da sentença. Calley cumpriu uma pena alternativa de três anos e meio em prisão domiciliar na base militar de Fort Benning, na Geórgia.

Embora três militares estadunidenses tenham tentado impedir o massacre escondendo os civis, foram posteriormente denunciados como traidores por alguns congressistas norte-americanos.

Contexto da guerra do Vietnã

A Guerra do Vietnã foi mais um conflito militar da Guerra Fria quando o bloco capitalista alimentava a campanha da “luta pela democracia contra o comunismo”, liderada pelos EUA. E, em nome de democracia, foram cometidas as maiores atrocidades.

A Guerra do Vietnã (1955-1975) é um desdobramento da luta pela independência da antiga colônia francesa da Indochina e que se complicou durante  a Segunda Guerra Mundial com a invasão do Japão. Os japoneses invadiram a Indochina, expulsaram os franceses e passaram a dominar a região. Em 1945, com a rendição do Japão, um grupo de vietnamitas liderado por Ho Chi Minh, chefe do Partido Comunista, fundou a República Democrática do Vietnã, com capital em Hanói.  O sul, no entanto, foi reocupado pelos franceses.

Abriu-se, então uma guerra, onde se confrontaram: Vietnamitas do norte (comunistas) com apoio soviético e franceses, auxiliados pelos EUA.

Usando tática da guerra de guerrilha, os vietnamitas venceram os franceses na batalha de Dien Bien Phu, em 1954. Seguiram-se acordos que previam a formação de quatro países independentes: o Vietnã do Norte (comunista), o Vietnã do Sul (capitalista), Laos e Camboja. As tensões, contudo continuaram: no contexto da Guerra Fria, abriu-se uma disputa entre hegemonias poderosas – EUA e URSS – que se arrastou por dez anos.

Em 1965, os EUA começaram a intervir massivamente no Vietnã com bombardeios sobre o território norte-vietnamita. Entretanto, as forças estadunidenses não conseguiram avançar nem fazer os norte-vietnamitas recuarem, e ainda sofreram grandes baixas. A cada confronto, aumentava o número de caixões funerários transportados por aviões de volta para EUA. Foi nesse contexto que ocorreu o massacre de MyLai. Mas o massacre, assim como as execuções de civis, os bombardeios pesados e até as bombas de napalm sobre a aldeia de Trang Bang, em 1972 derrotaram os norte-vietnamitas.

As enormes perdas humanas, os crescentes protestos contra a guerra e a impossibilidade de vencer o povo vietnamita levaram os EUA a se retirarem do Vietnã em 1973. A guerra, no entanto, prosseguiu por mais dois anos e foi vencida pelas forças socialistas.

Em 1976, foram realizadas eleições e o país foi reunificado com o nome República Socialista do Vietnã, com capital em Hanói.

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