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Charges de Angelo Agostini para discutir o mito da escravidão branda

10 de maio de 2022

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Angelo Agostini (1843-1910), italiano naturalizado brasileiro, foi um dos mais importantes chargistas do século XIX no Brasil. Seus desenhos acompanharam de perto os principais acontecimentos políticos do Segundo Reinado revelando, também, costumes e visão de mundo das sociedades paulista e carioca da época.

Por meio de seus desenhos, Agostini fazia uma dura crítica à monarquia e à escravidão. Em muitos deles, expunha nomes de políticos e do próprio imperador associando-os às mazelas do governo e à manutenção do escravismo, especialmente na Revista Illustrada, fundada por ele.

Os desenhos ganham ainda maior importância considerando-se que, no Brasil monárquico, 82% da população livre era analfabeta (Censos de 1879 e 1890). Para o público analfabeto e iletrado, a leitura da imagem permitia compreender a mensagem da charge, sua crítica e ironia.

Joaquim Nabuco chegou a declarar que a Revista Illustrada era a “bíblia da abolição daqueles que não sabiam ler” (Apud LIEBEL, 2015, p. 798).  O chargista era, portanto, um formador de opinião para o público letrado e não-letrado atingindo uma grande parcela da população. Lembre-se, ainda, que a liberdade de expressão era garantida pela Lei de Imprensa de 1830 e, até o fim do Império, a imprensa brasileira foi, na prática, livre.

  • BNCC: 8° ano. Habilidades: EF08HI19, EF08HI20
  • Ensino Médio: habilidades: EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS404, EM13CHS503, EM13CHS601, EM13CHS602

Este artigo remete para atividades no Site Stud História, Veja no final.

CONTEÚDO

Quem foi Angelo Agostini

Autorretrato de Angelo Agostini, c. 1860-1880.

Nascido em Vercelli, região do Piemonte, na Itália, Angelo Agostini passou sua infância e adolescência em Paris. Na capital francesa, circulavam, então, as charges de Honoré Daumier (1808-1879). Possivelmente, seus desenhos satíricos influenciaram o jovem Agostini.

Em 1859, Agostini partiu para o Brasil, junto com a mãe, fixando residência em São Paulo. Ali deu início à sua carreira ao lançar a primeira revista satírica da cidade, Diabo coxo, em 1864. A revista contava com textos de Luís Gama, jornalista abolicionista ligado ao Partido Liberal. Fundou ainda uma segunda revista, O Cabrião, onde também fez críticas à elite aristocrata, ao clero, à monarquia e à escravatura.

Isso lhe rendeu muitos inimigos e “sua permanência em São Paulo acabou se tornando insustentável após o fechamento do Cabrião, e Agostini parte então para o Rio de Janeiro” (LIEBEL, 2015, p. 796-7)

No Rio de Janeiro, o artista colaborou com diversas publicações e publicou, em 1869, As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte, considerada a primeira história em quadrinhos brasileira e uma das mais antigas do mundo.

Em 1876, Agostini fundou a Revista Illustrada, um marco editorial no país à época. Boa parte de suas charges foi publicada nesta revista e, por meio delas, criticou o governo monárquico e exerceu sua militância abolicionista.

Análise da charge

A leitura crítica da caricatura bem como seu estudo como documento histórico requer alguns cuidados conforme já foi tratado no artigo Caricaturas do Segundo Reinado. É importante que esses cuidados sejam observados no trabalho com os alunos, evitando tomar as imagens como meras ilustrações.

Foram selecionadas quatro charges produzidas por Agostini entre os anos de 1870 e 1886 – período em que a campanha abolicionista ganhava força. Veja abaixo.

As charges selecionadas, especialmente a última, “Cenas da escravidão” (1886) permitem trazer para a sala de aula a discussão sobre a violência desse regime contrariando o senso comum que a escravidão no Brasil teria sido branda.

O mito da escravidão branda

A ideia de que a escravidão no Brasil foi branda é um mito da historiografia que ganhou força no pós-abolição e perdurou no século XX nas obras de Gilberto Freyre, Pedro Calmon, Haddock Lobo entre outros. Segundo esse mito, existiria uma certa benevolência dos senhores e um equilíbrio social relativamente pacífico entre senhores e escravos que resultaria em um convívio amigável entre esses grupos.

O mito da escravidão branda sustentou (e ainda sustenta) a crença de que a escravidão no Brasil não teve conflitos sociais abertos como nos Estados Unidos, país marcado pela brutal violência contra os escravos e pela segregação racial após abolição.

Nem todos, porém se deixaram influenciar pela crença de uma escravidão pacífica e amena. Os abolicionistas denunciaram a crueldade e violência a que os escravos eram submetidos, entre eles, Joaquim Nabuco:

“— diz-se que entre nós a escravidão é suave e os senhores são bons. A verdade, porém é que toda escravidão é a mesma, e quanto à bondade dos senhores esta não passa de resignação dos escravos. Quem se desse ao trabalho de fazer uma estatística dos crimes ou de escravos ou contra escravos, quem pudesse abrir um inquérito sobre a escravidão e ouvir as queixas dos que a sofrem, veria que ela no Brasil ainda hoje é tão dura, bárbara e cruel como foi em qualquer outro país da América.” (Joaquim Nabuco, O abolicionismo (1883) citado por Queiroz, 1975, p. 453).

O mito da escravidão branda alimentou outro mito, o da “democracia racial” que considera a sociedade brasileira desprovida de qualquer tipo de barreira social, preconceito ou discriminação, afirmando que existe igualdade de oportunidades entre negros e brancos.  Nessa linha de pensamento, a miscigenação seria a “prova” da tolerância étnica e da ausência de preconceito racial na sociedade brasileira. A “democracia racial” transforma, assim, os estupros das escravas e indígenas em atos consensuais ocultando a violência física e psicológica sofridas por essas mulheres.

O mito da democracia racial mascarou por séculos uma realidade social altamente racista, excludente, conflitante e discriminatória, além de legitimar a desigualdade social no Brasil. A análise das caricaturas de Agostini permite desconstruir essa falácia.

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Charges selecionadas

1. “De volta do Paraguai”, 1870

A charge “De volta do Paraguai” traz a seguinte legenda: “Cheio de glória, coberto de louros, depois de ter derramado seu sangue em defesa da pátria e libertado um povo da escravidão, o voluntário volta a seu país natal para ver sua mãe amarrada a um tronco. Horrível realidade.”

Entre os “voluntários da Pátria” que lutaram na Guerra do Paraguai havia muitos escravizados que se alistaram (ou foram alistados por seus proprietários) com a promessa de serem alforriados.  O próprio imperador D. Pedro II libertou todos os escravos das fazendas imperiais (como a Fazenda Imperial de Santa Cruz, Rio de Janeiro) para lutar na guerra.

A charge denuncia a contradição no retorno dos alforriados que serviram como voluntários e tiveram que conviver com seus familiares ainda mantidos sob o jugo da escravidão.

“De volta ao Paraguai”, Angelo Agostini, charge publicada na revista Vida Fluminense, Rio de Janeiro, n. 12, junho de 1870.

2. “Escravidão ou morte”, 1880

A charge “Escravidão ou morte!” (escrito no pedestal) traz o seguinte comentário de Agostini: “Projeto de uma estátua equestre para o ilustre chefe do partido liberal. Esta estátua deve fazer pendant [par] com a de D. Pedro I e será colocada no dia 7 de setembro de 1881. A iniciativa dos ilustres fazendeiros de cebolas é que devemos mais esse monumento das nossas glórias.”

O chefe do Partido Liberal mencionado pelo artista era o mineiro Martinho Álvares da Silva Campos, deputado em sucessivas legislaturas entre 1857 e 1882, nomeado senador em 1882, cargo que ocupou até a morte em 1887. Foi, também primeiro-ministro em 1882.

Fazendo alusão ao célebre grito do Ipiranga – Independência ou morte! – a charge ironiza a contradição do país que erguia monumentos à liberdade mas mantinha boa parte de sua população escravizada.

“Escravidão ou morte!”, Angelo Agostini, charge publicada na Revista Illustrada, Rio de Janeiro, n. 222, 1880.

3. “Congresso Internacional”, 1883

A charge “Congresso Internacional” (escrito na cortina à direita) e traz o seguinte diálogo entre o recepcionista do congresso e o imperador D. Pedro II:

  • — Queira perdoar, mas… com aquele negrinho não pode entrar.
  • — Mas é que eu não posso separar-me dele: é quem me veste, quem me dá de comer, quem… me serve de tudo afinal!
  • — É que… Enfim, em atenção às ilustres qualidades pessoais de tão sábio soberano, creio que as nações civilizadas não duvidarão em admiti-lo.

A charge critica a manutenção da escravidão no Brasil – marca indelével do atraso do país frente ao mundo incluindo a América onde todos os países já haviam abolido a escravidão. O Brasil foi o último país do continente a abolir a escravidão.

“Congresso Internacional”, Angelo Agostini, charge publicada na Revista Illustrada, Rio de Janeiro, ano 8, n.347, 30 de junho de 1883.

4. “Cenas da escravidão”, 1886

A charge “Cenas da escravidão patrocinada pelo partido da Ordem, sob o glorioso e sábio reinado do Senhor D. Pedro II, o Grande…” e apresenta uma sucessão de quatorze quadros, todos eles legendados.

A charge denuncia as crueldades a que eram submetidos os escravizados por seus proprietários. A violência e desumanidade das cenas desenhadas por Agostini tinham a intenção de atrair mais simpatizantes à causa abolicionista.

“Cenas da escravidão”, Angelo Agostini, charge publicada na Revista Illustrada, Rio de Janeiro, n. 427, 18 de fevereiro de 1886.

Questões para análise dessas charges (e suas respostas) estão no material disponível no site Stud História. Veja acima.

Fonte

  • QUEIROZ, Suely Robles de Queiroz. Brandura da escravidão brasileira: mito ou realidade? Revista de História, v. 2, n.52, 1975.
  • SILVA, Rosangela de Jesus. Desconstruções e reconstruções do Brasil: a caricatura e o monumento equestre a D. Pedro I. 19&20, Rio de Janeiro, v. VIII, n. 1, jan./jun. 2013.
  • SILVA, Rosangela de Jesus. O Brasil de Angelo Agostini: Política e sociedade nas imagens de um artista (1864-1910). [Doutorado], IFCH-UNICAMP, orientador: Luciano Migliaccio. Campinas, dezembro de 2010.
  • LIEBEL, Vinícius. Crepúsculo Imperial. Apontamentos preliminares acerca da Questão abolicionista. Almanak, Guarulhos, n.11, p.774-812, dez 2015.
  • BALABAN, Marcelo. Poeta do Lápis: A trajetória de Ângelo Agostini no Brasil Imperial, São Paulo e Rio de Janeiro, 1864-1888. [Doutorado]. Unicamp, 2005.
  • TEIXEIRA, Luíz Guilherme Sodré. O Traço como Texto – A História da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, Coleção Papéis Avulsos n. 38, 2001.

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