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Jogo de bola mesoamericano: o combate mortal

28 de agosto de 2015

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Chamado de “pok-ta-pok” pelos maias, de “ullamaliztli” pelos astecas e de “juego de pelota” pelos conquistadores espanhóis, o jogo de bola mesoamericano foi o mais importante esporte ritualístico das antigas civilizações da Mesoamérica. Podia durar dias terminando, quase sempre, com o sacrifício do capitão ou de toda equipe. Jogado ainda hoje no México (mas sem sacrifícios humanos), ele tem seu próprio campeonato chamado Copa Peninsular Pok-ta-Pok. A I Copa, realizada em 2015, contou com jogadores somente do México. Já a Copa de 2017 recebeu equipes de  Honduras, El Salvador, Belize, Guatemala além do México. Os jogos foram realizados em frente à grande Pirâmide do centro cerimonial maia de Acanceh, em Yucatan, no México.

O evento conta com a participação de antropólogos, historiadores, arqueólogos e outros especialistas que explicam a cultura e as regras aplicadas pelos maias ancestrais. Tais conhecimentos estão sendo utilizados para fundar a primeira escola especializada em Pok-ta-pok em San Pedro Chimay, no México.

Jogo de bola (Pok-ta-pok) realizado em Xcaret, estado de Quintana Roo, México.

Vestígios arqueológicos do jogo de bola

Foram encontrados campos do jogo de bola mesoamericano em diferentes culturas da América do Norte e Central, desde o Arizona até a Nicarágua e também em ilhas do Caribe, como Cuba e Porto Rico. A maior quantidade concentra-se no México, onde existem cerca de 1500 campos de jogo de bola o que evidencia a importância dessa atividade entre as culturas dessa região.

O campo era construído na forma de I, com uma zona central comprida e estreita, ladeada por paredes inclinadas e recobertas com estuque e pintadas com cores fortes. Os tamanhos variavam: os dos olmecas, os mais antigos, tinham 80 m x 8 m. O de Chichén Itzá, o maior de todos os campos de jogo de bola conhecidos, possuía 170 m x 70 m, maior que um campo de futebol.

Campo de bola de Chichén Itzá, México.

Campo de bola de Chichén Itzá, México.

Campo de bola de Monte Alban, México.

Campo de bola de Monte Alban, México.

O jogo de bola mesoamericano

Uma bola de borracha era arremessada no campo e as equipes deviam fazê-la atravessar um aro de pedra cujo diâmetro variava entre 40 cm e 80 cm. O aro estava fixado na vertical a 2 m ou mais do solo (o aro de Chichén Itzá ficava a 6 m de altura!).

Era proibido usar as mãos e os pés. Os jogadores só podiam arremessar a bola usando as coxas, os braços e os quadris. Assim que a bola acertasse o alvo, o jogo acabava. Mas isso era demorado: podia levar horas ou até dias.

A bola usada no jogo

A bola era feita de borracha cujo látex era extraído de seringueiras nativas das florestas tropicais do sul do México. O látex era queimado e endurecido com a seiva de ipomoea, uma trepadeira semelhante à dama-da-noite.

Tamanho e peso variavam: em sítios arqueológicos olmecas foram entradas bolas de 10 a 20 cm pesando cerca de 1,5 kg. Já as bolas maias e astecas tinham 25 a 30 cm e pesavam 3 a 4 kg.

Anel do campo de Chichén Itzá, México.

Reconstituição artística do jogo de bola asteca.

Os jogadores

Imagens pintadas em vasos de cerâmica, relevos e estatuetas revelam detalhes sobre os jogadores. Eles usavam proteções acolchoadas feitas de algodão nos quadris, joelhos, pernas e antebraços. Peles de jaguar ou de veado pintadas em cores fortes e colocadas no quadril davam uma proteção adicional.

Em algumas ocasiões, os jogadores do jogo de bola mesoamericano usavam máscaras e ornamentos na cabeça feitos de penas de pássaro.

Era um jogo extremamente violento. Eram comuns contusões, ferimentos graves e até mortes causadas pela força e velocidade com que a pesada bola era arremessada.

Representação do jogo de bola

Representação do jogo de bola, em cerâmica, com jogadores e plateia, 200 a.C.-500 d.C.

Origem do jogo de bola mesoamericano

O jogo de bola remonta aos olmecas, a cultura-mãe da Mesoamérica surgida nas terras baixas do Golfo do México.  As florestas tropicais dessa região eram ricas em seringueiras cujo látex era extraído pelos olmecas. Aliás, o nome “olmeca”, de origem nahuatl, língua falada pelos astecas, significa “povo da borracha”.

Bolas de borracha datando de 1600-1400 a.C. foram encontradas junto com outras oferendas olmecas indicam que o jogo de bola já tinha conotações religiosas e rituais. Estatuetas de jogadores de bola, incluindo figuras femininas, de 1250-1150 a.C. já mostram o uso de faixas acolchoadas no abdomen, braços e pernas.

Um jogo praticado por milênios e por tantos povos diferentes sofreu variações com o tempo e o local. Assim, há versões do jogo de bola mesoamericano em que eram usados bastões para jogar a bola. As equipes podiam ser compostas por 5 a 7 pessoas.  O jogo também era praticado casualmente, como simples recreação, inclusive por mulheres e crianças.

Jogo de bola em pintura mural, Bonampak, México.

O “pok-ta-pok” em pintura mural, Bonampak, México.

Sacrifícios humanos

Após o jogo de bola, eram comuns, especialmente nas cidades poderosas, a realização de rituais de sacrifício de uma das equipes. Os especialistas divergem sobre quem eram os sacrificados, se os derrotados ou os vencedores e talvez isso mudasse conforme a civilização.

Entre os astecas, as crônicas coloniais do século XVI indicam que a equipe vencedora era sacrificada. Segundo a cosmovisão asteca, era uma honra entregar a vida ao Sol e acompanhá-lo em sua trajetória celeste junto aos guerreiros mortos em batalha e as mulheres que morriam durante o parto.

Entre os maias, era costume os nobres inclusive o rei, disputarem o jogo de bola com prisioneiros de guerra. Tratava-se de uma representação da vitória do combate e tinha um desfecho predeterminado. No final, os prisioneiros eram decapitados ou tinham seus corações arrancados.

As paredes do grande campo do jogo de bola mesoamericano de Chichén Itzá têm um relevo que mostra o líder vencedor segurando a cabeça decapitada do líder adversário, que se encontra de joelhos com o sangue jorrando de seu pescoço sob a forma de serpentes. Entre eles, a bola com uma caveira, alusão ao costume de utilizar o crânio de um sacrificado como núcleo para se fazer uma nova bola.

Relevo de Chichén Itzá.

A representação do jogo “pok-ta-pok” em um relevo de Chichén Itzá onde se vê o sacrifício humano

Reconstituição artística do relevo de Chichen Itzá.

Detalhe do relevo de Chichén Itzá.

Detalhe do relevo de Chichén Itzá.

Significado do jogo de bola mesoamericano

Arqueólogos e historiadores concordam que o jogo de bola mesoamericano tinha uma conotação ritualística mas ainda discutem o significado desse rito: cosmológico em alusão ao movimento dos corpos celestes, mitológico segundo episódios míticos narrados no Popol Vuh, religioso em homenagem aos deuses ou escatológico celebrando a morte e o fim dos tempos ou de uma era.

Os maias viam o jogo como uma guerra entre os deuses de Xibalba, o submundo dos senhores da morte e doenças, contra seus adversários terrenos.

Para os astecas, o jogo representava uma batalha das forças noturnas lideradas pela Lua e estrelas contra o Sol personificado pelo Huitzilopochtli, o deus protetor. Os sacrifícios humanos tinham, assim, a função de manter o sol iluminando a Terra.  Daí a importância do jogo para a manutenção da vida. Na fundação de uma cidade, os astecas primeiro construíam o templo a Huitzilopochtli e, logo em seguida, o campo do jogo de bola.

Jogadores em pintura mural, Bonampak, México.

Jogadores de “pok-ta-pok” em pintura mural, Bonampak, México.

O jogo de bola mesoamericano hoje

Uma forma de jogo de bola asteca ainda é jogada na atualidade. Chamado de ulama, ele tem as versões ulama cadera (a bola é arremessada pelo quadril) e ulama antebrazo jogado com o antebraço e comumente por mulheres.

Entre setembro e outubro desse ano será realizada a Primeira Copa de Pok-ta-pok,  em Yucatan, México. As equipes serão formadas por 4 jogadores, todos das regiões indígenas maias. O jogo acontecerá em uma quadra de basquete adaptada. A área do campo, com 30 x 15 m, receberá um aro fixado a 2 m de altura.

A bola, feita de borracha e pesando 3 kg, só poderá ser arremessada pelo quadril e pernas. Serão subtraídos pontos da equipe que infringir essa regra.

O tempo de jogo será de 30 minutos divididos em 2 tempos de 15 minutos cada mas, se algum jogador conseguir acertar o alvo, será aclamado ganhador, independentemente do tempo transcorrido ou dos pontos obtidos.

Jogo de bola (Pok-ta-pok) durante a Copa do Mundo da FIFA, Alemanha, 2006.  

Fonte

  • El Juego de Pelota. Arqueología Mexicana. Editorial Raíces, vol VIII, n. 44, julho-agosto, 2000.
  • STUART, David. La ideología del sacrificio entre los mayas. Arqueología Mexicana. Editorial Raíces, n.63, setembro-outubro, 2003, p.24-29.
  • POPSON, Colleen P. Extreme Sport. Archaeology. Archaeological Institute of America, volume 56, n. 5, setembro-outubro, 2003.
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[…] historiadores divergem a respeito (isso também podia variar conforme a civilização). Neste site aqui é possível saber um pouco mais sobre este interessante jogo (tem alguns vídeos […]

PATRICIA DOS SANTOS CEZARINI
PATRICIA DOS SANTOS CEZARINI
6 anos atrás

Adorei o Post!!!

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