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Independência do Brasil por Moreaux: o olhar romântico de um francês

31 de março de 2015

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A independência é sempre um fato emblemático da História de um país, um divisor de águas que separa um passado sob o jugo do dominador de um presente promissor e libertário. Daí as datas nacionais serem comemoradas com desfiles militares, bandas e discursos como o Sete de Setembro.

Com o mesmo caráter ufanista, são erguidos monumentos, instituídas medalhas, selos e brasões, compostos hinos, criadas bandeiras e pintados quadros de temática nacionalista. Estes, por sua vez, feitos a pedidos de governantes, acabam por fazer uma leitura da história segundo o olhar daqueles que o encomendaram e financiaram.

O artista François-René Moreaux

Nascido em 1807, em Rocroy, na França, François-René Moreaux se especializou como pintor de História e de paisagismo em uma época que vigorava o romantismo nas artes e literatura.

A tela A proclamação da Independência, de 1844,  foi feita a pedido do Senado Imperial e encontra-se hoje, no Museu Imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro. Suas dimensões são grandes: tem 2,44 m x 3,83 m, sem contar a moldura. O quadro agradou a família imperial e aproximou Moreaux definitivamente da Corte. Pelo quadro A sagração de S.M. Dom Pedro II recebeu o Hábito da Ordem de Cristo.

“A proclamação da Independência”, de François-René Moreaux, 2,44 m x 3,83 m, 1844. Museu Imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro.

A independência sob o olhar de Moreaux

No centro da tela, o príncipe D. Pedro, tal qual uma estátua equestre, com a mão direita erguida, agita seu chapéu bicorne.  A figura é destacada da multidão pela luz que incide sobre o príncipe e o cavalo.

A comitiva de D.Pedro está afastada dele, ao fundo da tela e alguns também erguem seus chapéus.

A multidão na frente do príncipe – crianças, mulheres e homens – pouco se assemelha à população brasileira. Parece-se mais com a população rural da Europa. Os personagens congratulam-se, acenam, trocam abraços, correm. É uma festa popular, mas sem negros, mulatos nem índios que não foram retratados na tela. Duas figuras morenas se destacam na multidão, mas é difícil reconhecer de que grupo social se trata.

A paisagem ao fundo é indefinida. Somente as palmeiras sombreadas fazem alusão de um lugar nos trópicos.

Todo conjunto remete mais à imaginação do que à realidade o que, aliás, é característico da arte romântica, em voga na época. Uma cena idealizada que mostra um príncipe aclamado pelo seu povo e cavalgando entre a massa popular branca e europeizada.

Crianças que se assemelham a figuras europeias. “A proclamação da Independência”, de Moreaux, 1844.

proclamação da Independência, de Moreaux

Os trajes misturam estilos e lugares diferentes. Uma figura morena destaca-se na multidão branca. “A proclamação da Independência”, de Moreaux, 1844.

proclamação da Independência, de Moreaux

Personagem moreno, talvez um gaúcho. “A proclamação da Independência”, de Moreaux, 1844.

Contexto histórico

A França da época de Moreaux vivia tempos tumultuados. Em 1830, uma rebelião liberal derrubara a monarquia e Luis Felipe I ascendeu ao poder com o apoio da alta burguesia. Mas o novo rei não conseguiu restabelecer a ordem, enfrentou rebeliões favoráveis à volta dos Bourbons e dos republicanos (1830-1840), além de atentados contra sua vida que o levou a aplicar medidas severas e restritivas das liberdades.

Moreaux chegou ao Brasil em 1838 e por aqui ficou até o final de seus dias, falecendo em 1860. O Brasil passava, então, pela consolidação da monarquia, após o tumultuado período das Regências. Ao contrário do que acontecia na França, o monarca brasileiro era popular e querido pelos brasileiros. A antecipação  da maioridade, em 1840, foi comemorada com a esperança de novos tempos de paz e prosperidade.

Vivendo na corte imperial, Moreaux assistiu a importantes festejos oficiais: o ritual de sagração e coroação de D. Pedro II, marcado pela pompa e ostentação; o casamento do imperador com Teresa Cristina, de Nápoles e ainda aos casamentos das princesas imperiais com nobres europeus.  A monarquia brasileira firmava, assim, vínculos mais sólidos com as realezas europeias, apesar de reinar em um país de mestiços.

Esse clima otimista deve ter influenciado o artista ao retratar D. Pedro I como um herói popular. O nome da tela reforça essa ideia, afinal “proclamar” é um anúncio solene, feito publicamente e que pressupõe um certo consenso. A proclamação da independência torna-se, assim, um gesto liberal, bem ao gosto da época, diferente de O Grito do Ipiranga, título do quadro de Pedro Américo.

D. Pedro aclamado por populares.

Fonte

  • SCHWARCZ, Lilia. Reino da imaginação. Revista de História, 16/09/2009.
  • CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
  • FRIEDLANDER, Walter. De David a Delacroix. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.

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[…] O Príncipe é a figura de destaque: no centro e na parte mais elevada, ele ergue a espada passando a ideia de líder vitorioso, como se ele fosse o único responsável pela independência. É dele que parte o “grito”, praticamente uma ordem militar que é imediatamente acatada por todos que o acompanham. Aliás, o nome da tela O grito do Ipiranga já é indicativo da visão autoritária e personalista sobre o fato retratado, diferente do quadro de François-René Moreaux, A proclamação da independência, de 1844 (veja a respeito aqui). […]

Adalberto Ricardo Pessoa
8 anos atrás

Saudações. Sou Psicólogo e Estudante de Filosofia. Professora Joelza, você saberia informar ou dizer se há algum documento que informa a Hora do Grito da Independência? Minhas pesquisas pessoais situam o horário entre 16:08 e 16:50horas. Você possui alguma informação? Aguardo.

Joelza Ester
Joelza Ester
8 anos atrás

Olá Adalberto,

Segundo José Honório Rodrigues, o grito teria ocorrido entre 16h e 16h30 e foi assistido por 38 pessoas. Em seguida, partiram todos para São Paulo. D. Pedro chegou primeiro, às 17h30. (RODRIGUES, José Honório. “Independência: revolução e contra-revolução”. A evolução política. São Paulo: Livraria Francisco Alves, 1975, p. 251.)

Adalberto Ricardo Pessoa
8 anos atrás
Responder para  Joelza Ester

Muito Obrigado.
Abraços!

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[…] Independência do Brasil por Moreaux: o olhar romântico de um francês […]

trackback

[…] eram portugueses metropolitanos estabelecidos na Bahia e, em volume menor, naturais do Brasil. A independência do Brasil e as guerras que se seguiram criaram algumas dificuldades pois muitos comerciantes portugueses […]

Vitor Fernandes
Vitor Fernandes
1 ano atrás

Este foi o quarto artigo que acabei de ser relacionado a esse tem e foi o que mais deixou claro para mim. aplicativo

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