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A música dos Neandertais em uma flauta de 50 mil anos

23 de fevereiro de 2025

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Ao contrário do que (ainda) se imagina, o Homem de Neandertal não era um humano primitivo desajeitado, que mal conseguia andar ereto, brandia ameaçadoramente sua enorme clava e só sabia emitir sons guturais incompreensíveis.

Essa imagem, frequentemente retratada no passado, está há muito ultrapassada. Graças a mais de 400 achados esqueléticos, o Neandertal é a espécie fóssil mais bem estudada do gênero Homo.

Esse nosso primo ancestral produziu tecnologia, criou uma cultura, cuidou dos membros feridos do grupo e desenvolveu expressões artísticas incluindo, possivelmente, música!

Quem foi o Homem de Neandertal

Os fragmentos ósseos descobertos em 1856 no Vale do Neander, na Alemanha, deram início aos estudos sobre o Homem de Neanderthal (Homo neanderthalensis), um parente próximo dos humanos modernos, o Homo sapiens, com a qual conviveu em determinados períodos e áreas.

Surgiu há cerca de 350 mil anos e povoou grandes partes da Europa, expandindo-se depois para a Ásia Ocidental (Turquia e Iraque) e daí para a Ásia Central. Sua extinção há 30 mil anos é ainda motivo de debates entre os especialistas.

Os Neandertais viveram em um dos ambientes mais implacáveis ​​já habitados por humanos (a última era glacial do Pleistoceno) e sua sobrevivência é um testemunho notável da adaptação dessa espécie. Sua expectativa de vida estava em torno dos 35 anos: 80% de todos os neandertais conhecidos morreram antes dos 40 anos. Embora a maioria deles tenha morrido entre os 20 e os 30 anos, 20% (um em cada cinco Neandertais) viveu até mais de 40 anos, o que é um feito notável. Se compararmos com a expectativa de vida no Brasil na primeira metade do século XX (35 anos em 1920 e 45 anos em 1940, segundo o IBGE), a longevidade do Homem de Neandertal é surpreendente.

À ESQ., esqueleto composto de Neandertal. Museu Americano de História Natural. À DIR. EM CIMA, reconstrução de humano do Paleolítico Superior, cujos fósseis, encontrados na Romênia, tem 7,3% de DNA Neandertal (de um ancestral de 4 a 6 gerações). À DIR. EMBAIXO, reconstrução de adorno usado pelo Homem de Neandertal feito de garras de águia de cauda branca, descobertas em Krapina, Croácia.

A cultura Neandertal

Os Neandertais desenvolveram uma cultura bem-sucedida com uma tecnologia de ferramentas de pedra para caça (arpão, lança, pontas de flecha) e uso doméstico que incluíam furadores, raspadores, afiadores de lâminas e buris para entalhar madeira e osso.

Alguns desses artefatos (pedra, concha) parecem ter sido coletados por curiosidade, beleza ou por causa de seu valor intrínseco, em vez de alguma função utilitária, e foram levados para longe de seu contexto original Os Neandertais usavam adornos (colares de contas), corante e decoravam ferramentas de osso com desenhos e símbolos – o que está longe de uma mente ocupada unicamente com a sobrevivência. Eles tinham um pensamento cognitivo e alguma capacidade de abstração.

Os Neandertais tinham comportamentos sociais complexos como indicam suas práticas funerárias e o cuidado com os membros feridos de seu grupo.

Vários esqueletos de neandertais mais antigos apresentam fraturas ósseas curadas e evidências de músculos severamente atrofiados como resultado de ferimentos que os enfraqueceram significativamente. Esses indivíduos só conseguiram sobreviver às consequências desses ferimentos porque contavam com o apoio dos membros do clã.

A linguagem Neandertal

Até o início dos anos 2000, acreditava-se que os neandertais não tinham capacidade para comunicação complexa, como a comunicação falada. A base craniana achatada dos neandertais — semelhante à dos bebês modernos antes dos 2 anos de idade — não fornecia espaço suficiente para a produção de vogais, que são usadas em todas as línguas faladas dos humanos modernos.

No entanto, estudos do canal hipoglosso (uma das duas pequenas aberturas na parte inferior do crânio) e um hioide (o osso localizado entre a base da língua e laringe) sugeriram que o trato vocal neandertal poderia ter sido semelhante ao encontrado em humanos modernos.

Estudos genéticos no início dos anos 2000 envolvendo o gene neandertal FOXP2 (um gene ligado à fala e à linguagem) indicou que os neandertais provavelmente usavam a linguagem da mesma forma que os humanos modernos. Não se sabe, porém, se eles eram capazes de toda a gama de fonemas que caracterizam as línguas dos humanos modernos.

A flauta Neandertal

Flauta de Divje Babe feita por Neandertais há 50 mil anos. Museu Nacional da Eslovênia .

Um pedaço de osso com furos foi descoberto em 1995, durante as escavações na caverna de Divje Babe, na Eslovênia. Estava na camada 8 do Paleolítico médio de 50 mil a 35 mil anos atrás, nas proximidades de uma lareira e de outros artefatos, indicando a presença humana.

Com base na datação por radiocarbono de carvão encontrado na lareira, a idade da flauta foi inicialmente estimada em 43.100 ± 700 anos AP (antes do presente). Datação posterior usando ressonância de spin eletrônico (ESR) mostrou que era mais antiga. De acordo com a datação por ESR, a idade da flauta é estimada em 50.000 a 60.000 anos AP.

O artefato foi declarado por especialistas como sendo uma flauta feita por Neandertais há 50 mil anos, tornando-se assim, o instrumento musical mais antigo do mundo.

Esculpida no fêmur de jovem urso das cavernas, a flauta Divje Babe possui dois furos preservados e três danificados, segundo descrição do Museu Nacional da Eslovênia onde se encontra.

Quatro furos estão dispostos em uma fileira regular e o quinto furo está na parte de trás. Isso corresponde a uma flauta de uma mão para quatro dedos e um polegar. Tem cerca de 11,4 cm de comprimento.

Questões controversas

Alguns cientistas ocidentais alegaram que não era uma flauta afirmando que os buracos poderiam ter sido causados por mordidas de animais. O debate se concentra em três perguntas:

  • Os buracos foram produzidos por dentes de carnívoros?
  • Os furos foram produzidos por ferramentas?
  • O formato do artefato poderia ter sido resultado de mastigação aleatória ou foi projetado para uma função musical?

O Museu Nacional da Eslovênia refuta as hipóteses do artefato ser resultado de mordidas de animais, sustentando que o arranjo regular dos buracos só é possível por meio de processamento intencional e humano. Ivan Turk, que liderou as escavações em 1995, e colegas argumentaram que o artefato foi produzido com ferramentas neandertais conhecidas. Ferramentas de pedra pontiagudas apropriadas para perfurar ossos foram encontradas em vários níveis da caverna de Divje Babe.

Ivan Turk acrescenta que os furos têm diâmetros adequados para acomodar as pontas dos dedos, e todos são circulares em vez de ovais. Todos estão na proporção dos furos encontrado na maioria das flautas (são conhecidas outras flautas paleolíticas, porém de idades mais recentes), e o osso (fêmur) é do tipo geralmente usado para flautas de osso.

O musicólogo Bob Fink afirmou que os orifícios na flauta correspondem às notas da escala diatônica – dó, ré, mi, fá, sol – o que dificilmente seria uma coincidência.

Réplica da flauta Divje Babe

Flauta Divje Babe reconstituída por Ljuben Dimkarosk.

Uma réplica da flauta Divje Babe foi produzida pelo pesquisador e músico profissional Ljuben Dimkaroski considerando 4 furos.

O instrumento reconstruído tem três furos para os dedos (furos 1–3) no lado posterior e um furo para a palma (furo 5) no lado anterior do fêmur. O entalhe 4 é deixado como um entalhe, em vez de reconstruí-lo como um furo. Com um dedo da mão direita, o entalhe no lado distal posterior pode ser formado em um furo adicional. A abertura fornece a possibilidade de tocar em um sino aberto ou fechado, o que enriquece adicionalmente a gama tonal.

A réplica tem uma capacidade de 3½ oitavas. Artistas experientes demonstraram sua utilidade como instrumento musical e conseguiram obter uma gama e amplitude de variação surpreendentes.

O músico Ljuben Dimkaroski, membro da Orquestra da Ópera de Ljubljana (trompete) tocando a flauta Divje Babe.

Você pode ouvir o som da flauta Divje Babe tocada por Ljuben Dimkariski interpretando Bolero, de Ravel,  no Youtube.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sHy9FOblt7Y&t=343s

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