Situada ao sul da Chapada Diamantina, Rio de Contas é uma das raras “cidades novas” coloniais, criada por Portugal, por meio de Provisão Real de 1745, que recomendava a escolha do sítio próximo a algum arraial estabelecido, em um local saudável, com traçado regular e arquitetura capaz de garantir seu embelezamento. Foi, assim, a primeira cidade planejada do Brasil.
Na região já havia um pequeno povoado formado por escravos foragidos e alforriados conhecido como “Pouso dos Crioulos”, atual cidade de Brumado, que, em pouco tempo tornou-se ponto de pouso de viajantes vindos de Minas Gerais e Goiás que seguiam em direção a Salvador. O ouro, descoberto pelo bandeirante paulista Sebastião Pinheiro Raposo por volta de 1710, logo atraiu garimpeiros e comerciantes, e deu origem a outras povoações.
A necessidade de melhor controlar as lavras de ouro aluvional e de garantir o pagamento do quinto levaram Portugal a criar, por meio da Provisão Real de 1745, a Vila Nova de Nossa Senhora do Livramento e Minas do Rio de Contas. A cidade surgiu como um centro de mineração de ouro e logo se transformou em verdadeira capital regional possuindo, inclusive, Casa de Fundição para recolher o quinto.
A vila viveu, na segunda metade do século XVIII, uma época de grande prosperidade econômica. As famílias mais abastadas importavam da Europa peças de uso pessoal e de decoração e ostentavam sua riqueza lançando pó de ouro nos Imperadores e Rainhas durante as procissões da festa do Divino Espírito Santo. São dessa época, segunda metade do século XVIII, os casarões em estilo colonial, hoje tombados pelo Iphan.
O esgotamento do ouro, por volta de 1800, trouxe estagnação, agravada, a partir de 1844, com a descoberta de diamantes em Mucugê. Grande parte da população de Rio de Contas transferiu-se para aquela cidade em busca de novas riquezas.
Mesmo com a queda da produção de ouro, Rio de Contas continuou sendo uma escala obrigatória no Caminho Real. Durante o século XIX, todo o tráfego para o sudoeste da Bacia do Rio São Francisco era feito por esse caminho. Além disso, a Casa de Fundição trouxe para a cidade a técnica da joalheira o que gerou uma metalúrgica artesanal que se transformou na base da economia local. Desenvolveu-se, também a agricultura baseada no café, cana-de-açúcar, cereais e tubérculos.
Em 1885, a vila foi elevada à condição de cidade com a denominação de Minas do Rio de Contas. Em 1931, o município passou a se chamar Rio de Contas. No século XX, novas corridas de ouro ocorreram em 1932 e 1939.
Rio de Contas preserva o traçado antigo, apresentando praças e ruas amplas, igrejas barrocas, monumentos públicos e religiosos em pedra e o casario em adobe. O conjunto arquitetônico de Rio de Contas, constituído, basicamente, por edifícios da segunda metade do século XVIII e início do XIX, foi tombado pelo Iphan, em 1980. A cidade é, atualmente, polo ecoturístico da Bahia. Em 2001, Rio de Contas junto com a cidade de Caiteté foi cenário do filme “Abril Despedaçado”, do diretor Walter Salles.
Além das centenas de edificações históricas da área urbana, nos arredores de Rio de Contas encontram-se vestígios de represas, aquedutos, túneis e galerias, que testemunharam a grande atividade de mineração naquele sítio.
Atrativos históricos de Rio de Contas
- Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento – Construída na segunda metade do século XVIII para ser a Igreja Matriz da Vila Nova de Nossa Senhora do Livramento e Minas do Rio de Contas, e considerada o mais relevante exemplar da arquitetura religiosa do sertão baiano, com uma forte influência barroca. O forro da capela-mor apresenta pintura ilusionista, de inspiração italiana. Durante o trabalho de restaurado feito pelo Iphan descoberto um inusitado nicho barroco, em chinoiserie, um estilo popular nos séculos XVI e XVII, com forte influência oriental de Goa (Índia) ou Macau (China), colônias portuguesas.
- Teatro São Carlos – Um dos três mais antigos do Brasil e o mais antigo do interior baiano. Inaugurado em 1892, foi palco de inúmeras apresentações de grupos locais e de produções vindas de outras partes do Brasil. Funciona, atualmente, como um espaço onde ocorrem ações e atividades educacionais e culturais.
- Casa à Rua Barão de Macaúbas, especialmente nas de números 11 e 19, possivelmente de meados do século XIX. Uma parte da casa era destinada à loja, com entrada independente e salas para depósito; outra parte destinava-se à residência, tendo na frente os salões de uso social e família e, nos fundos, os quartos ao longo de um corredor central. Destacam-se os baixos relevos em estuque e em forma de folhas, que conferem ao edifício certa singularidade.
- Casa de Câmara e Cadeia, conhecida como a mais temida prisão do sertão baiano, é, atualmente, sede do Fórum Barão de Macaúbas. Construção de meados do século XVIII ou início do século XIX, tinha, no térreo, a Cadeia, Casa do Carcereiro e a Audiência. Apresenta como particularidade o sino-do-povo, instalado na ombreira de uma das janelas do segundo pavimento.
- Casa natal do Barão de Macaúbas, casa natal de Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas (1824-1891), grande educador brasileiro. Construída provavelmente nos primeiros anos do século XX, é um exemplar típico das residências diamantíferas, sendo de uso misto (residencial e comercial). Atualmente é ocupada pelo Escritório Técnico do IPHAN e pelo Arquivo Municipal de Rio de Contas.
- Igreja de Santana (ruínas), construída por escravos na primeira metade do século XVIII, em alvenaria de pedra, nunca chegou a ser concluída. Suas obras foram paralisadas, em torno de 1850, devido ao êxodo da população local para outra região mineira.
- Casa de Fundição, onde o ouro era derretido e transformado em barras. Atualmente é sede da Prefeitura Municipal de Rio de Contas.
- Orquestra Filarmônica Lira dos Artistas, casa que pertenceu ao Coronel Carlos Souto, exemplo máximo da arquitetura da época do ouro.
Fonte
Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Rio de Contas. Documentação eletrônica do sítio histórico.
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