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Reino de Gana, o país do ouro (vídeo)

9 de dezembro de 2014

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A África anterior à exploração europeia era um continente muito povoado, contando com, no mínimo, 200 milhões de habitantes, distribuídos, porém, desigualmente, devido a existência de desertos e densas florestas.

Falantes de 1.250 línguas diferentes (ou 2.050, dependendo do critério adotado), as populações africanas dividiam-se em incontáveis linhagens, clãs, tribos e nações vivendo em aldeias agrícolas ou pastoris, em comunidades nômades de caçadores, ou constituindo reinos e impérios poderosos com dinâmicos centros urbanos. O passado africano conta com uma riqueza de experiências políticas e sociais, muitas delas originais.

Foi na região do Sahel, no cruzamento das rotas transaarianas, que se formaram os primeiros grandes impérios africanos: Gana, Mali e Songai.

  • BNCC: 7º ano – Habilidade: EF07HI03, EF07HI14, EF07HI16
Reino_de_Gana

O antigo reino de Gana abrangia um território distante da atual Gana (indicada na cor laranja).

Vídeo: Reino de Gana (com testes no final)

Conceitos e definições

Em primeiro lugar, o nome Gana não corresponde ao país atual. Gana do passado não tem qualquer relação geográfica ou étnica com a Gana de hoje e seu império ocupava a área que hoje compreende o Mali e a Mauritânia.

Segundo a tradição, os fundadores da primeira dinastia de Gana teriam sido cameleiros do deserto que, a partir do século IV d.C., forneceram 22 reis ao país.

No século VII, o povo soninquê, subgrupo mandinga, apoderou-se do reino e transformou Gana na principal potência econômica e militar da África Ocidental. A denominação “reino” ou “império” precisa, contudo, ser entendida no contexto africano. Esclarece Costa e Silva:

“Gana” (…) era o título usado pelos reis (…). Talvez o estado não tivesse nome, sendo conhecido como os domínios do “gana”. (…) O estado que hoje conhecemos pelo título de seu chefe não se fundava na soberania territorial. Não era relevante, para o “gana”, a precisão dos limites, a extensão das terras sob seu domínio, o comando dos espaços. Nem, muito menos, a imposição de uma rígida estrutura governamental ou das formas de cultura do grupo dominante sobre os povos periféricos. O que importava era a quantidade de gente sob seu controle.

Não era Gana, portanto, um império, se visto da perspectiva romana: não possuía a vontade de unificar e converter, de reduzir todos os povos (…) à mesma lei e a um único césar.

(…) As relações entre o “gana” e os seus domínios eram grupais, pessoais, de linhagens. Sua soberania exercia-se sobre os homens e não sobre a terra. O monarca não estava interessado em ampliar seu poder pela adição de novos territórios, mas em submeter números crescentes de cidades, aldeias e grupos humanos que lhe pagassem tributos e lhe pudessem fornecer soldados para a guerra, servidores para a corte, lavradores para os campos reais.” (COSTA E SILVA: 2006, p. 277).

O período de esplendor de Gana situa-se após o ano de 790 e estende-se até a segunda metade do século XI. A autoridade e legitimidade do “gana” provinha do fato dele ser o maior representante dos costumes ancestrais e o protetor dos ritos dedicados às entidades de culto. A isso se somava o reconhecimento  da autoridade pessoal, o poder militar e as relações de parentesco com os governantes da área sob sua influência A sucessão se fazia em linha feminina, prevalecendo o costume da matrilinearidade, com os sobrinhos sucedendo aos tios (MACEDO: 2015, p. 52-53).

Gana, o “país do ouro”

Viajantes estrangeiros chamaram Gana de “o país do ouro”. O reino enriqueceu explorando o comércio de marfim, escravos e, sobretudo, de ouro.

O ouro vinha das fabulosas minas de ouro de Bambuk e Buré, junto às nascentes do Níger e do Senegal, ao sul de Gana. Sua localização exata foi mantida em segredo por séculos. Possivelmente, o “gana” não mantinha qualquer controle sobre a região aurífera, mas dominava o acesso aos mercados onde o ouro era trocado e, cobrava por isso.

Nos mercados de Gana, todas as mercadorias pagavam 1 dinar de ouro (cerca de 4g) ao entrar em seus territórios, e dois, à saída. Pode-se imaginar o dinamismo desse comércio e das rotas cujas taxas e tributos reverteram em enorme riqueza e poder ao “gana”.

Al-Bakri. geógrafo árabe do século X, fez a seguinte descrição da riqueza do rei de Gana:

“O rei [de Ghana] adorna a si mesmo como se fosse uma mulher, usando colares no pescoço e pulseiras nos braços. Quando se senta diante do povo, coloca-se em um lugar alto decorado com ouro e usando um turbante de algodão fino. (…) Há dez cavalos cobertos com mantas bordadas a ouro. Atrás do rei ficam dez pajens segurando escudos e espadas decorados com ouro.

À sua direita ficam os filhos dos vassalos do país do rei, vestindo esplêndidas roupas e com os cabelos trançados com ouro. (…) Na entrada do pavilhão estão os cães (…) que usam ao redor de seus pescoços colares de ouro e de prata enfeitados com sinos do mesmo metal.”

(…) A audiência é anunciada pela batida em um longo cilindro oco que se chama “daba”. Quando os povos que professam a mesma religião se aproximam do rei, caem de joelhos e polvilham suas cabeças com pó, uma forma de mostrar respeito por ele. Quanto aos muçulmanos, eles cumprimentam-no somente batendo suas mãos.”

(Al-Bakri. Description de l’Afrique septentrionale, século X.)

O ouro não era o único mineral responsável pela riqueza de Gana. Outros três minerais de grande importância explorados pelo reino foram o sal, o cobre e o ferro. Além disso, havia a tributação imposta aos povos vencidos ou que reconheciam a hegemonia de Gana, e a tributação imopsta aos produtos que circulavam nos domínios sob sua influência.

As duas capitais de Gana

Segundo Al-Bakri, o reino de Gana possuía duas capitais: Kumbi Saleh que era habitada por mercadores de várias etnias africanas, totalizando entre 15 e 20 mil habitantes, e Gaba ou Al-Ghana que servia de residência real.

Al-Bakri descreve Kumbi Saleh como uma cidade de mercadores ricos com doze mesquitas. As pesquisas arqueológicas encontraram no local faianças procedentes do norte da África, objetos de vidro, cobre e couro.

Em Gaba, a cidade real, situada a 1 km, ficava a residência do “gana” e de sua corte e sacerdotes. Nos arredores, em meio a bosques nativos ficavam os túmulos reais e eram realizados os rituais religiosos – o que tornava o local sagrado e proibido aos forasteiros. Gaba permanece desconhecida pelos pesquisadores pois ainda não foi localizada pelos arqueólogos.

Apesar da expansão do Islã no norte da África e da forte presença muçulmana em Kumbi Saleh, a população soninquê de Gana, incluindo a família real, conservava seus cultos tradicionais.

kumbi_saleh_capital_de_gana

Ruínas de Kumbi Saleh, a capital de Gana onde residiam os mercadores. A cidade foi reencontrada em 1914, durante o período da ocupação francesa.

O declínio de Gana

No século XI, o reino sofreu as investidas dos almorávidas, dinastia muçulmana, de origem berbere.

Os almorávidas tomaram como missão impor, pela força das armas, a “verdadeira” fé aos infiéis. Lançaram-se em uma furiosa jihad investindo contra populações e reinos – guerra que resultou na formação de um império que, entre os séculos XI e XII, se estendia pelos atuais territórios da Mauritânia, Saara Ocidental, Marrocos e sul da Espanha.

Em 1076, Kumbi Saleh, a capital de Gana, foi tomada e saqueada pelos almorávidas. Um segundo saque ocorreu em 1203. A devastação e o saque da capital arruinaram o reino de Gana que nunca mais conseguiu recuperar seu antigo poderio.

As caravanas passaram a se desviar das rotas que passavam por Gana, seguindo por Tombuctu, Gao e Djené. A população de Gana converteu-se ao islamismo buscando se proteger dos ataques muçulmanos.

A decadência aprofundou-se com revoltas internas que esfacelaram o país do ouro. O império de Gana mergulhou em lutas tribais até que, em 1240 suas últimas possessões foram incorporadas ao Reino de Mali.

Antes do ataque, os almorávidas tocavam trombetas e tambores. Iluminura do livro de Maqamat Al-Hariri, 1237, desenho Yahya Ibn Mahmud Al Wasiti. Biblioteca Nacional de Paris.

Fonte

  • COSTA E SILVA, Alberto. A enxada e a lança. A África antes dos portugueses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
  • LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro, 2004.
  • SILVERIO, Valter Roberto (ed.). Síntese da coleção História Geral da África.
  • MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2015.
  • COSTA, Ricardo. A expansão árabe na África e os impérios de Gana, Mali e Songai, sécs. VII-XVI. Disponível aqui.
  • Al-Bakri’s online guide to Ghana Empire. Islamic Unit Studies. Disponível aqui.

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