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Poema de 2500 anos de Safo motivou estudo astronômico

10 de outubro de 2022

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BNCC

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Um antigo poema grego que menciona a Lua e o grupo de estrelas das Plêiades levou físicos e astrônomos a pesquisarem se o céu mencionado pela autora era aquele mesmo há 2500 anos. A autora do poema é Safo (c.630-c.570 a.C.), célebre poetisa grega da ilha de Lesbos. É conhecida por sua poesia lírica, escrita para ser cantada ao som da lira. Sua obra foi admirada na Antiguidade e muitos autores antigos se referiam a Safo como a “Décima Musa” e “A Poetisa”.

A maior parte das poesias de Safo se perdeu ao longo do tempo. Estima-se que ela tenha escrito cerca de 10 mil versos, das quais apenas 650 sobreviveram e de forma fragmentada. Apenas o poema “Ode a Afrodite” chegou completo aos dias atuais. Em 2004 e 2014 foram descobertos novos poemas de Safo, o que foi motivo de muito comentário na mídia internacional.

Safo, de Gustavo Klimt, 1888.

Foi o seu “Poema da Meia-Noite”, de apenas quatro linhas, que levou ao estudo astronômico.

A Lua e as Plêiades já se puseram.

É meia-noite, 

o tempo passa,

mas durmo sozinha.

O poema menciona duas observações astronômicas: a lua e as Plêiades (grupo de estrelas na constelação do Touro) que estavam visíveis e que se puseram antes da meia-noite. A menção chamou a atenção de astronômos para calcularem o céu noturno da Grécia a cerca de 2.500 anos e com isso descobrir em que data o poema foi composto.

  • BNCC: 6° ano. Habilidade: EF06HI19

O estudo astronômico

Físicos e astrônomos da Universidade do Texas, em Arlington, EUA, foram pesquisar sobre o céu noturno da Grécia à época em que Safo compôs seu poema. A equipe também incluiu Martin George, ex-chefe da Internacional Planetarium Society e atual membro do Instituto Nacional de Pesquisa Astronômica da Tailândia. O resultado da pesquisa foi publicado no Journal of Astronomical History and Heritage, em 2016 (veja Fonte).

Observado da ilha de Lesbos, local de nascimento de Safo, as Plêiades foram vistas pela antiga poetisa grega por volta da meia-noite. Com a ajuda de um programa de computador avançado, conhecido como Starry Night versão 7.3, Manfred Cuntz e seu colega Levent Gurdemir identificaram com sucesso a data mais antiga na qual o aglomerado de estrelas podia ser visto por volta da meia-noite em 570 a.C.: 25 de janeiro.

As Plêiades são facilmente visíveis nos dois hemisférios. Elas são conhecidas desde os tempos mais remotos por culturas de todo mundo incluindo os maoris (aborígenes australianos), os babilônicos, os persas, os maias, os astecas e os sioux.

Usando o software Planetário de alta tecnologia, chamado Digistar 5, os pesquisadores também conseguiram recriar com precisão o céu noturno na Grécia antiga, à época de Safo. Um dos autores do artigo, Levent Gurdemir comentou:

“O uso do software Planetário nos permite simular o céu noturno com mais precisão em qualquer data, passada ou futura, em qualquer local. Este é um exemplo de como estamos abrindo o Planetário para pesquisar disciplinas além da astronomia, incluindo geociências, biologia, química, arte, literatura, arquitetura, história e até medicina.”

De acordo com os astrônomos, no ano 570 a.C., a data mais antiga que as Plêiades estabeleceram um pouco antes da meia-noite foi 25 de janeiro, que é possivelmente a data em que o poema foi escrito. Cuntz explicou:

“A questão do tempo é complexa, pois naquela época eles não tinham relógios mecânicos precisos como nós, apenas talvez relógios de água. Por essa razão, também identificamos a última data em que as Plêiades teriam sido visíveis para Safo daquele local em datas diferentes em algum momento da noite.”

A última data para o aglomerado de estrelas das Plêiades ser visível no final do crepúsculo astronômico – o instante em que a altitude do Sol é exatamente -18 graus e, consequentemente, o céu está perfeitamente escuro – era 31 de março.

Muitos dos poemas de Safo tratam da astronomia, alguns se referindo ao Sol, à Lua, às estrelas e até a Vênus.

A respeito disso, Cuntz comentou:

“Fomos capazes de datar este poema sazonalmente com precisão para meados do inverno e início da primavera, confirmando cientificamente estimativas anteriores de outros estudiosos… Safo deve ser considerada um contribuinte informal para a astronomia grega primitiva, bem como para a sociedade grega em geral. Não são muitos os poetas antigos que comentam as observações astronômicas com tanta clareza quanto ela.”

Safo, a poetisa que desafiou a misoginia grega

Nos dias de Safo, óleo de John Godward, 1904.

Na Grécia antiga, a mulher não recebia educação escolar formal, tinha apenas a instrução recebida de sua mãe para administrar a futura casa. Era destinada ao casamento e devia obediência e submissão ao marido. Estava excluída da vida política e da cidadania.

Safo, nascida em Mitilene, na ilha de Lesbos em uma família da aristocracia local, fugiu desse padrão. Ela não somente teve uma educação refinada como também fundou, em Mitilene, uma escola para mulheres. Nessa escola, Safo ensinava poesia, dança, arte e música para suas alunas.

Ali também eram praticadas atividades físicas, organizavam-se banquetes, cultos religiosos e concursos de beleza. As alunas, chamadas de hetaera (companheiras), vinham de vários lugares da Grécia para serem discípulas de Safo. Aprendiam a serem “mulheres completas”, ou seja: graciosas, femininas, elegantes, inteligentes e cultas segundo a ideia de feminilidade de Safo.

Em uma época onde o estudo era direcionado somente aos homens, a proeminente escola de Safo acabou por sofrer perseguições e distorções históricas.

A própria sexualidade de Safo foi motivo de polêmica desde a Antiguidade. Na comédia ateniense clássica, Safo foi caricaturada como uma mulher heterossexual promíscua. Foi, porém, a acusação de ter relações sexuais com outras mulheres a que mais se difundiu.

O termo lésbica, originário do nome da ilha de Lesbos, é uma alusão direta a Safo. Não tem, porém, qualquer fundamento histórico referir-se às mulheres da antiga Lesbos como lésbicas, até porque esse termo sequer existia na época com o sentido atual que possui.

A pouca quantidade de fatos biográficos sobre a vida de Safo e a interpretação equivocada de seus poemas e mais frequentemente de seus fragmentos, torna a questão acerca da sexualidade de Safo bastante controversa.

Fonte

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