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Os valiosos esqueletos dos mártires esquecidos do catolicismo

3 de novembro de 2017

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Os santos das catacumbas recobertos de joias e reverenciados como patronos locais causam espanto a todos que os visitam. Surpreendem pelo esplendor da riqueza que ostentam, mas também amedrontam por seu aspecto macabro de glorificação da morte. Alguns ainda permanecem em certas igrejas, expostos em vitrines ou escondidos dos fiéis, muitos, porém, desapareceram para sempre.

A história dos santos catacumbos

Em 31 de maio de 1578, trabalhadores romanos descobriram, sob a Via Salaria, em Roma, um túnel que levava a catacumbas até então desconhecidas. A câmara subterrânea estava lotada de milhares de esqueletos, presumivelmente remontando aos três primeiros séculos da Era Cristã, quando milhares de cristãos foram perseguidos e executados por ordem dos imperadores romanos. Até o século IV, quando houve a liberação do cristianismo, as catacumbas serviam de cemitério aos mortos e de refúgio aos vivos.

A Igreja Católica viu nessa descoberta um oportuno presente de Deus, acreditando que muitos daqueles esqueletos eram dos primeiros mártires cristãos. Uma oportunidade imperdível para reabastecer com relíquias as basílicas e os mosteiros católicos que haviam sido saqueados e destruídos durante as guerras de religião e, com isso, restaurar a moral e o prestígio da Igreja abalados com a Reforma Protestante.

São Félix, santos catacumbos

São Félix, mosteiro de Gars am Inn, na Alemanha. Chegou ao mosteiro no século XVII e acredita-se que ele salvou o mercado da cidade de ser destruído em um incêndio.

Todos querem ter um santo

A descoberta alvoroçou a cristandade católica. Os restos santos tornaram-se verdadeiros tesouros cobiçados por bispos, padres, reis, príncipes e até comerciantes católicos. Toda igreja, por menor que fosse, queria ter pelo menos um, se não dez esqueletos “santos”. As igrejas mais atendidas foram aquelas localizadas no epicentro da guerra contra os luteranos e calvinistas: a Alemanha e a Suíça.

Um fato curioso, famílias ricas dispuseram-se pagar o preço que fosse pedido por um mártir para suas capelas privadas; guildas e corporações juntaram seus recursos para ter um santo, que se tornaria seu patrono.

Para uma pequena igreja, o meio mais eficaz de obter um santo de catacumba era contar com alguém influente em Roma, até mesmo um dos guardas papais. Suborno e propina ajudavam a derrubar empecilhos.  Uma vez confirmado o pedido, o esqueleto santo era entregue a monges que se especializaram no transporte de relíquias.  O pacote seguia devidamente documentado e com os selos papais.

O Vaticano enviou milhares de relíquias para toda Europa. Só para a Alemanha, Áustria e Suíça foram pelo menos 2 mil esqueletos completos, segundo estimativa de Paul Koudounaris pesquisador e fotógrafo que, desde 2006, pesquisa sobre os santos catacumbos. Também eram negociadas partes de esqueletos, como crânios, fêmures e costelas.

Santa Luciana chegou ao convento de Heiligkreuztal, na Alemanha, em meados do século XVIII.

Santa Luciana, convento de Heiligkreuztal, Alemanha.

A identificação do santo

O processo para determinar, entre milhares de esqueletos, qual pertencia a um mártir era nebuloso, valendo-se mais de critérios subjetivos do que uma pesquisa criteriosa. Um “M.” gravado ao lado de um cadáver, era traduzido por “mártir”, desconsiderando a possibilidade da inicial ser de “Marcus”, um dos nomes mais comuns em Roma antiga. Se junto aos ossos havia um frasco com conteúdo desidratado, era interpretado como sendo o sangue do mártir, ignorando-se o costume romano de deixar um frasco de perfume no túmulo, tal como deixamos flores hoje.

Outro meio para identificar um esqueleto santo era observar a presença de “sinais” como um brilho dourado, um som “angelical”, um cheiro improvável ou um fenômeno sobrenatural. Equipes de sensitivos e beatos eram enviadas para examinar os esqueletos esperando que entrassem em transe e apontassem quais deles eram santos.

Depois de identificar um esqueleto santo, o Vaticano decidia de quem eram aqueles restos mortais e emitia o título de mártir. Ninguém questionava o Vaticano, e a imagem seguia para a igreja onde era reverenciada, estimulava doações e esmolas, recebia peregrinos e festas em sua homenagem.

Na verdade, quase nada se sabe sobre a grande maioria desses mártires santificados, e até seus nomes podem ter sido inventados. Um santo mais popular podia até ser duplicado. São Valentino, por exemplo, mais conhecido como São Valetim, o padroeiro dos namorados, tem três esqueletos identificados como sendo seus restos mortais, um dos quais na Basílica de Waldsassen, na Alemanha (veja foto). Há dúvidas até mesmo de que ele tenha realmente existido. Sem comprovações históricas de sua existência, a sua data não é mais celebrada oficialmente pela Igreja Católica desde 1969.

São Valentino, santo catacumbo

São Valentino, colocado em uma posição reclinada, Basílica de Waldsassen, na Alemanha.

A preparação do santo

Antes de ser exibido aos fiéis, o esqueleto era limpo, vestido e adornado com todo luxo digno de seu status. Freiras habilidosas preparavam o esqueleto cobrindo-o com tecidos finos e muitas pedras preciosas, pérolas, ouro, prata e marfim. O trabalho podia demorar até três anos dependendo do tamanho da equipe.

A maioria das mulheres e homens que se dedicaram a esse trabalho o fizeram anonimamente.  Segundo Paul Koudounaris, é possível observar características que identificam estilos próprios de determinados conventos ou indivíduos para vestir o santo.

As freiras teciam uma gaze de malha muito fina que usavam para enrolar delicadamente cada osso. Isso impedia o pó de se instalar no material frágil e criava uma superfície para aplicar os adornos. Os nobres locais doavam roupas pessoais que as freiras vestiam o cadáver tendo o cuidado de deixar parte dos ossos à mostra. Do mesmo modo, joias e ouro eram doados para adornar o esqueleto.

Alguns esqueletos receberam uma máscara de cera com sorrisos escancarados ou olhares sábios. Segundo Koudounaris, isso teria sido feito para ficarem menos assustadores, mas o efeito parece o contrário hoje. Os esqueletos com rosto são os que mais impressionam pelo aspecto tétrico de mortos-vivos.

Koudounaris observou também que por falta de conhecimento de anatomia, as freiras cometeram erros na montagem dos esqueletos. É comum ver mãos ou pés conectados incorretamente.

São Constantius, Rorschach, Suíça.

Detalhe da mão de São Constantius, Rorschach, Suíça.

Glória e decadência dos santos catacumbos

A chegada de um esqueleto santo na aldeia ou cidade era um grande acontecimento comemorado com missas e procissões. As crianças nascidas naquele ano recebiam, inevitavelmente, o nome do santo, como, por exemplo, Valentino para os meninos e Valentina para as meninas.

As comunidades acreditavam que o esqueleto patrono os protegia de danos e lhes creditavam milagres ou um evento positivo. As igrejas mantinham “livros de milagres” onde registravam as boas ações do santo assim como salas para guardar ex-votos, pequenas pinturas que representavam e expressavam gratidão por uma graça concedida.

No final do século XVIII, a difusão das ideias iluministas lançou um outro olhar sobre essas expressões religiosas que passaram a ser entendidas, então, como supersticiosos costumes “bárbaros”. O imperador José II (1741-1790), do Sacro Império Romano Germânio, chegou a decretar a destruição de todas as relíquias que não possuíssem uma proveniência comprovada. A maior parte dos esqueletos acabou derrubada de seus altares, trancada em caixas ou saqueada de suas joias.

As peregrinações aos santos catacumbos foram abruptamente abolidas. Para as comunidades locais isso foi traumático. Os esqueletos santos faziam parte da vida das pessoas há gerações e aqueles humildes adoradores não compreendiam a mudança de pensamento advinda com as ideias iluministas.

No entanto, nem todos os esqueletos sagrados foram perdidos. Alguns permaneceram intactos e em exibição, como os dez corpos na Basílica de Waldsassen, na Baviera, Alemanha, conhecida como “Capela Sistina da Morte”. Do mesmo modo, o esqueleto de Santa Munditia ainda reclina no seu trono de veludo na Igreja de São Pedro, em Munique.

Para Paul Koudounaris, os santos catacumbos devem ser entendidos como uma expressão religiosa e uma arte macabra que ainda aguarda pesquisas mais profundas.

Santa Munditia, na igreja de São Pedro, em Munique, Alemanha. Ela segura um frasco supostamente com sangue desidratado como prova de seu martírio.

São Pancrácio, santo catacumbo

São Pancrácio, em Wil, Suíça, foi vestido como um soldado romano, em 1672.

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Thiago
Thiago
5 anos atrás

Parabéns! Muito legal o artigo. Foi ótimo poder entender melhor a história que vi em algumas igrejas no mundo. Obrigado!

Eliseu Rodrigues
Eliseu Rodrigues
5 anos atrás

This is the Clash Ideal in our existence because words are its reality when ”SKULL AND BONES’ sectarys grown like a comunity in missisipi in flames. Eleusinean Mysteries

Carlos Oliveira
Carlos Oliveira
5 anos atrás

Gostei muito!!!

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