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Morte de Cleópatra, a última rainha do Egito

12 de agosto de 30 a.C

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Em 12 de agosto (10 de agosto no calendário romano) de 30 a.C., Cleópatra VII se suicidou em Alexandria. Tinha 39 anos de idade e foi a última rainha do Egito ptolomaico. De acordo com Plutarco (46-120 d.C.), ela teria sido mordida por uma cobra venenosa escondida em uma cesta de frutas. Estrabo (63 a.C-23 d.C.) menciona um unguento envenenado como possível causa de morte, além da variante do veneno de cobra. Porém, há versões diferentes. Duas minúsculas perfurações foram descobertas no braço dela.  Segundo o famoso médico antigo Galeno (130-210), as perfurações teriam sido uma ferida auto-infligida com uma agulha de cabelo e nelas a rainha teria pingado veneno de cobra.

A morte de Cleópatra, pintura de Jean-André Rixens, 1874.

Segundo o historiador Christoph Schäfer, da Universidade de Trier, Cleópatra teve uma morte rápida. Otávio soube do suicídio poucas horas depois e correu aos aposentos da rainha encontrando-a já morta, e duas criadas agonizando.  Isso é incompatível com os efeitos do veneno de cobra que provoca grande sofrimento durante dias com dores, vômitos, diarreia e insuficiência respiratória até a morte. Cleópatra, que sabia manipular plantas venenosas, teria preparado seu próprio coquetel misturando ópio (suco extraído de papoulas), acônito (planta altamente venenosa, bastam 10 g da raiz para matar uma pessoa) e cicuta (a mesma usada para envenenar o filósofo Sócrates).

Augusto mostrou uma imagem de Cleópatra em sua procissão triunfal, em Roma, em 29 a.C. Ela aparecia junto com duas cobras – o que reforçou a versão da picada suicida. Talvez as massas desconhecessem o simbolismo da cobra na cultura egípcia. Chamada de aspis, refere-se à cobra do uraeus, usado nas coroas de deuses e faraós do Antigo Egito como símbolo de soberania, realeza e autoridade divina. Sua presença colocava o governante sob a proteção do deus sol Rá.

Uma versão mais recente sustenta que Otávio obrigou Cleópatra a suicidar-se ou mesmo teria mandado assassiná-la. Cleópatra estava física e psicologicamente debilitada e, nesse estado, poderia comover o povo romano minando a credibilidade da propaganda de Otávio que representava Cleópatra como a maior ameaça a Roma. Por outro lado, executar a rainha egípcia após o triunfo também poderia prejudicar a reputação de Otávio. Deixá-la viva era um risco, a rainha seria uma adversária implacável e um incentivo para revoltas contra o domínio romano no Egito.

No dizer do historiador romano Dio Cássio (155-235 d.C.), Cleópatra “ganhou os dois maiores romanos de seu tempo, e por causa do terceiro ela se matou”.

Cleópatra e Marco Antônio foram enterrados no mesmo mausoléu em 30 a.C. O túmulo permanece desconhecido em algum lugar perto de Alexandria, no Egito.

A morte de Cleópatra encerrou o governo ptolomaico de trezentos anos. O Egito tornou-se uma província romana.

Uma rainha poderosa e difamada

Os romanos, insuflados por Otávio, alimentaram uma forte campanha contra Cleópatra que se consolidou após a sua morte. A rainha egípcia teria sido o principal pretexto da conspiração que levou ao assassinato de Júlio César. Era apontada como responsável por seduzir Marco Antônio a trair a República romana. Toda a história de Cleópatra foi atrelada à sua sexualidade. Afinal, na mentalidade romana da época, a mulher mais poderosa do mundo no século I a.C. só conseguiu quase tudo o que quis porque usou a sedução e o sexo – e não porque era incrivelmente inteligente.

Cleópatra era uma mulher culta, teve uma educação refinada. Seu pai mantinha filósofos e cientistas na corte e ela frequentava a Biblioteca de Alexandria. Falava nove idiomas como aramaico, persa, somali, etíope, árabe, além da língua materna, o grego. Foi a primeira da família a falar egípcio. Plutarco afirma que ela causava uma grande impressão nos homens por meio de conversas educadas e de boas maneiras.

Diferentemente do que se imagina, Cleópatra estava longe de ser uma devassa. Júlio César foi provavelmente seu primeiro homem, e Marco Antônio, o segundo e último, com quem teve um longo relacionamento de 11 anos. Não há registro confiável de que ela tenha tido outros envolvimentos amorosos.

Cleópatra teve quatro filhos: Cesarião, com Júlio César (que não o reconheceu) e três com Marco Antônio que assumiu a paternidade de todos: Alexandre Hélio e os gêmeos Cleópatra Selene e Ptolomeu Filadelfo.

O destino dos filhos

Após a batalha de Áccio (31 a.C.) e consequente invasão do Egito pelas forças de Otávio, Cleópatra enviou Cesarião, com um grande tesouro, para o porto de Berenice, no mar Vermelho. Provavelmente pretendia enviá-lo à Índia onde encontraria refúgio.

Otávio, contudo, consegui capturar o jovem. Como filho natural de César, Cesarião era uma ameaça a Otávio, ele também herdeiro de César. Seus oposicionistas poderiam usar o jovem para derrubá-lo do poder. A solução foi executar o jovem de 14 anos de idade.

As outras crianças – os gêmeos Alexandre Hélio e Cleópatra Selene, de 10 anos, e Ptolomeu Filadelfo, de 6 anos de idade – tiveram destino diferente. Segundo Plutarco, elas foram poupadas por Otávio e levadas para Roma onde teriam desfilado como prisioneiros de guerra no triunfo de Otávio (29 a.C.).

Foram, depois, incorporadas à família de Otávio, sendo criados por Otávia, irmã deste e ex-esposa de Marco Antônio.

Segundo Dio Cássio, os dois meninos teriam sido libertados por Otávio, por volta de 25 a.C., na ocasião do casamento de Cleópatra Selene com Juba II, rei da Numídia. Todos foram morar no novo reino no norte da África.

Cleópatra Selene II e Juba II reinaram pouco tempo na Numídia, cujo povo rebelou-se contra os modos e costumes romanos impostos pelo rei. Retiraram-se para a Mauritânia, onde batizaram a capital de Cesareia (atual Cherchell, Argélia) em homenagem ao imperador Augusto. Cleópatra Selene teve grande influência na política do marido e juntos contribuíram para trazer prestígio para o reino através do comércio no Mediterrâneo. Teria morrido no ano 6 d.C., aos 45 anos de idade.

Fonte

  • SCHIFF, Stacy. Cleópatra: Uma Biografia. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
  • SCHAFER, Christoph. Cleopatra. Barcelona, Espanha: Editorial Herder, 2007.
  • SUETÔNIO. A vida dos Doze Césares. São Paulo: Martin Claret, 2012.
  • PLUTARCO. Vidas Paralelas: Alexandre e César. L&Pm Pocket, 2005.
  • MASSIE, Allan. Marco Antonio e Cleópatra. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.
  • RIBEIRO, Maria Goretti. Imaginário da serpente, de A a Z. Universidade Estadual da Paraíba: Eduepb, 2017.
  • Cleópatra, a lenda da última rainha do Egito. National Geographic, Portugal.

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